A título de curiosidade, o nome do capítulo faz referência à família materna de Teodora, no qual foi usado de forma pejorativa pela avó no capítulo da discussão.
Espositos
— Seria bom que você nos avisasse que sua, é... – Minha mãe ponderava antes de continuar, como se pensasse bem que termo usar para ela – Catarina viesse pra cá. Eu teria feito compras.
— Mas, eu...
Não sabia bem como reagir. Aquilo tinha sido a melhor surpresa que já tinha recebido em toda minha vida. Meu coração batia acelerado e não conseguia disfarçar o quão estava feliz em vê-la.
— Eu quis fazer uma surpresa – disse ela de forma tão despretensiosa que até eu acreditaria. Minha tia olhou de relance e sorriu.
— Não vai dar um abraço nela, Téo?
Ela se levantou e minhas mãos seguiram até suas costas, a tomando em um abraço apertado e pouco discreto, afinal, estava bem óbvio de que estava derretendo ali mesmo. Quando senti seu rosto próximo do meu e o calor do seu corpo, fechei os olhos, como se meu corpo precisasse daquilo.
— Se sente pra tomar café – dizia minha mãe, pegando a cadeira e arrastando para o lado da visita, onde logo me acomodei.
— Então, Catarina – minha tia voltava a falar – Tadeu te mandou pra cá e... – Escutava o bufar indignado da minha mãe de fundo ao falar dele.
— A Teodora já tinha comentado mais ou menos onde ela morava, então ele só fez mexer um pouco nas coisas e acabou encontrando o endereço.
— Incrível como ele podia fazer isso esse tempo todo e não fez, não é? – dizia Elisa entre os dentes.
— Mãe, por favor... – resmungava baixinho – Eu acabei de acordar pra já...
— Dona Elisa – seu braço envolvia por detrás do meu, com sua mão tocando no meu ombro. Foi involuntário que eu me aconchegasse ao seu lado – minha família convive a vida inteira com a família Monteiro e nós nunca ouvimos falar de Teodora. A senhora já ouviu falar dos meus pais, não foi?
— É claro – ela parecia ceder mais, animada enquanto tirava a travessa de dentro do fogão – eles eram muito amigos daquele traste que já chamei de namorado... Lembro bem.
— E nunca ouvi falar de filha de Elisa ou até mesmo da senhora, e...
— Senhora, não – ela apontou séria para Catarina – dona eu até aceito, mas, senhora não, por favor. Pode me chamar de Elisa mesmo.
— Certo, me desculpe, Elisa – disse Catarina dando um riso envergonhado, no qual me contive em dar também – minha mãe pode até saber da existência de uma namorada que ele teve há um tempo atrás, mas, tenho certeza absoluta que, se soubessem de um filho, ele tinha ao menos comentado com minha mãe. Eles são muito amigos – e levou os dedos para a mesa – por isso que ele deixou com que Teodora ficasse com a gente.
— Ele te deu uma passagem só pra tentar me convencer? – minha mãe dizia levantando as sobrancelhas, como se a analisasse.
— Não – ela negou com um aceno – mas, é que vocês não conseguem entender o que é realmente a família do pai da Teodora, principalmente a mãe dele.
— E nem quero saber – disse ela séria, e, quando notei, já estava arranhando devagar os dedos de Catarina, com a cabeça apoiada em seu ombro, entrelaçando seu indicador ao melhor – já não basta saber que ele mentiu pra todas nós – e apontou para minha tia – de quem ele era...
— Dona Elisa – ela voltou a ponderar – eu garanto a você que estamos do mesmo lado, ou Teodora já comentou o que ela fez pra gente?
Ela parou o que fazia, parecendo realmente interessada no que Catarina tinha a dizer.
— Meu tio tirou a própria vida e ela teve a coragem de falar que ele fez um favor pra gente.
— Que coisa horrível – minha tia logo ponderou enquanto minha mãe a olhava boquiaberta pelo que tinha sido dito.
— A gente se odeia – Catarina continuava a dizer com desprezo – já discutimos, falei que ia quebrar a cara dela, aquela velha transforma a vida de qualquer um em um inferno...
Minha tia ajudava a servir a mesa farta. Não demorou para que começássemos a tomar café, mas, sem deixar de lado a conversa.
— Não é como se fosse muito diferente do que aconteceu comigo – minha mãe continuava – além de ter falado que engravidei de propósito, disse que, por ela, eu não teria a Teodora, e que se tivesse, eu que arcasse com as consequências porque me aproveitei dele que era só um garoto, você acredita nisso?!
— É claro que acredito – Catarina dizia com sarcasmo – aquela falsa moralista tinha um casamento de fachada pra manter a pose de família tradicional, mas todo mundo sabe que, com exceção do Tadeu e da Patrícia, ninguém dali nunca prestou, inclusive ela.
— Mas, Catarina, eu juro que o que mais me irritou não foi nem isso – minha mãe pegava uma fatia da mesa enquanto já montava meu sanduíche e me servia do café com leite – foi aquilo que conversei com a Clarice, dela na época ter nos tratados como se fôssemos... Aberrações, sabe?
— Não é como se fosse segredo pra ninguém que não somos bem vistas... – minha tia complementava com amargor misturando o seu cereal com o iogurte, se voltando pra Catarina – Por algumas coisas que aconteceram comigo.
— Fala como se fosse errado, Clarice – Elisa falava com firmeza.
— Nunca teve nada de errado – ela voltou a falar – mas, não é como se aceitassem, não é, Elisa? Pra Teodora é normal porque já cresceu com isso, mas...
— Ainda assim, dona Clarice – Catarina voltava a falar – se não for o que elas querem, não é aceitável. Tadeu teve que passar por um casamento arranjado, e ainda assim, mesmo escolhendo a mulher, ela ainda fazia o inferno na vida dele.
— Ele não queria se casar? – perguntava minha mãe – Por quê?
— Falta de interesse – ela deu com os ombros – mas, viver solteiro não ia ficar bom pra eles, sabe como é. Cidade pequena, as pessoas falam muito...
— E não ficaram falando nada de vocês duas? – apontou minha mãe bem na hora que estava tomando o café. Senti ele voltando no mesmo instante enquanto Catarina só fez rir.
— E o que falariam de nós duas?
— Ah, Catarina – dona Elisa voltava a falar com um sorriso no rosto – pode deve ficar à vontade, já está meio óbvio que minha filha está a fim de você, ou é segredo?
Meu rosto ficava em chamas e a olhava com toda a seriedade que podia. Já minha tia se prestava a gargalhar com minha feição.
— Não sei se é segredo... – ela tentava conter o riso naquela situação, enquanto me prestei a baixar a cabeça e desejar que isso acabasse logo.
— Ignora, a Elisa sempre foi sem noção assim mesmo – ponderava dona Clarice, tentando esconder o riso com a palma da mão. Já minha mãe se prestou a nos olhar como se não tivesse falado nada demais.
— O que foi? – disse ela séria – Não, não precisa ficar com vergonha, sei que vocês têm tipo uma amizade colorida, eu já tive a idade de vocês e sei como são essas coisas...
— Não sou de sair de casa e nem a Teodora, então... – Catarina só fez dar um sorriso contido – Não sei se falam alguma coisa.
— Eu gostei muito de finalmente te conhecer, Catarina – minha mãe deu um largo sorriso, algo difícil de vê-la fazendo com alguém que mal conhece – deve ser porque eu vejo Teodora falando tanto de ti pra gente que...
— Mãe, tá bom – sentia que podia desmaiar de vergonha a qualquer momento.
— Elisa – minha tia tocou em sua mão – acho que a Catarina fez uma longa viagem e quer ir descansar...
— Você pode dormir no quarto da Téo, tá bom? Nós sempre fomos bem mente aberta, nunca tivemos problema com isso – ela ignorava o que dizíamos enquanto eu já enfiav* o rosto entre minhas mãos – a não ser que fosse a ex dela, aí tinha, porque eu a odiava do fundo do meu coração.
Catarina tinha conseguido a proeza de conquistar a simpatia da minha mãe, provavelmente por saber como falar com ela, o que era ótimo, mas que também me levou a ouvir durante o resto do café como ela de fato odiava a garota que tinha me envolvido anteriormente e como tinha ficado feliz em ter me libertado daquilo.
— Descanse um pouco – minha mãe continuava a dizer animada, enquanto enfim já estávamos na sala – aí mais tarde a Teodora pode te levar pra conhecer um pouco a nossa cidade, apesar desse frio horroroso que está fazendo...
— Seria ótimo – Catarina respondia animada, tomando mais um pouco do café.
— Bem, meninas – dizia minha tia já saindo do quarto, colocando o casaco – queria muito ficar um pouco mais com vocês, mas, os compromissos nos chamam. Vamos, Lis?
— Fique à vontade, Catarina – minha mãe foi até ela, deu um abraço e beijou seu rosto de um lado e outro e beijou o topo da minha cabeça, assim como minha tia antes de seguir para a porta – até mais tarde. Se cuidem, viu?! E, Téo, minha filha, não venho pra almoçar e depois do serviço vou no supermercado, então... Providencie o almoço da nossa visita, tá bom?
A única ação que tive foi de concordar com um aceno enquanto elas saíam de casa. Quando me vi sozinha com Catarina, a única coisa que ela fazia era rir da minha cara certeira de constrangimento.
— Eu adorei sua mãe, Téo – dizia ela já me puxando pro sofá. Só fazia revirar os olhos – é bem diferente do que imaginava.
— Agora me fala a verdade – praticamente me deitava em seu colo – como foi pra você vir?
— Não foi nada de diferente do que já falei – suas mãos se entrelaçaram nas minhas, me puxando para mais perto dela – a diferença é que não falei que só vim porque você me mandou mensagem...
Minhas bochechas queimaram por mais uma vez, e via que ria envergonhada por seu olhar procurando o meu.
— E de que só queria uma oportunidade pra estar perto de ti.
Meus lábios encontraram os dela rapidamente. Meu coração palpitava rápido, minhas mãos suavam. Mesmo com o frio, seu corpo me aquecia. Só percebi o quanto estava sentindo falta disso no momento em que tive. Desde que minha vida tinha se voltado a tentar entender o meu lugar, a única coisa que invadia meu peito era a saudade que sentia dela.
Agora, eu a tinha novamente em meus braços, e não tinha a mínima vontade de deixa-la longe de mim. Se tinha feito isso uma vez, sabia que podia fazer a segunda, e isso me encorajou a finalmente dar voz ao que tinha em mente.
— Eu senti sua falta... – dizia com meus lábios a poucos centímetros de distância dos seus, podendo sentir o ar quente que saia de sua boca contra a minha – Estou tão feliz de te ter aqui comigo.
— Ainda há tempo de dar para trás – comentou Catarina, voltando a me beijar – e eu ir embora e fingir que isso nunca aconteceu.
— Esse é o problema... – murmurei baixinho – Eu não quero.
Minhas mãos se juntaram com a dela, a levando acima de sua cabeça enquanto minha boca seguiu da sua testa, suas bochechas, seu nariz, seguindo todo o contorno até próximo dos seus lábios, mais uma vez, de onde não queria mais sair.
E eu queria que ela soubesse o tanto que não queria isso.
Seu rosto roçou no meu, carinhoso, até que mordeu os lábios e voltou a me beijar com intensidade, no qual retribuía da mesma forma enquanto a prendia em meus braços.
— Que merd*, Teodora... – dizia ela entre nosso beijo – Que merd*.
Ela parou. Meus olhos continuavam fechados, e seus dedos acariciavam meu rosto, seu entorno, meu lábio inferior. Suspirava baixinho, sentindo seu peito ressoar rápido como o meu. Ela entrelaçou seus dedos contra os meus e aproximou sua cabeça até meu ouvido.
— Talvez não seja segredo que eu também goste de ti.
Eu não tive receio quando ouvi isso sair de sua boca. Na verdade, era a única vez que não sentia aquela angústia de sentir algo por alguém. O medo e receio que vinham junto com a incerteza, como se eu já estivesse preparada pra isso ou indiretamente soubesse disso.
Era única vez que senti que realmente poderia me livrar de todos os medos que me cercavam. Ela sempre me passaria essa segurança das coisas que me aterrorizavam, mesmo que dissesse respeito a nós duas. Eu nunca sabia exatamente como me sentir, mas de uma coisa eu bem sabia. A de que eu queria tê-la em meus braços, a amar, a fazer suspirar e gem*r baixo, entrelaçar nossas mãos como se fosse uma e dizer palavras que nunca disse a alguém antes.
Porque ela me fazia sentir como nenhuma outra pessoa fez. Não sabia que meu peito podia bater tão rápido ou sentir que meu mundo fugia dos meus pés assim que a vi na minha cozinha, fazendo com que cada batida do eu peito parecesse pertencer a aquele momento. Ela tinha ido ali para estar comigo, e eu não hesitei em dizer o quanto gostava dela.
Era algo maior do que uma mera paixão aterradora, e cada parte do meu corpo parecia clamar por isso. Eu a queria cada vez mais. O toque físico não parecia suficiente, nem a sua presença parecia conter o anseio que meu corpo tinha por ela.
Eu queria pertencer a ela. Queria que ela me tomasse ainda mais em seus braços e, desejosa, me fizesse dela por inteiro, e nem assim parecia o suficiente. Como eu poderia sentir algo tão intenso assim por alguém?
Ela me prendeu contra os seus braços e correspondeu meu beijo com mais intensidade, como uma resposta direta a aquilo. Pelo menos ali, eu sabia que, em meio a tempestade, o medo não prevaleceria em cima dos que eu realmente sentia.
Fim do capítulo
Pra quem gosta de romance, os capítulos a seguir vão trazer o famoso quentinho pro coração. Pra quem gosta de desordem, é só seguir acompanhando que, pra cada calmaria, tem o caos vindo depois rs.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 09/04/2024
Eita só amo.
Só esperando a casa caí pra jararaca veia.
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