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Perto do céu por AlphaCancri

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Palavras: 3541
Acessos: 773   |  Postado em: 27/05/2025

Capítulo 31

Fiquei parada em pé, ao lado do carro, esperando Marcela entrar no ônibus. Ela abriu a cortina da janela e acenou. Acenei de volta, sorrindo. O ônibus não demorou a sair. Voltei para o carro assim que ele virou a esquina e saiu da minha visão. Dirigi de volta para casa com uma sensação diferente. A longa conversa que tivemos mais cedo ainda se repetindo na minha cabeça. Principalmente o momento em que Marcela me perguntou:

— Eu preciso que você seja sincera comigo em uma coisa… se nós tentarmos de novo, como vai ser… nossa relação fora de casa? Com sua família… Eu vou ser só sua amiga? 

Eu demorei a responder. Marcela esperou pacientemente. Mas eu precisava pensar antes de falar, pois pretendia ser sincera com ela:

— Eu não vou te esconder, pode ter certeza disso. Mas não posso te garantir que vou conseguir chegar com os dois pés na porta e arrombar o armário de uma vez só. Você me entende?

Ela sorriu, acho que da forma como falei, e concordou com a cabeça. Eu não me aguentei, puxei o rosto de Marcela e a beijei. Era assim sempre que eu estava com ela. Sempre tinha sido. Eu não conseguia resistir, ela era como um ímã. 

Depois que nos afastamos, ela voltou a falar:

— Tem outra questão que, infelizmente, eu preciso conversar com você. 

Senti o desconforto dela, nítido no tom de voz e na forma com que tensionou os ombros.

— Se eu voltar… o apartamento agora é de Érica… ainda não conversei com ela sobre a possibilidade da gente dividir. Se ela topar, vai ser ótimo, mas as coisas vão ser um pouco diferentes… Claro que você vai poder dormir comigo, mas não vamos ter a mesma liberdade. Eu até pensei em depois, bem depois, tentar alugar um lugar pequeno…

Eu a interrompi suavemente, porque para mim aquela não era uma questão:

— Marcela…

Beijei a palma da mão dela:

— Se você vier… você vai morar aqui comigo. 

Ela quem me beijou daquela vez. Acariciou meu rosto, depois me abraçou. Quando se afastou, perguntou:

— Eu iria amar, mas… e sua tia? Seus pais?

— Vai ser como eu te disse… devagar. Eles não vão se opor, nem podem. E em algum momento eles vão perceber que nós somos mais que amigas. 

Eu queria saber o que ela pensava sobre aquilo:

— O que você acha?

— Acho bom, mas… tem outra coisa que também preciso dizer… Se eu pedir demissão, a única renda que vou voltar a ter é da venda dos quadros e das fotos… e aqui as coisas são mais difíceis nesse sentido, você sabe. Não pretendo viver as suas custas…

Eu fiz uma cara de ofensa fingida:

— Como assim? Achei que você só estava comigo por interesse… por causa dos meus bens…

Ela riu e apertou meu braço:

— Sério, Ciça… eu vou te ajudar nas despesas, mas preciso que você saiba que nem sempre vou poder contribuir com muito. 

Eu aproximei meu rosto do dela:

— Isso não é um problema. De verdade. Não que eu seja rica… mas a gente consegue se ajeitar muito bem por aqui. 

Foi a vez dela fingir surpresa:

— Ué, não? Mas eu só fiquei com você por causa disso! Por causa do seu dinheiro…

Rimos juntas, compartilhando o mesmo senso de humor. Eu provoquei:

— Ah é? Pensei que fosse por causa do meu beijo irresistível…

Ela procurou a minha boca, roçou os lábios nos meus e respondeu:

— Por causa disso também, tenho que admitir. 

Depois me beijou. Um beijo cheio de vontades e saudades, de ambas as partes. Puxei Marcela para que se sentasse no meu colo. Nossas línguas se procuraram, as mãos exploraram, mas ela se afastou lentamente. Não entendi o motivo, até ela falar:

— Daqui a pouco preciso pegar o ônibus. Não quero que nosso reencontro seja uma rapidinha. 

Eu sorri, ainda mais encantada, se é que era possível. Concordei com ela e Marcela saiu do meu colo. 

Depois de um momento para nos recompormos, quebrei o silêncio com uma última pergunta. Eu precisava me certificar, ter certeza, e fazer com que ela tivesse também:

 — É isso mesmo que você quer? 

Ela não hesitou:

— Sim.

Repetiu, acabando com qualquer resquício de dúvida que eu pudesse ter:

— Eu quero ficar com você. 

*****

Minha semana foi absolutamente corrida. Precisei lidar com as burocracias da demissão e da rescisão do aluguel. Por sorte, consegui um acordo para não precisar cumprir o aviso prévio, mas ainda tinha que trabalhar a semana seguinte inteira. Anunciei online os poucos móveis e eletrodomésticos que tinha, mas não consegui vender imediatamente. Foi com muito pesar que precisei falar com Ciça:

— Vou ter que ficar mais um pouco aqui, até conseguir esvaziar a kitnet.

Passei mais uma semana resolvendo tudo, abaixei os preços e por fim só sobrou uma mesa com quatro cadeiras, que ofereci para o zelador do prédio. As coisas pequenas, algumas consegui colocar numa bolsa para levar, outras dei para Vitor. 

Finalmente na terça-feira, pude decretar para Ciça:

— Viajo amanhã. 

De novo o tormento daquela viagem longa, principalmente para quem estava morrendo de saudades, como eu. Um século depois, quando cheguei na cidade vizinha, ela já estava lá me esperando. Peguei as malas e caminhei até ela, que me recebeu com um sorriso. Larguei tudo no chão e me joguei nos braços de Ciça. Ficamos abraçadas, sentindo o valor daquele momento. Diferente dos outros abraços, que eram de despedida, aquele era um abraço que marcava nosso novo início. 

Quando chegamos na casa dela, Ciça já tinha deixado um lado do guarda-roupas vazio para que eu arrumasse minhas coisas. Me disse para ficar a vontade e mexer no que eu quisesse. Me beijou e, com muito custo, disse que precisava voltar ao trabalho, tinha escapado rapidinho só para me buscar. 

Eu aproveitei as horas que fiquei sozinha para desfazer as malas, arrumar minhas roupas e minhas coisas, depois que tomei um banho. Ciça tinha deixado um pequeno quarto — que antes ela fazia de “quarto da bagunça” — também vazio para que eu usasse para pintar e deixar minhas telas. Depois que arrumei as tintas, pincéis, e outras ferramentas, peguei uma tela pequena e esbocei um desenho. Estava no início da pintura quando ela chegou. Me abraçou por trás e cheirou meu pescoço:

— Tudo bem?

Eu me virei, ainda com o pincel na mão, passando meus braços pelo pescoço dela com cuidado para não sujá-la:

— Tudo ótimo. Fiquei com saudades. 

Ciça sorriu:

— Eu estou aqui. 

Também sorri:

— Eu estou vendo… Mas tô te achando muito vestida. 

Falei já tirando a jaqueta que ela usava:

— Tá com frio? Nesse calor?

Ela respondeu colocando as mãos na minha barriga, por baixo da minha camisa:

— É por causa do ar-condicionado do trabalho. 

Beijou meu pescoço, me arrepiando, depois encontrou minha boca. A vontade dela sendo a mesma que a minha. Eu agarrei a nuca de Ciça com a mão que tinha livre, apertei, arranhei, suspirei dentro do beijo. Quando nos afastamos para respirar, subi meus dedos pelo braço dela:

— Nem tive tempo de ver direito sua tatuagem nova.

Ela acompanhou meu olhar para o desenho de flores e folhas que cobria toda parte de cima do braço e do ombro. Segurei na barra da camisa dela e pedi:

— Tira aqui… pra eu ver direito…

Ciça riu e sem apresentar nenhuma resistência, deixou que eu me livrasse da roupa. 

Continuei passando a ponta dos dedos pelo desenho colorido, observando cada detalhe. Ela sussurrou no meu ouvido:

— Gostou?

Eu a olhei e sussurrei de volta:

— Muito… tem mais?

— Algumas, mas você já conhece…

— Acho que preciso relembrar. 

Abri a calça jeans que ela usava e toquei a tatuagem que ela tinha na linha da cintura:

— Essa não é colorida…

A voz de Ciça estava tão ofegante quanto a minha:

— Não…

Molhei o pincel com um pouco da tinta azul que estava na aquarela e preenchi o desenho, me deliciando com o arrepio que o contato da tinta fria causou na pele que já estava quente. 

— Onde mais?

Ela se virou de costas para mim, mostrando a tatuagem que tinha perto do ombro direito:

— Aqui. 

Colei meu corpo no dela, beijei a nuca, mordisquei o ombro, antes de levar o pincel até o desenho. 

Ela se virou de frente para mim, pegou o pincel da minha mão e disse:

— Minha vez. 

Tirou minha blusa, pegou a tinta vermelha, passou a mão pela minha barriga e escolheu um desenho. Pincelou delicadamente, fazendo eu suspirar com o contato suave contra minha pele. Depois subiu as mãos, desabotoou meu sutiã e o tirou, pincelando a tatuagem que eu tinha entre os seios. Minha respiração já estava completamente alterada. Ciça levou as cerdas do pincel até meus seios, deslizando devagar, circulando, provocando… primeiro um, depois o outro. 

Eu fiz com que ela parasse apenas para tirar o sutiã dela também. Depois colei nossos corpos, as tintas se misturando, fazendo nossas peles escorregarem com facilidade uma contra a outra. Escutei o barulho do pincel caindo no chão, mas não desgrudamos nem as bocas, nem os corpos. 

As mãos dela entraram pela minha calça, a puxando para baixo. Ciça se ajoelhou, terminando de tirar o tecido. Me acariciou por cima da calcinha, beijou, fazendo com que meus olhos se fechassem involuntariamente, depois puxou a peça íntima, me deixando completamente nua. Ainda ajoelhada, passou as mãos pelas minhas coxas, apertando minhas nádegas, enquanto voltava a beijar meu sex*, agora sem nenhuma barreira física entre nós. Passou a língua devagar, de baixo até em cima, me fazendo amolecer, depois sugou suavemente. Precisei me segurar nela por conta da fraqueza que começou a me tomar. Enfiei minhas mãos nos cabelos dela, que continuava me enlouquecendo com os lábios e a língua. Quando dei por mim, estava rebol*ndo contra a boca de Ciça, ofegando, gem*ndo, pedindo, exigindo… Ela me atendeu, cada vez mais intensa, a língua entrando... Me descontrolei, gemi alto, puxei os cabelos dela e me dei por inteira, desaguando todo meu desejo na boca de Ciça. 

*****

Tomamos banho juntas, desperdiçando mais água do que aproveitando. Marcela me colou contra a parede, colocou uma das minhas pernas em volta da cintura dela e me penetrou devagar. A boca tomando a minha, enquanto mantinha um vai e vem delicioso dentro de mim. Mordeu meu lábio, me instigou, sugou. Eu deixei ela fazer o que quisesse, do jeito que quisesse… desceu a boca para os meus seios, ch*pou, lambeu, apertou… eu gemi, xinguei, agarrei o rosto de Marcela e a trouxe de volta para minha boca. Dei para ela meus gemidos, no meio dos beijos, perdendo completamente o domínio sobre o meu corpo. Era ela quem o tinha. 

— Assim, amor, desse jeito…

Ela intensificou o movimento e eu não suportei mais. Meu corpo se arqueou, Marcela me apertou ainda mais, não parou depois que eu explodi, continuou, me torturou, até eu pedir:

— Chega… espera…

Ela parou, tirou os dedos de dentro de mim bem delicadamente. Depois os levou à própria boca e ch*pou. Me beijou nos lábios, no pescoço, me olhou e sorriu, voltando a fazer meu corpo se arrepiar: 

— Vamos continuar na cama?

 

 

 

Acordei com a boca dela passeando pelo meu corpo. A repetição daquilo nas últimas duas semanas não me fazia enjoar, pelo contrário, só aumentava minha vontade dela. 

Enquanto Marcela beijava minha barriga, eu sorri e falei:

— Tô adorando esse meu despertador novo, sabia?

Ela levantou o rosto e respondeu:

— É mesmo? Que bom, porque ele é exclusivo pra você.

A puxei para que aproximasse o rosto do meu. Olhei dentro dos olhos dela e falei:

— Te amo. 

Ela respondeu primeiro com um sorriso. Depois com a voz melosa:

— Também te amo, meu amor. 

*****

Tirei a bolsa do porta-malas enquanto Marcela descarregava sacolas e mais sacolas com quadros, tintas, pincéis e coisas que eu ainda nem tinha aprendido o nome. Ela sempre aproveitava quando íamos ao Rio para abastecer o estoque das ferramentas de trabalho. 

— Chegaram, cariocas?

Tia Dalva apareceu no portão, sorrindo. 

— Oi, tia.

Marcela brincou:

— Tenho certeza que você deixou um almoço prontinho esperando a gente…

Eu sorri, com o coração transbordando em presenciar a intimidade que as duas tinham construído no último ano. 

No começo, quando minha tia percebeu que Marcela estava morando comigo, estranhou um pouco. Depois — quando eu acredito que a ficha caiu — ficou distante. Eu quase não a via. Até o dia em que tivemos uma conversa franca e eu disse que Marcela era minha namorada. A reação dela não fugiu muito do esperado. Chorou, ficou amuada, rezava dia e noite… Eu não tive muito o que fazer. Não impus nada, mas também não deixei que ela atrapalhasse minha vida com Marcela. 

E de novo, o tempo, soberano, fez com que ela voltasse a conversar comigo aos poucos. A comida era a linguagem de tia Dalva. Primeiro passou a mandar pratos prontos para minha casa. Meu tio era quem entregava. E no dia seguinte eu encontrava com ela no corredor e agradecia, sempre frisando que eu e Marcela havíamos adorado. Depois, ela mesma passou a levar. Ficava por poucos minutos, sem jeito, e voltava para casa. Até que foi demorando cada vez mais a cada visita. Às vezes até comia com a gente. A habilidade de Marcela em puxar assunto foi fazendo com que a barreira da minha tia fosse caindo, pouco a pouco, até as duas virarem quase amigas. 

Eu percebia que minha tia ainda ficava incomodada quando eu beijava Marcela na frente dela. Na verdade nós só encostávamos os lábios, num carinho, quando eu chegava do trabalho, por exemplo. Mas eu não iria mudar. Se eu não pudesse beijar minha namorada dentro da nossa casa, onde então?

Ainda custou alguns meses até minha tia se abrir comigo:

— Você é como uma filha pra mim, Ciça. Eu jamais deixaria de te amar, por o que quer que fosse. Assim como Deus jamais renegaria uma filha. 

Tinha minhas suspeitas de que foi tia Dalva quem amoleceu Rita. A tia de Marcela estava mais irredutível. Ainda acreditava que nós estávamos confundindo as coisas. Nunca foi até a nossa casa, apesar de Marcela ter convidado algumas vezes. A última tentativa tinha sido num almoço de domingo, em que Érica e Luize almoçaram com a gente. Rita declinou o convite dizendo que tinha um compromisso na igreja. Mas ela voltou a falar com Marcela com mais habitualidade, ligava de vez em quando e até perguntava como eu estava. 

Com meus pais, não mudou muita coisa. Eles continuavam fingindo que nada estava acontecendo. Quando tentei entrar no assunto, minha mãe fugiu. Se fez de desentendida. Mas da mesma forma que não queriam colocar em palavras que sabiam que eu e Marcela estávamos juntas, também não desaprovaram por completo. Poucas vezes arrisquei de levar Marcela ao sítio. Eles a trataram muito bem, sem nenhuma animosidade. Mas a palavra “namorada” era proibida. E eu achei melhor não tentar forçar nada. Mais uma vez o tempo se encarregaria de mudar as coisas aos poucos.   

Eu tinha plena consciência que dei material para meses de fofoca naquela cidade, mas já não me importava. Os olhares de curiosidade e até espanto quando eu e Marcela caminhávamos juntas de mãos dadas na rua não me atingiam. As cabeças virando para olhar para nós não me incomodavam. No fim, acho que virei a companhia certa para o que ela me disse um dia: estava adorando escandalizar aquela cidade com Marcela ao meu lado. 

*****

Saí do mercadinho segurando uma sacola em cada mão. Passei por algumas pessoas que não sabia o nome. Outras eu já conhecia:

— Oi, Marcela! 

— Tudo bem, Renata?

Pessoas que passaram a fazer parte do meu cotidiano. Só agora, depois de mais de um ano morando em definitivo naquele lugar, eu entendia o que significava “todo mundo conhece todo mundo”.  

Eu sabia que muita gente ali ainda ficava insatisfeita com meu relacionamento com Ciça. Com o fato de nós duas não nos escondermos. Mas já não era um problema nosso. O lado positivo foi o apoio que recebemos de muitas pessoas. Algumas que até surpreenderam Ciça pelo posicionamento. 

Quando passei pelo bar do Seu Manoel, ele me cumprimentou: 

— Ô menina, tá boa?

Ele não sabia meu nome. Mas sabia quem eu era. Respondi ao cumprimento, sorrindo. 

Entrei na minha rua. Abri o portão e ri ao lembrar do que Ciça falava toda vez que o rangido soava: “Vou colocar uma graxa nesse portão!” Mas ela nunca colocava. Passei pelo corredor, sem encontrar com os tios de Ciça. Subi as escadas, entrei na cozinha e fui tirando as embalagens das sacolas. Arrumei tudo em seu devido lugar. Depois fui para o quarto de pintura. Fotografei algumas telas para anunciar online. Dei uma limpeza geral no cômodo.

Érica me ligou:

— Tô aqui embaixo.

— Entra aí. 

Ela deixou Luize comigo enquanto precisava fazer uma prova online. Incentivada por mim, Ciça, Isabela e Léo, minha prima tinha voltado a fazer faculdade. 

Eu e Luize fomos à sorveteria, depois fiquei sentada na praça enquanto ela andava para baixo e para cima na bicicleta. Quando minha prima me ligou, fomos embora, peguei o carro e levei Luize até o apartamento. 

Enquanto voltava para casa, olhei para as ruas, as casas, as pessoas. Finalmente aquela cidade era minha. Eu me sentia em casa. Claro que de vez em quando sentia falta do Rio, da praia, dos lugares de lá e principalmente dos meus amigos… Saudades que eu matava quando eu e Ciça aproveitávamos algum feriado prolongado e íamos para lá. Ela dirigia até antes da metade do caminho, depois me entregava o volante:

— A partir daqui não é mais trânsito… É loucura. 

Às vezes ficávamos na casa de Vitor e João Paulo, às vezes alugávamos alguma coisa. Mas sempre na hora de voltar, o meu pensamento era o mesmo: voltar para casa. Para a nossa casa. Nenhum sentimento de não querer ir embora ou de arrependimento por ter largado a cidade grande. A minha certeza era que eu havia encontrado um lar na mulher que eu amava. 

*****

Que terça-feira filha da puta! Cheguei em casa ainda irritada, depois de um dia péssimo no trabalho. Tudo de errado que poderia ter acontecido, aconteceu. Foi um daqueles dias em que só aparecem “abacaxis”, e era eu quem tinha que descascar. 

Parei na cozinha, peguei um copo d’água e tomei um remédio para dor de cabeça. Cheguei devagar na sala e acenei para Marcela, ela também me acenou disfarçadamente, sem deixar que a mão aparecesse na câmera do notebook. Provavelmente estava em reunião, no trabalho em homeoffice na mesma empresa em que Vitor já trabalhava. Eu sabia que aquilo não era o que Marcela realmente queria, tomava muito do tempo que ela poderia usar para pintar e criar. Mas ela foi irredutível quando a vaga surgiu:

— Eu vou aceitar!

Eu até tentei fazer com que ela pensasse um pouco mais:

— Amor… Você não precisa… A gente tá dando conta do jeito que tá…

Mas ela nem pestanejou:

— Eu quero, Ciça. Não dá pra ficar te pedindo dinheiro até pra comprar um esmalte…

Eu tentei contestar, mas ela não deixou:

— Eu sei que você não se importa, meu amor. E te amo ainda mais por isso, mas… não dá pra viver esperando a vida ficar perfeita. E se é essa a oportunidade que eu tenho agora, é ela que eu vou agarrar. 

Dentro do quarto, eu tirei os sapatos, a roupa, e fui para o banheiro, onde tomei um banho demorado. Meu estresse abaixou um pouco, mas meus músculos ainda estavam completamente tensos. Vesti a blusa olhando para a estante do quarto. O meu quadro, que Marcela tinha pintado, agora estava de volta ao seu lugar. Sorri ao olhar para a foto ao lado dele. As duas crianças uniformizadas, de mãos dadas, lado a lado, sorrindo para a câmera. 

Senti os braços de Marcela me abraçarem por trás. Ela beijou meu pescoço antes de falar:

— Mais uma reunião que poderia ter sido só um e-mail…

Eu ri, enlaçando meus dedos no dela:

— Tá liberada?

Ela murmurou:

— Uhum. Também vou tomar um banho…

Mas não se moveu. Continuou colada em mim, o queixo apoiado no meu ombro. 

Eu voltei a olhar para as duas menininhas sorridentes na foto. 

A foto que Érica tinha nos dado depois que Rita achou no meio dos álbuns antigos e deixou com ela. A tia de Marcela não quis nos entregar diretamente, como se aquele gesto fosse torná-la cúmplice da nossa relação. 

Eu e Marcela. Com seis ou sete anos de idade. A imagem dela que eu me lembrava. A franjinha, os dentes separados. Meu sorriso aumentou, apertei ainda mais as mãos ao redor das de Marcela, querendo poder dizer para aquela pequena Maria Cecília que, não tinha sido fácil o caminho até ali, e com certeza ainda surgiriam muitos obstáculos, mas tinha dado tudo certo. Ela poderia se orgulhar de nós. 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi, gente! Chegamos ao fim. Obrigada a quem acompanhou a história até o final, espero que tenha sido uma experiência positiva :) Se quiserem deixar um feedback, será muito bem-vindo. 

Sempre tento criar personagens reais, com sentimentos, contradições e imperfeições, e com Ciça e Marcela não foi diferente. Duas mulheres com experiências de vida quase opostas, mas que se apaixonaram, sofreram, passaram por cima de muitas coisas e se permitiram viver o amor. 

Deixo um obrigada especial para quem comentou. Não sou profissional, tenho a escrita quase como uma terapia, além de ser uma forma de contar histórias que nos representam. Os comentários são termômetro e combustível para mim. Eu adoro essa troca que temos! Muito obrigada mesmo! 

Espero nos encontrarmos de novo numa próxima história. Até breve. Um abraço! 

 


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Comentários para 31 - Capítulo 31:
keique
keique

Em: 30/08/2025

Olá autora,

Muito bonita e envolvente sua história. Adorei as meninas e como elas lidaram com os impedimentos. Você escreve muito bem e com sensibilidade. Parabéns pelo romance lindo!

Quero mais....

Beijinho e boas energias.


AlphaCancri

AlphaCancri Em: 10/09/2025 Autora da história
Oii! Muito obrigada pelo seu comentário, de verdade! Fico feliz que tenha gostado da história. Tenho mais duas publicadas aqui no site, caso queira dar uma olhada :)
Um abraço!


Responder

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Shirley
Shirley

Em: 15/06/2025

Muito lindo, maduro, pensado. Estória linda de diálogo e de adequação das diferenças. Amei. Parabens aurora.


AlphaCancri

AlphaCancri Em: 15/06/2025 Autora da história
Oi, Shirley! Muito obrigada pelo seu comentário, fico feliz que tenha lido e gostado da história! Obrigada mesmo! Abraço


Responder

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Shirley
Shirley

Em: 15/06/2025

Muito lindo, maduro, pensado. Estória linda de diálogo e de adequação das diferenças. Amei. Parabens aurora.

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Dessinha
Dessinha

Em: 27/05/2025

Querida autora, você permitiu que acompanhássemos um romance delicioso, repleto de detalhes muito bem colocados. Detalhes que eu adorei! Viajei para onde morei durante tanto tempo, com o meu primeiro amor lá no interior de Alagoas, ah que coisa boa de ler. Essas pequenas partes por exemplo "deixei a mesa com o porteiro do prédio", ou Ciça usando jaqueta em dias de calor devido o ar condicionado do trabalho, o caminho da Ciça até o trabalho sempre falando com as mesmas pessoas. É encantador, muito real e eu particularmente me encantei demais. Desejo que retorne logo mesmo, pois o que escreve deixa seu legado, e é lindo demais! Mas eu fiquei pensando se você vivenciou coisas assim, como consegue descrever esses momentos, essas cenas tão ricas?

Um mega abraço!!


AlphaCancri

AlphaCancri Em: 28/05/2025 Autora da história
Nossa, que legal que consegui te transportar de volta ao passado um pouquinho… Sempre tento colocar detalhes que fazem sentido na história e a aproxime da realidade. Quando escrevo esse gênero, tento fazer com que seja uma história que poderia ser real, que faça a leitora se identificar.
Respondendo a sua pergunta: Essa história não é uma autobiografia, mas tem muito de mim nela. É um misto de coisas que vivi, que vi, que ouvi… sou muito observadora e às vezes uma imagem/som/sensação é um gatilho para que uma história comece a surgir na minha cabeça rs. Mas sempre que a gente escreve, fica um pouco de nós nas palavras, né?
Muito obrigada por todos os seus comentários, fiquei feliz em saber que você teve uma imersão tão legal na história. Espero te ver de novo na próxima. Um abraço!


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Raf31a
Raf31a

Em: 27/05/2025

Você sempre surpreendendo...

Estava esperando um namoro à distância e você construiu outro caminho, que depois de ler parece que era o único possível. 

Obrigada!!! Espero que volte em breve com mais uma PEDRADA! 


AlphaCancri

AlphaCancri Em: 28/05/2025 Autora da história
São as personagens que mandam em mim, elas mesmas escolhem os próximos passos rsrs
Fico feliz que tenha gostado de acompanhar (mesmo tendo sofrido um pouquinho) e que tenha te surpreendido esse final… Muito obrigada pelos seus comentários, de verdade! Espero te ver de novo na próxima. Um abraço!


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HelOliveira
HelOliveira

Em: 27/05/2025

Adorei esse final, elas sofreram, mas conseguiram com muito amor construir suas vidas...

Parabéns e obrigada, foi muito gostoso acompanhar cada capítulo...

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AlphaCancri

AlphaCancri Em: 28/05/2025 Autora da história
Eu que agradeço por cada comentário seu, muito obrigada mesmo! Fico feliz que tenha gostado de acompanhar a história. Espero te encontrar de novo na próxima! Um abraço :)


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