Capitulo 1
Era domingo à noite. A pequena cidade do interior baiano estava tranquila, mas a mulher deitada, apoiando a cabeça ao peito do marido, não se sentia da mesma forma.
Nada parecia bem.
Após ter momentos de intimidade com o marido, não conseguiu dormir. Sua mente não parava. Orlando era maravilhoso. Muitas mulheres desejariam estar com ele, no entanto, ela não se sentia completa naquela relação. A verdade é que nunca havia se sentido. Tentava negar o que acontecia, se culpava por não estar bem naquele casamento.
Não era feliz vivendo sempre se cobrando, sabia disso.
Havia se casado com 18 anos. Na época, era costume onde moravam casar cedo. Casou-se não por amar Orlando, mas por achar que precisava seguir os conselhos dos mais velhos.
A família incentivou a união dos dois, já que sempre inventavam pretextos para o comparecimento de Orlando em sua residência.
Eram tão constantes as visitas.
Foi inevitável negar ao pedido.
Talvez, nem tivesse escolha.
Fruto do casamento, nasceu Estela, uma moça de 22 anos. Era uma boa filha, orgulho da família. Nunca havia dado trabalho aos pais. Cursava medicina em Salvador.
Parecia muito com o pai, todos sempre diziam.
— Amor, não está conseguindo dormir? — sonolento, o marido perguntou.
— Pensando em algumas coisas. Já vou dormir. – Aconchegou-se melhor. Mesmo se casando devido à pressão da família, os dois viviam muito bem. Dificilmente brigavam. O marido sempre a incentivou. Porém, todo o seu jeito atencioso não impediu Eva Castro de se sentir incompleta.
— Está bem!
Ao vê-lo voltando a adormecer, ficou se perguntando o que acontecia com ela.
Sem obter resposta, fixou o olhar em Orlando. Apesar da pouca iluminação no quarto, era possível notar que era um belo homem. Seus cabelos loiros tinham alguns fios grisalhos que considerava um charme. A barba era bem aparada e o corpo bem cuidado. Chamava a atenção de muitas mulheres para si.
Eva sabia o quanto ele era cobiçado. Isso a fazia pensar na possibilidade de ter algum problema, pois não era feliz. Não se sentia bem quando tinham contatos mais íntimos. Parecia estar enganando Orlando ao fingir prazer. Pior, enganava a si mesma.
Antes, fingir não era um problema, no entanto, agora, ela estava sentindo um peso muito grande sobre suas costas. Orlando queria fazer uma festa para comemorar os 25 anos de casados. Pretendia convidar toda a família e conhecidos para mostrar a todos o quanto eram “felizes”.
***
Passava das 6 horas da manhã
Naquele dia, Eva iria retornar ao trabalho após o recesso junino. Era professora de história em um colégio estadual. Amava o trabalho, apesar das dificuldades e desvalorização.
— Está preparada para rever os seus alunos? — O marido se aproximou para lhe dar um beijo de bom-dia.
Deitada na cama, ela não fazia ideia do horário.
— Sim, mas que horas são? Meu celular não despertou, e você nem me acordou. — Irritou-se por vê-lo rindo de sua preocupação.
— Agora, são seis e vinte. Acho que tem alguém atrasada aqui.
— Orlando! – Levantou apressadamente e correu para o banheiro. — Como você não me acordou antes? — gritou de onde estava.
— Você estava muito linda dormindo.
— Você me acha linda atrasada? — Retornou ao quarto enquanto ia em direção ao seu guarda-roupa.
— Te acho linda de todas as formas. — Puxou-a pelo braço e a fez olhar em seus olhos. — Eu te amo. — Essas palavras surgiram tão sinceras que Eva sentiu o coração se partir ao meio.
— Preciso me arrumar!
— Está bem. — Não parecia se incomodar com a falta de demonstração de afeto da esposa.
***
Às sete horas, estacionou o carro em frente ao colégio. Agradecia mentalmente aos deuses pelo trânsito ter sido calmo naquele dia.
— Bom dia, Eva, está preparada para reencontrar os alunos? — Lúcia, professora de língua portuguesa e amiga de Eva, perguntou ao vê-la passar pela porta da sala dos professores.
Lúcia Santos era uma mulher de 44 anos, negra, baixa, cabelos vermelhos curtos e cacheados. Muito brincalhona, dificilmente conseguia falar sobre assuntos sérios sem deixar escapar alguma piada no meio da conversa.
— Sempre estou preparada, minha amiga — cumprimentou com um abraço demorado. — Estava com saudade de você. Nunca mais deu notícias. Só se lembra que somos amigas quando chego aqui.
— Claro que não. Você sabe, Hugo e eu viajamos no recesso. Resolvemos dar um tempo de tudo para ver se conseguíamos salvar nosso casamento.
— E conseguiram? — perguntou esperançosa, pois pensou na possibilidade de ser uma alternativa para ela.
— Não. Quando um vaso se quebra dificilmente conseguimos recuperá-lo. E foi o que aconteceu com meu casamento. Acabou tudo, Eva.
— Sinto muito. — Sabia o quanto a amiga havia tentado.
— Não sinta. Eu estou bem. Agora, só quero recomeçar. Ir a festas... paquerar uns garotões — disse toda empolgada, e Eva riu. — O que é? Acha que se eu fizer isso vou agir errado?
— Claro que não, sua boba. Nunca é tarde para recomeçar — falou para sua amiga, mas atingiu a si mesma. Será que estava perdendo a oportunidade de ser feliz continuando naquele casamento?
— Eu quero te levar a um lugar hoje — anunciou enquanto sentavam em um sofá marrom e velho que havia naquela sala.
— Onde? — perguntou um pouco distraída, pois estava vendo um panfleto que encontrou sobre a mesa da sala. Era sobre a abertura de um restaurante no centro da cidade.
Os professores daquele colégio amavam restaurantes, já que nem sempre tinham tempo de comer em casa por conta dos dois turnos de trabalho.
— Neste lugar aí — disse, animada. — Lá servem uma comida caseira maravilhosa.
— E quando pretende me levar? — Observava a foto do local no panfleto. Parecia um lugar muito aconchegante.
— Podemos ir hoje, no nosso horário vago.
Lúcia começou a falar sobre os detalhes do local, e Eva continuou a reparar no panfleto, pois algo chamou a sua atenção.
— Quem é essa? — Apontou para uma mulher bem no cantinho da foto. Quase não dava para vê-la direito.
— Nossa, você está com uma visão boa. Nem havia reparado que Herbênia estava aí.
— Herbênia? — perguntou confusa, pois conhecia os amigos de Lúcia e nunca tinha a escutado falar de nenhuma Herbênia. — Nome diferente — pensou.
— A dona, meu amor. Uma mulher muito linda e elegante. Você vai amar conhecê-la. É muito simpática.
— Vejo que você já a conhece muito bem.
— Claro, sempre quando tenho um tempo livre, vou lá. Lá você recebe um atendimento tão bom que sente vontade de voltar sempre. Você vai concordar comigo hoje quando formos.
Eva permaneceu olhando para a imagem da mulher. Algo na desconhecida havia despertado a sua curiosidade, mas não fazia ideia do que pudesse ser.
— Herbênia — repetiu aquele nome várias vezes em sua mente.
Fim do capítulo
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Kamallabsts
Em: 30/07/2024
Engraçado
Qual e a graca da pessoa escrever uma pagina aqui e nao escrever mais nada e so para as pessoas compra o livro se aqui so escreve uma pagina no livro entao .Desculpa mais autor que e autor escreve tanto aqui como em livros
É ridículo isso!
Afff
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