Capitulo 48
Nunca Te Amarei -- Capítulo 48
Na sexta-feira, Luciana estava menos tensa, a advogada havia garantido que Kristen ganharia a guarda provisória do irmão. Depois que provasse a sua inocência, entraria com o pedido de revisão da guarda.
Tomou um banho e se arrumou, escolhendo uma bermuda jeans e uma blusinha branca. Por baixo da roupa, vestiu um biquíni. Não era um dos mais bonitos, não tinha feito planos de tomar sol durante a sua estadia no apartamento de Kristen, por isso pegou apenas aquele no último instante.
Colocou uma toalha, o protetor solar e algumas maquiagens dentro de uma bolsa, deu uma última escovada nos cabelos e saiu à procura de Kristen.
Fazia uma linda manhã ensolarada e ela a encontrou na cozinha, tomando o café da manhã enquanto olhava o celular. Ela estava de bermuda preta e camiseta branca, Kristen parecia bem mais jovem vestida desta forma descontraída.
-- Bom dia, Lú! -- ela a cumprimentou alegremente, colocando o celular de lado -- Sente-se e fique à vontade. Prefere croissants, empadinhas, pão de queijo ou simplesmente torradas?
-- Bom dia, Kris! Estou faminta -- ela disse, olhando para a mesa farta, Luciana sentou-se numa das cadeiras e colocou o guardanapo no colo -- Pão de queijo, obrigada. Ainda estão todos dormindo?
-- Estão. E pelo visto não vão acordar tão cedo.
-- Também acho, fomos dormir muito tarde ontem -- disse Luciana, dando uma mordida em seu pão de queijo -- Que horas vamos sair?
-- É só você terminar o seu café e já podemos ir.
-- Tá certo.
Meia hora depois, terminaram de tomar o café, pegaram as bagagens e saíram.
Elas fizeram o percurso até o Iate Clube pela costa.
-- Esta estrada me faz lembrar o dia em que fui levá-la em casa pela primeira vez -- disse Kristen, casualmente -- Quando você mentiu onde morava e eu parei na casa do Jefferson, lembra-se?
-- Me lembro, mentira boba, né?
A constatação de Luciana fez Kristen olhar para ela com um ar divertido.
-- Foi mesmo, não levou a nada.
Luciana remexeu-se no banco, assumindo um ar envergonhado.
-- Você lembra de todas as mentiras que me contou, Lú?
-- Francamente, Kristen! -- Luciana se virou para ela, indignada -- Você tem mania de fazer perguntas impertinentes nas horas mais impróprias!
-- Você é que gosta de fugir de assuntos que te incomodam.
Luciana suspirou.
-- Tá bom, esteja à vontade para fazer qualquer pergunta. Nenhum assunto me incomoda -- Uma outra mentira, pensou. Odiava falar sobre seus cambalachos. Sentia-se envergonhada.
O carro fez uma longa curva na estrada e diante deles surgiu o Iate Clube. Luciana suspirou. Logo chegariam ao barco e ela estaria livre de assuntos constrangedores. Odiava quando Kristen a fazia sentir-se uma trapaceira.
Mas ao estacionar o carro, Kristen voltou ao assunto.
-- Se você, desde o início, tivesse me contado que o Dudu é o meu irmão, teria sido bem mais fácil.
Luciana a fitou irritada e saiu do carro, caminhando ao lado dela.
-- Fiquei com medo.
-- Medo de mim? Você achava que eu faria algo contra o meu próprio irmão?
Luciana bufou.
-- Hoje eu sei que não, mas naquela época eu não te conhecia como conheço agora. Sou mãe Kris, tudo o que fiz foi por medo de perder o meu filho -- Perdendo de vez a paciência, ela decidiu mudar radicalmente o rumo da conversa -- Qual a nossa rota?
-- Vamos passar por Ilha Grande, Ilha de Cataguases, Lagoa Azul, Freguesia de Santana, Praia de Japariz e Angra dos Reis.
Chegaram ao iate e Kristen estendeu a mão para ajudá-la a entrar no barco. Ao ver um brilho de zombaria nos olhos verdes, Luciana recusou a ajuda.
-- O que foi? -- perguntou ao passar por ela -- Pode ir tirando esse sorrisinho bobo da cara.
-- Desemburra, Lú. Prometo não te importunar mais.
-- Acho ótimo, vim para me divertir e não para ser bombardeada de coisas que já pedi milhões de desculpas.
-- Tá certo, não tocaremos mais em assuntos do passado, diante disso, fique à vontade. Escolha uma das espreguiçadeiras no deque e relaxe.
Luciana obedeceu com prazer. E enquanto Kristen se ocupava em colocar o iate em movimento, aproveitou para admirar a paisagem.
Logo o barco deslizava mansamente pelas águas azuis da baía. Uma brisa suave começava a soprar e Luciana fechou os olhos começando a relaxar e por pelo menos uma hora conseguiu se desligar dos problemas.
-- Tudo bem aí? -- Kristen gritou da cabine de comando.
-- Tudo.
-- Porque não coloca um biquíni? Desse jeito vai ficar toda marcada.
-- Estou de biquíni por baixo, só vou lá dentro para tirar a roupa -- Luciana se levantou depressa, percorreu o corredor estreito e parou diante da suíte. A cama de casal tamanho gigante dominava o ambiente. Suspirou fundo, imaginando como seria aquela noite. Mal começou a tirar a bermuda, ouviu a voz de Kristen lá de cima.
-- Está pronta?
-- Quase -- ela tirou a camiseta e saiu da suíte. Cruzou com Kristen já no corredor indo à procura dela.
-- Você quer ir até a praia ou prefere ficar tomando sol por aqui mesmo? -- Kristen perguntou encostando-se ao lado dela.
Luciana olhou para o mar e viu que haviam ancorado em Ilha Grande.
Um paraíso em meio ao mar de Angra dos Reis, Ilha Grande é cercada de grandes montanhas e rodeada de praias. Totalmente preservada e cheia de animais marinhos, é um dos locais mais procurados por turistas de todo Brasil e do Mundo.
-- Prefiro ir até a praia, se não se importa.
-- Tudo bem, então vamos.
Em poucos minutos chegaram à praia. A ilha era abafada e pairava no ar um aroma agradável de mata verde. Luciana respirou profundamente, sentia-se muito mais calma.
-- Este lugar é tão lindo, Kris.
-- Tem razão. É a maior das ilhas e o homem ainda não destruiu. Venha, quero te mostrar o forte.
Luciana adorou explorar a ilha. Kristen se mostrou uma ótima guia, contando histórias e curiosidades sobre o lugar.
-- Eu e meu pai vínhamos muito a essas ilhas -- ela comentou mais tarde ao sentarem-se do lado de fora de um restaurante com vista para o mar -- Ele conhecia essas ilhas como a palma de sua mão.
-- Não sei onde ele encontrava tempo para isso.
-- Ele gostava muito de aventuras. E eu era bem família, sabia? Passava muitos finais de semana com ele.
-- Não acredito.
-- Isso a surpreende?
-- Com toda certeza -- Kristen Donate, linda como era, não devia ter um só momento de sossego, ela pensou desviando o olhar para longe -- Aposto como se você estalasse os dedos, teria uma fila de mulheres aos seus pés.
-- Você faz um péssimo juízo de mim, não Lú?
-- Bem, eu... E não é?
-- Tudo bem, talvez você esteja certa, mas nunca me importei realmente com isso.
Luciana não conteve a curiosidade.
-- Não se apaixonou por ninguém? -- perguntou-lhe num impulso, arrependendo-se ao ver um sorriso nos lábios dela.
-- Ora, ora. Se não me engano, eu disse que te amava.
Luciana desviou o olhar, sem jeito. Queria perguntar se ela ainda a amava, mas foi interrompida pelo garçom.
Kristen pediu dois chopps de vinho para beberem enquanto escolhiam os pratos.
-- Eu escolheria um prato leve se fosse você -- sugeriu Kristen -- O balanço do mar pode ser bem maldoso às vezes.
Luciana seguiu a sugestão de Kristen pedindo salada enquanto ela optou por peixe. Foi um almoço agradável.
A natureza tranquila da ilha e o chopp de vinho bebido durante a refeição, a fizeram esquecer de todos os problemas que estava enfrentando.
Retornaram ao barco algumas horas depois, alegres e rindo muito. Luciana desceu à cabine para fazer café, enquanto Kristen assumiu o comando do barco.
Quando voltou ao deque estirou-se em uma espreguiçadeira.
-- Que vida mansa, hein Lú? -- Kristen a provocou.
Luciana ergueu a cabeça.
-- Verdade, não estou acostumada com tanto mimo.
Kristen a fitou com um sorriso.
-- Depois desses dias atribulados, você merece momentos agradáveis e relaxantes.
Luciana recostou-se novamente e fechou os olhos. Kristen tinha razão, ela merecia mesmo. O sol quente, a brisa soprando e o balanço do barco logo funcionaram como um sonífero. Em poucos minutos dormia profundamente.
Um toque gentil em seus ombros a despertou.
-- Chegamos, Lú.
Confusa, Luciana sentou-se e olhou ao redor. O iate estava ancorado novamente.
-- Onde estamos, Kris?
-- Ilha de Cataguases. Você dormiu pelo menos umas duas horas.
-- Oh, céus! -- Luciana vestiu a camiseta e olhou para ela -- Você devia ter me acordado, Kris.
-- Você estava dormindo tão gostoso que eu não tive coragem de te acordar.
-- Hum, tá bom. Agora vou passar a noite em claro.
-- Passaremos juntas, então -- Kristen deu um sorriso maroto e saiu em direção a cabine.
Uma brisa suave amenizava o calor intenso enquanto Kristen e Luciana caminhavam pela areia da praia de Cataguases. O iate ficou ancorado ao lado de outros iates luxuosos.
-- Quer ver a vista da praia do alto da colina? -- perguntou Kristen.
-- Claro! -- Luciana adorou a ideia.
Segurando-a pela mão, Kristen a levou por uma trilha estreita e íngreme até uma espécie de um forte em ruínas. De lá se avistava os telhados das belas casas de veraneio e a areia branquinha contrastando com o azul intenso do mar.
-- Oh, Kris! É maravilhoso!
-- Também acho, Lú -- Kristen apontou para alguns morros ao longe -- É para lá que nós vamos agora.
-- Como se chama? -- Luciana a fitou curiosa.
-- Freguesia de Santana, você vai adorar, Lú.
O olhar profundo de Kristen. O jeito como a fitava, a forma como falava com ela, tudo nela a fascinava e a fazia estremecer.
-- Impossível não adorar, Kris, toda essa região é um sonho.
-- Isso é porque você ainda não viu a lagoa azul.
-- Porque Lagoa Azul?
-- É um apelido turístico inspirado nos clássicos dos cinemas nos anos 80. A lagoa Azul é uma piscina natural que fica localizada na região histórica de Freguesia de Santana. As embarcações ficam ancoradas e os visitantes podem descer para nadar, flutuar com "macarrões" (flutuadores de espuma), praticar snorkel ou alimentar os peixinhos.
O restaurante onde Kristen a levou para jantar era pequeno, aconchegante, muito sofisticado e iluminado por velas.
Distraída olhando a decoração do lugar, demorou a notar que Kristen a fitava de uma forma estranha.
-- Você é uma mulher linda, luciana.
Embora o elogio a tenha pego desprevenida, ela procurou não demonstrar.
-- Obrigada, Kris. E agora, que tal aproveitar esse momento e responder a pergunta que te fiz ontem a noite? -- Luciana levou um pedaço de peixe até a boca.
-- Ainda não, primeiro vamos jantar. Como está o seu peixe?
Luciana franziu as sobrancelhas. Por que ela não respondia logo?
-- Delicioso -- respondeu, mesmo contrariada -- A agitação deste dia me deixou cansada, sabia?
Kristen pegou o copo de chope de vinho e bebeu alguns goles.
-- Caminhamos bastante hoje, eu também estou cansada. Se já terminou a janta, podemos voltar ao barco.
-- Sim, já terminei, podemos ir.
Kristen fez um sinal ao garçom e pouco tempo depois voltaram para o iate.
Fazia uma noite agradável e ao pisar no deque do barco, Luciana se jogou sobre uma espreguiçadeira.
-- Estou fora de forma -- ela disse, rindo de si mesma.
-- Que nada, está melhor do que imaginei que estaria -- Kristen parou diante dela -- Que tal um drinque? -- perguntou, dirigindo-se ao bar.
-- Dry Martini, por favor.
Kristen preparou dois drinques, entregou um copo para ela e sentou-se numa espreguiçadeira à sua frente.
-- Depois que o juiz der a guarda do Dudu para mim, passaremos muito tempo juntas, imagino.
-- Com certeza, não ficarei um dia sequer longe do meu filho.
-- E se o juiz não permitir?
-- Você dá um jeito, liga para o Ministro da Justiça.
Kristen apertou o copo entre os dedos. Já devia ter imaginado que a resposta fosse esta.
Disfarçando a vontade de rir, Luciana sorveu um gole do drinque.
Kristen olhou para o copo.
-- Sem querer ser convencida, isso é mole pra mim.
-- Sério?
Kristin riu.
-- Confessa que você está feliz com a ideia de ficar mais tempo comigo.
-- É sempre bom unir o útil ao agradável -- Luciana ergueu o rosto para ela. Os olhos castanhos a fitavam de uma forma intensa e interrogativa -- Vai me responder a pergunta? Já me perdoou?
-- Sim, tudo é passado. Agora não importa mais.
Além de pasma, Luciana sentiu uma ponta de felicidade com a notícia.
-- De fato é passado, Kris -- Luciana concordou suavemente.
-- Mas o passado não está esquecido, Lú.
-- Eu... Bem, não sei o que você quer dizer, Kris.
-- Quero dizer apenas que me lembro muito bem de nós duas. Da maneira como me olhava com paixão nestes seus belos olhos.
Luciana mal conseguia respirar. A ideia de ficarem juntas novamente a deixou mais tensa ainda e quando o telefone tocou, ela suspirou irritada.
Kristen balançou a cabeça e atendeu o telefone com voz ríspida.
-- Monica? O que você quer?
Luciana levantou e saiu. Do corredor, a escutou falando com a loira inconveniente.
-- O que essa mulherzinha quer? -- Luciana se afastou para não ouvir mais nada. Seu coração batia como se fosse saltar do peito. Estava tão ansiosa para finalizar a conversa que mal se mantinha nas pernas.
Fazia muito calor dentro da cabine, então, decidiu tomar uma ducha para se refrescar. Meia hora depois, vestiu um robe e foi para o deque a procura de ar fresco.
Um vento frio começou a soprar do mar, Luciana estremeceu e decidiu voltar à cabine. Virou-se e deu de cara com Kristen.
-- Ah, desculpa. Não esperava te encontrar aqui.
Kristen se aproximou e a enlaçou pela cintura.
-- Nem eu. Não está com frio? A temperatura caiu bastante.
-- Só vim tomar um pouco de ar fresco e já ia voltando. Boa noite.
Luciana se virou para retornar à cabine, esqueceu que havia três degraus e acabou caindo escada abaixo.
Em menos de um segundo, Kristen estava ao seu lado.
-- Você está bem? -- perguntou, preocupada -- Quebrou algum osso? Sente alguma dor?
-- Acho que não -- ela respondeu, insegura.
Kristen ajudou-a a sentar-se. Luciana fez uma careta ao dobrar o joelho.
-- Onde doeu?
-- O joelho.
-- Deixe-me ver -- com todo cuidado, Kristen tocou-lhe o joelho -- Aqui?
Luciana contraiu a perna.
-- Eu... eu estou bem, não se preocupe.
-- Tenta ficar em pé, Lú.
Apoiando-se em Kristen, ela se levantou, com cuidado.
-- Está tudo bem, eu consigo andar sozinha -- mentiu, Luciana. Seu cotovelo estava doendo e também as costas.
Kristen não a deixou caminhar sozinha e a amparou até o quarto.
-- Porque no seu quarto?
-- Porque é o mais próximo, fica sentadinha na cama, vou pegar a caixa de primeiros socorros.
-- Não precisa, Kris. Estou bem.
-- Deixa de ser teimosa, vou cuidar de você e ponto final -- ela saiu e voltou com a caixa -- Agora vamos dar uma olhada nesse cotovelo ralado.
Kristen lavou e depois desinfetou o ferimento.
-- Pronto, agora só falta fazer um curativo.
Sentindo-se uma idiota, Luciana deu uma risadinha envergonhada.
-- Só pra mim mesmo, cair de uma escadinha desta -- disse irritada, olhando para o curativo fofo que Kristen acabara de fazer -- Vou voltar para o meu quarto.
-- Sério? Não acredito em você.
Luciana olhou-a espantada.
-- Não acredita em que?
-- Que você quer ir para o seu quarto. Na minha opinião você está esperando por isso.
Kristen se inclinou e segurando-lhe o queixo com firmeza, beijou-a nos lábios. Luciana soltou um gemido.
Kristen aprofundou o beijo e desceu a mão para as costas de Luciana, puxando-a de encontro a ela.
Foram instantes de pura emoção. Enquanto comprimia-lhe a boca com desejo, Kristen explorava o contorno de seu corpo nu sob o robe.
Explorou cada curva, cada saliência e finalmente acariciou-lhe os seios, tocando-os com firmeza e ternura ao mesmo tempo.
Luciana estremecia de prazer. Era como um sonho sentir novamente aquelas sensações profundas e maravilhosas. Não queria que aqueles momentos terminassem.
E como se adivinhasse seus pensamentos, Kristen se afastou um pouco e olhou para ela.
-- Luciana?
-- Sim?
-- Qual foi a sua pergunta, mesmo?
-- Estou perdoada?
Kristen sorriu, a resposta estava estampada em seus olhos. Ela balançou a cabeça, positivamente, embora tivesse jurado a si mesma que jamais a perdoaria.
-- Sim, eu te perdoo! Sim, eu te perdoo! Sim, eu te perdoo! Sim, eu te amo!
Muito lentamente, elas se despiram. De repente surgiu a verdade nua e crua: Kristen amava Luciana. Amava de todo o coração.
Fim do capítulo
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