Esconderijo por Lou
Capitulo 28 - Distancia
Adriana viu a filha entrar em casa aos prantos.
- Laísa, o que aconteceu, minha filha? – a mãe perguntou preocupando imediatamente ao ver o estado da filha.
Adriana pegou a filha pela mão e a conduziu até o quarto de Laísa, procurando um lugar mais calmo para entender o que se passava com a filha que chorava compulsivamente.
- Filha, por favor, me fala o que está acontecendo. – Adriana pediu ao colocar a filha sentada na cama.
Laísa encarou diretamente a mãe pela primeira vez e Adriana pode notar todo o sofrimento que o olhar da filha transparecia.
- Eu e Ana Julia brigamos... acho que, na verdade, acabou tudo, não temos mais nada.
Laísa falou rapidamente e não conteve o choro ao escutar a própria frase. Adriana abraçou a filha e a deixou chorar até que se acalmasse e conseguisse voltar a falar.
A loira contou para a mãe sobre o dia inteiro em que Ana Julia a ignorou e também sobre a discussão acalorada que tiveram no apartamento de Naju, contando também sobre o dia anterior em que saiu para almoçar com Vitória e o que Ana Julia lhe contou.
- Mãe, essa atitude da Ana Julia é imatura e ridícula, ela poderia muito bem ter esperado que eu explicasse as coisas, antes de me ignorar e sumir.
- Minha filha, mas tudo isso não passa de um grande mal entendido entre vocês, logo tudo ficará bem! – Adriana falou tentando acalmar a garota.
- Não, mãe, não é bem assim. Ana Julia foi fria e grosseira comigo sem sequer ouvir o meu lado da história e tudo isso por uma insegurança besta da parte dela. Pelo que a conheço, agora ela fugirá de mim, como fez da outra vez, e eu também não farei questão de procurar por ela!
Adriana suspirou notando que na fala da filha havia muita chateação, mas também certo rancor.
- Laísa, coloque-se no lugar de Ana Julia por um instante. Depois de tudo que ela e Vitória passaram tanto anos atrás, agora novamente em uma situação próxima ao que aconteceu.
- Mãe, não estou te entendendo. Você está dando razão aos ciúmes da Ana Julia como se eu pudesse fazer algo para magoá-la?
- De maneira nenhuma, Laísa! Eu conheço o seu caráter e sei que você jamais faria algo para magoar qualquer uma dessas duas mulheres. – Adriana tranquilizou a filha. – Mas pense um pouco em como está a cabeça de Ana Julia nesse momento, em como as coisas parecem “estranhas” quando ela a vê saindo com Vitória e, logo em seguida, você a dispensa e some. Não acredito que ela esteja duvidando de você ou realmente acreditando que você fez algo de errado, mas é compreensível que ela se sinta insegura com isso, não acha? Ana Julia está se sentindo, mais uma vez, preterida.
Laísa pensou em tudo que a mãe falou, mas ainda estava magoada e enxergando apenas o seu lado da história.
- O fato de você ainda trabalhar no escritório acaba sendo ainda mais difícil para ela, acredito eu. São muitos fantasmas para serem afastados, existe um passado muito pesado, com muitas consequências, Laísa. – Adriana acrescentou.
- Pode até ser que sim, mãe, mas eu não quero viver um relacionamento com alguém que em todas as dificuldades prefere fugir e se fechar, como ela fez mais uma vez.
- Então chame-a para uma conversa e fale sobre o que te incomoda, filha. Somente com diálogo vocês conseguiram construir um relacionamento saudável e amoroso.
- Não, mãe, dessa vez eu não vou atrás da Ana Julia. Eu não fiz nada para ser tratada da forma como fui tratada por ela hoje.
Adriana respirou fundo, tentando não se irritar com a teimosia da filha. Até mesmo porque a mais velha sabia que aquela reação da filha era puramente por estar sentindo demais, a ponto de perder-se em meio a tantos sentimentos dentro de si.
- Pelo que te conheço, imagino que você também não tenha sido tão amistosa nessa discussão, filha. – Laísa revirou os olhos com o comentário da mãe. – E não me leve a mal, nem pense que estou apenas do lado de Ana Julia, mas eu nunca a vi assim, minha filha. Nem mesmo quando brigou ou se separou de Vitória. Essa raiva, esse rancor que você está sentindo nesse momento nada mais é do que sentimentos em excesso. Quando tudo acabou entre você e Vitória, eu te vi decepcionada, ferida, mas o que eu vejo hoje é diferente, sabe por que? A simples ideia de perder Ana Julia parece ter te desnorteado, seu semblante parece perdido, parece que você está a ponto de explodir a qualquer instante por todo o medo, por todas as dúvidas e sentimentos que claramente te consomem. Então o que sua mãe está te falando é para sentar, conversar, pontuar o que está errado e consertar, em conjunto, ao invés de abrir mão de algo que te faz bem e te faz sentir tanto a ponto de ficar cega.
Laísa suspirou ao ouvir a mãe, que notou que não adiantaria falar muita coisa naquele momento, a filha não a escutaria enquanto não se acalmasse.
- Vou deixar você descansar. Tome um banho, descanse e coloque sua cabeça no lugar, ok? – Adriana deu um beijo na filha antes de se distanciar em direção a porta do quarto. – Qualquer coisa, estou no quarto ao lado.
A loira fez como a mãe aconselhou. Tomou um longo banho e deitou-se na cama, mas não conseguia acalmar seu coração e tampouco seus pensamentos. Assim, passou praticamente a noite em claro, remoendo toda a discussão.
Ana Julia também não ficou muito diferente. Chorou sozinha até pegar no sono no sofá de casa, sem vontade de fazer qualquer coisa. Acordou com uma ligação de Luciano, que sabia que Laísa havia ido atrás de Ana Julia na noite anterior e depois não teve mais notícias.
Luciano notou que algo de errado havia acontecido pela tristeza na voz de Ana Julia e convenceu a amiga a encontra-lo no parque para caminhar um pouco e conversar. Assim que viu a amiga chegando, notou que as coisas com certeza não estavam bem.
- Oi, meu amor, vem cá. – Deu um abraço apertado em Ana Julia, notando que a amiga estava emocionalmente destruída. – Vamos sentar para conversar.
Luciano comprou água de coco para os dois e sentaram-se de frente para o lago. O amigo sabia que Ana Julia estava muito confusa e ficou em silêncio, aguardando o tempo da amiga.
- Eu acho que não consigo me relacionar com a Laísa tendo o fantasma da Vitória sempre presente... – Ana Julia simplesmente falou.
- Me conta o que aconteceu, ontem a Laísa estava enlouquecida atrás de você, eu nunca a vi desse jeito.
Ana Julia contou ao amigo tudo que aconteceu de acordo com sua visão, a ida ao escritório, a ligação com Laísa após ter a visto entrar no carro de Vitória, a mensagem recebida tarde da noite, suas confusões e inseguranças e a discussão com Laísa em seu apartamento.
Luciano ouviu atentamente a amiga, imaginando tudo que passava em sua cabeça e como um mal entendido poderia gerar tanta mágoa entre duas pessoas que se gostavam tanto.
- Nossa, minha amiga, eu sinto tanto por tudo isso. A Laísa explicou que ontem ela e Vitória foram almoçar com um cliente novo? Depois que elas chegaram do almoço com boas notícias, acabamos fazendo uma confraternização no escritório para comemorar o novo contrato fechado por elas e isso acabou se estendendo até tarde da noite. Não aconteceu absolutamente nada entre elas, isso eu posso te assegurar.
Ana Julia suspirou ao ouvir as palavras do amigo. Finalmente estava entendendo o motivo de Laísa ter estado ausente durante o resto do dia, mas sua questão não era somente essa.
- Eu sei que não aconteceu nada entre elas. Não posso negar que muitas coisas passaram pela minha cabeça ao ver Laísa e Vitória saindo juntas, mas racionalmente eu sei que a Laísa não se sujeitaria a fazer nada desse tipo, não faz parte do caráter dela agir dessa forma. – Ana Julia falou sendo sincera. – Mas a questão não é essa, Lu. Eu não me sinto pronta para viver uma história com a sombra de Vitória entre nós, isso me causa insegurança, isso me aflige e não permite que eu me entregue totalmente ao que sinto.
- Vocês precisam ter uma conversa aberta e sincera sobre tudo, não acha? Vocês se reencontraram no congresso, voltaram juntas e embarcaram de uma vez nessa relação, isso é ótimo porque vocês claramente estavam enlouquecendo longe uma da outra e enlouquecendo as pessoas em volta também, mas acho que faltou calma e paciência para vocês entenderem como fazer isso, como fazer dar certo.
- Eu me sinto tão frustrada e cansada de estar nessa situação mais uma vez. De um lado tem essa história com a Laísa, tudo que sentimos uma pela outra, e do outro tem a Vitória, nosso passado, nossas mágoas, a minha mãe fazendo pressão para que a gente consiga um dia se acertar. Eu sei que vai parecer que estou fugindo de novo, mas eu não sei o que fazer, não sei como agir, como lidar com tudo isso. Eu realmente preciso colocar minha cabeça no lugar antes de resolver ou fazer qualquer coisa em relação a Laísa ou Vitória.
Os dois amigos conversaram por mais um tempo, até que se despediram e seguiram para seus afazeres diários. Luciano estava preocupado com as duas amigas, mas sabia que teriam que dar tempo ao tempo e somente com muito diálogo e paciência as coisas poderiam dar certo.
Assim, com cada uma das mulheres distantes e perdidas em suas próprias confusões sentimentais, os dias foram passando sem que qualquer uma delas tomasse a iniciativa de procurar a outra para resolver.
Ana Julia focou toda sua energia nos seus novos projetos profissionais e nos exercícios físicos, quando não estava trabalhando, estava na academia, correndo no parque, praticando algum esporte, foi a válvula de escape encontrada pela mulher para não sucumbir aos conflitos internos.
Laísa também focou no trabalho, passava praticamente os dias inteiros no escritório, evitando que tivesse tempo livre para pensar em qualquer coisa além de trabalho. Praticamente todos os dias estava saindo tarde do escritório, assim chegava em casa tão cansada que apenas tomava um banho, se alimentava e logo estava dormindo.
Luciano ainda tentou conversar com ambas as amigas, tentando fazer com que entendessem que precisavam ter uma conversa, ainda que fosse para dar um ponto final em tudo, o que o rapaz não acreditava que pudesse acontecer de verdade, considerando que era notável quanto sentimento havia entre as duas mulheres.
A “dedicação” de Laísa ao trabalho não estava passando despercebida por Vitória, que sabia que aquilo não tinha a ver com o escritório, afinal, nessa altura, Thaís já havia sido contratada e também uma estagiária nova, de modo que o escritório estava indo bem e nenhum funcionário estava sendo sobrecarregado.
Em mais um dia de trabalho, Laísa entrou na cozinha e se deparou com Vitória tentando usar a cafeteira, sem ter sucesso. Acabou dando risada da cena.
- Você precisa de ajuda com isso aí? – Laísa perguntou sorrindo.
Vitória acabou dando risada ao ser pega no flagra “brigando” com uma cafeteira.
- Acho que preciso sim, eu já apertei todos os botões possíveis, mas a máquina simplesmente não faz o café.
Laísa se aproximou para entender o problema e deu risada.
- Está vendo essa luz acesa? – Laísa perguntou apontando pra uma luz vermelha que piscava. Vitória fez que sim com a cabeça. – Essa luz indica que o reservatório de água está vazio, logo, impossível a máquina fazer o café.
As duas mulheres caíram na risada com a situação e Vitória não evitou encarar Laísa por um instante, lembrando de quando se divertiam juntas antes de tantas coisas acontecerem.
- Que vergonha, Laísa!
- Claramente você nunca veio até aqui fazer o seu próprio café, né? – Laísa perguntou enquanto abastecia o reservatório de água da cafeteira. – Mas não tem problema, vou te ensinar a usar essa cafeteira tão complexa.
O clima era leve, Vitória deu risada, aceitando o sarro que Laísa tirava da situação.
- Sou ré confessa nesse crime. – Vitória falou sobre nunca ter feito o próprio café, enquanto observava as instruções de Laísa e cada botão que era apertado. – Estou tentando tirar das pessoas essa imagem de ser uma chefe folgada e autoritária e hoje resolvi não pedir para ninguém levar o meu café até minha sala e eu mesma vir fazer, mas não sabia que encontraria um desafio tão difícil.
Laísa gargalhou do comentário, mas sentia-se feliz de ver a mudança na mulher.
- Fico feliz em poder te ajudar com esse desafio. – Laísa comentou entregando o café pronto na mão da mulher. – Dá próxima vez, você já sabe como fazer.
- Muito obrigada pela aula prática.
As duas mulheres sorriram e se encararam novamente.
- Eu fico realmente feliz de ver você assim, Vitória. Você parece estar mais leve, com mais luz, mais feliz mesmo, sabe?
Vitória suspirou antes de responder.
- Eu realmente me sinto bem e feliz nesse momento... – Vitória confessou encarando firme Laísa. – Só tem uma coisa da qual me arrependo em relação a minha mudança de atitude.
Laísa não entendeu qual seria o arrependimento se aquela mudança só poderia trazer coisas boas.
- Do que se arrepende? – Laísa perguntou curiosa.
- Me arrependo de não ter sido capaz de mudar antes de te perder.
Fim do capítulo
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