Capitulo 23

 

 

Segunda-Feira agitada

 

Lisa

 

Olhei para o relógio e marcava 08h30min da manhã eu teria 4 horas para responder 250 questões e ir para a segunda fase do teste, as duas semanas haviam se passado eu não tinha conseguido ver Luna de novo apenas nos falávamos por mensagens algumas vezes e confesso que eu senti saudades de estar com ela, tentei focar meus pensamentos na prova que iria fazer daqui a alguns minutos depois de tanto estudar e me preparar eu me sentia muito mais que preparada eu só precisava me manter focada. Terminei a prova na metade do tempo deixando o aplicador responsável pela minha turma cético se eu havia terminado tudo ou estava desistindo, peguei meus pertences e me direcionei para o orientador para informá-lo e pegar as referências da próxima etapa, logo o mesmo me deu um endereço de onde seria o próximo teste que seria de tiro e resistência, uma coisa que eu não poderia dizer dos detetives de Mewtown City é que eles não eram preparados, na verdade eu acredito que estava pronta para entrar no Sistema de Investigação Federal a famosa SIFE de tanto que exigiam de todos nós naquele lugar.

Como oficialmente eu não tinha um cargo eu não poderia pegar o carro destinado aos detetives do DP, então precisei usar minha Harley Davidson VSCR verde para trabalhar nos últimos meses, não que eu estivesse reclamando eu amava aquela moto,  agora me dirigia ao clube de tiro destinado ao segundo teste, nunca vou me acostumar com a  sensação de liberdade que essa moto me dá e como o som do motor me enchi de adrenalina ao acelerar, eu sempre me sinto forte e livre em cima dela, o clube era distante do centro em um distrito ao leste da cidade perto de um dos lagos mais famosos do lugar e então pude acelerar entrando na rodovia, a paisagem passava rápido por mim sem me deixar pensar em muita coisa, minha atenção era totalmente voltada para o meu destino e no trânsito. Parei no portão mostrando minha credencial para o dia de teste e me deixaram entrar, estacionei e me prontifiquei a ir ao setor reservado aos testes do DP que se localizava em uma área plana com obstáculos e alvos que provavelmente seriam para a parte de tiro ao alvo, demorou bons 20 minutos para que fosse chamada e tentei respirar fundo para não ficar extremamente nervosa.

O instrutor destruiu toda a minha segurança ao me informar os pontos que eu teria que atingir para passar, olhei a folha tentando não me apavorar diante dos desafios, quando me disseram que era difícil entrar para o DPMC na área de homicídios eu não sabia o quanto, na folha havia as seguintes informações:

Teste 2

Fase 1

Corrida com obstáculos – tempo 30 minutos / pontuação máxima 50 pontos (perde 2 pontos por minutos estourados.

Domínio de auto defesa – 10 pontos  – tempo de demonstração 20 minutos

Fase 2

Domínio de armas de fogo com alvo parado- 1 ponto por área não vital atingido/ máximo de alvos 15 - sem tempo para realização.

Domínio de armas de fogo com alvo em movimento- 2 pontos por acerto/ total de alvos 15 – sem tempo para realização.

Fase 3

Demonstração de destreza com armas de fogo variadas com diversos alvos- tempo para realização 10 minutos/ 10 pontos por alvos acertados- total de alvos 50

Domínio de montagem de armamento-(Pré-selecionado pelo candidato) - tempo para realização 2 minutos – total de pontos 10

Total de pontos máximo para aprovação: 150

Total de pontos mínimos para aprovação: 75

Em boa parte do teste eu sabia que iria ir bem, porém em defesa pessoal eu simplesmente não sabia dar um soco, em tiro em alvo parado eu era boa já em movimento eu não tinha tanta certeza. Tudo aquilo só me deixou mais em pânico, respirei fundo para me acalmar e só então comecei a primeira parte do teste e rezava para todos os santos que me saísse bem, depois de tudo que fiz para chegar aqui eu não poderia cogitar a possibilidade de falhar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carolina

 

Olhei no relógio e marcava 08h30min da manhã e eu já estava entrando no grande prédio da agência de publicidade, mais conceituada de Mewtown City a MAC'O Publicity, nervosa não fazia jus ao que eu sentia no momento eu estava em pânico simples e puro, nem em um milhão de anos eu me imaginei estar no elevador que me levaria à sala presidencial daquela empresa, aproveitei a subida para me olhar mais uma vez no espelho do elevador, preferi usar um conjunto social que incluía uma saia de corte reto que deixava meus joelhos a mostra, uma blusa de alças finas de pano leve e um blazer de mesma cor da saia com detalhes em branco, nos pés um sapato alto preto.

Cruzei o corredor do local indo em direção à porta da presidente da empresa, eu seria sua secretária particular como me foi dito na entrevista que fiz com a mãe de Lisa na semana anterior, a mulher tinha me recebido muito bem e pelo que disse havia gostado muito de mim e que tinha certeza que a presidente também iria gostar, já eu não tinha tanta certeza. Bati à porta com receio e entrei após a autorização abafada do outro lado, a mulher estava olhando pelas grandes vidraças de sua sala que lhe davam uma bela vista da cidade, me aproximei com passos mais firmes que consegui e me apresentei, quando a mulher se virou para me olhar eu simplesmente não contive meu queixo ao me deparar com a mesma senhora que fez a entrevista, no dia não vestia algo tão elegante e usava grandes óculos, seus cabelos eram castanhos, mas como pude perceber era peruca, ela também havia se apresentado com outro nome é claro, minha boca se abriu em pura surpresa ao me dar conta que Lisa era filha de umas das mulheres mais ricas e poderosas de Vanceny*.

_Olá querida, seja bem-vinda a MAC'O Publicity, creio que já nos conhecemos, não é? – Disse a mulher rindo.

_Eu... Eu não sei o que dizer. –Eu ainda chocada.

_Ah, por favor, sente-se, na entrevista estava mais solta, sinto não ter me apresentado diretamente, mas queria evitar essa reação. – Disse ela se sentando em sua cadeira de couro preto.

_Desculpe, eu só estou surpresa por saber que a senhora é mãe de uma amiga minha, não me leve a mal, mas é surpreendente. –Sorri sinceramente e ainda meio chocada.

_Ah sim, minha Lisa não quis seguir nada que tenha referência aos negócios da família, mas temos orgulho dela sempre e a apoiamos muito, mas não ache que lhe aprovei por ser amiga dela, você tem presença e me pareceu bem focada e interessada na entrevista então não tenho motivos para não lhe dar a chance.

Sorri ao ouvir aquilo e me senti realmente importante por algo que conquistei. Emma e eu conversamos mais um pouco sobre meus planos para o futuro e lhe informei que me matriculei na universidade local para concluir meu curso de publicidade e ela achou ótimo pois só queria os melhores com ela, Emma ficou o dia todo me passando suas necessidades da semana e eu anotei tudo que precisei, seus horários e entrevistas, reuniões entre outras responsabilidades que a mulher teria e na hora do almoço ela ainda me convidou para acompanhá-la.

Fui liberada por volta das 18h30min e não via a hora de contar tudo para Rubí e foi isso que fiz assim que saí do prédio, ela atendeu no primeiro toque como se estivesse ansiosa para que eu ligasse e assim que informei que já havia sido liberada ela se prontificou em vir me buscar e passei o endereço para que pudéssemos nos encontrar. Fui a banca de jornal para passar o tempo, estava concentrada em um artigo sobre um artista específico quando ouvi aquela voz melodiosa e cheia de intenções me chamar e me virei ainda tentando não acreditar que no meio de uma cidade tão grande Mônica cruzaria meu caminho.

_Ora se não é a minha querida Carolina? O que faz por esses lados? Procurando emprego? - Disse a mulher em uma voz controlada e debochada.

_O que faço não é de sua conta, não mais! – Encarei Mônica em desafio o que pareceu lhe agradar.

_Você fica extremamente sexy quando se aborrece sabia? - Falou se aproximando a ponto de ficar a um palmo de distância.

_O que quer afinal Mônica? Siga seu caminho, não basta ter meu filho? Quer a minha vida também? –Desviei de sua aproximação, mas fui segurada pelo braço o que me fez voltar a encará-la.

_Quero tudo que for meu e você sabe que me pertence, sabe que ninguém irá te satisfazer como eu querida. – Disse próxima de meu rosto segurando meu braço com força a ponto de machucar.

_Me solta, você está me machucando. –Tentei me livrar do aperto em meu braço, mas ela era forte.

_Você é surda? Solta ela! –Ouvi a voz de Rubí ao se aproximar e ver toda a cena pelo tom ameaçador ela não estava feliz com o que via.

Mônica a encarou com desdém, porém me soltou e me juntei a Rubí imediatamente, ela me perguntou se eu estava bem e eu apenas assenti ainda tensa com a situação. Rubí estava com uma postura tensa e raivosa, eu poderia achar extremamente sexy se não soubesse o motivo de sua fúria e para piorar tudo Mônica se aproximou dela com toda sua elegância e arrogância a olhando de cima a baixo como se pudesse destruir ela apenas com o olhar.

_Quem é você? O novo brinquedo dela? – Falou a encarando de queixo erguido.

_Me chamo Rubí e se eu sonhar que você encostou essa mão imunda nela mais uma vez, você vai desejar nunca ter ouvido esse nome na sua vida, você entendeu?

Rubí disse se aproximando dela como se fosse deferir-lhe um soco a qualquer momento, sua voz soou baixo para que apenas Mônica e eu pudéssemos ouvir.

_ Em alto e bom som. - Disse a loira apenas colocando seus óculos e ainda com o sorriso arrogante virou as costas e atravessou a rua para entrar no carro que a esperava do outro lado.

_Você está bem? – Disse Rubí se voltando para mim com o olhar preocupado, depois de ter certeza que Mônica partira.

Apenas a abracei me sentindo segura e afirmei que estava tudo bem, Rubí me abraçou forte e me puxou gentilmente em direção ao seu carro, meus sentimentos por ela iam de admiração até os níveis de excitação mais elevados, ela conseguia me fazer sentir tantos sentimentos diferentes com apenas um gesto que me deixava fora de mim, eu só queria que aquele sentimento continuasse crescendo e que fosse recíproco. Algo no meu encontro com Mônica ainda me inquietava, mas preferi não deixar Rubí ainda mais tensa, cada vez que pensava em meu relacionamento com aquela mulher tenebrosa meu estômago se embrulhava, se arrependimento matasse eu já estaria morta faz tempo.

 

 

Rubí

 

Falar que segunda-feira é um dia turbulento e estressante é ser totalmente redundante, mas essa segunda em especial estava sendo uma das piores. Primeiro acordei com uma cólica tão forte que por um momento pensei que estava parindo um demônio, depois tivemos um chamado no distrito de Central Tower, um dos distritos mais perigosos de Mewtown City, se localiza a norte do centro da cidade e o bairro onde recebemos o chamado era nos confins do distrito, a ocorrência foi de um morador que ligou para a central informando que sentia um mau cheiro vindo da casa vizinha, os policiais que chegaram ao local tiveram que arrombar a casa e se depararam com dois corpos aparentemente esfaqueados na sala, uma delas sendo de uma criança de aproximadamente 4 anos.

Ter uma visão tão brutal as 08:30 da manhã deixa qualquer um de péssimo humor, como Gonzáles e Enzi estavam em outra ocorrência tive que ir sozinha, o cheiro era forte dentro da casa e se eu não tivesse um estômago forte estaria vomitando minha alma, a mulher estava no chão de costas por cima da criança, provavelmente morreu tentando o proteger, Michele chegou pouco depois de mim e já se mobilizou a trabalhar me cumprimentando amigavelmente, eu preferi vasculhar a casa em busca de pistas, depois fui falar com os vizinhos que pareciam não saber de nada e aquela falta de vontade em ajudar me deixou ainda mais aborrecida. Depois de uma manhã cercada de odor pútrido e depoimentos infundados resolvi voltar para a DP e ainda fui repreendida pelo meu chefe por ter atendido a ocorrência sozinha o que foi ridículo eu quase lhe disse o quanto ele estava sendo desnecessário ao me repreender por fazer o meu trabalho, não fazia sentido, o que ele queria? Que eu ignorasse uma ocorrência por estar sozinha no caso? Não satisfeito ele gritou para todo o DP que aquele que descumprisse suas ordens levaria suspensão imediata, o cara estava surtando de uns tempos para cá e é claro que para completar meu dia meu computador queimou no meio de minhas pesquisas sobre o marido da vítima e todo meu trabalho tinha sido em vão, precisei começar tudo de novo no computador de Lisa. No meio do dia decidi ligar para Juan, ele era um dos melhores advogados que conheci e mesmo que nossa história tivesse sido terrível em questão amorosa ele sempre foi um bom amigo e eu torcia para que ele levasse isso em consideração para me ajudar, passado o seu choque com minha ligação Juan concordou em marcar um horário para Carolina para averiguar como poderia ajudar, sua secretária iria retornar a ligação assim que conseguisse um horário e ele prometera que seria ainda na mesma semana, desligamos ainda sem jeito, ele era um bom homem e só agora eu entendi o porquê de não ter dado certo com ele, na verdade com nenhum dos poucos que tive.

A melhor parte do dia foi falar com Carolina, ela estava radiante por seu primeiro dia na empresa de publicidade e logo combinamos de eu ir buscá-la, mas quando reclamamos de um dia ruim ele entende como desafio e piora, tive que lidar com Mônica e só Deus sabe como eu me segurei para não perder a cabeça ao vê-la segurar o braço de Carolina como se ela fosse sua propriedade, a cena me fez ferver por dentro, busquei todo meu autocontrole e muito a contragosto usei o pouco de bom senso que ainda me restava apenas para intimidá-la, para o bem dos dentes dela a mesma recuou, porque eu juro por Deus que se ela dissesse um "ai" torto ela perderia algum, Carolina me respondeu que estava bem pela segunda vez mesmo sua expressão me dizendo outra coisa e achei melhor só a conduzir para o carro e deixá-la longe daquele encosto.

_Está calada mais que o normal o que houve? - Carolina me encarava preocupada.

_Não foi nada, só tive um dia cheio, mas me conta o seu dia, como foi com a toda poderosa? - falei desviando o assunto enquanto prestava atenção na direção e no trânsito obsceno que estávamos.

_Foi incrível, eu nunca estive tão empolgada e você não vai acreditar quem é a minha chefe. - disse ela empolgada.

_Quem? - Falei lhe encarando sorrindo.

_ Sabe que vou trabalhar diretamente para dona certo? A toda poderosa simplesmente é a mãe da Lisa acredita?

_Mentira? Lisa é rica nesse nível? - Falei chocada.

Carolina me atualizou sobre tudo que descobriu e como a mulher era simples apesar do poder aquisitivo que tinha, conversamos sobre suas tarefas e sobre seu retorno para a faculdade no meado de setembro, ainda iria demorar um tempo para começar então daria tempo de ajustar tudo, eu ainda estava surpresa de Lisa ser filha de quem era e querer ser detetive e viver com um salário mediano, contei sobre a conversa com o advogado e ela se mostrou ainda mais feliz, era bom ver aquele sorriso contagiante dela e ser o motivo de fazê-la feliz, paramos em frente ao seu prédio e preferi não subir, combinamos de jantar na quarta-feira para que eu a apresentasse a Dália e nos despedimos com um beijo lento que fazia minha cabeça ficar leve e me relaxar instantaneamente só então segui para meu prédio poucas quadras a frete desejando apenas um banho e deitar em posição fetal e curtir a minha dor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luna

 

São exatamente 8:30 da manhã e é a terceira mensagem que recebo de Eduardo me perguntando o que eu estou fazendo, olhei a indicação de nova mensagem e resolvi bloqueá-lo para tentar continuar minhas análises com calma, peço a um dos meus ajudantes para refazer a análise de fibra que Gonzáles me entregou ontem e vou auxiliar outro em verificar uma amostra de sangue que Michele acabou de enviar parece que ela encontrou um tipo de substância diferente e gostaria de uma análise mais profunda.

Coloquei meus fones de ouvido e dei play em minha playlist favorita, a música suave começou a tocar e eu nunca pensei que poderia ouvir Happy Together do The Turtles pensando em uma mulher como no filme Imagine Eu e Você, porém minha mente sempre voltava em um par de olhos castanhos e postura de mulher maravilha apesar de eu tentar me concentrar com todas as minhas forças, acabei rindo com a comparação de Lisa com Gal Gadot, mas pensando bem elas tinham uma semelhança, lembrei de seu sorriso e sua cara de vergonha ao saber que cuidei dela e dos supostos desejos que me concederia, balancei a cabeça negativamente ao imaginar como seria ficar com outra mulher eu não poderia trair meu noivo por uma curiosidade boba. A música terminou e More Than Words do Extreme começou a tocar, minha mente viajou por um momento na ideia de ser beijada por ela até que meu celular começou a tocar incessantemente me obrigando a interromper a música e atender.

_Oi Edu estou trabalhando o que houve? - Disse desanimada.

_Oi, estou ligando porque vou ter que viajar hoje à noite para Inglaterra e nosso jantar vai ter que esperar eu sinto muito. - Disse meio agitado.

_De novo Edu? Mas você mal voltou de viajem, você tinha prometido que passaríamos mais tempo juntos!

Falei tentando não me exaltar, mas falhando miseravelmente já era a terceira viagem em menos de um mês que ele fazia, a empresa em que era representante tinha contratos em diversos países e eles estavam querendo fechar outros ainda mais importantes e ele apesar de não precisar estar pessoalmente nas primeiras negociações sempre fazia questão de comparecer em todas, dizia que assim alcançaria a vice-presidência mais rápido o que era mais um motivo de estarmos noivos há três anos e sem data prevista para casar o que me deixava frustrada, porém sempre tentava entender o seu lado.

_ Desculpe querida, mas os ingleses não estão convencidos e pediram uma apresentação mais elaborada dos planos de comercialização e marketing e eu não posso deixar tudo nas mãos de qualquer um. - Disse ríspido e sem paciência.

_É claro que não, e quando volta? - Falei com frieza.

_ Espero que em uma ou duas semanas, te falo assim que souber como as coisas ficarão, mas quando eu voltar jantaremos o quanto quiser está bem? _ Falou com ar de deboche e impaciente.

_Eu não tenho escolha a não ser esperar, não é? E quanto à casa que ficamos de ver eu...

_Eu estou entrando no taxi querida nos falamos em breve, por favor o aeroporto. - Disse me ignorando e se concentrando no motorista antes de desligar.

Eu sempre odiava quando ele finalizava as ligações daquela forma como se o que eu dissesse não fosse importante, mas eu não ligaria de novo se ele precisa tanto trabalhar eu também precisava e não iria me abater por aquilo, deixei o celular de lado e passei as próximas horas compenetrada em meu trabalho e não me permiti distrações até sentir meu celular tocar novamente, mas dessa vez eu atendi com apreensão afinal se Lisa me ligava queria dizer que havia terminado de fazer todos os testes.

_Oi, como foi? - Falei segurando o fôlego e um pouco a animação.

_Oi, bom ouvir você... Eu não sei bem, a única coisa que quero é tomar um remédio para dor de cabeça e descansar um pouco será que o almoço pode virar um jantar? - Disse Lisa com uma voz cansada e desanimada.

_Claro que sim, descanse eu estou atolada aqui também, jantar está ótimo aonde quer ir? - Disse um pouco animada demais e me arrependendo na mesma hora apesar dela não ter percebido.

_Legal... Hã... não sei... você gosta de comida francesa ou Italiana? - Perguntou um pouco animada.

_Italiana está ótimo. -Disse claramente feliz pela sugestão, eu amava culinária italiana motivo este de sempre estar na academia, já Eduardo odiava, ultimamente me perguntava o que eu ainda fazia com ele, parecíamos tão diferentes e eu nem poderia atribuir nossa relação a ser pelo sex*, porque ele nunca foi grande coisa.

_Ok, te busco as 20h, há vá de calça e use jaqueta ok? - Disse empolgada.

Concordei antes de desligarmos com um "até mais tarde" e com o humor revigorado voltar a trabalhar foi fácil, Lisa era gentil e meiga, tinha aquele ar de mistério que me intrigava desde o nosso primeiro contato ao mesmo tempo passava uma postura feliz e empolgada com tudo e todos o que era encantador também. Almocei com Michele que finalmente me revelou algo daquela noite no The Rock depois de muito eu insistir.

_Ah qual é, não vem com essa que você e o deus de ébano não fizeram nada depois que saíram do meu apartamento! - Disse em choque com a revelação.

_Viu eu sabia que você não ia acreditar. - Disse Michele dando de ombros e sorrindo.

_É claro que não querida, vocês estavam tão grudados na boate que pensei por um momento que haviam se fundido, mas conta o que aconteceu afinal. - Falei bebendo de meu suco.

_Então, ele me deu uma carona para casa e como um cavaleiro me deixou na minha porta, eu até o convidei para entrar é claro, mas ele disse que já estava tarde e se eu quisesse poderíamos marcar para outra oportunidade, Lu ele foi tão sexy e romântico e sei lá... só de lembrar já fico com calor. - Disse Michele sonhadora.

_Nossa, amém né amiga porque você já encontrou cada peça. -Disse rindo recebendo um olhar debochado.

_Falou a namoradeira, quantos homens você já ficou mesmo Lu... Há é dois! -Disse debochando.

_Ah para eu só transei com dois, mas beijar eu já perdi a conta vai. - Disse tentando me redimir o que só a fez rir.

_Bom vamos sair na sexta à noite, ele quer ver um filme e talvez jantar se eu quiser e é claro que eu super topei, ele beija bem tem pegada e sabe conversar não se encontra um tipo desses solto por aí. - Disse ela resignada.

Conversamos mais um pouco antes de voltarmos, à hora voou e quando percebi já estava em frente ao espelho testando a milésima roupa para sair com Lisa, não que eu estivesse preocupada com o que ela iria achar, mas eu queria me sentir bonita hoje, por fim decidi usar uma calça jeans justa azul escura com uma blusa salmão clara leve e uma jaqueta preta completando com um colar sofisticado, fiz uma maquiagem que reforçasse meus olhos e assim que passei meu perfume às 20h em ponto o telefone vibrou com uma mensagem dela dizendo que me esperava lá em baixo. Me olhei novamente no espelho com uma ansiedade nova tomando meus sentidos, busquei minha bolsa e desci, Lisa estava parada encostada em uma moto linda e provavelmente cara, o capacete repousando no assento e outro em sua mão, vestia calça preta de um tecido fosco, botas e uma blusa de alças finas branca, os cabelos estavam soltos em ondas moldando seu rosto dando aquele ar selvagem as suas feições na verdade eu teria que dizer sexy apesar do leve arroxeado envolta do nariz que ainda não tinha curado totalmente.

_ Oi, demorei? - Disse meio nervosa.

_Só o necessário, então vamos? - Disse ela sorrindo e me entregando um capacete.

_Nunca imaginei que andaria em uma dessas na vida, é linda! – Eu estava encantada olhando a moto.

_Só a moto ou eu estou incluída no "linda". - Disse me tirando a fala por alguns segundo.

_É até que você está bonita hoje se eu ignorar esse arroxeado em volta do seu nariz. – brinquei e ri aceitando o capacete tentando não demonstrar como a pergunta me deixou sem graça.

_Ah obrigada e por falar em bonita... você está incrível. -Disse colocando a jaqueta e o capacete se sentando logo em seguida na moto com facilidade.

Demorei um tempo para acalmar o acelerar do meu coração com o olhar intenso que Lisa me dera ao falar e só então subi na moto, assim que ela deu partida minhas mãos foram automáticas a sua cintura me apertando a ela, seus cabelos estavam cheirando a shampoo e seu perfume amadeirado invadia meus sentidos me deixando um pouco aérea, ganhávamos velocidade pela cidade e não me contive em sorrir ao sentir a adrenalina que aquela viagem me causava, eu só consegui pensar no vento em meu corpo, em perfume amadeirado e a sensação reconfortante que invadia meu corpo.

O restaurante para minha surpresa não era longe do DP, era sofisticado e ao mesmo tempo tinha um clima amigável, fiquei me perguntando como eu não o conheci antes. Lisa tinha reservas então não precisamos esperar para entrar, logo fomos conduzidas para a área aberta aos fundos, tinha uma decoração bonita com áreas verdes e um ar rústico, o clima pareceu ajudar ficando fresco e o céu estava limpo e estrelado.

_O Céu está lindo hoje, não é? - Disse Lisa me fazendo tirar os olhos das estrelas e encará-la.

_Desculpe é que é tanta correria que mal olho para o céu e hoje está com o clima tão bom que não resisti. - Disse sem graça. _Mas como achou esse lugar lindo? Vivo aqui a tanto tempo e me surpreendi em não o conhecer.

_Comi aqui com Rubí um dia e achei muito bom, você vai gostar. - Falou erguendo a mão ao garçom.

Pedimos as refeições e para acompanhar eu pedi uma taça do melhor vinho que eles tinham, Lisa ficou apenas no suco por estar pilotando, após a entrega das bebidas eu não me contive e acabei perguntando o que sempre vinha em minhas dúvidas sobre Lisa.

_Lisa admiti, você tem uma quedinha pela Rubí não tem? - Disse bebericando o vinho, Lisa engasgou um pouco com o suco e respondeu meio sem ar.

_Claro... Que não... De onde você tirou essa ideia? - Falou entre tosses.

_Não sei, você sempre fala de Rubí com tanta admiração que era inevitável não deduzir que poderia haver algo a mais, afinal ela é bem bonita... Claro se você ignorar a cara sempre fechada e seu humor que na maioria do tempo é péssimo.

_Sim eu imagino que muita gente ache isso, mas posso te garantir que é apenas admiração mesmo não vejo rubí com esses olhos. - Disse rindo meio nervosa.

_Tudo bem eu acredito, mas galanteadora do jeito que você é não duvido que a conquistaria sem problemas se quisesse. - Disse em tom de brincadeira ignorando o desconforto que a imagem dela ficando com outra mulher me causava.

_Bom eu nunca pensei dessa forma, mas de qualquer jeito ela não faz meu tipo. - Falou dando de ombros e mostrando indiferença.

_E qual é seu tipo? - Disse quase apressada. Lisa me encarou com uma expressão indecifrável.

_Pelo visto... Gosto das que não posso ter.

A mulher falou com um sorriso sem humor e com seus olhos brilhantes me encarando tão profundamente que me senti trêmula, antes que eu pudesse a questionar o garçom nos interrompeu trazendo nossos pedidos e passamos o resto da noite com assuntos variados entre eles os resultados dos seus testes que só sairia no início de outubro, ela não estava confiante, mas tentei encorajá-la o máximo que pude. Pedimos a sobremesa como forma de prolongar a noite, estávamos conversando sobre como Lisa conseguiu algumas das cicatrizes que eu agora conseguia ver em seu rosto e nas mãos eu nunca a olhava por muito tempo para reparar nesses detalhes, ela dizia que tinha algumas pelo corpo também, mas eu não a olhei por muito tempo durante o período que cuidei dela para conseguir reparar. Meu telefone tocou e vi que era Eduardo achei melhor atender, pedi licença para tomar uma certa distância e ir para onde estava menos barulho.

_Oi Edu, já está no hotel? - Disse meio desanimada, pois já sabia toda a ladainha que estava por vir.

_Sim já faz um tempinho, estou exausto..., mas que barulho é esse? Onde você está Luna? - Disse exaltado.

_Eu vim jantar com uma amiga, porque não posso? - Falei já sabendo a resposta.

_Eu já falei que se quer sair com suas amigas, ótimo! Mas é antes das 22h, isso não são horas para uma mulher praticamente casada estar fora de casa. - Falou aborrecido.

_Eu não estou ouvindo isso, olha eu vou voltar pro meu jantar, boa noite querido. - Disse desligando, mas ele voltou a ligar.

_Luna eu e você teremos uma conversa quando eu voltar, quando você for a minha esposa isso não será tolerado ouviu bem? - Falou aos berros e desligou me deixando estática.

"Com essa atitude vai ser incrível se você ainda tiver uma noiva quando voltar"- Pensei encarando o aparelho.

 

Algum tempo depois

 

_Bom está entregue, precisamos fazer isso mais vezes. -Disse Lisa rindo se apoiando à moto estacionada.

_Com toda certeza iremos repetir... Você não quer entrar? - Falei rápido antes que perdesse a coragem.

_Eu até que gostaria, mas tenho que resolver umas coisas amanhã cedo então fica para outra hora - Era impressionante que mesmo com o rosto inchado ela era bonita.

_Lembre-se que tenho dois pedidos ainda. - Falei brincando.

_E eles serão atendidos é só pedir. – Piscou e colocou o capacete para ir embora.

Lisa acelerou noite a fora e sua postura naquela moto era extremamente sexy, eu estava brincando com fogo eu sabia bem disso, mas era quase inevitável não a provocar quando estávamos tão próximas mesmo que fosse por apenas um minuto. Entre tantos sentimentos conflitantes eu me peguei digitando um "boa noite" e aguardando ansiosa pela resposta, se eu estava sendo egoísta? Muito provável, mas as borboletas em meu estômago quando recebi sua mensagem era a resposta para que eu continuasse e descobrisse até onde poderíamos ir.

 

Fim do capítulo