Capitulo 7
Os dias seguintes passaram rapidamente, com Bianca mergulhada no projeto de pesquisa e tentando ao máximo se concentrar nas questões acadêmicas. Porém, a presença de Luisa, sua maneira de agir e de observar, parecia rondá-la a cada passo. A aula de ontem, com suas palavras incisivas e seu olhar calculista, havia deixado uma marca mais profunda do que Bianca gostaria de admitir.
Apesar do nervosismo e da ansiedade, Bianca sentia que não poderia desistir. Quase como se estivesse se desafiando constantemente a ir mais fundo, a enfrentar o desconforto e ver até onde seria capaz de ir. Não sabia se isso significava algo mais do que um simples interesse acadêmico, mas também sabia que não podia negar a atração que sentia.
Na sala de aula naquela manhã, o clima estava diferente. O grupo de Bianca estava mais unido, cada um se preparando para a próxima etapa do projeto. Luisa, como sempre, estava à frente, com seu olhar de águia, observando tudo e todos. Era como se ela estivesse pronta para qualquer falha, qualquer vacilo. E, de alguma forma, isso estava deixando Bianca ainda mais ciente de si mesma. Cada passo, cada palavra que dizia, parecia estar sendo julgada e avaliada. Mas o que Luisa queria? Que Bianca se destacasse? Ou queria apenas ver até onde ela era capaz de ir?
“Bianca”, disse Luisa durante um intervalo, sua voz fria, mas com uma leveza que a fez sentir um arrepio. “Precisamos conversar sobre o seu progresso no projeto. Venha até o meu escritório mais tarde.”
Bianca engoliu em seco. A maneira como Luisa falou não era severa, mas era direta o suficiente para fazer seu coração acelerar. Ela sabia que a conversa seria séria, e a ideia de passar mais tempo sozinha com Luisa, sem as distrações da sala de aula, era algo que não sabia exatamente como processar. Ela estava nervosa, sim, mas também curiosa. O que Luisa queria discutir? Estaria ela sendo avaliada? Ou seria algo mais?
Ana, percebendo a tensão na expressão de Bianca, fez uma piada para quebrar o clima.
“Ô amiga, a professora te chamou no escritório, hein? Tá vendo? Aquelas olhadas não mentem. Se ela tiver uma lupa na mão, é porque está te observando de perto, hein! Se fosse eu, já ia me preparar para um interrogatório de primeira, com direito a luz forte e tudo.” Ana disse, dando uma piscadela.
Bianca riu, mas não pôde deixar de sentir uma pontada de nervosismo. Ela estava começando a se perguntar se, de alguma forma, estava se colocando em uma posição mais vulnerável do que deveria. Mas já era tarde demais para voltar atrás. Ela tinha se inscrito no projeto, tinha dado o primeiro passo para se aproximar de Luisa, e agora precisaria lidar com as consequências.
À tarde, Bianca foi até o escritório de Luisa, tentando manter a calma. O prédio estava silencioso, e a distância entre o corredor e a porta do escritório parecia interminável. Ela bateu com leveza, e a voz de Luisa, calma e controladora, respondeu do outro lado.
“Entre.”
Bianca abriu a porta e entrou. Luisa estava sentada atrás da mesa, com uma expressão séria, mas ao mesmo tempo, havia algo de enigmático no modo como ela a olhou. Não era hostilidade, nem acolhimento. Era um simples olhar de avaliação, como se ela estivesse calculando algo, decidindo qual seria o próximo passo.
“Por favor, sente-se”, Luisa indicou, sem se mover. Sua voz parecia suave, mas havia algo de autoritário nela. Bianca sentou-se, tentando disfarçar a ansiedade que lhe percorria a espinha.
“Eu queria conversar sobre o seu desempenho no projeto”, Luisa começou, sem rodeios. “Você se inscreveu e demonstrou interesse, o que é bom. No entanto, tenho a impressão de que está se segurando, Bianca. Não sei se é por insegurança ou se você está apenas se acostumando com a pressão. Mas o que sei é que, em um projeto como esse, precisamos de pessoas que não tenham medo de ir além, de desafiar os limites.”
Bianca sentiu o peso das palavras. Por um momento, se sentiu pequena, como se estivesse sendo medida e encontrada querendo. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de si se acendeu. “Não estou me segurando, professora. Eu apenas não quero fazer algo errado”, Bianca respondeu, tentando manter a calma, embora a tensão fosse palpável.
Luisa a observou em silêncio por alguns segundos. O silêncio era pesado, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida. “O erro é parte do aprendizado, Bianca. Se você tem medo de errar, está condenada a nunca alcançar o que realmente deseja. Eu não quero alunos que se escondem atrás de desculpas. Quero aqueles que enfrentam o que é difícil e o que é novo. E você está se escondendo.”
Bianca sentiu a adrenalina subir. Ela estava sendo desafiada, mas também sentia uma estranha satisfação ao perceber que Luisa não estava tão distante quanto ela imaginava. Era como se estivesse sendo testada de uma maneira que nem ela mesma entendia direito. Algo dentro dela queria mais — mais de Luisa, mais dessa pressão, dessa intensidade.
“Eu não estou me escondendo”, Bianca disse, mais firme agora. “Eu só estava... tentando entender o que você espera de mim, professora.”
Luisa levantou uma sobrancelha, quase desafiando Bianca a ir além. “Eu espero mais do que você imagina, Bianca. E você não precisa entender tudo agora. Apenas comece a se arriscar.”
O olhar de Luisa permaneceu fixo em Bianca, e, por um momento, o tempo pareceu parar. Era um jogo, uma dança de palavras, e Bianca sabia que tinha que se jogar, mesmo sem entender completamente o que estava acontecendo. Mas ela também sabia de uma coisa: não podia mais voltar atrás. A linha tênue entre o medo e o desejo estava desaparecendo, e ela estava pronta para enfrentar o que fosse.
Antes que pudesse dizer algo, Luisa se levantou e começou a arrumar alguns papéis na mesa, sinalizando que a conversa havia terminado. “Nós já terminamos, Bianca.”
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: