17. Caindo na Real
ELISA FRANCO
Que vida de merd*.
Que horas são?
Eu só quero ficar aqui nessa cama e esquecer de todo o resto. Abro meus olhos com dificuldade por causa da luz do sol, que invade o meu quarto. Não acredito que esqueci de fechar essas drogas de cortinas.
Que dia é hoje?
Eu tenho que tomar um banho. Me levanto devagar pra não ter tonturas. Me sinto um lixo. Olho no espelho e não me reconheço. Se as grandes revistas me vissem agora nunca mais iriam me contratar. Meu cabelo está todo desgrenhado. O único sinal de maquiagem é o rímel borrado que deixou uma enorme mancha preta abaixo dos meus olhos. Minha roupa, a mesma de dois dias atrás, está toda amarrotada. Parabéns Elisa, você é oficialmente a cara da sofrencia. Se a Marília Mendonça te visse agora, com certeza, teria muita inspiração pra compor um novo sucesso.
- Ai! Quem é que ta gritando? - Olhei para o meu celular irritada. O nome do meu amigo Mateus aparecia na tela. Sinceramente, eu não queria falar com ninguém. Mas se eu não atendesse ele não pararia de ligar.
- Que foi?
- Nossa, cadê a educação Lizzy?
- Fala logo o que você quer Mat?
- Você esqueceu ou o que?
- Do que você ta falando?
- Eu estou no aeroporto a uma hora e minha amiga que prometeu me buscar está em casa com uma voz horrivel de ressaca e com dor de cotovelo.
- Minho nossa, eu esqueci Mat! Me desculpa. Só preciso de 20 minutos. Já chego aí.
- Calma Lizzy, eu já dei um jeito. Só me manda a sua localização que eu vou de uber.
- Tem certeza?
- Claro, eu quero trocar de roupa e dormir um pouco.
- Desculpa mesmo Mat. Eu estou uma confusão. - Realmente eu precisava do meu amigo.
- Eu não vou demorar a chegar. Agora você vai parar de se lamentar e vai tomar um banho. Vou passar no Mcdonald e comprar nosso almoço.
- Mas eu não quero trocar de roupa. Só quero voltar a deitar.
- Elisa, me escuta. Você é a mulher mais forte que eu conheço. Nada nunca te abalou. Mesmo quando o Tio Franco morreu você continuou cuidando de tudo. Eu sei que tá doendo, mas quem perdeu foi a Sophie.
- Porque eu sinto que a perdi pra sempre?
- Porque você é dramática. Isso é só uma briguinha de casal. Logo vocês vão está no maior love de novo. E se isso não acontecer, sinto muito por ela, que vai perder uma mulher incrível. - Meus olhos se encheram de lágrimas.
- Mat?
- Fala amiga.
- Eu te amo. Você é o melhor amigo do mundo.
- Eu sei. Você vai sair dessa. Eu estou aqui pra te apoiar. Agora, por favor amiga, me manda essa localização que eu ja estou dentro do uber. - Um sorriso tímido surgiu em meus lábios.
- Ok, até depois. - Desliguei a chamada e mandei a localização pelo Whatsapp.
Me arrastei até o banheiro. Tirei minha roupa e liguei o chuveiro na água gelada. Se essa deprê não queria me deixar eu iria arrancá-la.
Porque ela não me amava? O que eu fiz de errado? Desde o início eu a amei e faria tudo de novo, porque os momentos que passei com ela, foram o melhores da minha vida. Só que eu não vou me machucar mais. Sophie precisa entender que eu não sou igual ao Marcos e que se ela quiser ficar comigo tem que ser de verdade. Sem reservas e sem restrições. Com direito a comemoração do dia dos namorados e apresentação para a nossa família.
SOPHIE LOPES
- Sophie, acorda. Você precisa comer alguma coisa. - Ouvi a voz doce de Lara. Ela chegou ontem e me encontrou em um estado deplorável. Se não fosse por ela eu nem teria levantado do sofá.
- Lara, eu não estou com fome. Deixa eu dormir mais um pouco. - Coloquei a coberta no meu rosto.
- Mana, reage por favor. Sei que não é o momento pra perguntar, mas o que aconteceu? Ontem você estava irreconhecível. Nunca te vi assim antes.- Lara parecia muito preocupada.
- Eu sou uma idiota. - Falei ainda com o rosto coberto.
- Porque você tá falando isso? - Ela deitou ao meu lado e me abraçou.
- Eu a magoei Lara. Eu realmente a mogoei.
- E se vocês conversarem? Acho que as coisas podem se esclarecer. Você tem que pedir desculpas dela.
- Não é tão simples assim Lara. Aconteceu algo horrível. - Só de pensar em Marcos segurando o braço de Elisa fazia com que minha raiva voltasse outra vez.
- Me conta o que aconteceu. Eu não aguento mais te ver assim. - Me ajeitei na cama e encarei minha irmã.
- O Marcos tentou bater na Elisa.
- O que? Ele só pode está ficando louco. Eu vou matar aquele desgraçado. Vou quebrar a cara dele.
- Eu fiz exatamente isso. Não me segurei. Dei um soco na nariz dele. Fiquei com tanta raiva que não pensei, só agi.
- Eu daria tudo pra ver essa cena. A Elisa ficou bem?
- Sim, talvez um pouco assustada. Mas o pior aconteceu depois.
- Vamos, não me deixe curiosa.
- Elisa disse que me amava e eu fiquei paralisada.
- Paralisada como? Você simplesmente não falou nada?
- Eu não sei o que deu em mim. Não sabia o que falar.
- E como ela reagiu?
- Ficou muito magoada. Disse que ela não era o Marcos e que nunca me magoaria. Pediu para que eu deixasse ela me amar.
- Ela te ama mesmo Sophie. Depois de você não ter falado nada ela ainda tentou.
- Isso não me ajuda Lara. Eu já sei que fui uma idiota. O pior é que não sei como consertar as coisas. Principalmente porque ela não quer mais o nosso acordo e eu estou com medo de não tê-la nunca mais.
- Que acordo Sophie?
- Lembra que você queria saber o que aconteceu no carro naquela noite?
- Claro, você não quis me contar. O que aconteceu?. - Lara perguntou curiosa.
- Elisa me propôs uma relação com sex*, mas sem envolvimento.
- Pelo visto não deu certo.
- Estava dando certo até que o Marcos apareceu.
- Sophie, desculpa falar irmã, mas as vezes você é muito lenta.
- Do que você ta falando?
- Você podia achar que estava tudo perfeito, mas a Elisa, ao que tudo indica, não estava satisfeita com esse acordo.
- Eu percebi isso a alguns dias. Ela estava estranha e distante. O nosso jantar era justamente pra mim descobrir o que a estava deixando tão mal. Só que as coisas aconteceram da forma errada. Quando eu menos percebi, Elisa já estava saindo do carro e entrando na sua casa.
- Porque você não foi atrás dela irmã?
- Eu não sei. Fiquei com medo.
- Medo de quê?
- Eu não sei se estou pronta pra me apaixonar de novo.
- Acho que já é tarde pra dizer isso.
- Você acha que estou apaixonada?
- Quando você terminou com o Marcos, ou com qualquer outro namorado, você simplesmente esqueceu. Continuou seguindo como se o término fosse apenas um negócio. Mas agora, você está nessa cama a dois dias e não tem vontade de comer. Sei que sente saudades de Elisa e não para de pensar nela. Se isso não é amor, eu não sei o que é.
- E se eu me machucar?
- Você vai deixar que o medo te impeça de viver essa experiência incrível? Eu não sei muito sobre relacionamentos Soph, mas eu sei que a Elisa te ama. Percebi isso desde o dia em que a conheci. Você precisa confiar nela se não vai perder a oportunidade de ser feliz do lado de uma mulher que faria qualquer coisa por você. Você está pronta pra viver sem a Elisa?
- Não, eu não quero viver sem ela. Estou quase morrendo sem saber como ela está.
- Então o que você ta esperando?
- Você quer que eu vá na casa dela agora?
- Por telefone é que não vai ser né Soph.
- Você tem razão. Eu vou agora mesmo dizer para a Elisa que eu errei e que sinto sua falta.
- E vai comprar chocolates e flores. Porque você precisa de toda ajuda possivel. - Rimos. Eu já me sentia melhor.
- Obrigada Lara, desculpa não ter te contado antes. Você se tornou uma mulher muito madura. Passamos tanto tempo longe uma da outra que eu não percebi o quanto você cresceu.
- De nada irmã. Saiba que eu estou do seu lado e que te amo muito. - A abracei e ela fez carinho no meu cabelo.
- Eu te amo. - Falei baixo.
- Eu também. Por favor não esquece de tomar banho. - E o clima fraternal acabou.
- Essa é Lara que eu conheço. - Brinquei me levantando e caminhando até o banheiro.
- Ainda bem que estou aqui. Você é uma desastre abulante Soph. Agora se apressa que já está tarde.
Tomei um banho rápido e demorei um pouco pra me arrumar. Se eu iria reconquistar a confiança de Elisa tinha que ter todo tipo de ajuda. Inclusive a sedução.
- Como eu estou?
- Perfeita. A Elisa não vai resistir. Vamos que eu quero voltar logo.
- Você vai?
- Sim, eu quero usar seu carro e sei que não vai voltar pra casa. Amanhã tenho que visitar uma amiga que não vejo a muito tempo.
- Eu posso pegar um uber então. - Peguei minha bolsa e abri a porta de casa.
- Nada disso. Você acha mesmo que eu vou perder a oportunidade de ver a cara da Elisa quando você se declarar? É a fofoca do ano Soph, você finalmente se apaixonou de verdade e além de tudo é por uma mulher. Melhor que isso só quando você for contar para os nossos pais.
- Sempre posso contar com você pra me deixar nervosa. Obrigada pequena.
- De nada. - Ela riu da minha cara. Aquela pestinha não tinha jeito.
- Vamos logo então. Ainda tenho que comprar o chocolate e as flores. - Saímos apressadas. Dirigi rápido tentando encontrar uma floricultura aberta, mas só consegui comprar os chocolates mesmo. Tinha que torcer para que o universo estivesse ao meu favor. Hoje eu me declararia para Elisa Franco.
ELISA FRANCO
Eu ia matar o Mat. Como ele teve coragem de dar uma festa na minha casa. Eu ja devia saber que as ideias dele de me fazer esquecer a Soph envolveriam bebida e dança. Agora, tinha gente por toda parte. Antigamente eu não reclamaria. Seria a primeira a me jogar na piscina, mas eu olhava pra toda aquela bagunça e tinha vontade de mandar todo mundo embora. Claro que não faria isso. Os paparazzis estavam lá fora só esperando uma manchete e eu preferia que fosse " A modelo Elisa Franco dá uma festa para comemorar a compra da sua nova casa". E não " Elisa Franco tem crise de loucura e expulsa todos os seus convidados a ponta pés."
- E aí, ta gostando? - Mateus veio até mim com um copo de cerveja.
- Mais ou menos.
- Se solta Elisa. Relembra os velhos tempos. Essa é a sua noite. Vamos comemorar. Eu estou aqui e só te deixo em paz quando você beber até cair e dançar até suas pernas doerem. Ficar com alguém também pode ser uma opção.
- Você sabe que os seus conselhos são os piores né? Eu já escultei uma vez. Olha onde estou? Sinceramente eu só quero subir para o meu quarto, colocar uma música de sofrencia e dormir.
- Nem pensar. Você não vai entrar nessa de novo. Vem, vamos dançar.
- Não Mat.
- Sim Lizzy. - Ele me puxou para a pista de dança. Ainda não sabia como Mateus tinha conseguido organizar essa festa em uma tarde.
- Só uma dança, ok?
- Tá, mas bebe essa cerveja logo. - Virei o copo de uma só vez e comecei a dançar. Se isso me faria parar de pensar em Sophie, eu iria fazer.
Depois de alguns copos de cerveja e muita dança eu já me sentia mais leve. A onde o Mateus se enfiou? Onde ele arrumou tanta gente? Caminhei até o quintal e forcei a vista para encontrá-lo, mas não achei.
- Elisa? - Me virei ao ouvir meu nome.
- Oi. - Falei meio confusa. Uma mulher alta e magra estava a minha frente. Era Renata, uma modelo que eu fiquei em uma das minhas viagens. Não fazia muito tempo. Talvez um ano.
- Lembra de mim? Sou eu a Renata. Do desfile de Londres.
- Sim eu lembro. Como você está? - Nos cumprimentamos com dois beijos.
- Bem. Eu não sabia que você estava no Rio. Me mudei pra cá a alguns meses. Daí o Mateus me ligou dizendo que você daria uma festa pra comemorar sua nova casa. Não podia perder a oportunidade de te reencontrar. A propósito, esse lugar é lindo. - Renata não mudou nada. Sua aparência continuava impecável e ainda falava bastante.
- Obrigada Renata. Você está ótima. Ainda trabalha como modelo?
- Não, aquilo é passado. Só precisava do emprego pra concluir minha faculdade de Direito. Agora trabalho em um escritório de advocacia. Se precisar de ajuda para fechar algum negócio, eu estou a disposição.
- Na verdade, ainda bem que você falou nisso. Estou comprando um espaço pra montar minha loja, mas os donos não querem vender tudo. Apenas metade. Eles querem me alugar a outra parte. Meu plano era comprar os dois andares.
- Passa no meu escritório amanhã. Vou te ajudar com esse problema. Vamos até a sua loja pra mim olhar o local. Temos que ter uma boa oferta para esses donos, eles parecem apegados. Ja aproveitamos e almoçamos juntas. Faz tanto tempo que não saio com você. Tudo bem?
- Tudo bem. Tem um restaurante lá perto. Vai ser bom pra contarmos as novidades.
- Sim, e a Professora Cláudia? Como ela está? - Minha mãe foi professora da Renata e as duas se davam muito bem. Ela sempre elogiava o desempenho da advogada.
- Ela está viajando. Foi para São Paulo palestrar em um evento.
- Quando ela voltar diz que eu mandei um abraço.
- Vou falar sim.
- Como está a vida? Sei que você se tornou uma grande estilista, com direito a coleção e tudo. Está em todas as revistas de moda. Fico muito feliz.
- Obrigada Rê, esse sempre foi meu sonho. Estou muito feliz também.
- Sim, eu lembro. Quando estavamos juntas você só falava disso. Nem na hora do sex* você parava de falar. - Rimos.
- E a sua vida, comos está? Além do Direito é claro.
- Eu mudei Elisa. Minha vida está totalmente desacelerada. Sou uma nova mulher. - Ela riu alto. - Eu tenho até um cachorro. - Isso não parecia ser grande coisa para algumas pessoas, mas Renata era a mulher mais desapegada e festeira que eu já tinha conhecido.
- Uau, você realmente mudou. - Brinquei.
- E não só isso, agora eu leio a noite e tomo chá. Isso até me assusta as vezes. Nunca achei que me tornaria esse tipo de mulher. Estou perdendo minha essência.
- Se serve de consolo, você não é a única. - Toquei em seu ombro.
- Como eu senti sua falta. - Renata me abraçou de repente. - Você continua a mulher mais bela que eu já conheci. - Seu comentário se perdeu quando eu avistei Sophie no portão me encarando. Seu olhar me queimava e eu já o tinha visto antes. Mas só quando aquela ruiva deu em cima de mim no evento da Bella Cosméticos. Meu coração acelerou e as borboletas começaram a fazer a festa no meu estômago. Mas a raiva que vi em seus olhos me deixou nervosa.
Fim do capítulo
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