20. Desavença e aprendizado
ELISA FRANCO
Eu não estava entendendo nada. Porque Soph queria acabar com a raça do Mateus? Ele apenas tinha feito um ponto.
- Soph, foi só um ponto.
- Lizzy, deixa eu resolver isso, tá bom? - Ela continuou caminhando a até o Mateus, que estava com uma cara de assustado. Soph estava com muita raiva. Eu só tinha vista ela assim uma vez e foi quando Marcos tentou me bater. Caminhei rápido para tentar pará-la, mas já era tarde demais. Mat estava caído no chão e Soph montada em cima dele. Como ela conseguia derrumar homens tão mais altos e fortes que ela?
- Para Soph, você tá exagerando. - Lara gritou.
- O que tá acontecendo? - Rick puxou Soph de cima do meu amigo. Flávia e Renata também se aproximaram nervosas. Bom, mas ou menos, Renata estava rindo e Flávia agiu como se ver a amiga socando alguém fosse normal.
- Me solta Henrique. Eu vou matar esse desgraçado. - Soph tentava se libertar dos braços de Rick, mas ele era bem maior.
Mateus se colocou em pé ainda cambaleando. Nunca tinha vista meu amigo tão nervoso.
- Eu não sabia que Lara era sua irmã. Eu juro.
- Você é um cínico. Tentando me dar lição de moral essa manhã, quando tinha passado a noite com a minha irmã. Seu filho de uma puta, eu vou acabar com você. - Lara e Mat tinham dormido juntos? Agora eu entendia a raiva da minha namorada, ela era tão protetora. Estava admirada que Mat ainda estivesse vivo.
- Gente, que babado forte. - Renata sussurou.
- Tenho pena do Mateus, minha amiga vai dividi-lo ao meio. - Flávia falou.
- Ele não teve culpa de nada Sophie. Fui eu que quis. Fui eu que o provoquei e fui eu que o levei para o quarto. - Lara falou irritada. Todo mundo ficou em silencio esperando a reação de Soph.
- Você não sabe do que ta falando Lara. Esse cara não te leva a sério.
- Sophie, você ta passando dos limites.
- Lara, eu só quero o melhor pra você.
- Então para de se meter na minha vida. - Lara saiu correndo em direção ao outro lado da rua, onde ficava o apartamente de Soph. Já estava na hora de eu me meter.
- Mateus, é melhor você ir pra casa. - Dei a chave para o meu amigo e lhe lancei um olhar de reprovação. Ele foi para o estacionamento com Soph o encarando. - Rick, pode soltá-la, ela não vai fazer mais nada.
- Tem certeza Elisa?- Não, eu não tinha. Olhei para a minha namorada, que depois de um tempo revirou os olhos em rendição. Rick a soltou e ela ficou parada. Graças a Deus.
- Bom gente, eu já estou indo. A tarde foi ótima. Muitas emoções, mas já está na minha hora. Aceita uma carona Flá? - Nem em momentos como esse Renata deixava de ser irônica.
- Aceito sim. Vamos? - Flávia me abraçou e se depediu dos seus amigos. Soph ainda estava de cara fechada. Rick também acompanhou as meninas deixando apenas eu e Soph na praia.
- Não me olha assim.
- Não estou te olhando de nem um jeito. - Falei.
- Está sim. Você acha que eu exagerei.
- Você que está dizendo.
- Você acha que a Lara vai me perdoar?
- Ela só está chateada amor. Tenho certeza de que amanhã tudo vai ficar bem.
- Não sei Lizzy. A Lara pode ser um doce, mas quando fica brava ela não perdoa fácil. - Abracei Soph e disse.
- Dá um tempo pra ela. Você a envergonhou na frente do cara que ela tá afim.
- Você podia ser menos sincera as vezes. Eu sou sua namorada. Você tem que ficar do meu lado.
- Repete.
- Você tem que ficar do meu lado.
- Não, a outra parte.
- Qual? Eu sou sua namorada?
- Adoro quando você diz que é minha namorada.
- Eu sou sua namorada. - Soph me beija e continua a sussurar que é minha namorada.- Eu te amo Elisa.
- Eu te amo minha boxeadora esquentada. - Continuo a beijá-la.
- Vamos dar um tempo por aqui. Lara deve estar querendo me esfolar viva. Eu vou esperar ela se acalmar.
- É o melhor mesmo.
- Mas essa historia ainda não terminou. - Soph falou decidida.
- Sophie.
- Que foi?
- O que você vai fazer?
- Nada amor. Só quero proteger minha irmã.
- Ela não parece que quer ser protegida. Na verdade, nunca vi Lara tão chateada. - Comentei.
- Se o seu amigo imbecil quisesse alguma coisa séria com a minha irmã ele não teria levado ela pra cama tão rápido.
- O Mat é uma cara legal Soph. Conheço ele desde criança.
- Agora você vai ficar defendendo aquele babaca. - A morena parecia irritada.
- Ta bom, só me responde uma coisa.
- O que? - Ela ficou curiosa na mesma hora.
- Quando você me viu pela primeira vez não pensou em me levar pra cama? - Soph demorou a responder.
- Pensei, mas é diferente. Eu só pensei.
- Vamos encarar que os dois pensaram também. Mas diferente da gente não ficaram enrrolando. Eles queriam e fizeram. São adultos e podem tomar suas próprias decisões.
- A Lara ainda é muito nova Elisa.
- Sophie, ela tem 22 anos. Se você continuar tratando-a como criança ela não vai mais te contar nada. - Falei séria.
- Eu sei, mas é tão difícil. Não quero que ninguém machuque minha irmãzinha.
- Eu também não amor. Só que ela precisa fazer suas próprias escolhas e viver suas próprias decepções.
- E o que eu faço? Fico parada vendo minha irmã quebrar a cara?
- Você vai sempre estar lá pra ela quando as coisas não derem certo. Vai ajudá-la a superar. É isso que ela precisa de você. - Soph ficou pensativa.
- Você tem razão. Eu fui longe demais. Tenho que falar com a Lara. Vamos?
- Calma amor. Dá um tempo pra ela. Deixa a poeira baixar. Amanhã vocês conversam.
-Tudo bem... Obrigada Elisa.
- Porque está me agradecendo?
- Você me faz querer ser diferente. Parece que o mundo é outro com você ao meu lado.
- Ele é princesa. Porque agora estamos juntas e eu estou aqui por você.
- Eu também meu amor. Estou aqui por você. - Selamos nossos lábios mais uma vez. Senti como se tivessemos prometendo algo mesmo sem juramentos ou promessas. Foi apenas o seu olhar que me fez sentir segurança. Eu amava aquela mulher com todas as minha forças. Só quero crescer junto com ela. Sei que temos muito o que amadurecer, mas cada dia será um aprendizado e eu estou disposta a dá o meu melhor para fazer Soph feliz.
RENATA FONTES
Que loucura foi aquela que aconteceu na praia? Adorei ver o Mateus levando uma surra. Ele sempre se deu de machão intocável. A Sophie mandou muito bem. Apesar de perceber seu nítido despreso por mim, eu gostava dela. Porque nunca tinha visto Elisa tão feliz e qualquer pessoa que faça minha amiga sorrir terá o meu respeito. Mesmo que tenhamos namorado um tempo, eu e Elisa sempre fomos boas amiga e queria o melhor pra ela.
- Sua amiga é durona. - Comentei com Flávia, que estava sentada no banco do passageiro.
- Ela é sim. Soph sempre foi protetora com a irmã e o Mateus vai ter que ralar pra conseguir a confiança dela.
- Mas você acha que a Lara e o Mateus realmente se gostam? - Perguntei enquanto dirigia.
- Toda vez que a Lara olhava pra ele os olhos dela brilhavam. E eu vi como Mateus a encarava. Ele estava todo nervoso. Acho que eles tem muito o que conversar, mas os dois tem química.
- E o que é ter química pra você? - Perguntei curiosa. Flávia era uma mulher interessante.
- Não sei. Acho que é quando você não consegue esconder que deseja outra pessoa. Mesmo que você tente. A atração é tão forte que todos as redor conseguem perceber.
- E você ja sentiu química com alguém? - Ok, eu estava sendo evasiva, mas queria muito saber a resposta.
- Eu? - Ela corou. Desde o primeiro momento vi que Flávia era uma mulher tímida e doce. Nem um pouco parecida com as mulheres que já me relacionei. - Eu não sei dizer. Nunca percebo quando alguém me olha diferente.
- Então você nunca se sentiu atraída por ninguém?
- Já, mas... Eu não sei. Passei os últimos anos muito empenhada em trabalhar e terminar minha faculdade. Não tive muito tempo para relacionamentos.
- Entendo. Você faz faculdade de quê?
- Jornalismo. Eu já terminei, mas a formatura é no final do mês.
- E porque você escolheu essa profissão? - O que estava acontecendo comigo? Desde quando eu era tão curiosa?
- Quero viajar fazendo reportagens. Ir a lugares que as pessoas precisam ser vistas. Tem muita gente sem o mínimo para viver que não possuem acesso a educação, saúde e moradia. Eu quero mostrar essas pessoas ao mundo. Tenho certeza que vou aprender muito com elas e ajudá-las também. - Seus olhos brilhavam de entusiasmo.
- Nossa, isso é muito bonito. Seu sonho é bastante altruísta.
- Só quero ajudar quem precisa. A vida é cruel e eu sei muito bem disso.
- Como assim?
- Até os meus 15 anos eu morei na rua.
- Sério? Porque?...Desculpa. Você não precisa me contar se não quiser.
- Não. Tudo bem. Minha mãe não tinha condições de me criar. Então me deixou na porta de um orfanato. Pelo menos foi isso que a irmã Cristina me contou. Morei nesse lugar até os meus 10 anos, mas lá eu era maltratada. Fugi e passei a viver na rua. Trabalhava como vendedora no semáforo e o pouco que ganhava usava para comer. As vezes dormia em casas abandonadas e outras vezes dormia na rua mesmo. Vivia só, até que encontrei a Nana. Ela era uma senhora de 70 anos que me acolheu. Morei com ela durante 4 anos e consegui terminar meu ensino médio. Construímos uma relação muito forte, ela foi a mãe que eu nunca tive. Sua saúde estava frágil e logo ela morreu. Fiquei muito triste. -Segurei em sua mão para mostrar solidarieade. - Como não tinha parentes, deixou pra mim sua casa e seus poucos pertences. - Ouvi a história de Flávia admirada. Como alguém que passou por tudo isso podia ser tão doce e alegre? Ela continuou. - Foi nessa época que conheci a Soph. Ela me contratou como sua assitente no estúdio e nos tornamos grandes amigas. Devo muito a ela e nunca vou me esquecer todas as vezes que ela me pagou mais do que o combinado só para eu não perdesse nenhum período na faculdade.
- Eu não sei nem o que falar Flávia. Sinto muito por tudo que passou. Eu sinto de verdade. - Fui muito sincera. Sua história me afetou bastante e eu não conseguia entender porque.
- Tudo bem Renata. Você não tem que sentir. Eu estou bem agora e tive sorte de encontrar pessoas tão boas que me ajudaram. Poderia ter sido diferente. É exatamente por isso que quero ajudar quem não teve a mesma sorte que eu.
- Pode contar comigo para o que precisar. - Falei estacionando o carro na frente da casa que Flávia tinha me passado o endereço. Era uma lugar simples, mas bem arrumado. Tinha um jardim bem cuidado e a casa era amarela com uma pequena varanda na frente. Me lembrava muito o interior. Tinha algumas árvores também.
- Obrigada Renata. Eu gostei de conversar com você. - Ela sorriu lindamente.
- Eu também. Podemos conversar de novo se quiser.
- Claro, será um prazer. Boa noite. - Ela beijou a meu rosto e saiu do carro. Caminhou lentamente até as escadas da sua varanda.
- Flávia! - Gritei saindo do carro.
- Sim?
- Queria te levar em um lugar.
- É mesmo? Que lugar? - Perguntou surpresa.
- É um orfanato que dou assistência. Acho que você vai gostar de conhecer as crianças que moram lá.
- Eu vou adorar.
- Então vamos marcar para amanhã?
- Amanhã?
- Só se você tiver tempo.
- Tudo bem. Pode ser amanhã.
- Ok. Te pego as 9 horas?
- Ok.
- Boa noite Flá.
- Boa noite Renata. - Fiquei esperando até que ela entrasse em sua casa. Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto. Não sei porque, mas sua presença me deixava feliz. Amanhã eu a levaria para conhecer um dos projetos que participo e aproveitaria para conhecer mais sobre essa bela mulher. Estou curiosa ao seu respeito. Não é nada demais. Só curiosidade.
Fim do capítulo
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