Capitulo 60
A cidade nunca tinha sido tão agitada. Depois de toda a tensão envolvendo Antônio, a delegacia parecia ter voltado à rotina, mas havia algo de diferente no ar. As pessoas pareciam mais unidas, como se o trauma compartilhado houvesse, de alguma forma, aproximado a todos. O sol brilhava forte naquela manhã de primavera, e o som do vento entre as árvores parecia mais suave, como se a cidade estivesse respirando em paz pela primeira vez em muito tempo.
Na delegacia, tudo parecia seguir seu curso natural. A equipe estava reunida para mais um dia de trabalho. Gabriela e Olívia, com seus cafés na mão, entraram juntas na sala de briefing. Olívia, sempre a mais séria, trocou um olhar divertido com Gabriela, que estava mais relaxada e confiante. A tensão entre as duas havia diminuído consideravelmente, agora mais focadas no trabalho do que em qualquer outro assunto pessoal, mas as piadas e a leveza entre elas estavam presentes, como sempre.
"Eu não acredito que vamos ter que investigar um roubo de abóbora de novo", Gabriela comentou com um sorriso sarcástico, sentando-se na cadeira ao lado de Olívia. "Sério, quem rouba abóbora? Isso aqui é o interior mas limites né."
Olívia riu baixinho, ajeitando o cabelo, enquanto olhava para o relatório. "Você acha engraçado, mas sempre tem algo bizarro acontecendo por aqui. E não podemos esquecer das 'abóboras' de ontem à noite", ela brincou. "Tem algo estranho no ar, e você sabe disso."
Fernanda entrou no escritório com uma energia que, até hoje, parecia incansável. "Eu já sabia que ia rolar uma piada com as abóboras! Não sei o que é pior, o roubo ou o fato de que o cara usou um garfo de cozinha pra cometer o crime. Clássico."
Ricardo entrou logo depois, com um sorriso maroto. "Alguém tem que dar um basta naquelas abóboras, gente! Se continuar assim, vai ter até pedido de indenização por roubo de vegetais."
Todos riram, a tensão dos casos antigos e dos fantasmas do passado se dissolvendo, mesmo que por um momento. Era claro que, apesar das sombras do que tinham enfrentado, a equipe da delegacia tinha aprendido a se apoiar.
"Tá vendo, Gabriela? Quando você se junta a essa turma, a gente até começa a achar graça nas coisas mais estranhas", Olívia disse, com um olhar cúmplice para ela.
Gabriela deu de ombros, sorrindo. "Não sei se isso é um elogio ou um aviso de que eu nunca mais vou viver em paz."
Nesse momento, o chefe Hugo entrou na sala. Sua postura séria estava ali, como sempre, mas seus olhos estavam mais tranquilos, como se a pressão dos últimos tempos tivesse dado uma pausa. Ele se sentou à mesa, olhando para sua equipe.
"Bom dia, pessoal. Vamos tentar manter a ordem hoje, sem mais abóboras no caminho, ok?", Hugo brincou, e todos caíram na risada, aliviados por um momento de leveza.
"Temos alguns novos casos para revisar, mas antes disso, quero que todos se concentrem. Não podemos esquecer que nossa cidade voltou a respirar, mas ainda temos muito trabalho pela frente. O que aconteceu com Antônio não é algo que podemos simplesmente 'enterrar'. A justiça ainda vai nos exigir, e temos que estar prontos."
Hugo olhou para cada um de seus policiais, o olhar firme, mas com uma confiança renovada. "E isso inclui a todos vocês, claro. Estamos em um ponto de virada. O que fizemos até agora foi importante, mas o que vem pela frente vai definir como vamos seguir em frente."
Gabriela olhou para Olívia, que estava em silêncio, absorvendo as palavras de Hugo. As duas sabiam que o trabalho delas estava longe de acabar. Mas, de alguma forma, aquilo parecia certo. Elas tinham crescido, evoluído, e agora, mais do que nunca, sabiam que a amizade — e algo mais — era o que as mantinha firmes.
"Agora", Hugo continuou, com um sorriso mais leve. "Vamos esquecer as abóboras por um tempo e focar no trabalho, porque a cidade não vai se cuidar sozinha."
O dia na delegacia passou rápido. Entre investigações de casos pequenos e mais algumas piadas sobre o famoso "roubo de abóbora", a equipe seguiu sua rotina, mas com a sensação de que o futuro se desenhava de maneira mais tranquila.
Mais tarde, quando o expediente estava quase no fim, Gabriela e Olívia saíram juntas, caminhando pela rua principal de Porto Real. O sol estava se pondo, pintando o céu de laranja e roxo. Elas caminhavam lado a lado, conversando sobre coisas simples, como se fosse o primeiro dia de trabalho.
"Então, o que você acha de terminar o dia com um sorvete? Acha que tem algum lugar que não tenha sido invadido por vegetais suspeitos?" Gabriela perguntou com um sorriso travesso.
Olívia sorriu, seu olhar suavizado pela conversa tranquila. "Eu acho que podemos dar uma chance para isso. Quem sabe a gente não encontra algo mais interessante por aí?"
As duas riram, e, por um momento, a cidade parecia pequena demais para as grandes perguntas que estavam por vir. Mas, ao mesmo tempo, era exatamente o que elas precisavam — um refúgio seguro, onde poderiam ser quem eram, juntas.
Quando chegaram à sorveteria, Fernanda estava lá, como sempre, com o sorriso largo e uma piada pronta. "Achei que a gente ia investigar mais roubos de abóbora, mas... esse sorvete aqui é mais importante."
E assim, com risadas, piadas e um sentimento de leveza no coração, a equipe da delegacia se despediu do dia, com seus desafios e suas peculiaridades, estava mais tranquila, e, mais importante, os laços de amizade e confiança entre Gabriela, Olívia e seus colegas nunca foram tão fortes.
Naquela noite, enquanto as estrelas brilhavam no céu claro, Gabriela e Olívia estavam deitadas na cama, compartilhando um momento de silêncio confortável. O futuro ainda trazia incertezas, mas elas sabiam que, com o apoio uma da outra, poderiam enfrentar qualquer coisa. Elas estavam prontas para o que viesse, com a certeza de que, juntos, podiam lidar com qualquer tempestade que surgisse — e a cada dia, esse laço só se tornava mais forte.
E, à medida que o sono as envolvia, o mundo lá fora parecia mais simples, mais seguro, e mais cheio de possibilidades.
Fim do capítulo
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