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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

Ver comentários: 3

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Palavras: 4635
Acessos: 724   |  Postado em: 30/06/2024

Capitulo 53

Cap 52 - Acontecimentos premeditados


Por volta das 22h, eu já estava no alojamento repousando, mas ainda não tinha conseguido pegar no sono, quando meu celular tocou. Eu havia trocado telefone com a Fernanda, para se ela recebesse alguma atualização, qualquer coisa sobre o caso, me ligasse. Atendi meu celular com formalidade:

- Pronto. Flávia Albuquerque Silva - até parece que tenho essa formalidade bizonha

- Flávia, aqui é a Fernanda.  Falo em nome do Lucas, irmão da Caroline.

-  Fernanda, só pelo seu sotaque eu já sei te identificar - não era mentira, o forte sotaque dela era fácil de identificar -  Alguma notícia?

- O sequestrador entrou em contato com o Lucas, pelo celular dele. Pediu 300 mil de resgate - senhor amado. Que valor é esse? Uma casa! Imagina o nível de desespero dessa família. 

- Quando foi o contato? - perguntei diretamente

- Agora, não deve ter passado nem uns 5 minutos - Bom, foi recente, então podemos considerar que o parto deve ter terminado. Não estaria negociando ela durante o parto. 

- Ótimo Fernanda. Onde vocês estão? Qual o endereço de vocês? Vou pedir para um agente ir ai pessoalmente acompanhar as negociações e orientar vocês - Respirei fundo, deu tempo de ouvir o choro dela próximo ao telefone e um outro choro mais ao fundo -  Lembra que eu falei que vocês precisam ser fortes? Essa é a hora, os sequestradores vão mandar vídeos da Caroline machucada, colocar vocês para falar com ela, essas coisas, você e o Lucas não podem se perder nas emoções. Tem que ficar centrados, firmes. 

A Fernanda me passou o endereço do apartamento do Lucas, na Vila Mariana. Meu primeiro pensamento foi “Jamais seriam da Brasilândia ou de uma comunidade, claro que é de bairro caro”. Mas o crime não escolhe vítima, essa pra mim é a maior verdade. 

Automaticamente peguei meu celular e acionei o Alcino, ele prontamente atendeu. Conversei com o chefe, atualizei ele e perguntei quem eu poderia enviar para a casa do Lucas para acompanhar a negociação? E a resposta, como o esperado foi “Você tem curso de coveira, não tem? Então enterra seu corpo”, um jeito nem um pouco educado, mas em códigos de dizer “ Não tem curso de negociação? Não tem experiência em sequestro? Pau, acompanha você mesmo”. 

Levantei da minha cama nada confortável do alojamento, coloquei o coturno e desci pro subsolo. Pelo menos escovar os dentes e pentear o cabelo, esse é o mínimo de respeito que uma família e a sociedade devem ter. Troquei minha camiseta, de uma preta para outra preta, mas limpa, um desodorante básico, dente escovado e cabelo penteado. Passei na copa, sei que café gelado sempre tem. 

- E aí scania, alguma novidade? - Primeira coisa que a Isabelle delicada me falou. 

- Cara, sua educação me assusta!

- Tá, mas tô mentindo em alguma coisa? - Eu só olhei pra ela e sorri, mandando ela a merd*. Ela estava conversando com o Cantão, ele não saiu da copa, mas nem olhou pra mim. Num climão chato - E aí, novidades? 

- Os sequestradores entraram em contato com a família. 

- Pediram quanto?

- Só 300 mil. 

- Puta que pariu. Como se fosse um troco de bala fácil assim de conseguir. Tá indo lá conversar com eles?

- Sim, vou ir na casa dos familiares, orientar, ficar lá para um segundo contato, dar um apoio - Enchi uma caneca de café frio. 

- Vai atualizando. A equipe para invadir já está de prontidão? 

- Sim, só estão esperando ser acionados. 

- Tá, cuidado lá viu - a Isa completou, o Cantão ficou o tempo todo mexendo no celular, sem olhar pra minha cara. Será que ele está assim comigo por causa da Bia? Cara, que bobagem. Eu sempre dei apoio a eles, ajudei muito, sem contar que ela terminou com ele antes de vir falar comigo. Não é hora de eu me preocupar com isso. Me despedi dos dois e segui para pegar a viatura. Assim que entrei, mandei uma mensagem para Bia dando um toque de onde eu estava indo. Sabe uma coisa que me intriga ou pelo menos me deixa atenta, eu não me importo mais de avisar a Bruna, e sinceramente não me importo dela falar ou não onde está. Na verdade eu nem imagino ela se importando em me procurar se eu não aparecer, contrário da Bia, que se preocupa. 

 

Já passava das 23h quando estacionei em frente a um prédio de classe média alta na Vila Mariana, zona Sul da Capital paulista. A viatura mal embicou e os transeuntes que estavam nos bares próximos já abriram o olho, procurando onde eu iria estacionar.  Viatura sempre chama atenção, ainda mais nesta região. Me identifiquei ao porteiro, gentil e educado. Não pude deixar de comparar com o porteiro grosseiro e gritalhão lá do CDHU da Brasilândia, onde cresci. Segui as instruções até chegar ao apartamento do Lucas, não precisei tocar a campainha, eu já era aguardada.

          O Lucas, um pouco menos formal que mais cedo, mas bem mais cansado e abatido me recebeu abrindo a porta. Pedi licença e entrei no apartamento, que estava com algumas pessoas sentadas no sofá. Primeiro ele me apresentou a Jaqueline, esposa dele, depois a Clara, segundo ele auxiliar da Caroline. De bate pronto lembrei que foi ela quem viu a Caroline ser sequestrada, preciso ficar de olho nela. Não acho que tenha culpa no cartório, mas vale acompanhar, ficar de olho. A terceira pessoa que ele me apresentou foi a Christiane, esposa da Caroline.

           Em pé, um pouco mais afastada estava a Fernanda, com quem eu havia conversado mais cedo e entendi que era namorada da Caroline. Será que a tal Caroline, sequestrada, estava traindo a esposa? Mas a ponto da Fernanda que é de Portugal vir correndo? Enfim, não estou aqui pra entender, nem saber nada especificamente da vida pessoal delas. Cumprimentei a Fernanda, que eu já conhecia, com um cumprimento de rosto, um sutil sacudir de cabeça. 

        - Fique à vontade Flávia - o Lucas falou me oferecendo o sofá. Sentei rapidamente, sem enrolação e já puxei do meu bolso um caderninho de anotações. 

- Lucas, me explica exatamente o que os caras falaram com você pelo telefone.

- Aí Flávia, acho que perdi a noção. Era um homem, falando grosseiro, sem nenhuma concordância, bem rude. Falaram que estavam com a minha irmã e que queriam 300 mil para não espalhar as partes dela pela cidade - os olhos dele começaram a lacrimejar - eles vão matar ela. Não tenho esse dinheiro, não tenho - a esposa dele o abraçou, ajudando a recobrar a noção. 

          - Lucas, a situação é crítica e infelizmente a tendência é ficar pior. Vamos fazer o possível para que você não tenha que pagar, mas há um risco. 

- Eu estou a ter contato com o banco de Lisboa, estou a tentaire esse dinheiro - falou a Fernanda com o sotaque português intenso, forte.

- Fernanda, continua esse processo de você obter o dinheiro, vamos precisar ter na manga se as negociações não derem certo - olhei de volta para o Lucas - Quero mexer no seu celular. 

- Claro, deixei carregando ali na mesa - o trajeto claro que foi curto, em segundos, mas deu tempo de eu dar uma olhada rápida na sala do apartamento. Um ambiente muito delicado e arrumado. No balcão da sala, no painel, várias fotos do Lucas com a esposa com um menininho, algumas fotos da criança e uma da criança com a Caroline e a esposa que fui apresentada agora. Nenhuma foto da Fernanda. 

Apesar de nenhuma foto da portuguesa, ali naquela sala o Lucas era o mais destruído, seguido da Fernanda. A tal da esposa da Caroline, aparentava um olhar fundo, mas sinceramente nem de perto como a Fernanda estava. Claro que mil hipóteses passaram na minha cabeça, Carol e Chris estão se divorciando? As três são um trisal? Carol traiu a Cristiane com a Fernanda? A curiosidade acaba falando alto por mais que eu esteja aqui pelo caso. Mas posso dizer que a maneira como a esposa da Caroline está me olhando, na verdade secando, está me deixando bem desconfortável. Eu raramente sinto isso, até porque me comunico bem com olhares e tudo mais, mas a esposa dela está sequestrada e eu sendo “secada” dessa forma? No mínimo incômodo. 

O Lucas me entregou o celular dele, me distraindo desse devaneio e me dando material de trabalho. Pedi licença para poder mexer no celular e desbloquear, ali comecei minha arte de rastreio. Claro que eu não entendo muito de celular e computador, não tenho essa habilidade, mas com uma equipe a retaguarda e o celular onde o sequestrador fez contato, é possível ir batendo alguns pontos, triangular alguma informação. Com o celular do Lucas conseguimos confirmar que a ligação recebida foi originada na favela de Heliópolis. E a triangulação inicial, mostrou que foi na região que acreditamos ser o QG ou casa do Grilo. 

- Vou fazer uma ligação aqui pelo seu celular, se atenderem, você vai pedir um video da Caroline, com um jornal provando que é de hoje e que ela está bem - soltei praticamente assustando o Lucas. 

- Você acha que eles vão atender? Como você conseguiu rastrear o número aqui?

- Provável que eles atendam. Seja firme, forte. Fala que se não souber que ela está bem não tem dinheiro, não vai pagar o resgate. Lucas, tem que ser firme, mostrar que você não está aqui para negociações - ele estava em Pânico, era palpável a dor dele. Olhei firme, passando energia positiva, confiança -  Pronto? -  ele procurou primeiro o olhar da esposa, depois ele procurou o olhar da Clara, que concordou com um sutil sacudir  de cabeça - Deixa no viva voz, vou auxiliando você. Tenta enrolar ao máximo na ligação, preciso disso para tentar rastrear a localização.

Depois de uns 4 toques no número que retornamos, um homem atendeu a ligação: 

           - Qual é?

           - Quem tá falando? - o Lucas começou. 

           - “Qué fala” com quem?

         - Vocês pegaram a minha irmã, quero um vídeo mostrando que ela está viva. Um vídeo com o jornal de hoje, mostrando que ela está bem? - fiquei acompanhando a ligação e dando apoio pra ele, pedindo calma e para prolongar o quanto pudesse. No DP, um colega estava recebendo a ligação e tentando rastrear. 

- Ah, é o cuzão que não tinha grana pra irmã. Matei ela “vei”, “ce” falou que não tinha grana -  me mantive olhando para o Lucas pedindo calma e falando para continuar a conversa

- Cara, to com a grana na mão agora. Mas só entrego se eu souber que ela tá bem. 

- Cuzão, “ce” acha que manda alguma coisa aqui?  Dá a grana que eu entrego ela, simples assim 

- Se ela não estiver bem, não tem grana camarada. Isso você não tá entendendo. - Isso cara, mantém.

- Como tu “descolo” meu número? - os sequestradores perguntaram. 

- Dei meus pulos - o Lucas está indo bem, estou tentando passar calma e paz para esse momento

           -  Se eu “descobri” que tem coxinha na jogada, “queimo” ela pra tu. Já falei.

- Eu entendi que não tem que ter polícia, não vou colocar ninguém na jogada. Você quer a grana, e eu a minha irmã. Simples assim. Só me mandar um vídeo que ela tá bem e nós podemos marcar a entrega, de boa. Fica tranquilo.

          - “Cê que só o vídeo ou uns pedacinho dela junto”? - e desligou a ligação depois de uma gargalhada no mínimo assustadora - o Lucas entrou em desespero, desabou apoiando a cabeça entre as pernas. Meu celular apitou com a equipe de inteligência do DP me avisando que conseguiu isolar mais a área. 

- Você foi muito bem Lucas, conseguimos localizar a região, isso já vai nos ajudar muito.

- Consegue “resgataire” a Caroline? - foi o que a Fernanda me perguntou, enquanto a “esposa” estava apática, sem eixo. 

- Ainda não, Fernanda, tem um fluxo ainda. Estamos, eu e a equipe aguardando o momento exato - Vocês me deem licença um momento, preciso conversar com o delegado - liguei para o Alcino, que no segundo toque atendeu. 

- Pronto Flávia. Novidades. 

           - Chefe, se já estão pedindo resgate é porque o parto já ocorreu. Aciona a equipe de invasão para traçarmos uma estratégia. Tem que ser hoje. 

- Certeza? 

- Tem que ser chefe. As equipes ainda estão divididas, a atenção do chefe está na criança que nasceu. Eu vou retrair pro DP pra traçarmos uma abordagem. Já aciona os boca quente. 

- Positivo - finalizou desligando o telefone. Eu retornei para a sala, na intenção de já me despedir daquelas pessoas, mas o celular do Lucas tocou. Todos travaram as emoções, o Lucas apertou os dentes que achei que iria quebrá-los e a Fernanda, que mal conseguia se acalmar já fez cara de choro. 

- Mandaram alguma coisa? - perguntei diretamente para o Lucas.

- Sim, é um vídeo, mas eu não quero ver. Abre você Flávia, nem me mostra. - me aproximei dele, pegando o celular na mão. A Fernanda nem deu tempo e colocou perto de mim, para ver o vídeo.

- Fernanda, tem certeza que quer ver? Em geral, esses vídeos são bem chocantes.

- Quero sim, quero ver como ela está. -  Não vou proibir ninguém de nada, só não acho necessário. Olhei pra ela com uma expressão de  “você quem sabe, por sua conta e risco”. Dei o play, e como esperado, assustador, triste e desesperador. A Caroline estava em um lugar escuro, aparentemente bem sujo, com paredes de bloco atrás, sem nenhum tipo de acabamento. Ela estava com o rosto inchado, quase deformado. Não dava para ver se estava roxo, mas devia estar. Estava chorando no vídeo, parecia que repetia as coisas mecanicamente, sem nem entender o que mandaram ela falar. Tinha uma faca no pescoço dela, forçando ela a falar, na verdade repetir o que o Grilo gritava no ouvido dela. A Fernanda não assistiu tudo, nem acho que era necessário. 

Assim que terminou o vídeo entendi que ela estava em um lugar sem iluminação, provavelmente no fundo só corredor que fica a casa do Grilo, uma área sem ventilação, o que nos traz que pode ser bom gás lacrimogêneo. Na imagem dava para ver três sequestradores, mas pode ter mais. Já temos bastante informação, temos que entrar. Liguei pro Alcino e atualizei ele de bate pronto, vou retrair pro DP.

- Lucas, preciso conversar com você. Agora é a hora que estávamos esperando. Com o vídeo que mandaram, deu para localizar o cativeiro da Caroline. Você será a todo momento o meu contato. Primeira coisa, não me liguem, nem telefone eu vou ter. Dois, pode demorar uma hora, duas, uma noite toda, não sei quanto tempo. Assim que a ação acabar entrarei em contato com você diretamente. Agora é a hora de uma decisão, preciso de todos vocês calmos, concentrados e principalmente, prontos para proteger e cuidar da Carol quando ela voltar. Em geral, quando as pessoas saem do cativeiro querem principalmente um banho, comida e descanso, deixem isso pronto pra ela.

Me despedi deles e segui em direção ao DP. Avisei o Alcino e a Isa, soube que a equipe do anti sequestro e de abordagem ao crime organizado já estavam a caminho do DP para o planejamento da infiltração. Eu preciso de um café, já está tarde estou exausta. Será que dá tempo de passar em casa? Será que a Bia está acordada? Mandei uma mensagem pra ela: 

- Biaaaaa linda, está acordada? Estou saindo aqui da casa dos familiares, precisava tomar um café. Vamos invadir hoje. 

- Vem aqui em casa, eu vou passar um pra você. Não consegui dormir, estou preocupada com você e com essa abordagem. 

- Em 15 minutos chego aí e conversamos. Estou bem! - por pouco eu não respondi “ volto pra você”, mas não posso brincar com a Bia, nem prometer nada, preciso alinhar tudo com a Bruna primeiro, afinal “ame muitas, mas uma de cada vez”, é o mais honesto.

           

Entrei no meu apartamento, que divido com a Bia, mas sinceramente as vezes acho que o apartamento é dela e eu que divido. O cheiro de café já preenchia o espaço, apesar de ser um pouco mais de meia noite. A Bia, depois da nossa missão em Votuporanga, não poupa nos pijamas dela. Eu estou de luto ainda, mas não tem como deixar de olhar o micro shortinho que ela anda usando. 

- Humm, cheirinho bom! - falei entrando na nano cozinha. 

- Só um café Flávia, coisa simples. Você jantou? 

- Comi sim. Só vim por um café, já preciso voltar - falei sentando na cadeira da mesinha, realmente tem que ser rápido. Olhei ela de costas, colocando o café em uma caneca. 

- Cuidado que tá quente. Acabei de passar - colocou na mesa a caneca. 

- Hummm. Olha o cheirinho. Adoro seu café - que conversa sem pé. 

- Flávia, como você está? 

- Humm, em que sentindo BI? - dava para ver a preocupação no olhar dela. 

- Da ressaca, da morte da Fabi - não citou o tema Bruna - está em condições de ir nessa operação? 

- Oh meu amor! Tá preocupada comigo? - estiquei minha mão, encostando na dela, mostrando que estou ali. 

- Flavinha, eu sei o quanto você é competente, mas sei o quanto está machucada, cansada, sem dormir. É seguro você ir nessa operação? - por mais que o ambiente seja diferente, me lembrei da Fabi antes da abordagem que ela se feriu. Ela me perguntou exatamente isso, se eu estava bem para ir e eu menti pra ela. Eu não estava bem e fui, me forcei a estar bem. 

- Bia, não vou mentir pra você, eu estou exausta. Mas eu quero ir. Eu trabalhei tanto nesses casos, nós trabalhamos tanto. Não vou deixar esses putos saírem livres. Eu vou na abordagem - ela respirou fundo, tensão - mas eu vou na retaguarda. Meu foco é a vítima, tirando a médica de lá eu quero é que o resto se exploda. Fica tranquila linda, eu vou ficar bem. 

- Tem certeza? - ela me perguntou isso, tensa, apertando minha mão, quase chorando. Levantei da mesa e me aproximei dela. Abracei a Bia delicadamente, sem forçar nada, respeitando o espaço que ela estava dando. 

- Tenho certeza sim. Eu volto, Bia, eu prometo. Volto pra você linda - falei olhando nos seus olhos. O mais fundo, intenso que consegui. Olhei firme e verdadeiro. Volto pra ela, essa é minha vontade, por mais que o meu racional fale outra coisa. 

Ela ficou desconcertada, mas disfarçou bem e se soltou do meu abraço, sem desespero nem nada. Mas eu sei que ela ouviu e entendeu. Eu ainda preciso parar, ter um tempo meu sozinha para entender tudo que aconteceu nos últimos dias, foi um turbilhão que não consegui processar, ainda nem voltei na terapia. Tá foda. Mas a prioridade do momento é dar conta desse caso. 

- Você comeu alguma coisa? Não vai pra operação de estômago vazio, hein Dona Flávia. 

- Eu comi linda. Comi lá no DP antes de ir na casa dos familiares. 

- Como eles estão? 

- Ai cara, desesperados. O Grilo pediu 300 mil pela médica, a Caroline. 

- Que desespero. Sem contar o medo de perder ela, fazerem algo ruim. 

- Exatamente, a namorada dela aparenta ter uma grana boa, mas não sei se chega a essa quantia. E olha a história, conheci a namorada no DP, junto com o irmão, até aí beleza. Do nada cheguei lá no apartamento do irmão, que é o Lucas, e ele me apresenta outra mulher, como a esposa dela.  

- Mas…não entendi. 

- A Caroline, que está sequestrada, tem uma namorada que é a Fernanda, portuguesa,  e uma esposa, que eu não sei o nome. 

- Vish. As duas estavam lá no irmão dela? 

- Sim, sem conversar, sem trocar nem olhares. Apesar que a esposa me olhou tanto que eu cheguei a ficar desconfortável. 

- Difícil isso com você né Flávia? Puxa um olhar onde passa - eu não aguentei e ri. A Bia fez uma expressão engraçada de ciúmes.

- Nada disso bonitona, nada disso. Bi - levantei da cadeira - papo tá bom, mas tenho um cativeiro pra quebrar, uma médica pra resgatar e uns marmanjos pra meter no xadrez. 

- Promete que vai tomar cuidado? Que vai ser cautelosa? 

- Oh meu amor, claro que prometo - mais um abraço e dei um beijinho prolongado na cabeça dela, no cabelo. A Bia se aninhou tão gostoso no meu peito que minha vontade era  abandonar tudo e ficar com ela no colo, enchendo ela de carinho. 

- Vai Flávia, só vai. Se eu te abraçar de novo não vou te soltar - falou soltando o abraço. 

- Humm, se me prender eu fico. 

- Vai logo! - comecei a dar risada - cuidado lá, por favor. Me avisa quando acabar. - abriu a porta. 

- Claro que aviso - por pouco não puxei ela para um beijinho ou um selinho de despedida. Gosto das coisas muito certas, quero primeiro sentar e pensar, depois me acertar com a Bruna, para depois acertar com a Bia. Não gosto de passar os cavalos antes dos bodes. 

 

Quando cheguei ao DP, já estava o caos. Uns 15 agentes da polícia civil me esperando, mais os delegados, mais a perícia. Só faltou os familiares para completar a farofa. Entrei na sala de reunião e não consegui deixar de pensar na operação que a Fabi se machucou, parecia a mesma cena. Eu conseguia ver ela sentada no fundo da sala me olhando com reprovação. 

- Flávia, por onde acha que devemos entrar? - o Alcino me chamou. 

- Vamos dividir em duas equipes. Vamos quebrar o hospital, onde provavelmente vai estar alguns da segurança, talvez o Puca e provavelmente o Grilo, chefe.  A outra equipe vai quebrar o cativeiro, onde esta a vítima e provavelmente uma equipe de segurança. O cativeiro é um beco, sem acesso direto a rua, não dá pra entrar com a viatura.  Mas tem duas entradas - puxei o quadro branco e comecei a desenhar - nesse ponto tem uma boca e nesse também, vamos ter que abordar em silêncio e neutralizar os olheiros dos dois lados. Então todos devem ir encapuzados, de preto, em silêncio absoluto. Quando as duas equipes chegarem na entrada, aí explode e tiro pra todo lado. 

- Vai ter que entrar com barca descaracterizada - um dos agentes comentou, se referindo às viaturas, as barcas. 

- Flávia, tem alguma noção de qual armamento eles têm? 

- O agente de tocaia me passou que de um modo geral estão com 762 e pistola. Mas dá pra esperar mais coisa. 

- No hospital tem algum parâmetro diferente? 

- Provável presença do recém nascido e da mãe, que é a companheira do Grilo. Tem o risco de explosão, por conta dos materiais hospitalares.

- Tá, então lá não vamos poder entrar com o fuzil, vai ter que ser na maciota - falou um dos agentes. 

- Negativo, fuzil na empunhadura. Não dá pra achar que vagabundo vai preservar a criança não - um outro agente retrucou 

- Tá mais, com um recém nascido lá, vai ter que ser sem letalidade, munição de borracha. Tem a porr* de uma criança lá - o agente um voltou a retrucar.

- Até pode ser de menor letalidade, mas não dá pra ser todos. Um da dupla vai com baixa letalidade e o outro municiado normal, não dá pra confiar em vagabundo. 

- Quantos reféns têm Flávia? 

- A princípio um, só a médica, a Caroline, mas não dá pra descartar outros reféns ou até outros pacientes - falei o paciente fazendo entre aspas com a mão, pq quem compra órgão não é vítima é tão criminoso como a quadrilha. 

- Beleza, vinte minutos para todos se prepararem, pegar armamento - o Alcino falou - Isabelle e Cantão, todos os mandados na agulha. Na rota! - esse é um código de “vão”, saiam daqui - Flávia, quero falar com você. 

- Pronto chefe - esperei todos saírem da sala para até mesmo conseguir chegar nele. 

- Tua namorada é de jornal, não é? Repórter? 

- Chefe, ela trabalha em jornal sim. 

- Avisa ela da operação, em off. Precisamos que essa operação tenha repercussão na mídia.

- Chefe, algum motivo específico pra isso? 

- Só preciso que você fale da operação. Quero que saia na mídia que quebramos o cativeiro, que salvamos a médica. Essa é sua missão off. 

- Sim Sr, vou providenciar. Posso ir pegar o armamento? 

- Pode, pode. 

Quando ele me liberou, eu fui à Nárnia e voltei, nas polícias e forças militares tem tanta política envolvida. Os agentes em si, detestam reportagem em cima da gente, é um saco isso nas operações. Um tiro errado, uma abordagem a mais somos condenados por uma vida, mas tem momentos que não dá pra esperar que o fuzil seja guarda chuva. Mas sei que para os altos postos, altos cargos, uma operação bem divulgada galga a carreira. E nesse caso, eu estou seguindo ordens.

Desci para o vestiário, bexiga vazia, rosto lavado. Abri meu armário, peguei um chocolate com amendoim, guardo esse tipo de alimento mais calórico para momentos tensos, em que a próxima  alimentação pode ser daqui a muito tempo. Fui à reserva de armamento, peguei um colete balístico (a prova de balas) e meus armamentos e munições, um fuzil e duas pistolas. Voltei para o vestiário para me vestir e me arrumar. Antes disso, sentei rapidinho no banco e peguei meu celular. Eu não estava nem um pouco feliz em ligar para a Bruna hoje, muito menos de madrugada. No terceiro toque ela me atendeu, uma voz sonolenta. 

          - Flávia? Tudo bem amor? - consigo imaginar ela sentando na cama, para ficar mais atenta. 

           - Preciso falar com você rapidinho! 

           - Tá! É…. Pessoalmente? 

- Não, não, por ligação mesmo. Bruna, estou indo em uma infiltração, na favela do Heliópolis. É a quebra de um cativeiro de uma médica relativamente conhecida. Ela foi sequestrada por uma quadrilha de tráfico de órgãos. 

           - Porque está me contando isso, Fla?

- Estou te dando uma matéria se você quiser. 

           - Estão saindo do DP agora? 

           - Acho que daqui uns 10 ou 15 minutos. 

           - Tá, eu vou desenrolar um repórter para acompanhar vocês. 

           - Bru…. - silêncio - é no sigilo. Sabe que não tenho autorização de te passar nada né?!! Sobre nenhuma operação. 

           - Claro amor! Você vai junto? 

- Sim, é minha operação - silêncio - Tchau Bruna. 

- Fla, quando vamos conversar?

- Agora não posso. Tenho que me ajeitar. Tchau. 

- Tchau, gosto muito de você. 

- Aham, Tchau - desliguei o celular, sem pensar muito.

Mal desliguei a ligação e começou a gritaria pré operação “Embarcar, embarcar!” - gritou o Alcino, reconheço a voz dele - “Partiu! - outro gritou. “Barca cinza descendo na favela” - um outro começou a cantar uma música da polícia militar. Imagina quando você está jogando futebol em um campeonato da escola, e antes do jogo tem uma preleção ou um grito de guerra, é isso que acontece aqui. É uma gritaria para um saber que o outro está aqui, pra saber que estamos indo para a guerra. 

Entrei na viatura, desta vez no banco de trás, abaixei o vidro, quando o camarada acelerou e o vento começou a bater no meu rosto, que sensação maravilhosa, que sensação boa. Estou viva, viva!!

 

Fim do capítulo


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Comentários para 53 - Capitulo 53:
tainateixeira
tainateixeira

Em: 01/07/2024

Aguardando ansiosamente pelo desfechos da duas, sou #TeamBia

Responder

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jake
jake

Em: 30/06/2024

Sorte Flávia..

Bruna vc teve o privilégio de receber o último furo de reportagem da sua Ex namorada...

 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Mmila
Mmila

Em: 30/06/2024

Nossa!

Cuidado Flávia, mais uma prova de fogo (literalmente) pra você.

A Bruna já vai rodar.

Aguardando anciosa o próximo capítulo.

Responder

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