Nas entrelinhas
Tínhamos ido para a casa do Lucas, onde começamos a beber a cerveja que tinha na geladeira. Com ele, seguimos para a casa de um outro colega, no qual começamos a beber vinho, e eu, com mais cinco garotos e algumas namoradas seguimos para outro lugar.
No qual já era final e eu me encontrava completa bêbada, assim como Cristiano.
Não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido, e principalmente no que estava acontecendo entre mim e Catarina. Toda vez que pensava no seu rosto, meu peito parecia ser esmagado e eu era envolta em um turbilhão de pensamentos no qual muito deles eram íntimos demais para se pensar em público.
Tentando me desvencilhar disso a todo custo, comecei a beber mais e mais. Cristiano parecia também querer fugir um pouco daquela realidade mesmo sem ter dito nada diretamente sobre isso pra mim ou pra qualquer pessoa em qualquer momento.
Meus olhos estavam cerrados, e virava um pouco mais da cerveja já quente, sentada em uma cadeira de praia, vendo algumas pessoas dançando e curtindo. Cristiano, levemente trôpego, se sentou na outra cadeira ao meu lado.
— Puta que pariu – sua voz era visivelmente embriagada – o que tá te deixando perturbada, Teodora?
— Pensando numas coisas... – me virei pra ele.
— E essas coisas – ele me encarava por entre os óculos – envolvem a minha irmã?
Dei um riso contido porque parecia a reação mais adequada, e ele acabou me seguindo.
— Teodora – Cristiano apoiou as mãos em meus ombros – eu preciso te contar uma coisa. Você vai me ouvir, né?
— É claro – assenti, abrindo e fechando os olhos devagar – Claro que sim, Cris.
— Eu sei – ele falava pausadamente – que você está ficando com a minha irmã.
Não sei porque o jeito que ele falava era tão engraçado. O efeito da bebida ajuda, mas ele gesticulando os tapas com a mão ao contrário, batendo uma na outra.
— Teodora – sua voz era lenta – você tá trepando com a minha irmã, porr* – e começou a gargalhar.
— Eu não estou... – imitei o gesto que ele fez – Com ela.
— Para de mentir – ele deu alguns tapinhas contra o meu peito – que coisa feia! Eu vi... Vocês, assim – esfregou os indicadores um no outro – aí eu vi tu – e apontou o dedo para mim – saindo do quarto dela. Aí tu tem a coragem – e exaltou mais a voz – de falar que não tá saindo com ela?
Cristiano voltou a beber, e enxugou a boca, esfregando devagar.
— Téo – ele apontava pra si – a sexualidade da Catarina – e pressionava o canto da boca – não é problema pra ninguém, muito menos pra mim! Em casa é a coisa mais normal do mundo e sempre foi, por que não seria, né? – dizia ele dando com os ombros – O que eu odeio é o que ela é. Uma filha da puta – ele enfatizou bem essa palavra – metida a besta, arrogante e que se acha pra caralh*!
Só me prestava a concordar com a cabeça, pressionando os lábios.
— Não vou mentir – ele apontou pra si novamente antes de apontar para mim – fiquei com ciúmes. Eu já não tenho muitos amigos – e fazia uma cara triste – aí vai uma mina legal pra casa, aí a gente fica amigo, e aí... – em seguida de uma careta – Eu me senti meio abandonado, aí fiquei esquisito, aí achei melhor eu me afastar pra não incomodar, sabe?
— Você é um imbecil – apoiei minhas mãos em seus ombros e apertei – eu morri de saudades tua. Só não falei nada porque respeito teu espaço, sei que é importante pra ti. Onde é que tu ia ser um incômodo, Cristiano?
E o empurrei de leve para trás.
— Vai se foder! Eu gosto tanto de ti...– já me sentia emotiva – Não se afaste de mim pensando essas besteiras.
— Não inventa de chorar – ele me deu um forte abraço – eu também gosto muito de ti, mas, porr*, puta mau gosto pra mulher que tu tem, viu? – dizia ele se afastando de mim, fazendo uma careta – Vai se agarrar logo com aquilo?
Dei de ombros como resposta. Não ia ficar falando pra ele o que realmente achava de sua irmã.
— Mas eu estou sendo sincera quando digo que não estou...
— Cala a boca, não quero saber disso – e brindou na minha cerveja – vamos beber que é melhor.
Bebemos um pouco mais até sentir que já tinha chego bem perto do meu limite, e Cristiano já dormia no canto.
— Cris, vamos – dei um tapa no ombro dele – tá na hora já.
Para nossa sorte, lá não era longe de casa. Como já tínhamos nos perdidos dos demais, tive que usar o que restava de equilíbrio pra ajuda-lo a voltar junto comigo. Nos apoiávamos um no outro enquanto andávamos devagar. Já sentia minha cabeça rodar aos poucos, e a sensação flutuante vir junto.
Como era de se esperar, fizemos muito barulho para entrar, comigo saindo arrastada no portão enquanto ele gargalhava alto e eu junto. Tentamos entrar sem fazer mais barulho, mas sem sucesso, já que ele cantarolava uma música. Ajudei ele a entrar no quarto, no qual se jogou de bruços. Eu o deixei de lado e tirei seus óculos para que não entortasse.
A luz do outro quarto ainda estava acesa. Não fazia ideia de que horas eram, se era muito cedo ou muito tarde. Ainda assim, dei uma leve batida na porta. Ela se abriu, mas quem me recepcionou não parecia estar muito animada.
Catarina se prestou a cruzar os braços, provavelmente se perguntando porque eu sumi e apareci fedendo a cerveja e vinho barato querendo dar um discurso na porta do seu quarto.
— É que você mexe comigo de um jeito que ... – olhei para cima um instante, com os lábios entreabertos, procurando os termos certos antes de me voltar pra ela – Eu fico sem saber o que fazer. Além de você ser a mulher mais linda, inteligente e divertida que eu já conheci em toda minha vida...
E encarei os seus diante aquela luz baixa que vinha do seu quarto.
— Eu queria passar o dia todo com sua presença do meu lado...
Olhei para o chão por um instante, e concordei mais uma vez comigo mesmo.
— E também queria fazer amor contigo até chorar de tesão.
E me voltei pra ela, que me olhou surpresa. Já eu devia estar emotiva mesmo, respirando fundo e tentando mascarar o bico que fazia com os lábios quando fico triste, segundo minha mãe.
Mas, sua mão foi até meu pulso antes que eu me virasse, e apontou com a cabeça para dentro do quarto.
— Vem logo dormir, Téo.
Ela ouvia música baixinho, e lia, anotando algumas coisas em seu caderno. Também tinha acendido um incenso, e usava só a luz do abajur do seu lado. Sentei e me encostei na cabeceira, sentindo todo o peso do dia vir de uma vez contra meu corpo. Me sentia letárgica, e a decoração me fazia sentir ainda mais que estivesse em casa.
— Você não precisa encher sua cara... – ela foi até o guarda-roupa, e pegou uma camiseta velha – Pra falar como se sente pra mim.
Parou do meu lado, e me entregou as roupas.
— Tu só precisava chegar e falar em vez de me deixar sozinha e confusa sem entender nada.
— Me desculpe – pressionava os lábios devagar – Eu só não sabia o que fazer, fiquei com medo de fazer besteira...
Tirei a camiseta, e vesti a outra, e logo tirei minha calça, trocando por seu short. Era confortável, mas sentir seu cheiro junto a mim era ainda mais.
— Eu quero que você goste.
Ela suspirou, deixando os ombros relaxarem, e colocou minhas roupas na cadeira, indo logo sentar ao meu lado.
— Não se preocupe com isso, tá bom? – e foi me levando devagar para deitar com ela.
— Não está com raiva de mim por causa disso?
Catarina fez uma careta, negando em seguida.
— É claro que não.
Abracei-a com força, e encostei a cabeça em seu peito. Fechei os olhos, e me aconcheguei ali, pressionando ainda mais contra o meu corpo. Encarei-a com meus olhos cerrados, já sonolenta, e sua mão encontrou minha nuca, e a acariciava devagar enquanto se concentrava em sua leitura novamente, cantarolando alguma coisa. Aquele era o melhor lugar do mundo.
Queria que o calor do seu corpo fosse minha morada.
Eu não queria mais sair dali.
Fim do capítulo
Sumi porque o mosquito premiado acabou me encontrando e tive que ficar em repouso por esses dias rs mas, agora tudo certo.
Mal vejo a hora de ver a Teodora conhecendo a família querida dela. Será que a avó dela vai gostar de saber que a neta, além de gay, adora passar a noite no quarto da primogênita da família que ela tanto adora?
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Marta Andrade dos Santos
Em: 15/03/2024
Melhoras.
Família abençoada em Téo.
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