Capitulo 1
Bianca estava nervosa. Primeiro dia de aula de volta das ferias, e ela tentava se convencer de que tudo ficaria bem. Seu coração batia acelerado enquanto ela atravessava os corredores da universidade. Apertava as alças da mochila com força, como se aquilo pudesse acalmá-la, enquanto o tecido da camiseta começava a grudar nas costas.
A faculdade era enorme, mas não era o tamanho do campus ou as matérias pesadas que mais a inquietavam. Era ela.
Luisa Saito. A professora mais temida do curso, com sua fama de inflexível e perfeccionista. Rumores diziam que ela corrigia as provas com uma caneta vermelha, como se fosse um juiz sentenciando culpados a morte. Alguns alunos juravam que ela podia reprovar até pelo espaço entre linhas. Hoje, Bianca seria uma das "culpadas".
Ao entrar na sala com passos hesitantes, sentiu o olhar de Luisa atravessá-la como uma lâmina. A professora estava em pé, à frente do quadro negro, com uma postura impecável. Seu coque perfeito prendia os cabelos lisos e escuros, e seus olhos examinavam os alunos com uma mistura de calma e autoritarismo. Bianca prendeu a respiração.
— Bem-vindos à Cinética e catálise — disse Luisa, com uma voz suave, mas que reverberava pela sala como o som de uma corrente de ferro. Ela passeou o olhar pela turma, como se estivesse analisando cada rosto. — Espero que estejam aqui com a intenção de aprender, porque a Engenharia não admite erros. E nem eu.
Bianca engoliu em seco e ajustou-se rápido na cadeira, sentindo o nervosismo aumentar. Tão imponente quanto um cientista em um laboratório, pensou. Tentava focar na aula, mas a presença de Luisa era avassaladora. Ela falava com clareza e precisão, como se cada palavra tivesse sido medida e calculada, repetidamente, e a severidade em seu tom mantinha todos os alunos tensos.
Porém, foi durante uma explicação sobre reções químicas que Bianca notou algo diferente. Luisa fez um comentário que, de forma inesperada, quebrou a barreira formal:
— Engenharia Química é como um relacionamento. Se você não entender a base, o resto vai desmoronar. E, às vezes, até a reação mais simples pode ser a mais explosiva.
Bianca piscou. Isso foi... engraçado? Ela realmente fez uma piada?
Não conseguiu evitar. Olhou para Luisa, que continuava séria, mas havia algo no olhar dela que não sabia explicar. Curiosidade? Desdém? Talvez estivesse imaginando coisas, mas, naquele momento, Bianca percebeu que Luisa não era tão inacessível quanto parecia.
Quando a aula terminou, a tensão deu lugar a um misto de alívio e hesitação. Enquanto todos saíam apressados, Bianca pegou a mochila devagar, seus olhos ainda presos à professora, que organizava papéis na mesa com movimentos precisos. Antes que pudesse pensar melhor, abriu a boca:
— Professora, eu gostei da sua piada. Achei engraçada — disse com um sorriso travesso, esperando que isso quebrasse o gelo.
Luisa ergueu os olhos lentamente, encarando Bianca como se pudesse vê-la por dentro.
— Acredite, ao fim do semestre, você vai pensar diferente — respondeu, o tom firme, mas com uma faísca de algo que Bianca não conseguiu identificar. Uma provocação? Um aviso?
Bianca sorriu, embora seu coração estivesse disparado. Pegou a mochila e saiu, sentindo-se mais confusa do que nunca.
Na cafeteria, ainda remoía as palavras de Luisa. Tentava focar no café à sua frente, mexendo o líquido com a colher de plástico, mas sua mente insistia em voltar à sala de aula.
— E então, como foi sua primeira aula com a mulher mais sedutora da faculdade? — disse Ana, sua amiga, que chegou com um prato abarrotado de comida e o sorriso de sempre. Sentou-se com um barulho exagerado, chamando a atenção.
— Intensa — Bianca respondeu, franzindo o cenho. — Meio assustadora, na verdade.
Ana deu uma risada alta.
— Assustadora? Amiga, você não está entendendo. Luisa Saito é como... o capeta disfarçado de mulher gata. Se você for para o inferno, é ela que vai te dar as boas-vindas. E olha, com aquela bundinha linda, até o diabo fica com inveja.
Bianca engasgou com o café, tentando não rir alto. — Ana, pelo amor de Deus. E se ela ouve?
— E o quê? Ela devia era agradecer — Ana piscou. — A gente só está comentando a oitava maravilha do mundo. Mas, fala sério, ela jogou aquele olhar mortal em você?
— Jogou. Mais de uma vez — Bianca admitiu, suspirando. — É como se ela estivesse testando meu limite o tempo todo.
— Ai, que delícia — Ana disse com um sorriso travesso. — Mas cuidado, viu? Não se deixa levar. Ela reprova a rodo. O tesão dela deve ser ver a gente sofrendo.
Bianca tentou não rir, mas a leveza de Ana era um alívio bem-vindo. Mesmo assim, não conseguia afastar a imagem de Luisa. Aquela postura, aquele olhar... Tudo nela parecia desenhado para fascinar e intimidar.
Enquanto Ana fazia mais uma de suas tiradas irreverentes, Bianca apenas sorria, ainda sentindo o coração bater acelerado. Sabia que precisava se concentrar no curso, mas algo na professora a puxava como um imã. E isso, ela tinha certeza, seria um problema.
Fim do capítulo
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lorenamezza
Em: 06/04/2025
Ultimamente ando muito impaciente para ler primeiros capítulos, talvez minha vida corrida rs, e gostei muito do seu. Parabéns.
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jake
Em: 06/02/2025
Olá gostei do primeiro capítulo...Bianca de olho na prof. Ana deve ser a pessoa que sempre podemos contar....
lenass
Em: 06/02/2025
Autora da história
Oi! Muito obrigada pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado do primeiro capítulo. E, sobre a Ana... de alguma maneira, ela acabou se tornando minha personagem favorita. Não sei se era pra ser assim, mas, né? Às vezes, a Bianca é só uma aluna aplicada, prestando atenção na matéria...vai saber.
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lenass Em: 06/04/2025 Autora da história
Ahhh, isso significa muito! Saber que você topou dar uma chance mesmo na correria — e ainda curtiu — já vale o dia todinho! Obrigada! Espero que o resto da história consiga te prender também (sem abusar da sua paciência, prometo tentar pelo menos rs).