Capitulo 3

Nova Parceira

No sábado não corri nem metade do tempo que costumo fazer, pois recebi um sms da legista informando que havia conseguido identificar a causa da morte da menina do píer e coletou material suficiente para que pudéssemos identificá-la. O dia estava nublado e daqui a algumas horas com toda certeza iria cair um dilúvio, lembrei de pegar minha jaqueta quase no último minuto antes de sair de casa e seguir de carro para o departamento. Assim que cheguei dei de cara com Lisa que parecia estar ali há horas, teclava com determinação algo no computador da sua mesa que era paralela a minha, era a mesma mesa do meu antigo parceiro e vê-la ali me incomodou, era como se agora a morte dele estivesse mais presente e eu de fato não conseguia me sentir confortável, talvez a terapia realmente pudesse me ajudar. Dei bom dia a todos como fazia sempre, mas Lisa não respondeu, então cheguei perto para poder ver o que fazia e logo que me aproximei ela me disse ainda sem olhar pra mim o que tinha descoberto.

_ Cheguei cedo hoje e tomei a liberdade de ver o relatório da legista e estava pesquisando a vida da vítima, nossa deu trabalho. - Disse Lisa sorrindo e bem animada.

_ Há quanto tempo esses arquivos chegaram? Não faz nem 1 hora que a legista me mandou a mensagem! - disse surpresa

_ Deve ter uns 40 minutos ou um pouco mais eu acho. - Disse Lisa pensativa.

Lisa começou a abrir e fechar páginas me explicando sobre o perfil das redes sociais e contas em banco, abriu fotos tiradas recentemente e documentações, como identidade e carteira de motorista.

A olhei evidentemente surpresa. "como assim ela já achou tudo isso? quando peço algo aos rapazes do TI eles demoram horas para encontrar o nome da vítima". Lisa me explicou que pegou o resultado das digitais e jogou no banco de dados do governo onde as habilitações e registros civis estão e daí encontrar redes sociais fora a parte fácil.

A vítima era Jenifer London, 24 anos, cursava jornalismo na UEMC Universidade estadual de Mewtown City, a causa da morte era estrangulamento por corda grossa de material semelhante a cordas usadas em embarcações pequenas. Pedi a Lisa que continuasse a pesquisa e pedi que falasse com a legista, pois iria necessitar dos exames toxicológicos para descartar algumas opções. Falei com Gonzáles sobre as imagens das câmeras, porém as imagens eram péssimas e eles iriam ter mais algum trabalho para melhorá-las.

Peguei o endereço da Universidade e me propus a falar com a reitoria, afinal uma de suas alunas fora morta cruelmente e caso se tratasse de um maníaco outras estudantes poderiam estar em perigo também. Já passava das 10h da manhã quando cheguei à universidade, ainda estava nublado, mas a chuva iria demorar a cair, coloquei meu Ray ban na cabeça por puro hábito, reflexo de quando prendia a franja com eles... Cheguei à recepção e após mostrar o distintivo me conduziram a sala do reitor que me recebeu de forma tensa e surpresa. Era um homem branco alto e com porte atlético, tinha olhos azuis e seus cabelos castanhos davam pequenos sinais da idade, porém não aparentava mais que 33 anos, de fato um homem atraente.

_ Bom dia detetive em que posso ser útil?

_ Bom dia reitor Joseph sou Rubí Valdez da homicídios e minhas notícias não são boas. - Disse direta e séria.

_ Homicídios? - Disse o homem a minha frente se sentando chocado. _ Mas quem morreu e o que temos a ver com tudo isso?

_ Se acalme senhor Paige, na quinta-feira recebemos uma denúncia de um corpo boiando no lago de Okeebech e após algumas investigações chegamos à identidade de Jenifer London, ela fazia jornalismo em sua instituição, tenho essa foto tirada das redes sociais dela, o que pode me falar sobre?

O homem me olhava com olhos arregalados e demonstrava grande desconforto ao olhar a foto da moça.

_ É de fato uma fatalidade, mas não me recordo desta menina, temos muitos alunos detetive Valdez. - Disse o homem secando um suor imaginário de sua testa com um lenço.

_ Compreendo, bem não vou tomar mais seu tempo, vou precisar da grade de horários dela e de imagens das câmeras, meus agentes virão recolher o material necessário. Espero ter seu apoio.

_ Tudo bem o que precisar estaremos disponíveis.

_ Aqui está meu cartão me ligue se lembrar de algo, teremos que conversar com alguns professores e amigos próximos, então poderá ver eu ou um dos meus agentes por aqui por um tempo.

_ Sem problema estaremos a disposição, isso foi uma tragédia e ajudaremos no que for preciso. - Disse o homem pálido a minha frente.

Apertei sua mão e percebi que tremia, ele estava escondendo algo e eu iria descobrir mais cedo ou mais tarde. Pedi para a secretaria uma lista dos horários e nomes de professores e verificando a lista meu dia ia ser longo. Pulei o almoço para não ter que perder a linha de raciocínio, todos que havia interrogado diziam que Jenifer era uma aluna regular e por ser bolsista mantinha a média, pelo que ouvi de alguns colegas a jovem não era de farra ou drogas o que me fazia descartar algumas hipóteses, a chuva enfim começou a cair deixando o dia com cara de noite, a temperatura caíra rápido e pela quantidade de água não iria parar de chover nem tão cedo, então comecei a tomar coragem para ir embora, porém Sarah uma das colegas de classe que interroguei por último me chamou antes que eu fosse em direção ao carro.

_ Desculpa detetive Valdez, mas esqueci de uma coisa, pode ser que não seja relevante, mas... - disse a menina um pouco aflita.

_ Não tem problema Sarah tudo que você disser pode me ajudar a saber o que ouve com sua amiga, me diga o que você lembrou?

_ Bem... Ela namorava um ex aluno de artes o nome dele é Kevin Eliot, eles terminaram a menos de um mês quando Kevin descobriu que Jenny o estava traindo, ele era muito ciumento... Logo em seguida ele trancou a faculdade e agora... ela está morta. - disse Sarah começando a chorar desesperadamente.

_ E você era muito amiga dela ou dele? Sabia com quem Jenifer estava saindo?

_ Éramos amigas há pouco tempo coisa de um ano, ela era muito tímida sabe... Não consigo pensar como ela poderia ter um amante ela mal olhava para alguém sabe... desculpa... Eu deveria ter contado essas coisas antes eu só... Não acreditei que ela morreu sabe?

_ Ei se acalme, onde posso encontrar esse rapaz?

_ Ele trabalha em um barzinho na zona leste, tem uma fachada country não é difícil de achar... tome, esse aqui é o endereço.

_ Obrigada Sarah isso pode ajudar muito, fora esse rapaz... tinha alguém que dava em cima dela ou insinuasse algo? Ela tinha algum grupo de estudo?

Sarah tentou parar de soluçar e pensou durante alguns minutos como se refizesse os passos da amiga.

_ Jenny era muito regrada a horários, nunca se atrasava... no mês passado ela andava preocupada, mas não dizia o que era. Ela tinha horas marcadas com reitor as quartas e sextas e quando eu perguntava, ela só dizia que era algo sobre a bolsa e que estava tudo bem... Fora isso era só a faculdade, o Kevin e ficar em casa.

_ Você disse que ela encontrava o reitor as quartas e sextas? Sabe os horários? Ou o porquê?

_ Sempre após as últimas aulas isso seria às 16:30 por aí, na verdade todos os bolsistas que tenham alguma dificuldade em alguma matéria precisam ter aconselhamentos com o reitor, não sei muito porque as meninas bolsistas quase não se misturam, nunca entendi o porquê, mas Jenny era diferente delas...

_ Espera, Jenifer estava indo mal em alguma matéria? Vi os registros de suas notas e todas estão se não excelentes no mínimo na média?

_ Ela ia mal em duas que não me lembro agora e estava para se dar mal em outra e se isso acontecesse ela perderia a bolsa, mas aí ela foi chamada pelo reitor e em algumas semanas refez as provas e conseguiu aplacar a média algo assim.

Olhei meu relógio e marcava 15:00h, agradeci a Sarah que pareceu mais aliviada e fui novamente para sala do reitor onde perguntei a um rapaz onde estava a secretaria e o próprio reitor, o rapaz informou que a secretaria saía as 14:00 aos sábados e o reitor havia saído pouco antes de começar a chover, mas não dissera onde ia. Mesmo com o meu sexto sentido apitando preferi não emitir um alerta de restrição afinal ele ainda não era o suspeito e como reitor não poderia ir muito longe. Liguei para o departamento e Lisa me informou que ligara para os pais de Jenifer que moravam na zona rural e só poderiam chegar na segunda logo pela manhã, o resultado das câmeras só sairia na segunda se déssemos sorte, respirei fundo alisando um ponto de tensão entre meus olhos, liguei mais uma vez para o departamento e pedi que Lisa investigasse Joseph Paige eu a informei que iria para casa para montar o relatório dos depoimentos. Já no carro liguei o rádio para abafar um pouco o barulho da chuva que caía sem pena, tocava - Major Lazer- Cold Water, era incrível como música me animava e me tirava da fossa que alguns casos me deixavam e o caso da menina do píer era um desses. Dirigi por um tempo apenas curtindo a sensação de cantar alto e seguir sem um rumo, e sim eu sou completamente louca por fazer isso toda vez que me sinto chateada. Cantava aos berros - Happy - Pharrell Williams quando parei no sinal e a vi toda encharcada com a pasta de trabalho dentro do blazer, seu terninho totalmente colado ao corpo, abaixei o volume e o vidro do carro, buzinei duas vezes e percebi que ela me ignorou e se abraçou mais forte, imaginei que o frio da chuva a estava congelando, buzinei forte e a chamei pelo nome para que me ouvisse. Carolina franziu a testa tentando me reconhecer então me joguei um pouco no banco do carona para que ela me visse melhor, ela abriu um sorriso largo e se prontificou a entrar no carro.

_ Nossa de todas as pessoas que conheço não pensei que fosse você a me dar carona. - Disse Carolina passando as mãos ao lado dos braços, já havia tirado a pasta e posto no colo.

_ Oi para você também. - Disse a olhando de lado e dando partida. _ Então o que faz desse lado da cidade?

_ Vim buscar alguns documentos e você? - Disse Carolina meio gaguejando e levemente incomodada.

_ Vim a trabalho, onde mora? Posso lhe deixar em casa. -Disse concentrada no trânsito.

_ Na alameda Lincoln em Kendall Bay, sabe onde fica?

_ Claro que sei, fica a 3 quadras da minha casa. - Sorri com a ironia dos fatos.

Liguei o aquecedor e pedi que ela tirasse o blazer molhado e ela obedeceu sem graça, parecia que tudo que eu falava a deixava vermelha e sem graça. A blusa branca também estava molhada e revelava o sutiã de renda também branco. Me convenci de que meu olhar parado nos seios dela eram apenas admiração pela peça de sutiã que era de fato bonito, afinal eu nunca me senti atraída por outra mulher, sempre achei incrível a força feminina, os gestos e a delicadeza que eu nunca tive, enfim era isso que eu sempre olhava não era? Claro que era!

Parei no sinal ainda refletindo meu desconforto com Carolina quando ela puxou assunto me fazendo encará-la.

_ Você está bem Rubí? Está com um jeito tenso! - Disse Carolina cruzando as pernas.

_Estou, é só um novo caso que apareceu e ainda estamos longe de solucionar. - Menti.

_Entendi, seu marido ou parceiro não liga de você trabalhar em algo tão perigoso?

_ Não sou comprometida!  - Disse rápido demais para meu próprio gosto e até ela pareceu reparar já que agora me encarava curiosa, então apenas pigarreei e continuei. _ E você? Ninguém que pudesse pedir socorro hoje? Digo, não que a pessoa devesse ter um carro, às vezes ele possa estar ocupado também... Enfim, não me leve a mal, às vezes me expresso mal.
- Disse ainda olhando fixamente para a estrada e era perceptível meu embaraço.

Carolina soltou uma risada contida e respondeu ainda rindo.

_ Não sou comprometida fica tranquila não levei a mal seu comentário.

Conversamos amenidades por mais algum tempo até que chegamos ao nosso destino, Carolina era um furacão de alegria e nunca ficava calada, em pouco tempo já descobri que não aceitava não como resposta e quando vi já estava sentada em seu sofá enquanto ela se trocava em seu quarto, ela me convencera que me devia desculpas pelo dia desastroso que tivemos quando nos conhecemos e como eu ainda não havia almoçado me convencera em ficar para o almoço quase janta que prepararia. A chuva parecia ter aumentado quando Carolina saiu de seu quarto prendendo seu cabelo em um rabo de cavalo curto, vestia um blusão branco um pouco transparente e um minishort que revelava coxas torneadas, notei que não usava sutiã e lá estava eu a observando de novo, ela estava falando algo sobre gostar de cozinhar, mas não ter muita gente para quem demonstrar seus dotes culinários ou era isso que deduzi pois não ouvi metade.

Fiquei boa parte do tempo sentada na bancada enquanto ela cortava ingredientes e colocava uma massa no fogo, ela tinha gestos fluidos e uma delicadeza que era adorável, enquanto o molho fervia e a massa descansava me deu uma taça de vinho e brindamos ao acaso, fazia tempo que não me sentia relaxada na presença de alguém, minha vida era sempre tão tensa e corrida que mal tinha tempo de comer meu macarrão instantâneo vendo a algum desenho na televisão. Sentamos a mesa e ela me serviu uma boa quantidade de massa que pela aparência e cheiro estava incrível e logo que se serviu se sentou a minha frente, a mesa era para quatro pessoas no máximo, logo ficamos próximas o suficiente para eu sentir a perna dela próxima a minha.

_ Nossa está divino, você realmente cozinha muito bem! - Disse sincera ao experimentar, meu estômago agradeceu por eu finalmente alimentá-lo.

_ Ah obrigada espere até a sobremesa. - Disse Carolina sorrindo enigmática.

O comentário sobre a sobremesa me fez sentir um leve arrepio na coluna que me obriguei a culpar um vento frio que passara em algum momento. Comemos entre risadas e quando a conversa morria me certificava em ficar olhando apenas para meu prato, o jantar acabou e a luz também, ficamos a luz de velas enquanto Carolina se jogava no sofá para descansar eu me sentia ainda mais inquieta, mesmo que eu soubesse que não havia nada de errado durante o tempo em que passamos juntas, porém minha imaginação estava começando a me pregar peças, fui tomando consciência que meu nervosismo vinha de estar próxima a ela, a  cada cruzada de pernas ou olhar mais demorado eu tinha que me forçar a reparar em um ponto qualquer na sala, em algum momento fui ao banheiro para respirar longe da atmosfera que era Carolina, quando voltei ela estava na cozinha colocando algo em dois pratinhos sentou do meu lado no sofá e me deu um deles.

_ Bom não sei se ficou bom, foi a primeira vez que fiz esse doce então pega leve nas críticas.

_ Nossa se eu vier em sua casa mais vezes vou ter que correr mais que apenas 45 minutos por dia e começar a correr 3 horas. - Disse brincando e rindo. _ O que é?

_ É cheesecake com geleia de morango, prova e me diz o que acha.

Provei o doce e fui no céu, foi o melhor cheesecake que comi na minha vida e foi exatamente isso que falei para Carolina, vi seus olhos azuis ganharem um outro brilho o que fez meu coração dar uma batida errada tenho certeza, ficamos nos encarando por alguns instantes, tempo suficiente para ver o contorno de seus lábios e voltar a encará-la, de repente o telefone da casa tocou nos tirando do torpor e ela foi atender. Fiquei um tempo processando o que diabos tinha acontecido comigo e pude ouvir parte da conversa mesmo que longe.

_ Oi amor da minha vida... Já jantou?... É mesmo?... Não se preocupe vou ir aí amanhã aí poderemos sair e depois você vem dormir aqui o que acha?... Então está combinado... beijos eu amo você viu... Boa noite!

A conversa era de fato muito íntima e carinhosa, senti um sentimento incomodo no estômago, ela provavelmente estava falando com o namorado ou alguém que estava só saindo pois ela afirmara que não tinha ninguém, era para eu me sentir bem não era? Afinal ela não estava tendo segundas intenções comigo... Então porque me sinto tão desanimada?

A luz voltou e Carolina retornou a sala e me encontrou colocando a jaqueta, já pronta para ir embora, inventei que recebi um chamado e teria que passar no DPMC antes de ir para casa, ela sorriu daquele jeito meigo e disse que adorou ter companhia para jantar e que quando eu quisesse repetir era só aparecer, me pediu desculpas de novo por tudo e eu apenas pedi que não se preocupasse com aquilo, nos despedimos com um "tchau" e fui direto para casa, eu precisava refletir e tomar um banho para clarear as ideias.

Fim do capítulo