Capitulo 6

Arthur

Assim que voltamos para a DP me certifiquei de levar o blazer de Carolina que realmente ainda estava em meu carro para uma lavanderia e por um preço maior eles entregariam limpo e passado em no máximo duas horas, aproveitei o tempo para atualizar minhas informações sobre o caso, sentia que estava chegando perto de resolvê-lo e logo colocaria minhas mãos em cima do culpado, Lisa e Enzi chegarem em uma conversa animada e isso poderia ser um ótimo sinal.

_ E então conseguiram algo? - Perguntei ansiosa.

_ Ah com toda certeza achamos. - Disse Lisa se aproximando da minha mesa com um pen drive. _ Eu consegui acessar os e-mails da vítima e tem umas conversas bem intensas aqui. - Sorriu e me entregou.

_ Isso é ótimo! - Disse empolgada.

_ Bom vou começar a investigar o barco enquanto vocês verificam os e-mails. - Disse Tafari Enzi se retirando sem dar brechas para contestações.

Lisa se sentou à mesa do meu ex-parceiro para começar seu relatório sem falar uma só palavra, pelo visto tinha decidido assumir uma postura apenas profissional e distante e achei melhor assim, logo aquele caso terminaria e ela teria uma boa experiência do que realmente era ser uma detetive e assim poderia fazer sua prova de admissão e enfim escolher outro parceiro. Já eu tinha que me concentrar em terminar meu relatório sobre Kevin Eliot e foi o que fiz. Duas horas depois recebi a entrega do blazer impecavelmente limpo e resolvi encerrar meu dia no DP, levaria o pen drive para casa para ler os e-mails com calma.

_ Lisa tenho um compromisso e estou encerrando o dia por hoje, mas pode me ligar caso Enzi traga novas informações tudo bem? - Disse recolhendo minhas coisas.

_ Sem problemas, eu estou de plantão hoje então amanhã é minha folga, mas se precisar de mim pode me chamar. - Disse ela séria.

Concordei com a cabeça e fui embora, resolvi passar em casa para tomar um banho não achei apropriado ir até a casa de Carolina fedendo a um dia de trabalho. Estava animada por meu dia ser tão proveitoso, coloquei uma música animada para tocar enquanto tirava minha roupa, tomei um banho quente cantando All In My Head - Fifth Harmony, lavei meus cabelos que constatei já terem crescido depois de quatro meses me deixando com um franja que resolvi pôr de lado enquanto secava, vesti uma calça jeans azul clara com alguns cortes na coxa e uma camiseta preta, apesar de ser 20h o clima estava abafado, peguei meu distintivo minha arma que coloquei no suporte na cintura e sai de meu apartamento. A viagem até o apartamento de Carolina foi breve e preferi não avisar até por que ela mesma havia pedido que fosse até lá, estacionei em frente ao prédio, olhei mais uma vez no espelho e desci indo em direção ao apartamento.

Cheguei em frente à porta e já ouvi uma música animada tocar, eu reconheci logo de cara a música de Mawi do desenho da Disney Moana, achei estranho uma mulher adulta ouvir músicas infantis mais não iria julgar afinal eu mesma chorei vendo o mesmo desenho então apenas toquei a campainha e após alguns minutos me deparei com aquele lindo par de olhos azuis, sorri ao ver o seu sorriso largo e creio que ficaríamos nos encarando a noite inteira naquela porta se ela não quebrasse o contato.

_ Rubí? O que faz aqui? - Disse ela sorrindo.

_ Vim trazer seu blazer, espero não estar incomodando. - Disse sorrindo e mostrando o pacote que estava o blazer.

_ Ah obrigada... Eu tinha esquecido completamente, vem entra, não repare a bagunça estou com um hospede bagunceiro, por favor, fique à vontade. - Disse abrindo a porta para que eu entrasse.

O lugar estava diferente de quando eu tinha vindo da última vez, agora estava parecendo um jardim de infância, com brinquedos por toda a parte e o desenho passando na televisão. Antes que eu pudesse pergunta a Carolina o que era aquilo tudo ela chamou a causa daquela mudança toda, o menino de cabelos aloirados veio correndo do banheiro e se jogou nos braços da mulher ao meu lado.

_ Rubí este é meu filho Arthur, Arthur diga oi para amiga da mamãe. - Disse ela segurando o menino.

_ Oi eu sou "Atu" "muto" "pazer". - Disse ele sério estendendo a mãozinha.

_ Olá Arthur eu sou a Rubí e o prazer é meu. - Falei apertando sua mão como se fosse um adulto.

_ Ótimo agora que vocês foram apresentados o que você acha de ir lá pegar a sua toalha para tomar banho hein? - Disse ela colocando o menino no chão.

_ Momi vamos comer "pitiça" hoje? - Disse ele esperançoso.

_ Sim com muito queijo e calabresa. - Disse Carolina fazendo cócegas no menino o fazendo rir e sair correndo para o quarto.

Vi toda a cena encantada, ver Carolina daquela forma tão entretida com seu filho a deixava mais encantadora, ainda estava sorrindo quando ela se direcionou a mim.

_ Desculpa por isso e obrigada por trazer meu blazer. -Disse pegando-o e deixando em cima do sofá.

_ Não se preocupe adoro crianças, por que não disse que tinha um filho? - Falei adentrando a sala.

_ Não sei, acho que não vi a oportunidade e infelizmente ele não mora comigo, hoje me deixaram ele de surpresa, mas enfim, fica para o jantar? - Disse cruzando os braços em baixo dos seios.

_ Não... não quero atrapalhar vocês. - Desviei meus olhos de seu busto, Carolina vestia calça de moletom e camiseta de alças finas e pelo visto sem sutiã, seu cabelo estava amarrado em um coque frouxo e bagunçado o que a deixava ainda mais linda.

_ Rubí foi uma pergunta retórica, se você for embora ficarei extremamente chateada. - Disse se aproximando de mim entrelaçando seu braço no meu e me conduzindo ao sofá como se fossemos intimas. - Só vou pedir que deixe sua arma no alto da estante para que não fique próxima do curioso do meu filho, vou ver o que ele está aprontando que não voltou com a toalha.

Carolina se afastou com seu rebol*do e não tive como não a olhar, me peguei pensando como seria tocar sua cintura ou sentir a textura de seu cabelo entre meus dedos, céus eu estou afim de uma mulher está mais do que claro isso e a ideia me deixou inquieta, me movi até a estante para colocar a arma e o distintivo lá e vi as fotos que não havia reparado antes, eram fotos de Carolina com Arthur, Carolina sorrindo e mais fotos do menino ainda bebê e nenhuma foto do pai fiquei pensando se ela era separada ou viúva. Voltei para o sofá cheia de curiosidade sobre a vida daquela mulher que percebi eu estava me interessando, me sentei aguardando ela voltar e aproveitei para pensar sobre o que estava acontecendo comigo afinal se eu não estivesse atraída por Carolina eu não sabia o que era, me sentia como uma adolescente, ficava nervosa com sua simples presença sem falar das malditas "borboletas" que deixavam meu estômago irritado, em minha próxima consulta conversaria com a minha psicóloga ela deve me fazer entender tudo isso, por hora vou apenas me concentrar em não deixar transparecer para não acabar perdendo sua amizade.

Arthur voltou para a sala vestido de calça flanela com desenhos de cometa e uma blusa de manga do mesmo modelo, se sentou ao meu lado e ficou me encarando sério o olhei da mesma forma até que fiz uma careta e o menino caiu na gargalhada.

_ Você gosta de "bincar" igual à momi? - Perguntou descendo do sofá.

_É claro que sim, do que gosta de brincar?

O menino abriu um sorriso radiante e começou a falar sem parar do que mais gostava de brincar e foi pegar seus bonecos de super herói e ficamos brincando entretidos no sofá, a brincadeira tomou toda a minha atenção e me esqueci do tempo. Arthur era uma criança encantadora assim como a mãe, estávamos em um duelo épico entre o Batman e o Superman quando ouvimos a campainha tocar, me virei para ver que Carolina estava encostada ao batente da porta sorrindo se movendo apenas para atender a porta informando que deveria ser a pizza que encomendara, parecia ter tomado banho, pois havia trocado de roupa, estava com um short curto de flanela e outra camiseta do mesmo estilo. Arthur comemorou ao ver a caixa com a comida ser levada para a cozinha, Carolina ordenou que lavássemos as mãos para comer e fomos juntos fazer o que ela havia mandado. Nos sentamos a mesa que estava posta com copos de refrigerante e pedaços de pizza, comemos em uma conversa animada, Arthur não parava de falar nem um só minuto sendo repreendido pela mãe por falar de boca cheia.

_ Momi sabia que a tia" Ubí" sabe "bincar" de "helói"? - Disse ele depois de engolir a comida, Arthur ainda tinha muita dificuldade em pronunciar algumas palavras e isso o deixa ainda mais fofo, me controlei muito para não o apertar.

_ Sério? Mas a mamãe também brinca de herói com você amor. - Disse ela rindo.

_ Mas a tia "Ubí" "binca" melhor momi, tia "Ubí" vamos "bincar" mais depois de jantar ou podemos ver desenho? - Disse o menino empolgado.

_ Claro que sim Arthur que tal vermos o desenho que você mais gosta? - Sugeri a opção mais tranquila para aquela criança agitada fazendo sua mãe fazer careta.

_ Oba!! Vamos ver Rei “Leião”!

_ Está bem, mas agora termina sua pizza amor- Disse Carolina limpando a boca do filho. _ Ele ama esse desenho já vi tantas vezes que sei as falas da maioria dos personagens. - Disse ela com ar de falso sofrimento.

Após o jantar Arthur me pediu ajuda para escovar os dentes e fui de bom grado, quando voltamos à sala já estava arrumada e com desenho pronto para ser dado play na televisão, o sofá eu percebi que era um sofá-cama agora que estava aberto, Carolina terminava de esticar uma manta sobre ele, Arthur subiu e começou a pular sendo contido pela mãe que se deitou logo em seguida o trazendo para o seu lado, me deitei ao lado de Arthur e começamos a ver o desenho que ele tanto gostava, em algum momento vi o menino deitando em meu peito e sem perceber o aconcheguei por puro instinto, virei meu rosto e vi os olhos de Carolina me encarando de um jeito intenso, será que ela sentia o mesmo que eu?

Olhei de seus olhos para sua boca e engoli em seco, não havia dúvidas eu a desejava, o problema era saber se ela queria o mesmo, e se quisesse? O que eu faria? Como faria? Meus pensamentos foram interrompidos ao sentir o menino se aconchegando ainda mais em meus braços, sorri ao perceber que ele havia adormecido.

_Acho que meu rapaz dormiu. - Sussurrou Carolina.

_ Muita energia um dia acaba, não é? - Falei acariciando o cabelo do menino.

Carolina tentou tirá-lo de meus braços mais o menino se agarrou em minha camiseta o que nos fez rir, pedi que deixasse comigo e ela apenas assentiu ainda rindo, me levantei com dificuldade segurando o menino em meus braços, o ajeitei em meu colo e fui conduzida ao quarto de Carolina onde o depositei adormecido na cama o cobri com o edredom e dei lugar para que Carolina desse um beijo de boa noite e acendesse a abajur ao lado da cama, saímos em silêncio deixando a porta encostada. Me dirigi a estante pegando minha arma que coloquei no suporte na cintura junto com o distintivo tudo sobre a supervisão de Carolina que estava encostada no batente da entrada do corredor que levava ao seu quarto e um banheiro, estava com os braços cruzados, a sala estava iluminada apenas pela televisão deixando o clima ainda mais tenso entre nós.

_ Obrigada por hoje Rubí, foi muito legal de sua parte ficar e entreter meu filho... pelo visto ele te adorou o que é raro. - Disse rindo meio sem jeito.

_ Não foi nada ele é um menino maravilhoso. - Disse tentando não a encarar para não transparecer o que eu sentia.

_ Já está de saída mesmo não são nem 23h ainda? -Disse ela em um tom diferente, sugestivo talvez.

_ É que tenho que acordar cedo amanhã e imagino que esteja cansada afinal esse rapazinho e ligado no 220. -disse rindo à fazendo abrir aquele maldito sorriso e para meu desapontamento não insistiu para que eu ficasse.
Ela abriu a porta para mim que sai meio hesitante, eu não queria deixá-la, mas não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para mudar a situação.

_Bom então até quinta no consultório. -Disse ao sair.

_ Então até quinta e mais uma vez obrigada por hoje.

Sorri e comecei a me afastar até que a mesma me chamou me virei para encará-la.

_Não mereço nenhum abraço de despedia? - Disse de braços abertos.

Sorri e neguei com a cabeça, voltei para abraçá-la. Senti seus braços me envolverem e a abracei, consequentemente senti seu cheiro, era um perfume doce e leve que me fez querer ficar naquele abraço para sempre, nos afastamos devagar roçando nossos rostos me causando um arrepio. Carolina olhou fundo em meus olhos e fitou minha boca molhando seus próprios lábios, senti que prendi a respiração ao observar aquela cena, o pânico venceu meu desejo e me soltei dela com um sorriso sem graça me despedi indo direto para o elevador quase correndo e só então voltei a respirar melhor, passei a mão no cabelo os bagunçando totalmente para aliviar minha tensão eu estava enlouquecendo ou Carolina quase me beijou? Respirei fundo três vezes antes de ligar o carro, mas que inferno por que ela não me beijou afinal? Vai ver é só coisa da minha cabeça, eu estou surtando de vez. Meu Deus eu quero realmente ser beijada por uma mulher! A clareza daquele pensamento me acertou em cheio e eu me sentia perdida e ao mesmo tempo empolgada, o turbilhão de pensamentos me atormentou pelo resto da noite juntamente com os pares de olhos azuis de uma determinada mulher.

Fim do capítulo