Capitulo 27
CAP 27
POV ANA VITÓRIA
- Que semana estressante. Quando eu achar o maldito que começou esse roubo eu vou matar. Só o trabalho de fazer essa investigação está acabando com minha insanidade.
Essa era eu falando sozinha na minha sala. Rafael tinha saído pra buscar alguns documentos no almoxarifado enquanto eu quebrava cabeça com os vários papeis que já se encontravam na minha mesa. Fazia dias que eu não dava atenção a Sophie, mas não podia fazer muita coisa, no momento essa investigação estava consumindo todas as minhas forças. Eu chegava em casa todos os dias morta de cansada física e psicologicamente, tudo que queria era dormir na minha cama com minha namorada e nesse tempo não percebi que deixei a desejar, deixei de ser quem eu deveria ser pra ela.
Sobre a investigação, já tínhamos descoberto o nome de três policiais de Recife e dois daqui do RN. O esquema funcionava assim, o envolvimento entre eles surgiu durante a última operação que fizemos em conjunto com a polícia de Recife. Como todo material apreendido viria pra cá então eles aliciaram o policial que fazia ronda no depósito e assim desligavam as câmeras de segurança no momento do roubo. O primeiro a ser descoberto foi o policial do depósito e pra descobrir quem mais estava envolvido foi necessário investigar o dia a dia com fotos e filmagens, seguido da quebra do sigilo bancário e ligações telefônicas. Uma primeira parte foi feita em sigilo pelos policiais de Recife, outra parte já conosco e agora estou indo passar alguns dias em Recife pra fechar a investigação e apresentar a corregedoria.
Se eu soubesse que essa viajem me traria tanta dor de cabeça teria colocado atestado. Mentira, não posso fazer isso, além do mais não estava brincando de ser policial. Vestir a farda é uma responsabilidade muito grande e eu levo muito a sério meu trabalho. Contudo, não posso deixar de comentar que assim que pus os pés na maravilhosa cidade do Recife, fui recebida por Mariana, uma policial muito solícita e por vezes muito folgada, mas ela me lembrava muito Sophie com jeito de doidinha por isso não levei muito em conta suas brincadeiras, que de brincadeiras não tinha nada. Suas cantadas foram aumentando gradativamente, todos os dias ela me chamava pra beber alguma coisa e eu recusei todas, em um desses dias quando ela veio me chamar o pessoal escutou e fez aquela algazarra, resolvi fazer a social. Chamamos dois carros de aplicativo e ela fez questão de ir comigo, até ai tudo bem, o problema é que ela foi o caminho todinho me tocando e se insinuando. Chegamos no local e eu já estava com nojo da criatura, puxei ela antes de entrar no bar pra acabar com aquilo, porque se tem uma coisa que eu acho ridícula é mulher oferecida, insistente, chata e abusada, e ela já tinha ultrapassado todos os meus limites.
- Olha Mariana, eu quero que você pare.
- Mas eu não estou fazendo nada. (Cínica)
- Você não precisa fazer esse joguinho comigo, se continuar vou embora agora.
- Não precisa, já parei.
- Tudo bem, vou entrar.
Entrei no bar com o rosto transformado em ódio, mas aos poucos fui acalmando e o álcool ajudou, mas a mulher ficou parecendo uma piriguete se oferecendo pra todo mundo, no final ela saiu com um homem que estava no bar e nós ficamos aliviados. No outro dia, a garota parecia ter tomado suco de coragem e passava desfilando no meio da delegacia, o que ela não sabia era que ninguém estava achando bonito. No final da semana nós fechamos o caso e seria preciso prender e trazer pra Recife os policiais do RN envolvidos, como estava com saudades da minha pequena ajeitei pra ela vim também e assim voltaríamos juntas. No dia da chegada não pude ir encontrá-los no aeroporto pois estava adiantando meu depoimento e todos os trâmites para poder voltar o mais rápido possível, não consegui ver Sophie o dia todo, estava saindo da delegacia com o telefone na mão pra ligar pra ela quando a piriguete atravessou meu caminho.
- Vitória, eu sei que você já está indo embora e eu não poderia deixar de ir sem fazer isso.
Não tive chances para nada. A demônia me tacou um beijo como se fosse arrancar um pedaço da minha boca e minha única reação foi empurrá-la a ponto de ela cair sentada devido a força que exerci. Quando olhei pra frente vi a única pessoa que não poderia ter presenciado aquela cena, corri em sua direção, mas o estrago já tinha sido feito.
- Sophie, Sophie, olha pra mim. Não é o que você está pensando. (Tentei falar o mais calma possíve)
- SOPHIE, OLHA PRA MIM POR FAVOR.
Nessa hora o desespero tomou conta do meu corpo, um sentimento ruim, uma angústia, as lágrimas desciam do meu rosto e eu nem percebi que tinha várias pessoas olhando, inclusive alguns da minha delegacia.
- Para de gritar. A gente conversa depois.
Me recompus, olhei em volta e me dei conta das pessoas ao nosso redor, mas isso já não tinha importância pra mim, tudo que eu queria era sanar a dor que vi nos olhos da minha pequena. Sophie saiu de perto de mim e eu procurei sair daquela situação embaraçosa, fui tomar a frente da nossa pequena viagem até o aeroporto, passei apenas no hotel pra pegar minha mala e partimos. O silêncio no carro era constrangedor, Sophie não falou uma palavra sequer, nem dirigia o olhar para mim, meu coração começou a gritar de desespero quando percebi seu rosto vermelho, ela chorava em silêncio e isso me deixou quebrada. Dei graças a Deus quando chegamos no aeroporto, ainda faltava alguns minutos pra embarcarmos então peguei sua mão e sai puxando pra qualquer lugar onde pudéssemos conversar.
- Sophie, não chora, por favor. Eu não aguento te ver assim. (tentei abraçá-la, mas ela se afastou)
- Eu não quero conversar.
- Amor olha pra mim, não é isso que você está pensando. Me deixa explicar.
- A última coisa que você deveria falar "Não é o que você está pensando". EU NÃO ESTOU PENSANDO. Eu simplesmente vi, não tem nada pra explicar, aliás já está tudo muito claro.
Ela gritou alto o suficiente para algumas pessoas perceberem nossa discursão. Eu não sabia o que fazer, nem o que falar, essa era a primeira vez que brigava e sentia minha alma destroçada. Nunca na minha vida passei por algo desse tipo, de todas as vezes que brigava com o Vitor nunca sentia necessidade de consertar as coisas, talvez o que minha mãe falou seja verdade, talvez eu estivesse com ele apenas por conveniência e comodismo e agora não era assim, eu estava sentindo a verdadeira dor de magoar quem a gente ama. Minhas lágrimas escorriam de puro desespero, eu não estava suportando a ideia de machucar ela, não suportava lembrar que era por minha causa suas lágrimas, tudo que eu queria era poder colocá-la em meus braços, enxugar suas lágrimas e acalmar seu coração, mas não, eu não podia.
- Sophie, por favor. Me deixa explicar.
- Vitória, eu preciso ficar sozinha.
- Como sozinha? Nós vamos pegar um voo e vamos sentar lado a lado.
- Eu vou pedir a algum dos meninos pra trocar de lugar.
- Soph, por favor.
- Não Vitória. Eu preciso pensar. Preciso ficar sozinha.
- Tudo bem, mas quando chegar em Natal a gente vai conversar né?
- Eu não sei.
Respirei fundo umas quinhentas vezes, precisava me acalmar, precisava dar espaço a ela.
- Tá certo. Eu vou dar o espaço que você precisa, mas por favor...
Ela me olhou com uma cara tão feia que não completei, mas tudo que eu queria dizer era "não esquece que eu te amo e jamais faria qualquer coisa pra te perder". Sai de perto dela com o coração em pedaços. Voltar pra casa sem minha pequena estava me matando, eu segurei as lágrimas o máximo de tempo possível, mas quando percebi Sophie entrando num carro de aplicativo sozinha, meu coração errou uma batida, as lágrimas escorriam sem querer e o único pensamento que me motivava era "eu preciso fazer alguma coisa pra ter ela de volta na minha vida".
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]