Vai Ser Um Dia Lindo!
Capitulo I - A Festa
Capítulo I
A Festa: Vai Ser Um Dia Lindo!
Claire Bell
AS LUZES PISCAVAM incessantemente. Os raios laser pipocavam por todos os lados. O ambiente estava cheio, quase abarrotado. Eu sempre convidava muitas pessoas, mas não tantas. Convidava, na maioria, amigos, que, porém, traziam amigos, que conheciam amigos e que tinham amigos. Assim, minhas festas acabavam tendo mais gente do que eu gostaria.
E nem conhecia.
O lugar era novo. Chamava-se ''Summer Breeze'' e prometia ser diferente; uma nova boate alternativa, que estava fazendo muito sucesso e atraindo muitas pessoas descoladas e de todas as tribos. As músicas que estavam até agora tocando eram bastante atuais, apesar da canção que estavam dançando agora, nem tanto...
''Then I look at you
And the worlds all right with me
Just one look at you
And I know it's gonna be, it's gonna be, it's gonna be
A lovely day
Lovely day, lovely day, lovely day, lovely day
Lovely day, lovely day, lovely day, lovely day'' ¹
A melodia não me era estranha, mas não estava ligando uma coisa com a outra.
Na mesa onde eu estava, Johnny falava alguma coisa, mas eu não estava prestando atenção. As meninas, Octavia e Kelly, mais Josh, é que interagiam com ele. Meu corpo estava ali, minha mente, não.
— Você não concorda comigo, Claire? — Então, percebo que todos estão olhando para mim. — Você não ouviu nada do que eu disse — Johnny insiste, chateado.
— Repete, então...
— Eu disse que, depois do atentado ao World Trade Center, no ano passado, o governo deveria proibir a entrada de muçulmanos no país. Você não concorda?
Johnny perdeu um amigo na explosão do caminhão-bomba, feito por terroristas da al-Qaeda e, depois disso, passou a culpar todo o mundo árabe pelos problemas do planeta Terra, não importando de qual país a pessoa fizesse parte. E, pior ainda, Johnny não entendia, ou não queria entender, que muçulmano é um termo religioso, enquanto árabe é um termo étnico e ele colocava todos dentro do mesmo balaio. Ele era um extremista xenófobo.
— Johnny, na boa, estamos aqui para nos divertir — afirma Josh, olhando para mim.
— É isso aí — concordam as meninas, fazendo um high five com Josh.
Josh e eu somos amigos desde a faculdade de Marketing. Sou designer gráfica e, juntos, abrimos uma empresa de propaganda. Na verdade, no começo éramos um pouco mais que amigos, mas as coisas não deram certo. Nesses meus 30 anos de vida, nunca conheci alguém tão possessivo quanto ele e eu decidi dar um basta em tudo antes que as coisas fugissem do controle. Já as meninas são amigas dele e Johnny, bem, esse não sei como veio parar no nosso grupo.
— Gente, vou dar uma volta...
Não esperei resposta de ninguém e levantei-me. Apesar de eu ser a anfitriã da festa, não estava na vibe. Caminhei para qualquer direção. Precisava respirar um pouco. E, talvez, de uma bebida mais forte. Então, fui para o bar.
Melanie Newfield
DE ONDE EU ESTAVA, era possível observar todo o lugar sem dar muito na cara. Realmente, o lugar era muito bonito e cheio de gente bonita, apesar de meus olhos serem somente para elas. E hoje, eu já havia beijado algumas, além de, há poucos momentos, ter tido um encontro tórrido com uma morena de fazer passista de escola de samba, sambar.
Novamente, sinto meu celular vibrar no boldo de minha jeans. Não preciso olhar para saber quem está enviando a mensagem. Quer dizer, mensagens. Ele já vibrou diversas vezes. Olho para as mesas e decido sair de onde eu estava para ver o que era tão urgente para que ela não parasse de enviar notificações para mim.
Saio para uma espécie de mezanino externo, onde o som é um pouco mais baixo e algumas pessoas estão fumando ou namorando, acho eu, e pego o celular do bolso e ligo para ela. Alicea atende no primeiro toque.
— Você não respondeu minhas mensagens. Estou preocupada...
— Boa noite para você também — interrompo-a. Então ouço um longo suspiro do outro lado. — Eu sei o que estou fazendo, ok? Fique tranquila.
— Só não quero que nada aconteça com você.
— Sei me cuidar.
Alguns segundos se passam, sem nada dizermos.
Olho para o céu. Apesar da iluminação do West Chelsea e da própria Nova Iorque, a Via Láctea passeia majestosa no firmamento.
— Olha, preciso voltar. Não quero perder nosso alvo de vista.
— Tudo bem — ela diz, suspirando —, mas me avisa assim que você chegar em sua casa. Não importa o horário.
— Avisarei, mamãe...
— Idiota...
— Também amo você.
Encerro a ligação assim que começo a ouvir o palavrão que ela vai dizer. Alicea foi minha mentora, treinadora e, de verdade, considero-a como uma mãe, já que a minha nunca foi presente em minha vida.
Volto novamente para o interior da boate e vejo a loira sentada em um dos bancos do bar. Era a minha deixa. Caminho em sua direção e a observo melhor. Posso afirmar que ela não é a mulher mais bela do mundo, mas devo reconhecer que é bem charmosa, apesar de estar um pouquinho acima do peso.
Sento-me ao seu lado e peço um bourbon, sem gelo, assim que sou atendida pelo barman.
— Nossa, não é muito forte?
Olho para ela e sorrio.
— O que você está bebendo?
— Sex On The Beach!
— Nossa, não é muito fraco?
Então, ela sorri.
— Depende da quantidade de vodca — ela responde, piscando para mim.
— Melanie — apresento-me, erguendo meu copo.
— Claire — ela repete meu gesto com o seu longo copo alto do seu drink refrescante. — Não parece, para você, que essa música é conhecida?
Presto atenção na canção que está tocando agora. É a mesma que já havia dançado há alguns minutos, junto à morena.
''Then I look at you
And the worlds all right with me
Just one look at you
And I know it's gonna be, it's gonna be, it's gonna be
A lovely day
Lovely day, lovely day, lovely day, lovely day
Lovely day, lovely day, lovely day, lovely day'' ¹
— Parece conhecida porque ela é — respondo. — É uma canção do Bill Withers, lá dos anos 1970, mas está é uma versão dance do The Soul System. A original já tocou em vários filmes que você deve ter assistido, por isso a lembrança.
— Então é isso...
— Provavelmente...
— Você não parece ser, assim, tão velha para lembrar de uma música de décadas passadas.
— Está me chamando de velha? Tenho só 32 anos.
— É claro que não. Só estou curiosa.
— Já trabalhei como DJ.
— Ah! E faz o que hoje?
— Sou freelancer — e não digo mais nada, terminando minha bebida.
Ela olha para mim e pisca seus grandes olhos castanhos algumas vezes, mas parece que não acreditou muito no que eu disse. Meu celular vibra e ajo rapidamente.
— Olha, preciso ir.
— Mas ainda é cedo — diz, parecendo desapontada.
— Podemos trocar nossos números de celular e combinar de nos encontrarmos. O que você acha?
— Estou sem celular.
— Então, passe-me o seu número — peço, pegando meu aparelho do bolso de minha jeans.
— Está bem. Anota aí...
Rapidamente abro os meus contatos, coloco seu nome e digito os números que ela foi falando. Assim que termino, envio uma mensagem para ela.
— Acabei de mandar um ''oi'' para você. Assim, você tem, agora, meu número também. Amanhã combinamos algo, ok? — ela assente.
Levanto-me e deixo um beijo em seu rosto, bem próximo de seus lábios. Mesmo com as diversas luzes, de múltiplas cores da boate, vejo seu rosto ficar mais vermelhinho.
Enquanto me afasto dela, aproveito que estou com o celular na mão e envio uma mensagem para Alicea: ''Contato feito!''
Nota De Rodapé:
¹ ''Então eu olho para você
E os mundos estão bem comigo
Só um olhar pra você
E eu sei que vai ser, vai ser, vai ser
Um lindo dia
Lindo dia, lindo dia, lindo dia, lindo dia
Lindo dia, lindo dia, lindo dia, lindo dia''
It’s Gonna Be A Lovely Day [Vai Ser Um Dia Lindo] - 4:35
The S.O.U.L. S.Y.S.T.E.M. Featuring Michelle Visage.
Link YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wtQ6ca4mL7I
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Cristiane Schwinden
Em: 21/02/2025
Essa música é muito gostosinha!
Ótimo primeiro conto! Leitura correu rápida, do jeito q gosto!
Omuwandiisi
Em: 21/02/2025
Autora da história
Oi, Cristiane leitora, boa noite... Fico contente em saber que você, uma escritora já com trabalhos publicados e aclamada aqui no site, gostou do que eu escrevi. Sinceramente, não gosto de contos ou estórias muito longas, apesar de ter lido autoras e autores que gostam de escrever centenas de páginas, quase milhares — por exemplo, Os Irmãos Karamazov, do russo Fiódor Dostoiévski; Médico de homens e de almas, da inglesa Taylor Caldwell —, mas com mil palavras é um desafio, tanto que não consegui.
Essa música é muito top... Esse grupo pegou o refrão da música 'Lovely Day' do ano de 1977, do soul man Bill Withers, e fez um 'sample'. Uma música festeira, não é?
Obrigada pelo comentário!
P.S.:
Espero que esse comentário apareça, pois o que eu respondi para Jasin, aqui embaixo, não aparece. Não sei por que!
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Sem cadastro
Em: 15/02/2025
Boa noite,
Escrita impecável em forma e conteúdo. Não à toa um nome de África negra (não?) para te chamar de escritor/escritora.
Seu jeito de lidar com música até me lembrou de minha amiga Kasvattaja, sempre muito precisa. Gosto disso.
Parabéns e te convido a visitar as outras participantes do Desafio porque esse trem está muito "bão ".
Beijos,
Sol
PS: adorei você difereciar muçulmano de árabe sem trazer nada pejorativo a um ou a outro, mesmo considerando a hipótese do atentado. Salaam! (????)
Solitudine
Em: 15/02/2025
Prazer, o nome da "sem cadastro " é Jasin Solitudine
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Omuwandiisi Em: 27/02/2025 Autora da história
Oi, Zanja45 leitora, boa tarde...
Primeiro, grata pelo comentário e leitura da estória. É incentivador!
Agora, 'curiosity killed the cat', hein? Vejo que você já escolheu seus suspeitos. E as meninas???? Kelly e Octavia??? Sei, não... Porém, é muito suspeita toda essa xenofobia do Johnny, não é? Além do que, Josh, segundo Claire, é muito autoritário. Vamos ver...
Convido você a ler o segundo capítulo da estória para confirmar, ou não, suas suspeitas.
Emirembe!