Saí muito cedo, o dia estava longe de clarear, não era problema minha visão enxerga melhor no escuro do que no claro, não conseguia descansar ou dormir preocupada com o sumiço inexplicável da Amkaly. 

Amina tinha ficado no chalé, dormindo próximo a Manom, as duas tinham uma ligação estranha, era como se conhecessem a vida toda, talvez em outras vidas quem sabe? O fato é que não se largavam desde que a garota chegou no chalé. As garotas rapidamente descobriram não poder se comunicar por telepatia sem serem descobertas pela criança que conseguia ler tudo, Inaê afirmava que ela era a guerreira que faltava para completar o esquadrão, eu também acreditava nessa hipótese pela forma como a garota chegou. 

Sai praticamente escondida de todos evitando assim que um batalhão de lobas e agora uma vampira quisesse ajudar na busca, antes porém acordei Nyxs pedindo que ela fosse invisível até salem descobrir se Amkaly tinha ido embora e largado a garotinha para trás, afinal ela nunca quis ser mãe, essa novidade de ser responsável por alguém talvez tenha sido demais.

— Esther! Chamei na mesma hora a porta do chalé se abriu, Esther parecia ter pressentido minha chegada.  

—Vamos correr, quero conversar longe antes que as meninas acordem. — pulei em frente ao chalé já na forma de loba, minha beta veio atrás.

— Estamos indo ao chalé onde Amkaly estava hospedada, procurar pistas do seu paradeiro, a Nyxs foi em Salem tentar saber se ela apareceu por aquelas bandas.

Esther me acompanhou e seguimos em silêncio apreciando a estação das flores e renascimento da floresta, aqui nesse lado da ilha estava bem presente com a passagem do Yule. Nalum nasceu na grande noite do primeiro solstício quando o sol tinha morrido e estava se preparando para renascer, na noite mágica para nós lobos, nessa época começa a tradição milenar onde a grande Deusa mãe, traz a terra a criança prometida, que, na verdade, e o nascimento do sol que vai se derramar sobre a terra fazendo tudo renascer, florir e colorir, a vida explode na natureza, nessa mesma época comemora-se o sabbat de Samhain (celebração em honra aos ancestrais) Sincretizado com o dia das bruxas.

Fiquei pensando como estaria Salem, cheia

de festa ao ar livre e lobinhas correndo para as lagoas espalhadas em toda a

reserva, fogueiras acesas a noite, muita carne, peixe, batata e macaxeira

assadas, por segundos sentiu o cheiro de sua reserva, a saudade apertou. 

 —Vinha pensando e sentindo a mesma coisa.

A voz da minha minha betta na minha cabeça não me assustou, já estava acostumada, sempre que ficávamos a sós com um objetivo em comum nossa comunicação se abria por completo, para ser mais específica eu e ela tínhamos um só pensamento.

—O que acha que aconteceu com a Amkaly para ela desaparecer assim?—Esther tinha o focinho todo voltado para o meu lado quando perguntou. 

—Estou achando que ela abandonou a garota por medo da responsabilidade, ou apavorada com a enxurrada de emoções e sentimentos desconhecidos para ela.

Esther permaneceu em silêncio, ela também deveria ter suas teorias, fiquei arrepiada só de imaginar o que ela devia saber e não queria me contar.

—Se souber de algo que não sei é melhor contar. — Eu pedi não sei porque, Esther só contava algo quando achava necessário, ela estava cagando para o fato de eu ser sua alfa, e para ser sincera até eu mesma não estava nem aí para essa besteira toda. Na hora certa ela me diria o que estava suspeitando e pronto.

Outra coisa que admirava era o fato da minha beta, sempre andar preparada para derrubar qualquer tipo de magia mesmo que fosse um glamour, por mais bem feito que fosse.

 Não tivemos dificuldade de ver o que outros não podiam enxergar. o ambiente calmo intrigava, ali as energias estavam nulas, simplesmente não existia, tudo permanecia limpo, organizado, com exceção do quarto, onde as roupas de cama estavam espalhadas, o resto parecia tudo organizado demais, Amkaly nunca foi organizada

— Isso aqui está limpo demais, alguém andou limpando o local escondendo digitais, eu senti um cheiro estranho no ar.

— Esther por acaso tem algum pó que posso usar aqui?— aguardei enquanto Esther,

passava a ponta dos dedos em cima das cadeiras limpas e bem arrumadas examinando os detalhes e farejando o ar, momentos depois levantou os olhos me encarando.

—Os meus não deram sinal de vida, estão todos quietos, pegue esse que eu te dei e vamos ver se ele tem serventia.

Peguei com a mão fechada o vidro que eu carregava pendurado no pescoço, senti ele vibrando com uma temperatura acima do normal, a corrente abriu sem eu pegar, a tampinha saiu do mesmo jeito, olhei espantada para Esther que sorriu.

—Eles tem vida própria, espere e ele vai te dizer o que fazer.

 Esperei sem acreditar no que minha beta afirmava, nada aconteceu, mas olhei para o vidrinho destampada e uma voz anormalmente doce e suave soprou no meu ouvido.

“Assopre o pó no ar minha alfa” sem saber o que fazia até o momento de fazer, eu soprei no gargalo do frasco lentamente, uma nuvem diáfana dançou num bailado seguindo para a cozinha do chalé, e caminhou no ar entrando no armário abrindo portas derrubando panelas e tudo que encontrava pela frente, para mostrar muito escondido entre garrafas e latas de cerveja, um pote pequeno de cerâmica do tamanho de um palmo da mão de um homem comum,cheio de sangue muito escondido, já estava frio e coagulando. 

—Eu falei esses vidrinhos tem vida própria.—Esther se aproximou do armário enquanto falava examinava tudo.

—Quem veio aqui estava procurando isso. Amkaly sabia ou desconfiava por isso o sangue estava tão escondido.—Afastei as garrafas que ainda permaneciam ao lado e peguei o jarro mostrando enquanto aproveitava para ver o liquido vermelho dentro com um forte cheiro de ferrugem.

Esther pegou e cheirou em sequida guardou em seus bolsos mágicos desaparecendo das nossas vistas.

—Esse armário está cheio de glamour, por isso não encontraram nada. Amina é mestre nesse tipo de magia, Quem esteve aqui, está atrás de descobrir coisas sobre a existência dessa garota, agora qual o interesse?— Lembrei que a garota fez o mesmo encantamento no chalé na Nyxs quando estava ferida no pantano, para esconder o corpo e o cheiro das duas deixando a cobra incapaz de senti-las foi isso que que tirou Nyxs de uma grande enrascada.

— Agora que você lembrou esse detalhe eu consigo entender o que a cobra ou a dona pretende com a garota, era essa a minha suspeita.

—Eu ainda continuo no escuro.—Fechei as portas do armário aproveitando para passar minha roupa para tirar minhas impressões e meu cheiro do local, caso voltassem outra vez.

— Um vampiro recém nascido é uma arma letal, existem vampiros que acordam loucos e sedentos não conseguem controlar a sede de sangue, já existiu cidades inteiras dizimadas por vampiros recém transformados. Quem está à procura da garota não sabe que ela é uma criança ou que foi recém criada. Amkaly não está sumida por vontade própria, deve estar escondida.

—E por que todo esse carnaval com um vampiro, você acha que a Sandra ou Camille querem ser mordidas e se transformar também?—Sai de perto de todos os móveis evitando o contato.

—Eu acredito que a dona da cobra está querendo matar o vampiro, por ele não ter deixado a cobra fazer o que tinha desejos de fazer com a Nyxs seja lá o que for.—Esther limpou o ambiente com um pó lilás com cheiro de desinfetante, enquanto me puxava para sair.

— Pois então se Amkaly está escondida ela sabe que estão atrás da garota e fugiu para proteger, porque sabia que ela iria nos procurar, e ninguém iria se atrever a fazer nada de mal a garota.

— Se alguém tentasse, seria uma loucura, Manom não sai de perto um instante, e as outras meninas iriam adorar uma caçada, nem se lembrariam que eu proibi qualquer tipo de magia.—Bati meu ombro no da Esther que se preparava para sair, notei um vislumbre de sorriso em seus lábios ao ouvir o que falei.

— A Manon por ser filha do Israfil tem uma parte do DNA que vem la de baixo, por isso ela é tão forte na magia negra.

—Ainda assim tem uma coisa obrigando Amkaly, ficar distante da vampirinha, Amina falou que ela saiu sem deixar sangue para sua alimentação, mas não é o que vimos, ela veio e deixou muito escondido. Se a encontrarmos, encontraremos quem está procurando a garota.—Antes de terminar de falar ela fez sinal com o dedo que eu não falasse mais nada.

— Vamos dar uma passada no Lobos Bar, quero pegar Camille e Sandra de surpresa, talvez elas saibam de algo, dessa vez eu entro na mente delas, quero resolver isso de uma vez, estou com saudades da minha reserva.—Esther falou dentro da minha cabeça.

— Por mim eu já tinha voltado.—concordei.

— Ziam já comprou tudo é só você assumir e mandar quem está causando problema embora e fim de papo.—Sua expressão era de impaciencia, o que eu estava começando a sentir tambem.

 —Eu sei, e vou fazer isso assim que descobrir quem matou aquelas humanas e porque. e quando destruir a cobra. aí nós vamos embora. principalmente com a suspeita da Nyxs está grávida e da cobra nos perseguir o porque eu também quero saber. Tem certeza que não sente nada diferente na Nyxs, Esther?

— Nada, os exames também não disseram nada e ainda assim ela sente a criança, Oneiza, Nalum e Manon também sente o cheiro de vida quando se aproximam, mas eu nunca senti. Essa criança é bem diferente das outras, talvez qualquer dia ela permita eu sentir.

— Acho que não, com a Nalum foi do mesmo jeito, eu só soube na hora que ela entrou em trabalho de parto. Sei lá..acho que as gestações da Nyxs seja diferente do resto das lobas ou que nossos filhos são gerados em outros mundos. Os humanos dizem que cada gestação é diferente da outra, quem sabe com a nossa raça esteja ficando parecida.

Esther concordava pensativa avaliando a magia envolvida, gerando novas Raças ou novos poderes. Cada uma estava absorta nos próprios pensamentos, que não percebemos já estarmos na frente do clube que pela hora ainda estava com as portas fechadas. 

Sabia que na parte de dentro tudo estava funcionando, com os funcionários colocando a casa em ordem para receber a clientela quando a noite chegasse. 

O encarregado do estacionamento ao lado da boate ao ver nossa presença levantou e veio até onde estávamos.

— Senhoras, desejam alguma coisa?— O humano já com a idade avançada andava com uma certa dificuldade, ao falar com o forte sotaque francês me trouxe a vaga lembrança do zelador do prédio onde minhas irmãs moravam quando estiveram naquele país.

—Queremos falar com Camile ou Sandra, sabe dizer se elas já chegaram?—Eu mesma perguntei, Esther não tinha muita paciência.

—Dona Camille chegou cedo, agora dona Sandra faz tempo que não aparece.—O homem voltou para sua cadeira, uma sensação esquisita se apossou da minha pele deixando os pelos em pé, uma coisa alertava sobre o homem estar escondendo coisas, seu jeito nervoso ao falar da Sandra não deixava dúvidas.

— Esther, eu vou entrar, e você ajude o senhor a sentar e ficar confortável, seja gentil.

Pisquei o olho, ela sabia o que eu queria e me olhou com cara de safada, só continuei meu caminho, aproveitei que a porta n

ão estava trancada, entrei.

Fim do capítulo