Capítulo 63

Último desejo

Luna

_ Cinco meses se passaram desde que tudo aconteceu, Mônica foi presa ainda na semana em que resgataram Arthur e Dália e agora estava sendo transferida para a prisão estadual e será condenada por tanta coisa que ela irá apodrecer na cadeia, a melhor parte é que ela não terá nenhuma regalia já que agora não tem mais dinheiro, pelo que fiquei sabendo, antes de tudo isso acontecer ela havia assinado alguns documentos onde deixava sua herança milionária para Mirella e como esse dinheiro não tinha vínculos com as empresas a menina agora é a mais nova milionária do país enquanto Mônica e sua família estão com todos os bens e empresas bloqueados, agora ela não passa de uma pessoa comum, pelo que Mirella contou ela está irreconhecível, ao que parece Rubí a fez uma visita nada amigável durante sua estadia na prisão federal, mas ninguem tem provas e o que os jornais souberam foi que ela se envolveu em uma briga entre presas e saiu na pior. Jason e Terry também passarão muitos anos presos eles respondem por uma lista gigante de crimes incluindo tentativa de homicídio, sequestro e entre outras coisas e por mim apodrecer na cadeia é pouco. Mas eu não vim aqui para te encher com isso, só acho que me acostumei a ter monólogos com você... Eu sinto a sua falta sabia? Todos nós sentimos... Suas irmãs vieram aqui mais cedo lhe trouxeram flores, na verdade são lírios amarelos e dálias brancas, o buquê é lindo e tem muito significado também, os lírios significam esperança e as dálias união pelo menos é o que eu sei... – Parei de falar para secar as lágrimas e tentar recuperar o equilíbrio eu a visitava todos os dias e nunca conseguia me segurar.

_Não é justo sabe, você nunca me deu oportunidade de fazer meu último desejo.

O quarto onde Lisa estava era totalmente equipado para sua atual situação, seu pai preferiu mantê-la em uma ala no hospital dele para que fosse monitorada 24 horas por dia enquanto ela seguia em seu sono profundo, eu segurava a mão de Lisa o tempo todo com a esperança que ela fosse reagir de alguma forma, durante as cirurgias Lisa teve duas paradas cardíacas e uma hemorragia grave o que a fez ficar muito tempo sem oxigênio no cérebro a deixando em coma, os médicos estavam confiantes que depois de quatro semanas ela acordasse sozinha, mas isso não aconteceu e ali estava eu conversando com ela como sempre fazia.

_Eu sei que quem está prestes a fazer aniversário é você, mas se meu desejo ainda estiver valendo eu desejo que você acorde e volte para mim, eu sinto tanta a sua falta... 

Mal terminei de falar e já estava chorando novamente, fiquei tão presa em meu próprio sofrimento que não percebi quando Lisa abriu os olhos, apenas senti sua mão apertando a minha e com o susto eu a olhei surpresa.

_Seu desejo é uma ordem milady.

A voz de Lisa saiu arrastada e rouca provavelmente sua garganta estava seca, eu a abracei do jeito que consegui e sai correndo atras de um médico, em pouco tempo o quarto estava cheio de médicos incluindo o seu pai que tentava não chorar em vão, liguei para todos para avisar a novidade e eu acho que nunca estive mais feliz. Lisa foi levada para fazer exames e para sua tristeza ela não sentia as pernas, eles disseram que precisariam fazer mais exames para saber se era definitivo ou poderia terá alguma chance de melhorar, mas por ora iriam focar na recuperação dela.

Não demorou para que sua família chegasse e preferi deixar que ficassem à vontade, não quis atrapalhar o momento e ao mesmo tempo eu precisava de um tempo para processar e assimilar todo aquele turbilhão de sentimentos dentro de mim.

Lisa

Minhas últimas lembranças são do choro, a voz de Rubí, o frio e a escuridão, eu não sei por quanto tempo eu dormi nem se tive sonhos, mas em algum momento a voz de Luna me tirou daquela sensação estranha e ouvi seu desejo, algo havia acontecido comigo a ouvi chorar e aquilo me doeu profundamente então senti seu toque quente em minha mão, me forcei a abrir os olhos agradecendo mentalmente pelo quarto estar escuro, meus olhos pareciam sensíveis demais e mal consegui abri-los de imediato, assim que consegui me acostumar com a pouca luz do ambiente olhei Luna apoiada a minha cama e sorri sem mostrar os dentes, minhas voz saiu arrastada, minha boca estava seca e minha garganta parecia que tinha engolido areia. Luna parecia surpresa e eufórica por me ver acordada o que me deixou confusa, por quanto tempo eu apaguei afinal e porque eu não sentia minhas pernas?

Ao longo do dia recebi visitas dos médicos, fiz exames e me contaram sobre o atentado e o coma, nunca vi tanta gente chorando e rindo ao mesmo tempo e eu estava feliz por estar viva e tentava não pensar na minha situação atual, tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e não tive tempo para processar tudo, pelo que entendi eu ter acordado era quase um milagre, mas a lesão na minha coluna poderia me deixar paralítica para sempre, mesmo sabendo que eu poderia fazer novos exames e que meu caso ainda estava sendo avaliado eu tinha medo de  nunca mais poder me mover como antes.

Fui tirada de meus pensamentos pelo barulho na porta, Rubí abriu devagar acho que tinha medo de que eu estivesse dormindo, sinceramente a última coisa que eu faria era dormir por um bom tempo, sorri ao vê-la parada na porta me encarando como se visse um fantasma.

_Sabe que você pode entrar né? – Falei rindo para quebrar aquela tensão e abri os braços para provocá-la só não esperava que ela iria se apressar e me abraçar, a surpresa foi tanta que demorei para retribuir o abraço. _Ei, o que foi? A Rubí que eu conheço é mais durona.

Tentei quebrar um pouco daquela situação tensa de pesar que se instaurou, Rubí riu se afastando secando as lágrimas tentando se recompor, eu tinha milhões de perguntas, mas queria que ela falasse que se abrisse pra mim, depois de tudo eu só queria que ficássemos bem e sinceramente ter minha irmã comigo nesse momento faria muita diferença.

_Desculpa, eu só fiquei feliz em ver você acordada... Depois desse tempo todo pensei que nunca teria a oportunidade de me desculpar com você e no fim perderia minha melhor parceira. – Rubí ainda tentava se manter firme enquanto se sentava próxima a minha cama.

_Por que você teria que se desculpar? Acho que de certa forma nós duas erramos, falamos e fizemos coisas que nos arrependemos, mas não é isso que os irmãos fazem, brigam e voltam a se dar bem e se implicam? – A encarei sorrindo a fazendo sorrir também.

_É verdade, é isso que os irmão fazem... Sendo assim. – Rubí me deu um tapa estalado no braço. _ Nunca mais se atreva a quase morrer nos meus braços está me ouvindo eu não quero ter que passar por aquilo de novo e não tenho a mínima vontade de treinar outro parceiro. – Seu tom foi brincalhão, mas deu para ver o quanto aquilo mexeu com ela.

_Ai! Isso doeu sabia? Tenho certeza que agredir uma pessoa acamada é crime em pelo menos 20 países. – Alisei meu braço indignada, mas feliz com as palavras de Rubí que agora eu poderia chamar de irmã.

_É bom ter você de volta. – Rubí levantou o punho serrado me convidando a toca-lo de punho serrado também.

_É bom estar de volta, vai ter que aturar sua irmã mais nova como parceira acha que consegue?- Toquei meu punho no dela.

_Farei um esforço. – Rimos e de repente me lembrei da minha nova condição.

_Mesmo se eu não conseguir andar nunca mais? – Falei desviando meu olhar para as mãos em meu colo.

_Olha, você é a única parceira que pretendo ter com ou sem cadeira de rodas você e eu somos uma bela dupla e vamos superar isso, no seu tempo, mas conta comigo na verdade você tem uma família grande disposta a te apoiar, você não está sozinha Lisa.

Rubí segurou minhas mãos e ao encará-la não consegui segurar minhas lágrimas, ela tinha razão eu não estava sozinha eu ficaria bem, sorri e concordei com ela.  Passamos um tempo conversando e ela me atualizou de como resgataram Dália e Arthur e como foi bater em Mônica, Rubí havia ido até a prisão onde ela aguardava transferência e com ajuda de Kenji que pelo visto gostava de vingança ela conseguiu se encontrar com Mônica e a surrou tanto que a mulher perdeu alguns dentes. Eu daria tudo para ter visto a cena como eu queria ter ajudado a socar a cara daquela infeliz, fiquei feliz em saber que com minha ajuda Mirella havia conseguido zerar as contas de Mônica bem debaixo do nariz dela, aquela menina era um gênio, fiz uma nota metal para ligar para ela depois. O tempo que fiquei em coma eu perdi tanta coisa, mas pelo menos meus esforços ajudaram Rubí a descobri onde Dália e Arthur estavam no fim eu ajudei de alguma forma, não é?

Por falar em Dália minha caçula chegou no meu quarto sorrindo e me abraçando, notei que agora seu olhar carregava um peso, mas preferi não tocar no assunto ficamos mais um bom tempo só nós três e eu nunca me senti tão bem. Dália me contou que Pierre ainda precisava fazer fisioterapia para fortalecer seus membros, mas que estava indo muito bem, no momento estava fora do país em uma viagem com a família, mas que já estava sabendo que eu havia acordado e se preparava pra voltar em breve, tudo parecia estar encaminhado exceto uma coisa, eu precisava falar com Luna fiquei esperando que ela voltasse depois que foi buscar os médicos, mas todos vieram menos ela.

Quando enfim Rubí e Dália começaram a se despedir, perguntei a Rubí se sabia se Luna ainda estava no hospital e para minha surpresa ela ainda estava lá, tinha dito que eu precisava ver a família e não quis atrapalhar nosso momento se eu a conhecia bem ela estava se dando um tempo para lidar com suas emoções e não tinha como julgá-la, aproveitei que as meninas iriam sair e pedi que a chamassem, passei os minutos de espera pensando em como me declarar a ela, mas nada era o suficiente.

Ela chegou batendo na porta e meu sorriso se abriu no exato momento em que meus olhos encontraram os seus, meu coração acelerou ao sentir sua aproximação e se eu pudesse correria até ela, mas precisei esperar que ela chegasse perto o suficiente para abraça-la, acariciei seu rosto limpando lágrimas teimosas e me perdendo em seu olhos castanhos, colei meus lábios aos seus delicadamente como se fosse o nosso primeiro beijo, senti seus lábios explorar delicadamente os meus em uma sincronia única, aprofundamos o beijo dando espaço para nossas línguas, tudo de forma lenta cheia de saudades eu a amava tanto que nem cabia em meu peito.

_Sabe naquele dia eu havia me prometido que quando aquele pesadelo acabasse eu iria te dizer algo, mas fui deixada em modo silencioso por cinco meses então não tive a oportunidade. – Sussurrei a encarando e lhe fazendo carinho.

_Lisa isso não é hora para piadas depreciativas, por favor.

_Ok me desculpe, esse não é o melhor lugar para falar isso, mas queria saber se você quer ser minha namorada? Eu pediria em casamento, mas acho que pularíamos algumas etapas. – Meu riso acabou a contagiando e como eu amava aquele sorriso.

_Você ainda tem alguma dúvida? Eu amaria ser sua namorada Lisa.

_Mesmo que eu não volte a ser quem eu era?

_Lisa e amo você e estar com você é tudo o que eu quero.

Sorri antes de beijá-la, Luna me passava uma força que eu me sentia pronta para enfrentar qualquer coisa até uma cadeira de rodas, eu estava feliz em estar de volta e sabia que minha jornada estava apenas começando.

                                                                                                                                                   Fim?

Fim do capítulo