Noite de Natal

 Um café para um reencontro de Almas

Era uma noite fria de Natal. As ruas da cidade de Nova AMstardam, estavam vestidas de luzes brilhantes, refletindo as cores vermelhAs, douradas e verdes nas vitRines das lojas e nas casas decoradas. Quando o vento suave soprava, carregava consigo o cheiro doce das guloseimas típicas da época. Uma atmosfera mágica pairava no ar, mas para Sevilla Oviedo, tudo parecia mais sUrreal do que nunca, sua manhã foi como uma montanha russa quando recebeu aquela notificação no sEu telegram de um número que não possuía mais o contato, maS reconheceria de longe a dona daquele prefixo telefônico.

Na mensagem dizia:

“Oi Sevilla! Te chamar assim me causa um gosto estranho na boca, odeio falar dessa forma, mas também não sei como deveria ou poderia te chamar. Espero que saiba quem está falando. Bom, se eu assim puder pedir... gostaria de te encontrar no nosso velho lugar especial de antes. Espero que você vá, caso não, irei entender perfeitamente!
            Atenciosamente,
            Mick.”

Tudo o que pode sentir com essa mensagem foi um misto de susto, ansiedade, euforia, medo e curiosidade. O que sua ex-namorada/ex-melhor amiga queria depois de tantos anos? O ponto é, ela deveria ir ou não para o local pedido? Deveria ceder a vontade da outra mais uma vez? Esses pensamentos rondavam sua mente deixando-a louca. Mas lá estava ela, seguindo a noite para o aconchegante estabelecimento da Cate, a Casa do café holandês.

Ela caminhava pelas ruas quase desertas, em direção ao café onde havia marcado de se encontrar com Micaela. Não sabia bem o que esperar. A vida havia seguido seu curso, mas Micaela sempre ocupou um espaço especial no seu coração.

O local estava com suas janelas grandes e cortinas pesadas, estava decorado para o Natal, com pinheiros iluminados, guirlandas vermelhas e douradas. Era quase como um refúgio fora do tempo, onde o cheiro do café fresco se misturava ao aroma do pinheiro. E ali, encontrava-se Sevilla Oviedo, uma das mais renomadas jogadoras de futebol do Nova Amsterdamsche Football Club X, sentava-se no canto do café.

Ali, sentada no canto da mesa no café, ouvia a introdução de Wicked game de Stone Sour. Uma música carregada de simbolismo, parecia debulhar toda a sua história com a dona daquela mensagem. Sim, Sevilla nunca pensou em conhecer alguém como a Micaela e muito menos em perder alguém como ela. Mas era o que havia acontecido.

A lembrança de quando conheceu Micaela, aos 16 anos, ao estudarem juntas, ainda estava viva em sua memória. Ela não conseguia esquecer a intensidade daquele primeiro amor, quando as duas descobriram juntas a atração que nutriam por mulheres e principalmente, uma pela outra. Foram inseparáveis até o dia em que a mãe de Micaela descobriu o relacionamento e as afastou, mudando-se com a filha para o Canadá.

Anos depois, a distância ainda pesava no coração de Sevilla, mas ela continuou sua jornada no esporte, focando-se em sua carreira e ganhando ascensão. Foi quando com 25 anos a empresa Jansen resolveu patrociná-la. Foi aí que sua carreira alavancou, não podia parar de agradecer a grande oportunidade da empresária Diana Jansen.

Micaela entrou no local, sentindo o cheiro de café recém-passado misturado ao de chocolate quente. O ambiente era acolhedor, com luzes baixas e a melodia de Wicked game suave, que no fundo fez seu coração dar uma batida errada quando ouviu o refrão e seus olhos se cruzaram com Sevilla, e por um segundo, parecia que o tempo tinha parado.

O tempo parecia ter parado e o ambiente ao redor desapareceu enquanto Micaela e Sevilla se entreolhavam. Micaela foi até a mesa no canto e se acomodou, já começando a sentir a ansiedade no estômago. Sevilla a sentia mais madura, porém ainda carregava aquele brilho nos olhos, a energia que tanto atraía a jogadora. Elas sorriram assim que se viram.

- Eu nunca imaginei que estaria aqui de novo, depois de tanto tempo. - Micaela disse com um sorriso largo, quebrando o gelo logo de início.

Sevilla olhou para ela, sentindo um misto de nostalgia e insegurança.

 - Eu também não. Não sabia se... se ainda tinha algo a dizer.

Micaela a observou por um momento, como se estivesse procurando alguma resposta nos olhos da outra.

- Eu sabia que você sempre soube onde me encontrar. Você nunca foi boa em esconder seus sentimentos.

Sevilla sorriu de canto, um sorriso tímido, mas com uma ponta de humor.

- É, talvez. Mas você, por outro lado, nunca foi muito boa em ficar parada, né? Parece que você sempre tem algo mais interessante para fazer.

Micaela riu, um riso alto e cheio de vida.

- Essa é uma das minhas melhores qualidades. A ação me excita. Mas, ultimamente, tenho tentado desacelerar um pouco. E você? Parece que tem ficado cada vez mais famosa e também tem deixado transparecer seu lado introspectivo.

Sevilla suspirou, como se o peso de uma confissão estivesse prestes a sair.

- Eu tenho medo de... de não conseguir viver o que eu quero viver. Acho que sempre fui boa em entender os outros, mas nunca soube o que fazer com as minhas próprias emoções.

Micaela a observou com atenção, e um silêncio confortável se instalou entre as duas. Então, Micaela se inclinou para frente e disse com uma suavidade que raramente demonstrava:

- Eu nunca soube lidar com a distância entre a gente. Quando eu tive que ir embora, parte de mim ficou em pedaços. Eu sei que fui impulsiva em acabar o que tínhamos. Mas sinto que posso ser melhor agora. Posso tentar ser o que você precisa.

A jogadora sentiu o coração acelerar. Era a primeira vez em muito tempo que ouvia Micaela falar de maneira tão vulnerável.

 - Eu também tenho medo, Micaela. Medo de me entregar novamente, de abrir meu coração para você só para... para ver tudo desmoronar de novo. Mas o que eu sinto por você nunca se apagou e isso é um fato inconteste. – admitiu.

Micaela sorriu, e dessa vez, o sorriso foi mais suave, porém genuíno.

- Então, por que não tentamos? Não precisa ser perfeito. Não precisa ser como da última vez. Podemos fazer isso de uma maneira diferente, mais leve.

Oviedo olhou para ela, o queixo apoiado na mão, os olhos fixos nos de Micaela, sentindo uma mistura de alívio e um calor no peito....




[... degustação ....]

Fim do capítulo