Capitulo 1
À primeira vista
Capítulo um
CAROLINA FONSECA
Meados de julho de 2010.
Mais um dia qualquer na sala de aula do cursinho pré-vestibular para medicina.
Eu não pertencia àquele ambiente… O que pode parecer meio ridículo de se dizer, vindo da filha única de um casal de médicos bem sucedidos. Mas a verdade é que a única certeza que eu tinha, era que eu NÃO queria seguir com aquilo.
A professora falava e falava, e todo mundo ali parecia tão concentrado que eu me sentia uma verdadeira impostora naquele meio.
Qual era a lógica de me obrigar a fazer algo que eu nunca conseguiria ser boa o suficiente?
Eu não era um ser humano com vontades e sonhos, eu era apenas um objeto decorativo, uma conquista da qual minha mãe e meu pai poderiam se gabar nos eventos de família.
E o que eu poderia fazer? De acordo com a minha mãe, eu não sobreviveria nem mesmo por 24 horas sem o apoio deles.
E ela não estava errada.
-- Com licença professora…
Uma voz interrompeu a aula e me tirou dos meus devaneios.
A verdade é que, ainda que eu estivesse muito concentrada, eu teria desviado meu olhar para a porta… Porque sim, a figura daquela garota segurando uma pilha de papeis era a coisa mais linda que eu já havia visto na vida.
-- Obrigada Esther, deixa aqui em cima da minha mesa, por favor.
A professora falou fazendo um gesto com a mão para que a garota entrasse.
Acho que tínhamos a mesma idade, ou talvez não. Seus cabelos escuros chegavam até o meio das costas. Os óculos de grau não me deixavam ver com clareza, mas seus olhos eram algo entre castanho claro e mel.
“Esther…”
Minha mente repetiu aquele nome lindo que combinava perfeitamente com sua dona.
Nossos olhares se cruzaram por um segundo. Acho que eu estava encarando demais, porque ela se virou instantaneamente de volta.
Eu sorri, naquele instante eu consegui entender o que significava “amor à primeira vista”.
Bom, pelo menos eu achei que tinha entendido. Talvez esse foi meu erro.
Voltando ao meu passado, Esther era assistente do tesoureiro na universidade em que eu fazia o cursinho, ela estava no segundo semestre de Gastronomia e trabalhava para pagar suas despesas básicas com alimentação e transporte.
Como eu descobri isso tudo? Me aproximando e contando alguma piada estúpida da qual ela riu, mas até hoje não sei se riu de mim ou da piada.
Não que eu ainda me importe.
Éramos jovens demais, e tínhamos diferenças gritantes de personalidade, porém não foi mistério o sentimento que nasceu ali em tão pouco tempo.
O primeiro beijo foi exatamente no primeiro encontro, estávamos saindo do drive-tru com um par de sacolas e eu simplesmente a puxei contra os meus lábios da forma que eu queria ter feito desde o momento em que a vi pela primeira vez.
A pele macia, o cheiro do perfume suave, a maciez dos lábios de Esther nos meus e sua mão deslizando por meu braço talvez sejam uma das melhores lembranças da minha vida.
-- Estou com fome Carol… -- Ela disse interrompendo o beijo e rindo e eu pude ouvir seu estômago roncar. Fiz uma careta pedindo desculpas.
-- Eu juro que realmente te chamei pra comermos algo. -- Falei mordendo o lábio inferior. Eu não queria que ela pensasse que eu só queria uns amassos.
-- Claro… Eu acredito em você. -- Ela me respondeu rindo enquanto se esticava para pegar uma das sacolas que eu havia atirado no banco traseiro.
No final da noite as coisas esquentaram. Não nos conhecíamos tão bem, mas eu não me importava nem um pouco com isso. Quando meus beijos desceram pelo pescoço de Esther e minha mão se enfiou embaixo de sua blusa, ela fez um sinal pra que eu parasse. Me encostei no banco do carro fazendo um bico chateado e ela me lançou um olhar que falava por si só.
-- Já sei, não vai ser em um carro, e muito menos no nosso primeiro encontro. -- Verbalizei o que ela provavelmente estava pensando. Esther apenas assentiu e me beijou carinhosamente.
Fiz uma careta, eu não era muito fã de romance, meus relacionamentos não passavam de semanas, mas algo nela me fazia acreditar que a espera valeria a pena.
Foi então que três meses se passaram. Descobri que Esther gostava muito de reality shows, musicais e joguinhos insuportavelmente viciantes, como candy crush ou qualquer outra cópia barata dele.
Conversávamos sobre quase tudo, e era para os braços dela que eu me refugiava a cada discussão horrível que tinha com meus pais, pois o vestibular estava cada dia mais próximo e meu desespero crescia proporcionalmente.
Nesses momentos, Esther era meu lado racional, ela não me deixava desmoronar de forma alguma. Foi em um desses dias difíceis que ela me abraçou e disse que eu poderia passar a noite, e eu, que não queria voltar pra casa e muito menos estar longe dela, aceitei.
E claro que, como qualquer casal apaixonado no início de namoro, não tinha como não acontecer nada naquela noite. Foi um dos melhores momentos que eu tinha vivido até então, e provavelmente ainda mais significativo para Esther, por eu ser sua primeira.
Eu posso dizer com toda certeza do mundo, que muito além de desejo, eu via amor em seus olhos, enquanto suas mãos buscavam conhecer meu corpo. Eu nunca tinha sentido nada parecido.
-- Você me deixa louca Esther… -- Sussurrei em seu ouvido. Foi quando ela se levantou irada.
-- É sério isso Carol? -- A loira começou a vasculhar o chão em busca da blusa que eu havia arrancado em algum momento.
Ah não… Loira?
Fechei os olhos sentindo ódio de mim mesma. Por que raios eu fui chamá-la de Esther? Estava ficando louca?
Eu nem ao menos gosto dela, foi um alívio quando ela sumiu da minha vida.
Me joguei na cama aborrecida quando ouvi aquela semi-desconhecida que encontrei no bar sair batendo a porta do meu apartamento com tanta força que poderia muito bem ter derrubado as paredes.
-- Merda… -- Resmunguei para mim mesma e me levantei indo em direção ao guarda-roupas. Abri uma gaveta e puxei um pequeno porta-retrato.
Toquei o rosto de Esther, que sorria na foto, a desgraçada era linda, e sempre seria.
Em que momento havia deixado de amá-la? Acho que eu nunca teria aquela resposta.
Coloquei novamente a foto dentro da gaveta, eu odiava aquelas lembranças.
Fim do capítulo
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jake
Em: 13/10/2024
Meio confuso, afinal não era a Esther ??
Carol briga com os pais passa a noite com
Esther e fica com uma desconhecida q conheceu num bar???? Esther sumiu????
Acho q faltou. Uma passagem de tempoou estou errada autora????
silverquote
Em: 13/10/2024
Autora da história
Oi Jake, muito obrigada por comentar.
Respondendo a sua dúvida, a Carol tá contando o passado dela, então ela ter brigado com os pais e passado a noite com a Esther é algo de anos atrás. Já essa situação com a desconhecida no bar é o presente.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 12/10/2024
Oxe tu não gosta e não esquece kkkkk.
silverquote
Em: 13/10/2024
Autora da história
kkkkkk bem isso
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