28. Investigador
SOPHIE LOPES
A formatura da Flá foi linda. Eu estava muito orgulhosa da minha amiga. No momento em que ela recebeu seu diploma me emocionei. Sabia as dificuldades que ela enfrentou para se formar. As muitas horas que trabalhamos fora do expediente para fazer o estúdio ficar reconhecido. Ela estava comigo desde o começo e me ajudou quando eu mais precisei. Vê-la se formando era a realização de um sonho, me sentia muito feliz pela minha melhor amiga.
Tirei muitas fotos do evento. Nossos amigos estavam lá para comemorar com Flávia. Inclusive a Renata. Eu não sabia o que ela tinha que fazia todos ao se redor ficarem deslumbrados. Mas até Rick, já estava encantado por ela. Que saco.
Depois do evento fomos para a casa de Elisa. No dia anterior passamos a tarde organizando tudo para fazer uma festa incrível para Flávia e seus colegas da faculdade. Elisa foi muito gentil em nos emprestar sua casa.
O clima estava perfeito. Tinha música ao vivo, piscina liberada, bebida a vontade, pista de dança e muita comida. Parecia que todos os formandos da universidade estavam ali. Ainda bem que o quintal era enorme e tinha espaço de sobra pra todo mundo.
- Como minha namorada está se sentindo está noite? - Elisa se aproximou e me abraçou por trás. Eu estava caidinha por aquela mulher.
- Estou muito feliz. Você foi perfeita em ceder sua casa. Desculpa se alguém quebrar alguma coisa. - Falei me virando e beijando a ponta do seu nariz.
- Não tem problema meu amor. Hoje é um grande dia e a Flávia merece se divertir muito. - Elisa ajeitou uma mecha do meu cabelo que insistia em ficar na frente do meu olho.
- Eu te amo.
- Eu também te amo minha princesa.
- Vocês vão ficar aí se agarrando ou vão vir dançar com agente? - Renata gritou da pista de dança. Henrique e Flávia também estavam se acabando de dançar.
- Já estamos indo. - Elisa gritou e começamos a rir. Ela me puxou para junto dos nossos amigos e começamos a pular ao som de uma música super agitada.
- Vocês são os melhores amigos que eu poderia ter. - Flávia falou.
- Te amo amiga. - Henrique falou estridente e um pouco alterado pela bebida.
- Também te amo migo.
- Parabéns Flá, você é a melhor. - Me aproximei e lhe dei um abraço forte.
- Ai Soph, como vou viver sem ir para o estúdio todos os dias!
- Você pode aparecer lá quando quiser, mas a questão é como eu vou viver sem você lá pra me botar na linha.
- Vamos dá um jeito. Não é porque eu vou trabalhar em outro lugar que não vou aparecer na sua casa pra te dá uma bronca se precisar. - Todos sorrimos.
- Te adoro. - Gritei já sentindo a bebida fazer efeito.
Depois de algumas horas a casa estava começando a ficar vazia. Me joguei no sofá e senti meu corpo relaxar. Eu precisava de uma boa massagem.
- A velhice tarda, mas não falha. - Renata falou enquanto pegava uma bebida do frigobar. Eu não sentia mais ciúmes dela com Elisa, mas isso não significava que eu gostava dela.
- Falou a pessoa que toma chá no lanche da tarde. - Devolvi.
- Faz bem para o intestino. - Involuntariamente acabei rindo do seu comentário. Ela sentou em uma poltrona ao meu lado. - Tenho novidades sobre a investigação da Flávia. - Renata soltou aquela bomba do nada.
- Sério? O que você descobriu? - Sentei na mesma hora.
- Nada concreto sobre a mãe dela, mas o investigador me deu um endereço do homem que deixou Flávia no orfanato. - Falou baixo.
- Foi uma homem? Mesmo assim essa notícia é ótima. Vamos contar para a Flávia. - Pulei de alegria.
- Calma Sophie, não sei se é uma boa idéia. - Renata me fez sentar novamente.
- Do que você está falando? É claro que é um boa idéia. - Não entendia o porquê dela estar agindo tão estranha.
- O investigador foi até o endereço e o dono da casa não quis falar com ele. Na verdade, ele foi bem grosseiro quando o investigador perguntou sobre a possibilidade de alguém da família ter dado um bebê para a adoção. - Fiquei surpresa com a notícia.
- Você acha que eles sabem da Flávia e não querem vê-la? - Estava angustiada com aquela possibilidade.
- Eu não sei. Mas vou descobrir. - Renata falou decidida. Ela parecia bem comprometida, para algo que não tinha nada haver com sua vida.
- Como você vai descobrir?
- Vou viajar até o endereço que ele me passou e vou tirar essa história a limpo.
- Eu também vou.
- O que? Claro que não. Vai levantar muitas suspeitas.
- Porque você não quer contar para a Flávia? Ela merece saber.
- Não quero que ela fique magoada. - Renata parecia bem triste. Eu reconhecia aquele olhar. Ela tinha sentimentos pela minha amiga. Sabia disso porque era assim que Elisa me olhava quando eu recusava suas propostas de encontro.
- Olha, vou te contar uma coisa sobre a Flá, mas não é porque gosto de você, ok?
- Claro Sophie, eu também não gosto de você. - Ela sorriu. Não entendi seu sarcasmo, mas continuei.
- A Flávia odeia que escondam as coisas dela. Por causa de tudo que ela passou é muito difícil pra ela confiar em alguém. E se você fizer isso agora, ela nunca mais vai confiar em você. - Renata ficou séria e calada por alguns segundos.
- Você tem razão. O que vamos fazer então? Porque não quero que ela fique magoada quando souber que sua mãe não quer vê-la.
- Primeiro, não sabemos se a mãe dela mora nesse endereço. O investigador falou que era um homem e não ela. E segundo, vamos todos juntos até esse local. Assim, se acontecer alguma coisa a Flá vai ter nosso apoio.
- Tudo bem. Mas quero que você deixe eu contar para a Flávia. Ela sabe que o investigador é meu amigo, não quero que ela sinta que não pode confiar em mim.
- Ok, quando você falar com ela me avisa, assim marcamos a viagem. - Peguei meu celular e anotei o número de Renata. O que eu não fazia pela Flávia. Estava até me aliando a pessoa mais arrogante desse mundo.
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POV FLÁVIA
Depois da festa decidi ir para casa. Não podia ficar de ressaca um dia antes de começar o estágio. Esperei por essa oportunidade minha vida toda. Agradeci a Elisa e a Sophie por prepararem essa festa maravilhosa. Elas se preocupavam de verdade comigo. Quando conversei com Elisa pela primeira vez tinha certeza que ela seria o par ideal para Soph, porque minha amiga precisava de alguém que a amasse e lhe colocasse como prioridade. Os seus outros relacionamentos foram um desastre. Sei que pode ser cruel, mas minha amiga tinha, realmente o dedo podre para escolher namorados. E vê-las juntas me fez ter esperanças de que eu também posso encontrar alguém que some na minha vida. Não sou uma pessoa irrealista, com tudo que passei na vida não tive tempo de ficar sonhando com um príncipe encantado. Tenho prioridades, principalmente com a minha vida financeira. Apesar de querer encontrar alguém, não me vejo em um relacionamento nos próximos anos. Quero trabalhar e viajar. Esse é o meu foco. E talvez, encontrar minha mãe.
Não gosto de pensar que vai ser um conto de fadas quando eu a conhecer. Seria bom demais pra ser a minha vida. Nada veio fácil pra mim. Não quero depender do amor de alguém que nem me quis para ser feliz. Gosto de colocar isso na minha cabeça, mas a verdade é que estou nervosa com a investigação. Nunca cheguei perto de tentar encontrar minha mãe e agora me sinto desconfortável com a possibilidade.
- Posso saber o que a senhorita está pensando? - Renata falou se aproximando. Ela era uma boa pessoa. Mesmo nos conhecendo a pouco tempo eu já a considerava minha amiga.
- Que já está na hora de eu ir pra casa.
- Eu também já estou indo. Porque não vamos juntas. Quero conversar com você sobre a investigação. - Aquilo me pegou desprevenida. Pensar em saber alguma coisa sobre minha mãe me fazia tremer de nervoso.
- Tudo bem, só vou pegar minha bolsa e podemos ir.
- Ok, eu te acompanho.
Não demorei para me despedir de todos e pegar minhas coisas. Durante o percurso até a minha casa eu e Renata não conversamos muito. Estava com vontade de ficar em silêncio perdida em meus próprios pensamentos. E de alguma maneira ela me entendia.
Quando chegamos, coloquei um pouco de café para fazer. Não queria ter aquela conversa sem meu café.
- Flávia, você pode ir tomar banho. Sei que o dia foi bem longo Eu te espero.
- Tem certeza? Não quero abusar do seu tempo. Já está tarde. - Olhei para a minha roupa toda suada de tanto que dancei. Um banho seria ótimo.
- Vai logo. Você não abusa do meu tempo. - Renata sorriu para mim.
- Tudo bem, eu já volto. - Corri pelo corredor em direção ao meu quarto. Olhei para a tranca e lembrei que precisava mandar consertar aquela fechadura. Tinha muitas coisas caindo aos pedaços naquela casa.
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POV RENATA FONTES
Fiquei um tempo no sofá esperando Flávia terminar o seu banho. Aproveitei para olhar ao redor e aprender mais sobre ela. Não entendia porque fazia aquilo. Mas ela me deixava curiosa. Eu não estava besbilhotanto, era só um reconhecimento de campo.
Olhei para a estante e vi apenas um porta retrato com uma senhora nele. Imaginei que fosse a mulher que a adotou. Não tinha muita coisa para olhar. Poucos móveis, mas tudo bem arrumado. A cozinha era dividida apenas por um balcão, então eu conseguia ver tudo de onde estava. Menos o final do corredor que dava para o quarto da Flávia. Dava pra ouvir o barulho da água caindo do chuveiro. Juro que não queria pensar em Flávia tomando banho, mas simplesmente aconteceu. Será que ela já estava passando sabonete por seu corpo? Como seria a visão da água caindo por seus seios e se perdendo no v entre suas pernas. Só de pensar, senti meu corpo arrepiar. Me assustei quando a cafeteira apitou indicando que o café estava pronto. Levantei e desliguei a máquina. Depois servi uma xícara para Flávia e outra para mim.
Não demorou para Flávia aparecer na sala. Ela usava apenas uma blusa regata e um shorts de tecido fino. Seu cabelo vermelho estava úmido e penteado. Eu não queria ficar encarando, mas Flávia era o tipo de mulher que tinha curvas. Ela era bem mais baixa do que eu e até a mais simples roupa ficava sexy em seu corpo. Levantei meu olhar para o seu rosto e ela não parecia bem. Fiquei preocupada.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei.
- Só estou nervosa com a mudança de trabalho amanhã. - Senti que ela não estava me falando todos os motivos.
- Não se preocupe, você vai se sair muito bem. É o seu sonho.
- Você tem razão. Não tem porque me preocupar. Então, o que o investigador descobriu? - Flávia se aproximou pegando sua xícara de café. A proximidade me deixou um pouco nervosa.
- É... O que? - Me peguei dizendo.
- Você falou que queria conversar sobre a investigação.
- Ah claro. - Tentei me concentrar e peguei alguns papéis na minha bolsa. - Ele me deu esse relatório. Entreguei os papéis para Flávia. - Ele me disse que um homem foi quem colocou você na porta do orfanato.
- Sério? - Ela sentou no sofá e começou a ler as páginas. Não falou nada por um bom tempo -. Aqui também diz que esse homem não quis conversar com o detetive.- Ela me mostrou algumas fotos.
- Sim, mas podemos conseguir falar com outras pessoas ligadas a sua mãe. Ele não pode ser a única fonte.
- Não fala nada sobre minha mãe. Será que esse homem é meu pai?
- É uma possibilidade.
- Se for, ele não vive mais com a minha mãe. Porque aqui diz que ele é divorciado.
- Qual o nome que tá escrito aí? - Perguntei.
- Antônio Feitosa. Aqui diz que ele tem 65 anos, é divorciado, aposentado e que mora em Petrópolis.
- É aqui perto do Rio. Poucas horas de carro. Podemos ir lá se você quiser. - Sugeri.
- Não sei, ele não quer me ver. E não sei se quero encontrar com um homem que não se importa com a minha existência.
- Entendo. Se você quiser. Eu posso ir até lá. Tentar descobrir alguma coisa. Invento uma história. Esse cara nem vai desconfiar.
- Agradeço a suas intenções Renata. Mas não vou deixar que se envolva nisso. Já decidi que não vou seguir em frente com essa investigação.
- O que? Porque não? É sua chance de descobrir sobre sua mãe.
- O relatório é bem claro. Eles sabem de mim e não quiseram falar sobre. Não me importo.
- Você não pode estar falando sério, no relatório só diz que esse homem não quiz falar com o investigador.
- Renata, por favor. Eu não vou retroceder. Estou bem. Vou começar uma nova fase da minha vida. Demorei muito pra superar tudo que aconteceu comigo. Não quero reabrir uma ferida. Foi besteira querer encontrar alguém que nem se importa com a minha existência. - Flávia estava me mostrando uma lado seu que eu ainda não conhecia. Mesmo que ela estivesse fria, dava pra perceber a tristeza em seu olhar. Tudo o que eu queria era fazer com que aquela tristeza fosse embora.
- Tudo bem, não vamos mais falar sobre isso agora. - Tentei amenizar o clima pesado que se instalou.
- Eu agradeço por você ter me ajudado com essa situação, mas vamos esquecer essa história.
- Você quer conversar? Podemos comprar alguma coisa pra comer e ver algum filme. - Sugeri.
- É melhor eu ir dormir. Já está tarde e amanhã preciso acordar cedo. - Não estava reconhecendo aquela mulher a minha frente. Não era a doce e sensível Flávia. Ela estava desconfiada e arisca. Lembrei das palavras de Sophie sobre Flávia não confiar nas pessoas. Com certeza ela conhecia muito bem a amiga.
- Tudo bem, se precisar de alguma coisa é só me ligar. Tem certeza que vai ficar bem?
- Sim. Está tudo bem. - Caminhamos até a rua. Dei um beijo no rosto de Flávia e entrei no meu carro.
- Boa noite.
- Boa noite.
Saí de lá com um sentimento estranho. Eu não queria que Flávia se fechasse pra mim. Eu queria que ela confiasse em mim. Ainda não tinha analisado os sentimentos que tenho sentido por ela. Mas hoje, depois de vê-la tão linda na festa e depois observar o seu espaço. Me senti vulnerável. Era doloroso vê-la triste. Nunca me senti assim antes. Não me importava muito com os sentimentos dos outros, mas agora não conseguia parar de pensar que a felicidade dela realmente importa pra mim.
Fim do capítulo
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