Domi caminhava lentamente pelo corredor estreito e balançante do expresso de Hogwarts. O lugar estava mais abarrotado do que ela gostaria que estivesse, todos falavam e gesticulavam muito de uma forma animada, mas não era à toa, estavam a poucos minutos de Hogwarts e do início das aulas. É claro que ninguém gostava das aulas, mas estar em Hogwarts era quase libertador, e muito divertido em boa parte do tempo. Os únicos alunos que normalmente apresentavam uma leve depressão pré-Hogwarts eram os quintanistas e a galera do sétimo ano, que naquele ano prestariam os N.O.Ms e o N.E.Ms, isso representava muitas horas de estudo, e várias cartas dos pais os cobrando boas notas, já que as mesmas só decidiriam seus futuros. Dominique sentira bem isso na pele, passara pelos N.O.Ms no ano anterior e conseguira notas suficientes nas matérias que a academia de Auros exigia, mas isso foi no ano anterior, nesse ano ela não teria essa preocupação, estava no sexto ano, o ano da diversão. “Como ela havia batizado”

A garota acabara de vir do banheiro onde tinha trocado as vestes comuns pelo uniforme da escola. Ela odiava ter que se vestir como todo mundo, por isso sempre arranjava um jeito de mudar seu figurino, nem que fosse o mínimo possível. Esse ano pedira para sua prima Roxanne, apertar a sua calça do uniforme. O cardigã estava aberto, assim como a blusa, deixando a mostra à regata branca e apertada que sempre vestia por baixo das roupas escolares. A gravata ela havia pendurado aberta no pescoço e trazia nos braços a capa preta com o emblema de sua casa. É claro que antes que ela entrasse em Hogwarts, fecharia a blusa e o cardigã e colocaria a capa, mas só daria o nó na gravata se fosse obrigada por algum professor.

O cabelo prateado estava solto cortado pouco abaixo do ombro e raspado de um lado, Domi esperara seus pais adormecerem para poder aparatar no quarto de Roxanne, e pedir que a prima raspasse seu cabelo na lateral. Roxanne era ótima em feitiços que envolviam roupas, maquiagem e cabelo. Por isso era a mais indicada para a tarefa. Quando Dominique descera para o café da manhã no dia seguinte, sua mãe quase sofrera um infarto. Enquanto seu pai e seu irmão mais novo riam e faziam elogios do quanto ela tinha ficado d’hora, e a sua irmã mais velha simplesmente ignorou e continuou comendo seu cereal.

Depois do susto, Fleur começara a esbravejar dizendo que Dominique não pisaria os pés em Hogwarts enquanto não mudasse o corte. Depois de alguns minutos de brigas, a garota concordou em deixar a mãe fazer um feitiço para crescer cabelo novamente. Mas a reação da mãe já havia sido prevista por Domi, por isso Roxanne teve a brilhante ideia de aplicar um contrafeitiço retardante no local, que só faria efeito horas depois que o expresso de Hogwarts haveria partido. E foi exatamente o que aconteceu. É claro que a sua mãe saberia por alguém, e provavelmente ficaria muita brava, mandaria um berrador, ameaçaria, mas logo se acostumaria. - Ela já se acostumou com algo bem menos tradicional! – Pensou Domi.

“Kiss me hard before you go. Sammertime sadness.”

A jovem bruxa cantarolava baixinho acompanhando a música do seu mp3. Dominique adorava a música trouxa, ela convencera seu pai a comprar-lhe vários objetos não mágicos para que ela pudesse cada vez mais conhecer a música dos não bruxos. A garota gostava particularmente de rock, mas nesse verão ela havia conhecido uma cantora hipster chamada Lana Del Rey, e Sammertime Sadness era em especial a música do momento para Domi.

“Oh, my God, I feel it in the air”

Para poder continuar ouvindo suas músicas em Hogwarts, Domi teria que arranjar um jeito mágico, já que na escola de magia existia um feitiço que impedia que qualquer tecnologia trouxa funcionasse. Por isso Domi apelou para seu outro primo e irmão de Roxane, Fred Wesley II. Fred era um admirador da tecnologia trouxa e adorava as fazer funcionar sem eletricidade e de uma forma inteiramente mágica. Por isso ele conseguiu transformar o mp3 de Domi em um aparelho de música mágico, que funcionava verbalmente e tinha uma capacidade infinita de armazenamento. E o carregamento era simples, a bruxa teria que aplicar ao aparelho qualquer feitiço, que ele o absorveria e funcionaria durante horas a base daquela descarga mágica. É claro que o feitiço teria que ser qualquer um menos os que serviam para destruir, desmontar, transformar ou remodelar.

A garota estava extremamente envolvida na música que tocava em seus ouvidos, que nem ao menos percebeu o quanto estava atraindo as atenções. Todos exibiam um olhar curioso e muitas vezes excitado sobre a Weasley.

Muitos consideravam as irmãs Weasley como as garotas mais atraentes da escola, filhas do meio lobisomem Gui Weasley e a meia Veela Fleur Delacour. As duas eram muito parecidas. Cabelos de um loiro prateado, olhos azuis como o céu e pele branca. Victória a mais velha, tinha 1,80 e um corpo mais esguio e magro, como o corpo de uma modelo, seus cabelos eram longos, quase sempre presos em um rabo de cavalo ou em um coque. Já Dominique apresentava um corpo atlético como uma jogadora de vôlei e era uns 10 cm mais baixa que Vitória. De forma geral as irmãs eram muito parecidas, mas a semelhança se restringia a sua aparência.

Victorie Weasley sempre apresentava um rosto sereno e temperamento calmo e amável, conhecida por ser dedicada e atenciosa, se esforçava muito nos estudos, suas roupas sempre eram bem alinhadas e limpas, assim como seu cabelo sempre bem escovado, andava e se vestia de forma elegante e séria. Mesmo sendo educada e agradável com todos, passava um ar de inalcançável e imperturbável.

 já Dominique era enérgica, distraída e parecia viver em um mundo particularmente seu. Raramente penteava o cabelo, adorava um jeans e uma camisa preta. Normalmente com uma expressão séria e carrancuda, mas de séria ela quase não tinha nada, era alegre, gostava de tirar sarro, fazer brincadeiras, uma garota divertida e criativa, muito mais inclinada a os esportes do que ao estudo.

Por mais que opostas, as irmãs tinham personalidades envolventes e eram muito carismáticas, mas Domi não parecia intocada como a irmã, ela era mais acessível o que fazia com que os garotos tivessem mais coragem de “dar em cima”. A garota era constantemente convidada para encontros e frequentemente recebia cartas de amor. Até que um dia no ano anterior, ela havia sido pega no banheiro feminino aos beijos com Amy Cooper. Depois disso a garota achou desnecessário esconder sua orientação sexual. O que fez com que boa parte do assédio masculino parasse, mas isso não os impedia de comê-la com os olhos, e existiam até alguns poucos corajosos que se aproximavam dela com algum pedido de encontro ou cantada, como Domi não se via mais na obrigação de fingir, dizia “não” sem nem pensar duas vezes, muitas vezes parecendo até rude!

- Não sou obrigada a sequer dizer que ia pensar no pedido desses garotos, não gosto de meninos, nunca um deles me despertou o mínimo de interesse, olha que eu já tentei muito gostar de algum garoto. - Dizia Domi toda a vez que algum amigo seu lhe chamava a atenção por ter dado um toco desnecessário em um pretendente.

A música estava acabando quando Domi foi forçada a se espremer na parede enquanto uma trupe de alunas da sonserina passavam por ela. Bem na hora em que a música terminou e que o silencio tomou conta do seu fone de ouvido, uma das garotas foi empurrada, fazendo com que ela se desequilibrasse um pouco na direção de Domi. As duas estavam de frente uma para a outra, isso fez com que seus corpos se encontrassem, e os seios grandes da garota se espremesse contra o seu. A bruxa da sonserina, havia abotoado a camisa até uma altura que deixara um decote enorme, fazendo com que Domi salivasse ao se ver tão perto aquele par de peitos gigantes.

“Feet don’t fail me now, take me to the finish line”

Lana começou a cantar na próxima música, e Domi fez dessa frase uma oração interior, quando olhou o sorriso safado da garota peituda.

A Weasley devolveu o sorriso, e se virou continuando andando. Agora não era hora para um flerte, ela só queria ouvir a sua música até chegar à cabine onde encontraria seus amigos. Mas é claro que não deixaria uma oportunidade dessas passar, por isso também sorrira, deixando assim aquele momento aberto, para ser dada continuidade em outra hora.

Quando chegasse a cabine, onde deixara seus amigos, ela esperava encontrar apenas um ou dois alunos da Corvinal, mas o que encontrou foi uma reunião familiar. A cabine estava abarrotada com cinco Weasley e dois Potters.

- Eita! – Foi a expressão que Domi soltou ao ver todos juntos. – O Natal chegou mais cedo?

- Oh! Olha o cabelo esquisito da Domi. – Disse Rose que estava sentada no chão, aos pés de Fred.

- Domi. Mamãe vai vir correndo até Hogwarts quando souber que você cortou o cabelo de novo. – Louis estava espremido entre Thiago e Fred.

- É por isso que eu vou pedir a todos vocês que não abram o bico. – Dizendo isto ela atravessou a cabine e se sentou no chão. Ao lado de Alvo que estava sentado logo abaixo da janela.

- Como se outra pessoa não fosse contar a mamãe. – Agora quem falara era Victorie que estava ao lado da janela. – Esse seu corte de cabelo vai ser o assunto da escola.

- Isso prova o quanto o mundo bruxo é antiquado. Mas mudando de assunto, qual o motivo de todos estarem aqui?

- Sempre ficamos juntos quando alguém da família vai ingressar em Hogwarts. – Disse Lucy.

- Exatamente. – Afirmou Victoire. – Ted e Molly começaram com essa tradição.

- Então Ted te iniciou nisso também? – Disse Thiago dando risada.

Domi também teve que rir da indireta, assim como todos os outros primos, exceto Alvo e Rose que ficaram com olhar de bobos sem entender nada. Já Vic, direcionou um olhar perigoso para Thiago, o que o fez engolir o riso.

- Continuando o que eu estava falando, esse é meu último ano, por isso quero lembrá-los que daqui dois anos Hugo estará iniciando e eu conto com vocês para continuarem a tradição dos Potter-Wesley.

- Nossa Vic, você é tão família, quando é que você vai começar a agir como um sonserino de verdade e se tornar, arrogante, competitivo e mal caráter? – Disse Roxanne.

- Você sabe muito bem Rox que os....

- Blá, blá, blá... – Thiago interrompera a resposta de Victorie.

- Papai disse que bruxos da sonserina não são necessariamente maus. E que um dos maiores diretores de Hogwarts foi da sonserina.

- Muito bem Alvo. – Victorie direcionou um olhar de advertência para Roxanne e Thiago. – Vocês vão colocar muito medo neles, e você Roxanne devia dar exemplo, também é da sonserina e eu nunca te vi explodir ninguém.

- Todos da família, são ou da Grifinória ou da sonserina, só Domi e Fred estão sozinhos em outras casas. – Disse Rose.

Nesse momento todos olharam para Dominique.

- O que? Tenho culpa de ser a mais inteligente? – Disse ela balançando os ombros.

- Meu pai sempre diz que os alunos da Corvinal são todos metidos a inteligentes. – Disse Lucy.

- Você sabia que seu pai namorou uma Corvinal? Deve pensar assim por que ela deve ter partido o coração dele, nós da Corvinal temos um charme irresistível mesmo!

- Olha, charme e inteligência eu não sei, mas você acabou de provar que os corvinos são metidos. – Comentou Fred Fazendo os outros rirem.

- Eu tenho uma dúvida. – Disse alvo ao fim das gargalhadas. – Vocês escolheram não ser da Grifinória? – Ele se referia a Victorie, Dominique, Fred e Roxanne.

- Por que Alvo? – Indagou Roxanne.

- Alvo veio se cagando de medo em ir para a sonserina, então papai disse umas baboseiras para acalmar ele.

- Se papai disse não é mentira Thiago. – Alvo estava com uma voz brava.

- O que seu pai disse? – perguntou Lucy.

- Ele disse que o chapéu seletor o colocou na casa da Grifinória porque ele pediu, então se eu pedisse o chapéu não me colocaria na sonserina.

- Ai gente até a onde vai esse preconceito com os sonserinos?

- Olha só quem ta falando, a garota que colocou uma poção de intestino solto no meu chá no ano passado, para que eu não jogasse. – Dominique encarava Roxanne com uma carranca.

- Não sei por que você está tão brava, nunca a impedi de tentar me azarar antes de um jogo.

- Você é minha prima Roxanne!

- Em Hogwarts a nossa família é a nossa casa.

- Está vendo Alvo como os sonserinos são competitivos e malvados. Você não é um garoto assim, provavelmente não vai para a sonserina.

- Alvo é verdade que a sonserina é composta por pessoas que odeiam perder, mas maus perdedores não fazem pessoas más. Mas eu nunca tinha parado para pensar nessa questão de escolha. Pode ser verdade. – Victorie levou a mão ao queixo e fez cara de pensativa. – No dia da minha seleção, eu não queria necessariamente ir para a Grifinória, eu queria ir para uma casa que explorasse todo o meu potencial.

- Eu queria ir para a sonserina, é a casa mais campeã de Hogwarts. – Disse Roxanne.

- Eu tenho pavor do clima competitivo da Grifinória e da Sonserina, deve ser por isso que eu fui para a lufa-lufa. – Comentou Fred.

- Perdedor. – Disseram todos levando a mão a testa em forma de L.

- Ah! Vão todos a merd*! – Alvo, a sonserina é um ninho de bruxos das trevas, os grifinórios andam pela a escola parecendo uns pavões só porque os principais personagens da última guerra bruxa eram de lá. E a Corvinal é um bando de pessoas estranhas. Vai por mim, se você quer confiança, lealdade...

- Perdedor. – Alvo interrompeu Fred levando a mão em L na testa.

Todos riram, menos Fred é claro.

E você Domi, porque quis ir para a Corvinal? Perguntou Rose com a voizinha esganiçada.

Dominique ficou um tempo em silêncio e então deu de ombros.

- Eu não quis ir para a Corvinal, o chapéu me mandou para lá porque sou muito inteligente, só isso.

- Inteligente eu não sei, mas que você é estranha é sim. – Disse Thiago.

- Bota estranha. – Complementou Roxanne.

- Extremamente estranha. – Logo todos estavam exclamando o quanto ela era estranha.

A jovem bruxa não se importava quando esse termo era referido a ela, ao contrário, ela adorava. - Ser estranha é legal, ser igual a os outros é muito chato.

Fim do capítulo