Como Daniel havia dito,o encontrei na Praça solitude bem cedinho no outro dia. Ele e seus ternos impecáveis se depararam com mais uma versão minha, garotinha de vestidinho de alcinhas florido vermelho e branco.
Seu sorrisinho foi se abrindo a cada metro que eu me aproximava e como ele era bobo.ficou me olhando lá em pé.

--bom dia Abigail. Você tá linda hoje.

--hoje amanheci com mais vergonha na cara. To bem comportadinha.O que faremos hoje?

--você vai gostar.quero comprar algumas roupas novas para você.

--(rs) que droga ein. Acabou com meus planos de parecer uma verdadeira piriguete para sua filha.--ele sorriu com meu humor ácido e me acompanhou até seu carro.

--não pense que não gostei da sua roupa na primeira vez que nos vimos,eu adorei!foi tão fácil de tirar, mas quero te dar esse presente e vai precisar se quiser andar com minha filha.pode acreditar.

--tá bom então.só me pergunto como ela não fica desconfiada dessas suas saidinhas.

--quando ela se tranca naquele quarto não tem jeito. Sem contar que ela odeia sair de casa.a cidade não é muito grande e ela sempre esbarra com algumas meninas de Fortcastle.

--por que ela tem tanto medo dessas putas ein?vou acabar com a raça delas.

--mas sem exageros ok.não quero o delegado ou um advogado com um processo em mãos na minha porta.

--crime perfeito não existe, infelizmente.

Seguimos para uma rede de lojas da cidade e Daniel comprou sacolas de roupas pra mim. Foi divertido ver ele sentar lá e me esperar trocar cada uma e aprovar meus modelos e combinações. Ele me deixou a vontade para escolher meus preferidos e foi um fofo me dando seu tempo.

--você ficou linda em todas.

--claro que eu ficaria! (Rs) olha pra mim cara.--me olhei no espelho arrumando meu cabelo e eu tinha adorado aquele jeans colado e o moletom laranja que agora eu vestia.os tênis novos também foram a melhor terapia que já fiz.era por isso que rico adorava gastar. Que tesão!

--eu peguei os exames e tudo esta em ordem.fiz questão também de comprar alguns materiais escolares para você Abigail.espero que goste.--ele me entregou uma mochila amarela pesadinha e eu mal podia esperar para ver tudo em casa.era engraçado pensar que eu fiquei animada da mesma intensidade de quando eu ganhei apenas um caderno e uma caneta e acho que minha eu estudante estava pulando de alegria por dentro.--Podemos ir a Fortcastle hoje e falar com a diretora.--disse ele me assistindo abraçar a mochila.

--beleza.vou adorar conhecer nossa parceira de crime.

--(rs) se eu fosse você não me animava muito. Ela é uma tirana.Fernanda Melo só se importa com seus interesses.

--não é muito diferente das pessoas que conheço.

--só me deixe cuidar de tudo.depois que ela te botar dentro daquele colégio ela não será um problema.

--pensei que já estivesse tudo pronto.

--quero reafirmar meu pedido.nada pode dar errado.

Seguimos para Fortcastle e quem diria que eu iria para aquelas bandas da cidade,cruzando a ponte e subindo o morro com o intuito de realmente ir estudar por lá.aquela área florestada toda comprada para o colégio não me era muito interessante agora, mas antigamente eu gostava de me aventurar no bosque ao redor do colégio. Ele era vivo e me deu uma infância feliz longe dos meus problemas. Os riachos eram uma ótima opção e eu adorava seguir as folhas que caíam e seguiam a correnteza.Sendo domingo, a maioria dos alunos estavam em casa ou nos clubes que eram bastante conhecidos na cidade,muitos deles davam grande apoio a comunidade como o clube de reciclagem e saúde ou melhor os clubes de esportes. Mais uma maneira de mostrar a todos que os filhos de seus patrões também deveriam ser babados pelo que faziam ou lembrar a eles quem seriam seus novos patrões.

"Olhem pra mim eu sei jogar o lixo fora"

"Olhem pra mim eu sei nadar mais rápido"

Era uma porr* que eu não gastaria meu tempo. Eu preferia manter meu final de semana intacto e só pra mim. O que me veio a pergunta a mente, em que clube a filha de Daniel se encaixava?
Logo os portões gradeados de Fortcastle surgiram e o colégio se mostrou majestoso. O prédio de três andares e bastante comprido ocupava o topo do morro e era a coisa mais cara já construida naquela cidade.
Daniel estacionou e estranhamente o colégio estava vazio.o aviso de limpeza do prédio de bichos peçonhentos estava grudado na porta principal.

Atenção

No dia de hoje (domingo) realizaremos a limpeza mensal do colégio e todas as atividades extracurriculares estão suspensas até segunda-feira.

Atenciosamente sua diretora:Fernanda Melo.

--pelo visto melou nosso encontro.--brinquei com o trocadilho e Daniel sorriu.

--ela não me falou nada.

Daniel empurrou a porta e entramos.o interior dele em seus corredores estava completamente vazio mas o cheiro era real. O veneno do inseticida estava forte mas subimos o primeiro lance de escadas a nossa esquerda e fomos direto para a primeira porta que vimos.
Daniel bateu três vezes e o olhar dele nenhum pouco nervoso me passou uma certa tranquilidade. Ela não poderia ser tão ruim assim.
A porta se abriu e a bela mulher de cabelos louros e olhos escuros como a noite surgiu curiosa com seu olhar pronto para fuzilar quem fosse que a perturbasse, mas assim que viu Daniel e a mim baixou sua guarda.

--Senhor Winter,você veio.--disse ela voltando a entrar e nem liguei para o fato que ela me ignorou na hora.Daniel olhou pra mim e acenou apoiando minha entrada junto à ele.

Entramos..
Se tinha uma coisa que eu era boa era em ler as pessoas como um livro aberto.
Aquela quarentona com aquele vestido chique vermelho voltou a sua mesa cheia de marra clicando o salto pela sala e arrumando seu channel perfeitamente alinhado até sentar em sua cadeira,onde voltou a organizar sua papelada em uma pilha e fechando as abas do computador ela voltou sua atenção à nós. Seu olhar finalmente encontrou o meu e era cheio de indiferença. Ela realmente se achava a dona daquele lugar e uma mulher assim sempre gostava de marcar seu território. 

Eu tinha que ficar atenta.Ela não estava gostando nada do que Daniel queria.claro sua sala cheia de troféus numa estante tão brilhantes em ouro e prata me lembraram do porquê.

--vejo que decidiram seguir com o plano.--dissera ela calmamente.

--claro.eu disse para você que se não fizesse algo eu faria!--Daniel foi enérgico.

--sua filha precisa de ajuda psicológica e não de uma amiga comprada.sei que Fortcastle é composta por alunos de diferentes classes sociais e a sociedade que eles desenvolvem para socializar é um pouco elitista, mas não lhe dar direito de querer trazer a desordem para este colégio com essa ai.eu investiguei sua vida garota e ela é uma bagunça.--ela falou a mim e agora eu já sabia o que me viria.

--contou a ela que sou prostituta?--perguntei a ele e Daniel balançava a cabeça a negar me implorando para parar de falar.estava na cara que não.Opa..

--essa parte eu...pulei.--revelou ele.putz.

--ah que ótimo, mais um agravante.--disse ela com a sutileza de uma cobra pronta para o ataque.

--porr* Daniel,eu pensei que eu teria um nome falso e historinha feliz pra brincar aqui.--reclamei.

--esse linguajar não é aceito dentro desta instituição menina. E quando digo que investiguei sua vida digo que a família Collins já tem sua parcela de história escrita nos depoimentos da delegacia de polícia desta cidade.sua mãe,desacato policial e seu pai agressão em uma briga de bar.

--como conseguiu isto?

--minha família tem seus meios.meu irmão faz parte da corporação.sempre faço isso quando aprovo algum aluno e quando Daniel me trouxe o seu nome a minha mesa eu sabia que seria uma problemática, e com esse seu sobrenome sujo não vai nem dar para sonhar em ver você passar por aquela porta vestida com nosso uniforme.agora prostituta?(rs) sua sorte é que suas boas notas no seu antigo colégio me agradaram e sua ficha é limpa por incrível que pareça (rs). Por que não completou o ensino médio?

--por que virei prostituta.--falei debochando de toda aquela catalogação da minha vida exposta à mesa.

--não se esqueça do que posso fazer a essa escola Fernanda.só estou pedindo para me ajudar nessa.--Daniel foi no ponto e sua cara brava dizia que não estava brincando.

--ela é um problema e junto da sua filha serão dois mas vou te dar uma chance em nome do que está fazendo por essa garota. É um pai desesperado e minhas mãos estão amarradas.Tem outro nome Collins?

--só o de trabalho.

--falando nisso,por que nunca soube de você?

--trabalho na estrada saindo da cidade.--respondi e ela riu como se eu contasse uma piada.

--a velha estrada de cargas..pelo menos é uma garota inteligente.me diga o nome.

--Summer..

--Abigail Summer..--ela virou para seu PC e digitou o nome rapidamente.

--(rs) que original gente.--não aguentei em debochar mas ela me lançou um olhar que tive que me conter.

--agora saía. Quero falar a sós com Daniel.--praticamente ela mandou em um tonzinho que não gostei.

Daniel olhou pra mim e acenou.aquela tirana ia me condenar só um pouquinho mais dentro daquela sala e sai.
Esperei por ele no corredor por intermináveis minutos e eu já sentia minha orelha queimar.até que ele saiu com uma sacola em mãos.

--o que ela falou?ela falou mal de mim?porque se for eu entrou lá e dou uma bifa nela.

--calma (rs) você tem que ter cuidado ao falar assim aqui.de agora em diante ela é sua diretora e aqui estão seus uniformes.--ele me entregou a sacola todo sorridente mas ninguém ficava em uma sala tanto tempo só para contar coisa boa.

--o que mais?

--ela vai te inscrever como Abigail Summer no colégio.terá que ter boas notas mesmo não valendo nada e manter o padrão prestigiado de Fortcastle..ela também me pediu que..você atendesse ela sempre que ela chamar,não importa a hora.--essa ultima parte ele disse bem baixinho.

--o que?!pra que?

--parece que ela gostou de você.

--isso pode ter muitos sentidos Daniel.

--infelizmente. Quando ela chamar apenas apareça e faça o que tem que fazer.--aquilo me tomou com surpresa. Que tom seco.logo ele falando assim?

--pelo visto só vou trabalhar de puta pra quem você quiser né?--caminhei em direção as escadarias com ele me seguindo apressado.

--ela não vai te fazer nada Abigail.podemos confiar nela!

--eu já ouvi isso Daniel e nunca acabou bem.e-eu nunca fiz nada com mulheres e agora logo a diretora?!

--eu também não gostei dessa ideia mas fica calma.tudo passa.--olhei para ele e de onde ele sabia disso.ele riu brevemente.--é, eu vi como olha pra essa frase no braço da sua jaqueta e eu também acredito fielmente nisso.amanhã esteja aqui cedo.sete em ponto.vai dar tudo certo.eu mexi os pauzinhos para que você fique na mesma turma que minha filha.

--...e se nada der certo Daniel?e se ela..não gostar de mim?

--isso é impossível.(rs) eu gostei de você,a diretora também..

--você não sabe animar ninguém?

--(rs) quer uma carona até em casa?

--quero.

Daniel me levou para casa mas se antes eu tinha certeza do que faria depois dessa agora já tinha minhas dúvidas.
Botei a mochila nas costas e entrei rapidinho pra casa.fiz de tudo para que meu pai não visse minha mochila e quando cheguei no meu cantinho parei um pouco para ver tudo que eu tinha ganhado.
Roupas novas,tênis novos e toda a papelaria para o ano letivo.tinha canetas coloridas ali para pintar o próprio arco-íris.os cadernos dos mais variados e pincéis para as mais diversas obras.eu ia ser artista antes mesmo de perceber mas ainda havia algo que não me deixava em paz.talvez seria a estranha mudança de Daniel,que me escondia algo mais.talvez um acordo com aquela tirana como ele fez comigo?não importava.eu só estava ansiosa para o que Fortcastle me aguardava.

Fim do capítulo