If You Hate por Dud
Capitulo 2 - O Glorioso
EMMA JONES
O resto da tarde foi tranquilo, usei meu tempo na sala do jornal para pôr a minha cabeça no lugar, eu precisava continuar sã, precisava cumprir com aquele sacrifício. Sabia que Elio me procurava, meu melhor amigo de infância era de uma preocupação que beirava o exagero, talvez por ele saber como as coisas funcionavam dentro da minha casa. Meu pai era exigente quando se tratava na minha educação. Se a diretora tivesse ligado para ele, nós dois sabíamos na encrenca que eu teria me enfiado.
Não levou mais que 30 minutos pro italiano me achar na espaçosa sala do jornal, Elio Sardenha era quase a cópia da minha maior rival, só estou padronizando morenos de olhos claros, mas sim, eles de fato eram parecido, a diferença era que Elio prestava e era uma pessoa decente. Ele era quieto e muito observador, já estava a 10 minutos me olhando, talvez me estudando e aquilo estava começando a me incomodar.
- Quer dizer alguma coisa? - Perguntei impaciente, mas ainda não o olhava, encarava um ponto qualquer no chão na falha tentativa de acalmar os ânimos.
- Você sabe o que eu acho...
- Você só fala merd*, Elio. - Ri da filosofia idiota que ele tinha.
- Amor e ódio andam lado a lado, Emma - Ele suspirou, um romântico incurável.
- Só me ajude a pensar no que fazer, por favor, sem essa agora. - Suspirei e o olhei, vi em seu rosto preocupação e carinho, ele sofria junto comigo todas as vezes.
- Você pode falar que mais essa atividade iria engrandecer seu currículo, o que não é uma mentira. - O sorriso se apossou dos lábios dele e o mesmo veio em minha direção, se abaixando para ficar na minha altura no puff que tinha na sala de jornal. - Vai ficar tudo bem, sobre a detenção você diz que está estudando mais na biblioteca.
Sorri sem animo e concordei, ele tinha boas ideias, apesar de as vezes parece que estava em um programa infantil de ideias malucas. Eu gostava de fazer parte do pequeno grupo seleto que conhecia ele de verdade. Ele me abraçou depois de um tempo e depois se deitou com a cabeça nas minhas pernas, sabia que ele estava pedindo carinho, era sempre assim, ninguém imaginava como um dos nossos quarterbacks principais era tão manhoso, não fazia jus a sua altura e músculos. Se bem que por essa alta carência e o jeito que eu quase nunca nego carinho, que boa parte do colégio achava que tínhamos algo. Mas não, nunca. Eu e meu melhor amigo tínhamos muito em comum, o gosto por mulheres era o mais gritante.
Fomos caminhando calmamente para o refeitório, pouco me importei de estar um pouco suja do meu glorioso suco verde, ainda continuava linda e eu sabia disso. Peguei apenas frutas para o almoço, estava sem fome depois de toda aquela bagunça, Elio pegou um hamburguer e fomos andando até a arquibancada. Era o nosso lugar de almoço desde sempre, lembro de caçar com ele o lugar perfeito e era aquele, era o pedaço da arquibancada que ficava protegido do sol pela placa que tinha ali e a sombra durava sempre até o fim do nosso almoço. Assim que sentamos tive o desprazer de ver no meio do campo um trio sentado numa toalha, comendo e rindo, a morena estava com outra roupa, enquanto suas seguidoras siamesas ainda estavam de uniforme. Só de pensar que eu iria usar aquilo me dava calafrio.
- Como a Becca consegue ser tão gata? - Elio expos o pensamento que eu escutava ao menos uma vez ao dia desde que entramos no ensino médio.
- Cara, sério, você é um dos caras mais bonitos do mundo, todas as meninas da escola querem um pedacinho seu, você é popular, me dá UMA razão pra você nunca ter ido falar com ela durante todos esses anos, apenas uma. - O desafiei enquanto mordia a maçã.
- Você já me viu falando com garotas, eu sou confiante e quase um herói de filme, - ele suspirou e coçou a cabeça inseguro - mas quando eu falo com ela, parece que tem uma criança de 12 anos aqui dentro. Você lembra do halloween do ano passado?
- Como esquecer? - Ri quase engasgando com o pedaço de maçã. - Quem que diz "você é uma vaca adorável" pra menina que tá afim?
- Fala sério, Emma, ela tava fantasiada de vaquinha. - Os olhos azuis cintilaram com a lembrança.
- Vaquinha sexy, Elio, obviamente não era esse tipo de elogio que ela esperava. - Ri mais uma vez debochando da babaquice do meu amigo.
Ainda estava rindo depois de alguns minutos, era o tipo de cena que toda vez que eu lembrava me divertia, a cara da loira pra ele, ele se embolando tentando concertar, ela tentando até ajudar ele e ele simplesmente saindo do local. No fundo eu sentia que ela era tão afim dele quanto ele era dela. Terminei a maçã no tempo certo de ver o trio se levantando e vindo em nossa direção, senti meu amigo tensionar, eu tencionei junto, mas por motivo diferente, o meu era raiva. As três pareciam um grupo de supermodelos, apesar de Lily ser irritante, era gostosa. Mas a Frankie era de tirar o folego, a ruiva tinha cara de demoníaca, de uma forma boa, parecia quase que selvagem, ela estava nas minhas metas daquele ano.
- A que devo a honra? - Perguntei sarcástica, mas não consegui evitar de olhar para a ruiva, ela era gata demais.
- Quero falar com você sobre esse acordo que fomos colocadas. - Lily revira os olhos quando me vê quase babando em sua amiga e cruza os braços. - Quer um babador?
- Por favor, sem brigas! - Dessa vez foi Becca a falar, ela tinha o tom calmo e sereno. Ela sorriu pra mim e me estendeu a mão, olhei com desconfiança, mas senti uma cutucada em minha costela. Elio queria aquela aproximação. O que eu não faço por esse carinha? Apertei a mão da loira de cabelos curtos que sorriu animada. Era fofo. - Lily me disse que você vai entrar pras cheers, queria dar as boas vindas.
- Não por vontade própria, mas agradeço. - Sorri sem jeito.
- Só queria esclarecer o quão importante isso é pra mim, Emma. - Lily tomou a atenção pra si, a voz fina se fez presente aos meus ouvidos que simplesmente queriam explodir, eu a odiava por inteiro, até a voz.
- Pra mim também, Lily! Ou acha que eu perderia meu precioso tempo ficando do seu lado quase que o dia todo? - Era sempre assim, eu perdia o controle facilmente com ela, eu era um pouco mais alta e devo confessar que isso me fazia sentir mais imponente diante dela.
- Tá vendo? A bruxa não consegue se comportar igual gente. - Ela revirou os olhos impaciente e eu arqueei as sobrancelhas com o apelido que ela me chamava.
- Você é uma vaca! - Bufei
- Calma gente, isso precisa dar certo pra ambas. - Dessa vez foi a vez de Elio falar, mesmo embasbacado com a aproximação de Becca, ele ainda tinha zelo por mim e era notório o tom preocupado em sua voz. - Eu sei que parece difícil, mas eu tenho certeza que se a gente procurar muito bem, acharemos coisas em comum.
- Certeza que não, quase impossível essa mulher das cavernas ter algo de bom aí. - Lily debochou e eu senti meu rosto ferver, Elio passou os braços pelos meus ombros e vi o exato momento que Becca trocou os pesos da perna ao notar aquela ação, ela também achava que tínhamos algo.
- Fazemos assim, meus pais vão viajar hoje e a casa vai estar vazia, não quero festa, mas uma social podia rolar, só os amigos mais próximos de ambas. - Elio sugeriu simpático, mas ainda sim não tirava os olhos de Becca que oscilava em timidez e raiva. Ela devia achar que ele estava dando mole pra ela namorando comigo. Revirei os olhos com toda aquela situação. - Só os que podem evitar um assassinato.
O encarei quase incrédula e a morena fez o mesmo, mas antes de negar, Frankie e Becca deram o positivo com a certeza de que elas estariam lá às 19. Ninguém mais deu tempo de praguejar ou cancelar, as meninas arrastaram Lily em meio a protestos e eu estava escorrendo indignação.
- Fala pra mim que você não me vendeu pro diabo porque quer ter tempo com a Becca. - Cruzei os braços e o encarei séria, ele ficou em silêncio e coçou a cabeça.
- Em minha defesa, é de fato uma ótima ideia pra vocês se conhecerem além do que conhecem. - Ele sorriu travesso e passou os braços agora pelo meu pescoço como se fosse me dar um mata leão, nunca vou entender os garotos e sinceramente, nem quero. - Faça isso e eu prometo pagar seu lanche por uma semana.
- Três! - Semicerrei os olhos.
- Duas e eu limpo seu quarto durante uma semana. - Sorri estendendo a mão em concordância, ele sabia onde mexer comigo. Apesar de muito inteligente, eu era preguiçosa. Grave desvio de caráter. Mas eu estava bem com isso.
O resto do dia foi tranquilo, eu e Lily nos evitamos o dia todo, após a aula ainda tivemos detenção. Uma ignorou a existência da outra. Era quase como eu fosse invisível pra ela e ela pra mim. Era melhor assim, talvez se fosse assim desde o começo, nunca estaria passando por essas coisas. Espantei esse pensamento pra longe, não ia adiantar agora, já foi. Mandei uma mensagem pro meu pai avisando que dormiria no Elio e apesar dele ter sido um pouco contra, minha mãe intercedeu ao meu favor por ser sexta. Fui direto pra casa do meu melhor amigo, eu tinha uma parte do closet dele - uma gaveta e um espaço pra pendurar - só para as minhas coisas, o que era muito útil já que eu vivia dormindo por aqui. Eu estava nervosa, sabia a confusão que poderia e que certamente aconteceria com essa "social", Lily não era fácil de lidar, eu menos ainda, nunca ficamos perto em um ambiente onde não fosse a escola. Que os deuses me protejam de fazer uma loucura - socar aquele nariz em pé.
>>>
Eu já estava pronta, como só iria ter os mais próximos, me permiti usar um short de linho bege com um cropped preto, fiz uma maquiagem básica e os cabelos foram jogados para o lado, quem sabe hoje eu conseguiria ter um tempo com a Frankie? Elio que estava uma pilha por Becca estar quase chegando, os cabelos negros estavam caindo nos olhos dando um ar misterioso, mas o conjunto marrom e bege dava mais leveza, as tatuagens que não eram nada pequenas chamavam a atenção nos braços musculosos. Ele não parava de andar de um lado para o outro.
- Você vai fazer um buraco no chão, Elio. - Suspirei indo até a porta abrir, ele estava tão concentrado que nem ouviu a campainha da enorme casa em que morava, os pais do Elio eram médicos bem sucedidos e renomados, a sala dele era a maior sala que eu já pisei em toda minha vida, sem contar na piscina, sala de jogos, adega e em todas as suítes que a casa, mansão na verdade, possuía. Abri a porta e vi um loiro musculoso sorri em minha direção, Noah abriu os fortes braços e me apertou me tirando do chão, enquanto Elio era a pessoa mais preocupada do mundo, Noah era a pessoa mais despreocupada, inclusive com os estudos, o que me deixava um tanto quanto preocupada com meu amigo. - Que bom que chegou, Elio tá nervoso, a Becca tá vindo.
- Mano, eu trouxe coisinhas pra relaxar. - Ele sorriu mostrando o cigarro de maconha já bolado, eu sorri satisfeita e fechei a porta.
- Tá maluco, Noah? Lembra a última vez? - Elio enfim parou, sua voz estava carregada de medo.
- Elio, eu NUNCA vi ninguém fumar maconha e achar que sabe voar, só você! - Noah o acusou rindo e já indo pra cozinha comigo logo atrás.
- Eu juro que vi asas, mano - O moreno tentou se justificar enquanto um bico enorme tomava seu rosto.
- Certeza que alguém batizou sua bebida aquele dia. - Ri da possibilidade e me sentei já acendo o glorioso, a primeira tragada foi como alguém chegar de fininho e tirar um peso das minhas costas, eu aguentaria aquela social.
Elio abriu uma cerveja e sentou, aquilo relaxou ele, ele riu da lembrança e deu de ombros. Ficamos conversando e rindo de lembranças de nós três, minha vida inteira foi ao lado deles, me descobri em todas as nuances junto com eles, me descobri jornalista por causa deles, lésbica na brincadeira de 7 minutos no paraíso que Noah me fez entrar com Sara Parker no banheiro, estressada quando vi um menino zoando com Elio, amorosa quando eles se machucavam, enfim, eles eram meus melhores amigos. Ouvi a campainha tocar e senti um frio no estomago, me levantei e olhei para os meninos que estavam ali, suspirei.
- Boa sorte pra nós! - Desejei indo em direção da porta.
- Boa! - Ouvi os dois falando juntos e tinha certeza que ambos levantaram as cervejas.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/05/2024
Alguém avisa que vai dá merda!
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