Gabriela estava em sua mesa, com os dedos levemente sobre a boca, o olhar pensativo. O gosto do beijo ainda estava nos seus lábios, uma sensação que parecia dançar no ar. Aquele toque, aquele contato impulsivo e selvagem, deixava um eco nos seus pensamentos, algo que ela não conseguia processar de imediato. O beijo foi rápido, mas deixou marcas. Não pela duração, mas pela força de tudo o que ele representava.

A sensação do toque de Olívia, quente e inesperado, ainda queimava em sua pele. Gabriela podia sentir o leve arrepio percorrendo seu corpo, como se o beijo tivesse desencadeado algo profundo dentro de si. A suavidade de Olívia contrastava com a intensidade do momento. Havia algo quase feroz na maneira como seus lábios se encontraram, como se fosse uma mistura de frustração reprimida e algo mais primal, mais verdadeiro.

Gabriela respirou fundo, tentando se afastar da confusão. Mas o aroma de Olívia estava no ar, uma fragrância discreta que ela não sabia explicar. Era como se o beijo tivesse ficado impregnado nela, e cada respiração que dava, era como se sentisse o toque ainda, como se o corpo estivesse gravando aquele instante.

Olívia, por outro lado, estava quieta, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade que Gabriela nunca tinha visto antes. Não era surpresa nem satisfação. Era algo mais. Algo indefinido, que ficava entre a raiva e o desejo, algo que ela não queria admitir. O que ela sentia? Olívia não sabia. Ou sabia, mas não queria entender.

Olívia a olhou com um leve sorriso, aquele sorriso enigmático que sempre escondia mais do que mostrava. Ela não disse nada, apenas observou, como se Gabriela fosse uma equação que ainda tentava resolver. O silêncio se estendeu entre as duas, pesado e desconfortável.

O toque de Olívia, agora perdido entre o vazio do ar, ainda parecia em cada pedaço do corpo de Gabriela. Era como se as palmas de suas mãos tivessem sido marcadas por um calor invisível, como se sua boca ainda fosse moldada pela pressão daquele instante. Gabriela sentiu o desejo de perguntar, de desafiar Olívia, mas ao mesmo tempo, uma parte de si sabia que isso só abriria mais portas para um caminho que ela não sabia se queria seguir.

Olívia não se mexeu. A distância entre elas agora era quase palpável, como se nenhuma das duas soubesse o que fazer com a situação. O desejo de continuar a conversa, de falar sobre o que aconteceu, era grande. Mas, ao mesmo tempo, havia a necessidade de negar, de apagar o que foi vivido. Como se o beijo fosse um erro, algo que não deveria ter acontecido, mas que, ao mesmo tempo, se revelava em cada pensamento.

Gabriela abaixou as mãos e balançou a cabeça, afastando-se da tentação de tocar Olívia novamente. Seus lábios estavam secos, e ela sentiu a pulsação em seu pescoço, quente e acelerada. Seu corpo, agora cheio de perguntas não respondidas, se recusava a aceitar o que acabara de acontecer. O beijo... não deveria ter sido daquele jeito. Ela não sabia o que pensava, mas sabia que, de alguma forma, algo havia mudado.

Olívia, no entanto, parecia calma, distante. Ela não mostrava sinais de arrependimento. Pelo contrário, parecia estar se distanciando ainda mais de tudo aquilo, como se já tivesse colocado o beijo em algum lugar guardado na memória. Algo a mais, talvez uma emoção que ela própria não queria enfrentar.

"Quem diria que você é tão imprevisível, Gabriela." Ainda podia ouvir a voz de Olívia, rouca, com um sorriso que não alcançava os olhos. Era quase como se tivesse ali de novo, pronta para provocar, para deixar o ar ainda mais pesado com sua presença.

"Não sei o que fazer com isso," Gabriela disse novamente, quase para si mesma, mais uma tentativa de digerir o que acontecera. O que ela deveria sentir? Ela não sabia. Mas a sensação daquele beijo, aquela troca de energia crua e intensamente humana, não poderia ser ignorada.

Olívia olhou para ela por um momento, seu olhar penetrante. Como se soubesse o que Gabriela estava pensando, ou talvez, por um instante, quisesse ver até onde ela iria com aquele sentimento confuso. Ela não respondeu. Não precisava. O silêncio entre elas já falava por si.

Fim do capítulo