Escolhas por anonimo2405
Traição
POV CRIS
Segurar aquela embalagem em causava calafrios e ao mesmo tempo uma angústia sem tamanho. Confesso que tentava encontrar qualquer outra explicação que não fosse a que tomava conta dos meus pensamentos. Um belo par de chifres, se é que já não estavam ali a mais tempo e só agora eu estava vendo.
Sentia um desânimo profundo, queria ir para casa, mas não sabia qual casa. Vi tudo que construímos desmoronar tão rápido quanto o choro que eu tentava segurar. O que será que faltou? Onde eu errei? Só conseguia culpar a mim mesma e isso só me deixava pior. Eu não fui suficiente, mesmo cedendo todas as vezes, algo deu errado em algum momento. Ela escolheu trans*r com outra pessoa, com um homem.
Ouvi a porta sendo aberta e tentei disfarçar. Arranquei qualquer pingo de lágrima que denunciasse minha tristeza e fui até a varanda. Pra minha sorte ou não, deveria ser Janaína. Continuei apenas escutando os sons aleatórias vindas do quarto. Olhava pro vazio e sentia um grande vazio também. Não saberia o que fazer dali em diante. O noivado, os planos.
Me senti sufocada com todos os sentimentos misturados e decidi sair. Caminhar a esmo, aproveitando que ela ainda estava no banho. Não queria imaginar a possibilidade de vê-la agora. Sem sequer olhar pros lados, apenas sai, divagando sobre a minha nova realidade.
O destino parecia se compadecer e a sala estava vazia. Mas ouvi vozes da área externa. Todos se divertindo, melhor assim. Não teria estômago pra mais fingimentos. Era o começo do final de tarde, o céu já ganhava seus contornos alaranjados e o vento fresco vinha como um abraço refrescante. Uma visão bonita para os amantes da calmaria. Uma pena para mim, que não conseguia enxergar paz em canto algum, dada minha confusão interna.
POV ANDRESSA
Tomei um banho rápido, esperando que a água lavasse também minha consciência. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha de qualquer jeito. Cheguei no quarto, mas pra minha infelicidade encontrei apenas aquela mulher de cabelo tingido. Tentei ignorá-la. Não perguntaria sobre a Cris, afinal, a mulher dela sou eu. Não me senti a vontade pra trocar de roupa ali dentro, então peguei uma muda de roupas novas e fui ao banheiro novamente.
Me vesti o mais rápido que pude. Estendi a toalha sobre a cabeceira e sai batendo a porta, sem me importar com aquela inútil. Cheguei na sala, mas estava vazia. Ouvi as vozes animadas vindas da cozinha e quando cheguei, todos estavam volta da piscina, aproveitando num clima alegre. Mas eu não conseguia sentir nada daquilo.
-Querida, tudo bem? Vem cá, senta um pouco com a gente.
- Já venho mãe, preciso falar com a Cris. Ela passou aqui?
- Não filha. Aconteceu alguma coisa?
Poderia ser meu estado de nervoso transparecendo, mas tentei me acalmar.
- Não, não aconteceu nada. Já venho falar com vocês tá?
Segui pelo caminho de volta com passos apressados. Pelo menos o carro ainda estava aqui. Segui para a estrada e tinha uma decisão, escolher um lado. Segui minha intuição e resolvi ir para a esquerda.
POV CRIS
Eu andava pela estrada de terra, o som dos meus passos abafado pelo peso no peito. O vento estava frio, mas não importava, meu corpo estava quente demais de raiva e de dor. Quando ouvi ela me chamando, parei. Olhei para ela, e a expressão no rosto dela fazia o meu coração acelerar de uma forma que não sabia mais se era por amor ou medo.
- Amor, o que aconteceu? Você... Tá chorando? – Tentou se aproximar, mas me afastei por instinto. Eu não pretendia contar da minha recém descoberta. Queria que ela me contasse sozinha, mas...
Sem dizer nada, apenas peguei a embalagem azul, e deixei cair na estada, junto com minhas lágrimas teimosas. Ela me olhou, hesitou, e a primeira coisa que disse foi:
- Amor...
Eu apenas tentava me controlar, mas estava chegando no meu limite.
- Cris. - Ela sussurrou - Não... Não é nada disso. Por favor, não pensa besteira- Eu sorri, um sorriso triste, porque simplesmente não conseguia acreditar naquilo.
Continuei de cabeça baixa, tentando me manter firme, mas a dor e raiva só cresciam, não sei por quanto tempo eu aguentaria ouvir aquelas mentiras.
- Amor, isso não é meu. Cris, eu não faria isso com você, acredita em mim, nós somos noivas. Como você pode ter tanta certeza de que eu te trai. Isso não quer dizer nada.
Eu fiquei parada, olhando para aquele pedaço de plástico, sentindo a sensação de que o mundo inteiro tinha desmoronado ao meu redor. O ar parecia ter sumido, e eu mal conseguia respirar.
- Como você explica isso? - Eu perguntei, minha voz tentando não falhar, mas já não conseguindo esconder a dor. Ela olhou para mim, os olhos perdidos, e tentou reagir como se tudo não fosse tão grave. Mas eu sabia que era.
- Eu... eu não sei - Ela começou, tentando desviar o olhar, mas eu a forcei a me encarar. - Não é o que você está pensando, não é minha, eu juro. A embalagem, sei lá, deve ser de alguém de fora, de outra pessoa. - Ela falava rápido, como se quisesse se livrar da culpa de qualquer jeito. Mas as palavras não faziam sentido.
- De outra pessoa? Como assim? - Eu perguntei, começando a andar de um lado para o outro, tentando organizar o turbilhão que estava na minha cabeça. - Você está me dizendo que não é sua, mas você estava aqui, o tempo todo. De quem mais poderia ser? O que, a embalagem é do seu irmão agora? Dentro do seu bolso?
Ela ficou em silêncio, sem saber o que dizer, como se as palavras tivessem falhado. A angústia começava a me consumir, e a dor se transformava em raiva.
- Ou seria algo da casa dos seus pais? Você trouxe alguém de lá para trans*r com ele? É isso? Me diz! Como não era sua? Porque, se não era sua, era de quem?- Eu me aproximei dela, sem conseguir mais controlar a frustração e a sensação de traição.
Ela deu um passo atrás, visivelmente desconfortável. - Não, não é isso… Não era nada disso. - Ela olhou para o chão, parecendo tentar se encontrar, mas só me deixando mais irritada.
- Então, me explica, porque... porque eu sempre estive com você, sempre ao seu lado, e... em algum momento, você usou camisinha? Ou foi só com ele? Só com ele que você precisava disso, não é? - A pergunta saiu sem querer, mas foi como um soco no estômago. Eu precisava de uma resposta, de algo que me dissesse que não estava vivendo uma mentira. - Será que eu não sou suficiente? Foi só com ele, porque com ele você precisou de proteção, mas comigo não?
O olhar dela vacilou por um momento, e o silêncio entre nós parecia mais ensurdecedor do que qualquer palavra. A dor e a raiva se misturavam, e o vazio que se abria entre nós parecia impossível de preencher. Ela sabia que não podia mais mentir, mas também não sabia como dizer a verdade sem me ferir ainda mais.
- Eu não queria que você descobrisse assim.
Eu queria gritar, eu queria fazer ela sentir um pouco do que estava sentindo, mas eu não conseguia. Só conseguia olhar para o chão, sentindo o peso da traição em cada pedaço de terra que pisava. Ela se aproximou, como se quisesse me tocar, mas eu a afastei, sem conseguir dizer uma palavra.
- Me desculpa - Ela sussurrou - Eu... eu errei. Eu não sei como explicar, mas o que aconteceu não tem nada a ver com você. Eu te amo. - Eu ri sem vontade, amarga, porque eu não sabia mais o que era amor. Aquelas palavras já não significavam nada.
- O que é que você quer de mim agora? - Perguntei, minha voz rouca de tanto tentar segurar a dor. Ela abaixou a cabeça, os olhos marejados, e eu vi o quanto ela estava perdida também. Mas não adiantava. Ela tinha destruído tudo.
- Eu só... eu só não queria te magoar. Não sabia o que fazer. Eu te amo, e isso é verdade, mas eu também falhei. Eu não sei se tem volta. - E, naquele momento, eu soube que não tinha mais volta. A estrada à minha frente parecia tão distante, mas não me importava. Eu só queria que ela fosse embora.
Ela ficou ali, parada, sem saber o que dizer, como se as palavras tivessem se perdido no ar entre nós. Eu sentia a presença dela, mas ao mesmo tempo me sentia completamente sozinha. O que ela falava parecia não fazer mais sentido, como se eu estivesse ouvindo de um lugar distante, onde as coisas já não eram mais reais.
- Você não me ama o suficiente - Eu disse, e a voz saiu quebrada, sem querer. - Se amasse, não teria feito isso. Não seria capaz de me destruir assim.
Ela deu um passo em minha direção, mas novamente, eu me afastei. - Eu não sei mais quem você é. -Confessei, e aquela frase parecia me rasgar por dentro. Eu a amava tanto, mas algo dentro de mim já tinha mudado, talvez para sempre. Ela parecia querer se explicar, mas eu só conseguia ver a camisinha no bolso do shorts dela, e aquilo não saía da minha mente.
Ela deu um passo em minha direção, mas eu, instintivamente, me afastei.
- Eu não sei mais quem você é - Confessei, e aquela frase parecia me rasgar por dentro. Eu a amava tanto, mas algo dentro de mim já tinha mudado, talvez para sempre.
- Você… você fez isso com um homem! Falei, e um nó se formou na minha garganta. Ela hesitou, o rosto corado, os olhos se desviando.
- Eu não sei… Eu não sei o que aconteceu. Foi um erro, algo que eu… não sei explicar - Ela tentou, mas eu a interrompi. - Você não sabe o que é, não é? Você tem medo de ser quem você é. Medo do que sua família pensa, medo de ser quem você realmente é comigo… porque com um homem, parece ser mais fácil! - Eu a encarei, a dor tão grande que eu já não sabia se podia sentir mais alguma coisa. - Será que você gosta mesmo de mulheres, ou só se enganou, achando que era errado?
Ela baixou a cabeça, como se as palavras dela não fossem mais suficientes, e o silêncio entre nós pesou ainda mais.
- Eu… eu gosto de você - Ela disse, e a voz estava fraca, sem convicção. - Mas eu não sei mais o que eu sinto. Não sei se a minha família… se as pessoas de onde eu venho me deixariam ser quem eu sou com você. Eu sempre pensei que talvez fosse só uma fase. Que eu tava confundindo as coisas. - Eu senti uma raiva fria tomando conta de mim.
- Então é isso? Eu sou só uma fase? Um erro? - Perguntei, e ela deu um passo para trás, como se me machucasse ouvir aquilo.
- Não é isso! - Ela sussurrou, mas a distância já estava feita. - Eu não queria te ferir, mas não sei mais o que fazer. Eu só sei que errei, e que… eu ainda não consigo entender direito.
Eu não sabia o que responder. Como poderia acreditar nela agora? Como continuar acreditando que éramos nós duas se ela mesma não sabia quem era?
- Eu não posso mais - Eu disse, e minha voz falhou. - Eu não sei mais quem você é, nem quem sou eu nessa história. Não depois disso. - Eu virei as costas, sentindo uma tristeza tão profunda que me parecia não ter fim.
O vazio que ficou entre nós parecia insuportável, e eu só conseguia pensar no quanto eu estava quebrada, tentando encontrar algum sentido para o que havia acontecido.
- Por que agora? Por que esperou até a gente ficar noiva pra fazer isso? Eu poderia ter entendido, poderia ter aceitado se você tivesse dito antes, se tivesse falado o que sentia, se tivesse me dito que não queria mais... mas não. Você esperou até eu te dar o meu coração, até eu me entregar completamente. Por que, então? Seria mais fácil se tivesse sido honesta antes, se tivesse me dito que não podia ser comigo, que não queria. Porque agora... eu não sei mais o que fazer com isso tudo. - Eu sentia o peso de cada palavra, como se estivesse tentando entender como é possível confiar em alguém que, de repente, se torna um completo estranho.
Eu estava tão cansada de tudo, da dor que parecia me consumir a cada segundo, da confusão no olhar dela, das palavras vazias que ela tentava me oferecer. Quando virei as costas, ela correu atrás de mim, me chamando, e eu senti uma raiva súbita, algo que queimava dentro de mim. Eu parei, mas não olhei para trás, não queria ver aquele rosto que um dia era tudo para mim, mas agora parecia um estranho.
- Por favor! - Ela implorou, já com os olhos cheios de lágrimas. - Eu te amo! Eu sou tão idiota, tão fraca! Eu não sei o que aconteceu, foi um impulso, uma coisa ridícula que eu fiz. Mas você é o amor da minha vida, só você, eu nunca quis te perder!
Eu ri, mas não foi uma risada verdadeira, foi algo ácido, de dor e raiva.
- O amor da minha vida? - Eu falei, as palavras saindo com uma ira que me surpreendeu. - Acho que você confundiu as coisas, né? Se fosse o amor da sua vida, não teria feito o que fez. Não teria se entregado a um homem, não teria se entregado a essa vergonha. Você me destruiu! - Eu a encarei finalmente, os olhos cheios de lágrimas que eu tentava segurar, mas já não consegui. - Você me destruiu, e vem com essa conversa de que me ama? Não, você não me ama! Você não tem nem ideia do que é amar de verdade!
Ela ficou parada, como se a palavra "destruiu" tivesse a acertado com um soco. Ela deu um passo em minha direção, quase desesperada, mas eu a afastei de novo, com mais força dessa vez.
- Não se aproxima de mim! - Eu gritei, e senti a raiva pulsando nas minhas veias. - Não depois de tudo que você fez. Não depois de você me humilhar assim! Você me fez sentir que eu não valia nada, que era só uma… uma fase. Você me fez acreditar que tudo o que eu sentia por você era uma mentira! - Ela estava chorando agora, e eu quase sentia uma parte de mim se quebrando ao vê-la daquele jeito, mas a raiva era maior.
- Eu… eu errei, sim, eu errei. Mas não foi por causa de você, foi por causa de mim, porque eu não sabia o que fazer com tudo isso dentro de mim! Eu sempre… sempre tive medo, medo do que minha família pensaria, medo de ser quem eu sou de verdade.
Ela se ajoelhou, e eu senti uma pontada de dor ao vê-la ali, como se fosse um pedido de perdão que eu não sabia se estava pronta para aceitar. - Me perdoa, por favor! Eu não sou mais essa pessoa. Eu te amo, e sempre vou te amar. Eu não sei como consertar isso, mas eu não quero te perder!"
Eu respirei fundo, tentando não deixar que a raiva se transformasse em algo que eu não fosse mais capaz de controlar. - Eu não posso te perdoar agora! - Eu disse, minha voz tremendo. - Não assim, não depois de tudo que você fez. Eu… não sei mais se posso confiar em você. - O silêncio entre nós era pesado, sufocante. Ela ficou ali, de joelhos, os olhos fixos em mim, mas eu só consegui sentir o vazio que ela havia deixado no meu coração. E, mesmo com toda a dor, eu sabia que não havia volta. Não agora.
O silêncio parecia ainda mais profundo ali, no meio daquela estrada, como se a natureza estivesse de alguma forma sendo cúmplice do que estava acontecendo. Eu olhava para ela, tentando entender o que tinha se passado na cabeça dela. Como ela pôde chegar a esse ponto? Como alguém que dizia me amar podia se arriscar a me perder dessa forma, no meio de tudo o que a gente viveu? E o pior de tudo, tudo isso estava acontecendo em um lugar que era tão nosso, onde tínhamos prometido que seríamos verdadeiras uma com a outra, onde tudo deveria ser seguro.
Como você pôde fazer isso assim, dessa forma? Foi aqui? - Perguntei, a voz falhando de tanta raiva e desespero. - Aqui, onde tudo é tão simples, onde o mundo é só nós duas e a terra? Você foi lá, com outro homem… Como você se sentiu tão baixa a ponto de fazer isso? No mato, sem ninguém vendo… Será que precisava disso para se sentir completa?
Eu quase não conseguia olhar para ela. A ideia de ela ter feito o que fez naquele lugar, longe de tudo e de todos, foi como se ela tivesse se despido de toda a nossa confiança de uma vez só. Era um golpe tão cruel, como se ela tivesse procurado se perder na solidão daquelas árvores, só para se esquecer de quem realmente era.
Me diz uma coisa, - eu continuei, minha voz tremendo com a intensidade da dor - Você precisa de um p*nis para me amar? Era isso? Eu não sou suficiente por causa disso? - Eu não queria perguntar, mas as palavras saíram sem eu conseguir controlar. A raiva queimava dentro de mim, misturada com um desespero que me fazia perguntar se o amor que ela dizia ter por mim realmente existia, ou se eu tinha me enganado o tempo todo.
- Eu sou só uma mulher, mas isso não deveria fazer diferença, deveria? O que você tem que provar fazendo isso com outro? Como você pode se perder assim? Não é o que você sente por mim que importa? Ou era só mais uma ilusão?
Ela me olhou com os olhos cheios de culpa, e isso só me fez sentir mais raiva, mais tristeza.
- Eu… eu não sei o que aconteceu, eu só… Eu só quis sentir algo, porque estava confusa, estava com medo de mim mesma, de ser quem eu sou com você. - Ela falava rápido, tentando se justificar, mas eu não conseguia mais ouvir, as palavras dela já estavam se tornando tão vazias.
- Você se perdeu tanto assim a ponto de precisar se jogar nos braços de outra pessoa? - Eu perguntei, e ela não respondeu, não conseguiu. A distância entre nós estava mais forte do que nunca. Eu não sabia se algum dia seria capaz de olhar para ela da mesma maneira novamente. O silêncio tomou conta do ambiente, e o vento que soprava pelas árvores parecia agora carregar todas as nossas promessas quebradas.
Ela se afastou um pouco, como se estivesse tentando encontrar uma explicação que não a machucasse mais.
- Eu… foi um erro. Eu não sei o que aconteceu, foi no impulso, e eu só… queria sentir alguma coisa, não sei… Eu estava tão confusa! - Ela parecia estar tentando se justificar, mas suas palavras só faziam a dor crescer mais.
- Confusa? - Eu repetia, sem acreditar. - Você achou que com um homem você ia entender melhor quem você é? Foi isso? Como foi, hein? Você gostou? Era o que você precisava? Ele fez você se sentir… mais mulher?
Eu a olhei com uma raiva tão forte que parecia corroer tudo dentro de mim. - Me diz, você precisava de um p*nis para me amar? - Eu não sou o suficiente assim? Isso te faltava? Eu te dei tudo, e você… você foi lá, se entregou a um homem. Isso significa que eu não sou capaz de te fazer feliz? Eu não sou suficiente porque sou só uma mulher?" Ela estava me olhando agora, a expressão cheia de culpa e arrependimento, como se tudo aquilo estivesse destruindo ela também. E em algum lugar, eu quase pude sentir a dor dela, mas não conseguia ter pena.
- Eu… eu te amo, eu te amo de verdade! - Ela disse, as palavras saindo quase como um sussurro. - Eu só não sei como explicar. Eu queria me desculpar, mas… eu não queria te magoar. Eu só não soube lidar com o que eu estava sentindo. Não é que você não fosse suficiente, é que… eu me perdi. E eu sei que errei. - Ela deu um passo em minha direção, como se estivesse tentando me alcançar, mas eu não a deixei se aproximar.
- E não é isso que você quer! - Eu disse, com raiva, sem conseguir controlar a dor.
- Você não me ama de verdade. Se me amasse, não teria se jogado nos braços de qualquer um, não teria se perdido no mato. Eu não sou um homem, e foi isso que você queria, não foi? Isso foi o que te faltou? Eu não sou mais o suficiente porque… eu não tenho um p*nis? - As palavras saíam com uma dor tão profunda que parecia que eu estava sendo rasgada de dentro para fora. Como ela podia ter me feito passar por isso?
Ela começou a chorar, os olhos cheios de arrependimento, e aquilo só me fez sentir ainda mais raiva.
- Eu errei, eu sei. Eu não queria te magoar. Você é tudo para mim, mas eu não sabia o que fazer com esse vazio que eu senti. Me perdoa, por favor! Eu só… eu só não sabia que podia ser tão difícil ser quem eu sou.
Ela estava completamente vulnerável agora, e eu, apesar da raiva, sabia que aquilo também estava me destruindo.
- Eu não posso te perdoar agora - Eu falei, com a voz quebrada - Não depois de tudo. Eu não sei mais quem você é. Eu não sei mais se algum dia vou conseguir te olhar da mesma forma. - Eu não sabia se ela realmente me amava, ou se eu estava vivendo uma mentira o tempo todo. A raiva e a tristeza me consumiam, mas a dúvida sobre quem ela realmente era me deixava ainda mais perdida.
POV ANDRESSA
Enquanto eu via ela se afastando, meu corpo ficou paralisado. Eu sabia que ela estava indo embora, que aquele era o fim de tudo, mas não conseguia me mover. Minha cabeça girava com tudo o que ela havia dito, com as perguntas, com o modo como as palavras dela tinham queimado em mim. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Tudo o que eu sentia agora era um vazio esmagador. Quando eu finalmente me virei para o lado oposto da estrada, minhas pernas falharam, e eu me deixei cair na beira do acostamento. Encostei a cabeça nos joelhos, o choro vindo sem eu conseguir segurar. Era um desespero que eu não sabia explicar, uma mistura de culpa, medo e algo que eu não sabia mais reconhecer.
Tudo o que eu queria era voltar no tempo, fazer as coisas de outra maneira. Eu estava tão desesperada, tão confusa, e a única coisa que me restava era a dor que eu havia causado. E o pior era que, mesmo entre tantas lágrimas, eu não conseguia parar de pensar nos momentos em que tudo parecia estar bem entre nós. - Por que eu fiz isso? - Pensei, desesperada. - Por que eu fiz tudo virar pó?
O medo era o que mais me apertava. Medo de não poder ser feliz ao lado dela, de não saber como lidar com o amor que sentia por uma mulher, de estar perdida entre os meus próprios sentimentos. Eu sempre me escondi atrás do que minha família dizia ser certo. Fui criada a vida inteira acreditando que só poderia ser amada se fosse como eles esperavam. E agora, quando tinha encontrado alguém que realmente me compreendia, que realmente me amava, eu estraguei tudo. Como se o simples ato de ser quem eu era fosse impossível. Me afastei de tudo o que sentia, porque o medo de ser feliz com ela me engoliu. Como eu pude ser tão fraca?
Naqueles momentos, enquanto eu lembrava das últimas noites que passamos juntas, me vi tentando ser algo que eu nunca deveria ter tentado. Como se o amor que eu sentia por ela fosse algo errado, algo que eu tivesse que mascarar. Ela nunca me pediu nada disso, mas eu me perdi em minhas próprias inseguranças, me perdi tentando me tornar a mulher que eu achava que ela queria. E agora, sentada ali, sozinha, a dor da perda me sufocava. Eu tinha perdido a única pessoa que realmente me entendia, que me via por quem eu era. E, mesmo sabendo que a culpa era minha, uma parte de mim queria gritar para o mundo inteiro que eu só fiz aquilo porque não sabia como lidar com o que sentia. Não sabia como ser feliz ao lado dela sem me sentir condenada.
Enquanto isso, ela, lá na frente, se afastava ainda mais. Eu queria correr atrás dela, pedir desculpas, dizer que a amava, mas o que eu faria agora? Como poderia pedir perdão depois de tudo o que eu fiz? O medo de ser feliz com ela, o medo de ser eu mesma, me prendeu em um ciclo de mentiras que agora parecia sem fim.
Eu queria correr atrás dela, pedir desculpas, dizer que a amava, mas o que eu faria agora? O que eu poderia dizer para consertar a merd* que eu tinha feito? Eu sabia que as palavras não iam mudar nada, que elas não iriam apagar o que já estava feito, não iam apagar o que eu tinha feito com o nosso amor. A dor no meu peito era um peso insuportável, e o que mais me sufocava não era nem o arrependimento — era o medo de perder ela, de perder tudo o que tínhamos construído, de ser a culpada pelo fim de algo tão genuíno e bonito. O que mais me destruía era pensar que, talvez, ela nunca mais olhasse para mim da mesma forma, que nunca mais acreditasse em mim.
Eu me sentia uma estranha, presa em um corpo que já não sabia mais quem era. Eu estava tão perdida, tão imersa nas minhas inseguranças, que tinha me jogado na ilusão de que, talvez, se eu tentasse algo fora do que realmente sentia, eu conseguiria me encontrar. Mas agora, olhando para a distância crescente entre nós, eu entendia o que eu já sabia lá no fundo: eu tinha me perdido nela, e tinha perdido a única pessoa que me fazia sentir inteira. O medo de ser eu mesma, o medo de ser feliz com ela do jeito que éramos, me cegou a ponto de eu fazer a pior escolha de toda a minha vida. E mesmo agora, enquanto ela se afastava, uma parte de mim ainda queria desesperadamente encontrar uma forma de voltar atrás, de ser quem ela merecia que eu fosse.
A verdade do que eu fiz pesava em meu estômago, e tudo parecia sem sentido. Como pude ser tão fraca? Como eu não consegui ser honesta comigo mesma antes de machucar a única pessoa que me compreendia de uma forma que ninguém mais jamais conseguiria? Eu me vi no meio de um vazio tão grande que parecia engolir tudo. O peso da culpa me esmagava, me dilacerava, e eu sabia que não podia mais voltar atrás. O que eu queria, mais do que tudo, era voltar para o tempo em que as coisas eram simples, em que o amor entre nós era só isso: amor. Não havia nada mais complexo, não havia mentiras, nem medos. Mas agora, tudo estava contaminado por esse erro, essa falha tão profunda que eu não sabia se conseguiria me perdoar algum dia.
Enquanto ela se distanciava ainda mais, me sentia incapaz de seguir. Eu queria correr atrás dela, mas meu corpo estava paralisado. O medo de não ser capaz de consertar o que destruíra me impedia de dar qualquer passo. Eu me vi mais frágil do que nunca, mais insegura e mais desesperada. A dor de perder ela me cortava em pedaços, e ao mesmo tempo, eu sentia uma raiva enorme de mim mesma por ter deixado tudo chegar até aqui. O que estava acontecendo comigo? O que havia de errado em mim? Como pude fazer isso? Como pude trair alguém que me amava tanto? Não havia mais resposta que pudesse me dar alguma paz, e nem mesmo as desculpas que eu tentava me repetir eram capazes de me acalmar.
Mas, à medida que ela se afastava, uma parte de mim, a parte mais egoísta, pensava: “E se eu nunca mais puder tocá-la? E se ela nunca mais me deixar tocá-la como antes?” Eu sentia falta de cada pedaço dela, da pele, do sorriso, do cheiro dela. Tudo parecia se desvanecer em um lugar sombrio e distante, onde eu não conseguia mais alcançá-la. Eu sabia que não merecia outra chance, mas o desejo de consertar o que eu destruíra era tão forte que chegava a ser desesperador.
Por um momento, parei, olhei para o chão, e quase pude ouvir minha própria voz me dizendo: "Eu te amo, eu te amo... E talvez isso não seja suficiente." A verdade estava estampada ali, diante de mim. O amor nunca seria suficiente se eu não fosse honesta, se eu não fosse capaz de ser quem realmente sou com ela. E o pior de tudo, agora eu estava vendo, de uma forma tão clara, que eu tinha destruído algo que poderia ter sido a coisa mais linda que eu já vivi, tudo por causa do meu medo, da minha fraqueza. Eu não sabia se havia algo que eu pudesse fazer agora, mas o desespero de saber que a estava perdendo era mais forte do que qualquer outra coisa que eu tivesse sentido.
POV CRIS
De repente, um grito cortou a noite. O som foi tão agudo, tão desesperado, que uma parte de mim se gelou. Eu olhei para trás, e a visão dela no chão, rolando, torcendo o pé, foi como um choque elétrico. Não precisei pensar, meu corpo já estava em movimento, correndo para ela. O coração batendo forte no peito, a raiva, o medo, a dor misturados, mas algo dentro de mim estava gritando para agir. Ela estava no chão, ainda gem*ndo de dor, o pé visivelmente machucado. O chão estava quente e sujo, e a cena me fez parar por um instante. Ela estava ali, aos meus pés, a mulher que eu amava, mas que tinha destruído de forma irreparável.
Eu estava longe, mas o grito dela me fez correr. Não era só o medo da dor que a consumia, mas também a dor que eu sabia que ela estava sentindo por tudo o que tinha feito. Eu estava tão distante, mas agora, não havia mais raiva em mim — só o instinto de querer ajudá-la, de fazer qualquer coisa para amenizar aquela agonia. Mesmo que, no fundo, tudo estivesse quebrado entre nós, não consegui evitar de ir até ela. Quando cheguei, me agachei ao seu lado, respirando pesadamente, ainda tentando controlar o turbilhão de sentimentos dentro de mim.
- Você está bem? - Eu perguntei, a voz trêmula, enquanto olhava seu pé machucado. Mas ela não respondia com palavras. Em vez disso, ela apenas me olhou com um olhar que me rasgava por dentro. Então, com a dor estampada no rosto, ela sussurrou, quase em um gemido:
- Eu te amo. Me perdoa, por favor… Eu não queria que isso acontecesse. Não me abandona… Eu te amo tanto.
Eu não conseguia lidar com aquilo. Aquelas palavras eram como um golpe final, uma constante martelada em meu peito. Ela estava ali, com a dor física, mas com os olhos cheios de um amor que ela mesma destruiu. A dor de perder ela, de perder nossa história, me esmagava, mas ainda assim, algo dentro de mim se despedaçava com cada uma das palavras dela. Eu queria ignorar, eu queria gritar que era tarde demais, que ela já havia feito o suficiente para me perder, mas o desejo de não a ver sofrer me fazia hesitar. Eu tentei focar no que estava fazendo, tentei ignorar suas palavras e levantar ela, mas o peso da dor e da culpa dela eram demais.
Eu a puxei com esforço, mas logo percebi que não conseguiria, o peso do seu corpo e seus gemidos involuntários me impediram de agir com clareza. E, então, sem saber o que mais fazer, sem saber como mais poderia ajudar, sem mais força emocional para enfrentar tudo o que havia acontecido, tomei uma decisão impensada, mas instintiva. Com cuidado e muito esforço, eu a peguei no colo. A dor no seu pé ainda era intensa, pelas suas expressões. E além de ajuda-la, meu corpo estava movido por uma urgência tão grande quanto: eu a queria em meus braços, nem que fosse só por mais um momento, porque eu sabia que nada, agora, iria nos salvar.
Ela se aninhou em meus braços, com a cabeça encostada no meu peito, e de alguma forma, isso parecia tão errado, mas ao mesmo tempo, era como se fosse tudo o que eu ainda pudesse fazer por ela. Eu sabia que a raiva e a dor que eu sentia não desapareciam por um gesto como esse, mas naquele momento, ela estava ali, nos meus braços, e de alguma maneira, isso fazia tudo parecer mais real. As palavras dela ecoavam na minha mente: “Eu te amo tanto, não me abandona.” Eu sabia que ela estava em dor, tanto física quanto emocional. Mas não sabia se o que estávamos fazendo, naquele momento, ainda tinha algum sentido. Eu estava me afundando mais e mais nas minhas próprias inseguranças. E, naquele instante, eu só conseguia me perguntar: Isso seria o suficiente para nos salvar, ou era tarde demais?
Fim do capítulo
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