Capitulo 4 Voltando para Casa
Capítulo 4
Voltando para casa
O clima na casa estava bem tenso e eu podia sentir, era na verdade um misto de apreensão e tristeza, eu poderia jurar que senti uma onda de tristeza enorme vinda de Aisha quando ela chegou e mesmo percebendo seu olhar distante e avermelhado preferi não perguntar o que havia acontecido. Durante o jantar Aisha comentou que havia encontrado o lugar para conseguir voltar para casa, me ofereci a levá-los já que ficava a uma hora e meia de onde morava, confesso que em pouco tempo já havia me afeiçoado a eles, não sei se pela minha carência afetiva, necessidade de pertencimento ou o simples fato de nunca ter conhecido ninguém como eu e ali na minha casa agora havia três pessoas que pelo menos viam o que eu via, talvez era um pouco de tudo.
Enquanto Naya tentava relaxar na banheira e Aisha fazia a ronda eu me aproximei da cama onde Mylo se encontrava, sua pele queimada de sol assim como o da sua irmã estava banhado de suor, me aproximei e ao tocar sua testa me assustei com sua temperatura que parecia muito elevada, molhei o pano na agua fria que havia ali perto dele e fiz uma compressa em sua testa, não pude evitar desejar que ele melhorasse e conseguisse voltar para casa, acredito que o pano frio havia lhe dado algum alivio já que sua feição relaxou quase que imediatamente, molhei o pano e deixei sobre sua testa quando percebi que ele já respirava com mais calma e sai de lá para não parecer inconveniente quando Naya saísse do banho.
Ouvi quando Aisha voltou, mas não quis parecer enxerida, era claro que ela não estava bem e que não queria conversar principalmente com uma desconhecida, virei-me na cama tentando dormir.
_Beatrice? Está acordada?
Meu peito sofreu uma pequena arritmia ao ouvir a voz de Aisha em minha porta, me levantei quase que de imediato e fui abrir a porta.
_Aisha? O que houve?
_Desculpe não quis te acordar, volte para cama amanhã conversamos. – Ela se virou para ir embora, mas a segurei pelo pulso.
_Não, tudo bem eu não estava dormindo, quer entrar ou...- Fiz sinal para que entrasse em meu quarto, depois de uma breve olhada no interior ela sinalizou que não.
_Acho melhor falarmos lá embaixo, você se importa?
_Não tem problema, vou preparar um chá.
Aisha estava tensa e com um semblante triste, não sei o que ela estava passando, mas senti que não queria ficar sozinha naquele momento e eu sabia muito bem como era aquela sensação de desamparo, enquanto colocava água no fogo e separava duas xícaras ela puxou assunto.
_Você já perdeu alguém que ama?
Ergui meus olhos do saquinho de chá que colocava nas canecas meio impactada com sua pergunta.
_Bom, é difícil perder algo que nunca teve, mas eu sei como é se sentir só, serve? – Tentei soar como se aquele assunto não me afetasse.
_Você não tem família? – Aisha pareceu intrigada.
_Não, meus pais me abandonaram na rua e não se deram o trabalho nem de me dar um nome, e bom acho que não era boa o suficiente para ser adotada, então não, não tenho ninguém.
_Eu sinto muito.
_Não se preocupe eu me acostumei a cuidar de mim. – Dei de ombros e comecei a servir o chá de camomila.
Bebemos por um tempo em um silencio confortável, até que Aisha voltou a falar.
_Desculpe pela forma que falei com você mais cedo, sei que somos praticamente desconhecidas e mesmo assim você tem sido muito hospitaleira e é visível que é uma boa pessoa.
Ela demorou a focar em meus olhos, mas quando o fez vi o quanto ela estava ferida e aquilo me doeu, senti como se fosse em mim aquela dor que nada tinha a ver com a forma com que ela me tratou. Estávamos sentadas na mesa quase uma de frente para outra e senti que precisava confortá-la, então segurei suas mãos junto a sua xícara a fazendo me encarar.
_Você quer falar sobre isso que está te machucando?
Aisha imediatamente encheu os olhos de água e não demorou muito para que começasse um choro dolorido, deixei que chorasse, me desloquei para sentar-me ao seu lado e ousei abraçá-la de lado acariciando seu cabelo. Aisha e eu nos conhecíamos a pouco mais de um dia, mas eu me sentia tão conectada a ela que parecia muito mais que apenas horas.
_Hoje eu perdi minha única família... E a culpa é toda minha... – Aisha encostou a cabeça em meu ombro e eu a apertei mais próxima tentando passar naquele abraço toda a minha solidariedade e esperei que se acalmasse.
_Miriam tinha 22 anos, era minha única irmã, ontem era sua primeira missão... Eu mesma fiz questão de escolher uma que era para ser simples, apenas reconhecimento, mas algo deu errado e seu pelotão... – Aisha mal tinha forças para continuar seu relato sem chorar.
_Eu sinto muito, não sei como tirar essa sua dor, mas tenho certeza de que não foi culpa sua, não tinha como você saber Aisha. – Tentei segurar minhas próprias lágrimas e confortá-la de alguma forma.
_Eu estou com tanta raiva e nem sei do que exatamente, me pergunto se eu poderia evitar isso de alguma forma.
_Foi um infeliz acidente, tente não se machucar mais com essas especulações. Tenho certeza de que ela sabia do amor que tinha por ela e isso vale mais que qualquer coisa em qualquer mundo.
_Obrigada Beatrice, você é realmente alguém especial, não se esqueça disso. Se algum dia eu tiver alguma missão por essas bandas farei questão de vir te visitar. Só espero que ainda lembre de mim.
_Eu jamais esqueceria de você Aisha.
Um brilho diferente surgiu em seus olhos por um segundo antes dela desviar o olhar e voltar a encarar sua xícara por um tempo antes de voltar a falar.
_De onde viemos, quando vamos nos despedir de alguém que talvez não iremos ver por muito tempo ou... nunca mais... Costumamos dizer: Que a mãe nos una e nossas almas se encontre, e a outra pessoa responde: Nessa ou na próxima vida. – A voz de Aisha ainda estava embargada. _ Eu nunca quis tanto que essas palavras fossem verdade.
A abracei novamente dessa vez sendo retribuída, Aisha me apertou no seu abraço como se quisesse sentir que aquele momento era real ou que eu fosse real. Passamos mais um tempo conversando até que ela finalmente estivesse mais calma e pudéssemos ir tentar dormir.
Como por um milagre Mylo acordou no dia seguinte relativamente bem para seu estado anterior, ainda estava fraco, mas conseguia se mover sozinho e estava sem febre, ficamos felizes quando ouvimos que ele estava faminto e eu nunca vi alguém comer tanto, Vi Aisha melhorar um pouco o humor ao ver o amigo comer e reclamar que não aguentava mais ficar deitado, mas continuou em repouso depois de ser intimado pela sua Kaesy que não aceitou ser contestada. Do lado de fora o mundo desabava em chuva, mas não tinha como evitar ter que enfrentá-la mais tarde caso não parace, eu tentava não pensar em como seria voltar para casa vazia depois de tê-los comigo, pessoas com as quais eu não precisava fingir ser o que eu não era, voltar para minha solidão.
_Tem certeza de que é seguro voltar sozinha depois que nos deixar? – Aisha insistia que não era uma boa ideia eu levá-los até o Parque Estadual da Pedra Bonita onde eles seguiriam para o local da fissura que os levaria para casa.
_Tenho sim, eu conheço essa rota já fiz várias vezes essa trilha então não se preocupe, se eu soubesse que havia uma fissura para o seu mundo eu teria explorado ainda mais. – Falei animada com a ideia de ir para um lugar onde eu não fosse uma aberração, me permiti sonhar um pouco.
_Seria bem louco você conseguir passar sem ter magia, até onde sei só os nascidos em nossa Terra conseguem passar. -Mylo acabou com meu sonho, conclui que preferia ele dormindo, fechei a cara para ele que apenas riu enquanto era ajudado a se sentar no banco de trás do meu carro que para sorte dele era um carro grande.
_Não liga para ele, Mylo ainda está de mal humor por ainda precisar de ajuda, seria incrível se você conseguisse vir com a gente tenho certeza de que iria amar nossos vales e a cidade alta. – Aisha se acomodou ao meu lado na frente.
_Tenho certeza que sim. – Sorri para Aisha sendo retribuída com um sorriso singelo.
A chuva não dava trégua e demoramos um pouco para chegar, mas com tempo de sobra para subir a trilha devagar e ter tempo de entrar no portal. Estacionei o mais próximo do local para facilitar e nos despedimos, Naya me agradeceu e usou a mesma frase que Aisha havia comentado comigo e eu retribui o gesto e finalmente recebi um breve sorriso dela, Mylo agradeceu por minha ajuda e prometeu uma visita quando tivesse missão aqui ao qual eu reforcei que eles sempre seriam bem vindos e por fim chegou a hora de me despedir de Aisha, se um frase resumisse o que eu sentia naquele momento seria um trecho da música de Ana Vitória – Fica onde ela diz apenas “fica, fica me queira e queira ficar”.
_Bom acho que é isso, mais uma vez obrigada Beatrice.
_Me chame só de Trice, acho que isso é um adeus então.
_Acho que sim, pelo menos por hora. – Aisha sorriu e me abraçou forte antes de se distanciar.
Meu coração estava acelerado, aquela poderia ser a última vez que eu a veria e eu queria que ela se lembrasse de mim então chamei seu nome em meio ao barulho da chuva, quando ela se virou não teve tempo de pensar muito pois fixei meus lábios nos seus segurando seu rosto, não foi um beijo elaborado nem durou muito. Me afastei devagar pronta para pedir desculpas, mas ao encontrar seu olhar ela me puxou pela cintura e me beijou profundamente e por um momento o tempo parou e eu queria morar naquele beijo, nos separamos sorrindo e antes que pudéssemos dizer algo um barulho conhecido me fez estremecer.
_Eu pensei que seu trabalho tinha acabado aqui? – Eu agarrei em seu braço já em pânico, Aisha sacou a espada do compartimento mágico e já estava em postura de luta.
_Eu também, vai Trice volte para casa o mais rápido que puder pelo som é apenas um e posso dar conta dele.
Confirmei com a cabeça e comecei a correr para o carro, mas o mostro alado pousou com tanta força em cima do teto do carro que ele amaçou dando perda total, quem visse parecia que uma pedra gigante havia caído em cima dele, não contive o grito de medo e senti as mãos de Aisha me puxando para correr com ela enquanto via flechas atingir a criatura nos dando uma chance de escapar.
_Kaesy o que aconteceu eu pensei que tínhamos acabado com todos! – Naya gritou ao passarmos por ela e vindo logo atras.
_Eu também, mas tem algo muito errado com esse, ele é o dobro do tamanho dos outros e muito mais forte.
Aisha corria com facilidade na chuva enquanto me puxava aos tropeços, paramos entre as árvores saindo da trilha para tentar despistar a coisa que nos perseguia.
_Me deixe aqui eu vou atrasar vocês. – Falei ofegante.
_Nunca, se estou certa ele está atras de você eu só não sei bem o motivo. – Aisha parecia com raiva e preocupada.
_Não fale besteira garota você é um lince de tão rápida comparada a mim, eu mal consigo correr sem sentir meu peito se rasgando em dois. – Só agora eu havia percebido Mylo mais adiante escondido.
_Escutem, vamos seguir pelas arvores, essa criatura não parece conseguir passar por elas daquele tamanho ele está esperando que fiquemos vulneráveis, Beatrice se tiver algum caminho alternativo até esta pedra por favor nos mostre.
A pedra que Aisha me mostrou era a famosa pedra do cavalo ou pedra bigorna, um ponto turístico onde quem fazia trilha usava para tirar fotos instagramáveis como se estivessem caindo do precipício, o único problema era que lá era completamente aberto.
_Sei onde é e posso ajudar, mas lá não a arvores para nos proteger dessa coisa.
_Não se preocupe com isso agora, vamos nos preocupar em chegar lá. – Completou Aisha.
Subimos por uma rota mais difícil, mas pelo menos estávamos protegidos e por fim chegamos bem na hora do início da abertura do portal, quase não dava para vê-lo era um rasgo brilhante no fim da pedra, praticamente eles tinham que pular no vazio quando o portal abrisse.
_Certo! Falta pouco para a abertura, quando eu der o sinal Naya e Mylo vão direto para o portal e nem ousem olhar para trás, Trice eu irei enfrentar o monstro desperto enquanto você foge combinado? – Tentei contestar, mas Naya me interrompeu.
_Não se preocupe, ela não recebeu o título de Kaesy tão nova só por ter belos olhos. – Tentei acreditar nas palavras dela e não entrar em pânico.
Quando chegou o momento tudo parecia em câmera lenta, o portal abriu e os irmão dispararam para o pico, o monstro pousou e tentou impedi-los mas os tiros em seu peito o distraiu e enfureceu chamando sua atenção para onde Aisha estava, com a distração Naya e Mylo passaram e cruzaram o portal ao mesmo tempo que a besta corria de quatro para atacar Aisha que atirava enquanto se afastava de onde eu estava, ela me olhou me dando o sinal e eu forcei minhas pernas a correr, não conseguir ir longe quando a criatura gritou e logo em seguida ouvi barulho de garras e aço se chocando, voltei para onde Aisha enfrentava o monstro e me deparei com a criatura em cima dela no chão encurralada se defendendo com a espada.
Minha mente ficou em branco eu precisava ajudá-la, corri para a área aberta e encontrei uma pedra pesada o suficiente para conseguir arremessar, algo em mim fervia e eu só queria ter o poder de fazer com que aquela pedra ferisse a criatura e chamasse sua atenção.
_Ei seu bafo de carniça porque não volta para o buraco que você saiu!
Arremessei a pedra com toda minha força, poderia ser minha imaginação, mas pude jurar que ela crepitou antes de acerta a coisa nas costas que gritou e se virou imediatamente em minha direção, ouvi Aisha me mandando correr, mas não deu tempo e o monstro me acertou com as costas da pata me jogando longe, rolei por um tempo até sentir meu corpo escorregar e por reflexo me agarrei ao precipício nas pedras escorregadias, usei toda minha força para me segurar enquanto ouvia barulho de luta e urros do monstro e de Aisha, eu já não aguentava mais, a mão do braço que sofreu a pancada doía e não sei como não estava quebrado, por causa da pancada não aguentei segurar e escorreguei, me forcei a voltar a segura com as duas mãos a pedra e buscava algum apoio para os pés sem sucesso, escorreguei da pedra e minhas mãos conseguiram se segurar em uma raiz de arvore que se projetava do barro.
_Trice! Me dá a sua mão.
Aisha se projetava na beirada perigosamente para tentar me pegar, eu já chorava de desespero e tirei forças não de onde para esticar minha mão até ela, nossos dedos se tocaram, mas eu quase escorreguei e voltei a segurar na raiz.
_Você consegue! Se balance para aumentar o impulso, cofie em mim eu vou te pegar!
Eu confiei e me impulsionei para sua mão e rezei, pedi para uma santidade que eu não sabia como chamar pois nunca fui religiosa, me ajudar. Senti a pele de Aisha me tocar e por fim seu aperto forte me segurar, assim que senti firmeza a agarrei com as duas mãos e me senti sendo puxada para cima, quase não acreditei quando senti o chão sobre meu corpo, nos abraçamos aliviadas.
_Você conseguiu! - Disse chorando.
_Eu nunca te soltaria!
Aisha me segurava pelos ombros sorrindo aliviada, mas seu sorriso sumiu ao olhar para traz, segui o seu olhar me deparando com muitas criaturas semelhantes ao que ela havia exterminado.
_Isso só pode ser brincadeira! – Aisha estava incrédula com a cena a sua frente.
Nos levantamos e fomos em direção a pedra da bigorna onde o portal já começava a se fechar.
_Você confia em mim Trice? – Aisha segurou minha cintura me puxando com ela.
_confio!
Aquilo foi o suficiente para ela me pegar no colo com uma facilidade invejável e correr para o portal. Eu não sabia o que me esperava do outro lado e nem se eu iria sobreviver, mas me agarrei a esperança de que aquele seria o meu recomeço, uma nova vida nessa ou na próxima.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem cadastro
Em: 28/03/2025
Só eu que acho que a Trice de alguma forma curou o Mylo... E esses monstros estão fodas kkk.
Já falei da conexão delas, Tricie é um deles tenho certeza kkk.
Então, autora... Já começou a história?
Quero mais, Vida.
Duda Nunes
Em: 28/03/2025
Só eu que acho que a Trice de alguma forma curou o Mylo... E esses monstros estão fodas kkk.
Já falei da conexão delas, Tricie é um deles tenho certeza kkk.
Então, autora... Já começou a história?
Quero mais, Vida.
Isis SM
Em: 28/03/2025
Autora da história
Não pressione o artista kkkkkkkk
[Faça o login para poder comentar]
Zanja45
Em: 17/03/2025
De onde saiu tantas criaturas assim? Dessa forma eles irão dominar a terra. E Aisha lançou alguma magia para atravessar com Beatrice com ela no portal ou ela realmente pertence a esse planeta? É a confirmação de que ela seja realmente desse lugar, por isso ela se sentir tão só.
Isis SM
Em: 18/03/2025
Autora da história
São ótimas perguntas viu, mas não darei nenhuma pista rsrs.
[Faça o login para poder comentar]
Cristiane Schwinden
Em: 16/03/2025
E elas cruzaram o portal! Tenho certeza que Beatrice veio da outra terra e foi abandonada aqui, ela deve ser a She-ra! Adorei seu conto, tem que ter continuação, viu?
Isis SM
Em: 16/03/2025
Autora da história
kkkkkk Olha que nem me inspirei em She-Ra pelo menos não conscientemente kkkkk apesar de amar a animação, mas fico feliz que gostou espero que leia o livro delas quando eu terminar viu!
Cristiane Schwinden
Em: 16/03/2025
Com certeza quero ler o romance completo! me conquistou, adoro esse tipo de história!
[Faça o login para poder comentar]
HelOliveira
Em: 08/03/2025
Amei, parabéns
Isis SM
Em: 08/03/2025
Autora da história
Obrigadaaaa minha primeira vez arriscando em fantasia ja estiu ansiosa para dar mais contexto a historia
HelOliveira
Em: 08/03/2025
Então posso falar que esta tendo um ótimo inicou, cou adorar acompanhar essa aventura
Isis SM
Em: 16/03/2025
Autora da história
Nossa fico muito Feliz !!! Assim que eu terminar de escrever vou postar aqui aos poucos.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]