Capitulo 11
Por Isabela:
Após finalizar minha agenda de atendimentos de terça-feira, fui até a casa da minha tia Raquel, que vivia no interior de Vintervile. A casa dela era um verdadeiro refúgio, com móveis de madeira rústica e plantas que pareciam abraçar cada canto do lugar. Ao adentrar, senti o aroma reconfortante de ervas frescas e flores que minha tia cultivava com tanto carinho. As paredes da casa estavam adornadas com fotografias antigas e pinturas que retratavam paisagens campestres.Estávamos na varanda, uma área aberta e ensolarada, onde a brisa leve trazia o cheiro das flores do jardim. O almoço, cuidadosamente preparado por minha tia Raquel, estava delicioso. O cheiro do pão recém-assado e o gosto da sopa de legumes caseira ainda pairavam no ar.
Quebrei o silêncio que nos envolvia, compartilhando as últimas novidades:
— Então, tia Raquel, a filha do Dr. Miguel vai mesmo ficar na cidade. Hoje de manhã, vi que ela já até mandou colocar uma placa com o nome dela na porta do antigo consultório do pai.
Minha tia me olhou com curiosidade, seus olhos brilhando com interesse:
— E como ela é, Isabela?
Suspirei, sentindo uma ponta de desgosto ao lembrar de Helena:
— Metida e rude. Mal a conheci e já não gosto dela.
Minha tia sorriu suavemente, sua expressão refletia uma mistura de curiosidade e compreensão: — Eu estou curiosa pra ver ela. Ouvi dizer que ela é linda e se parece com a falecida mãe, é verdade?
Pisquei, tentando lembrar da esposa do Dr. Miguel, mas acabei confessando:
— Eu não sei, não conheci a esposa do Dr. Miguel.
No entanto, não pude evitar recordar Helena. Ela era deslumbrante e imponente, com uma presença que deixava todos ao seu redor sem palavras. Seus olhos verdes profundos e intensos, combinados com seus cachos escuros, conferiam-lhe uma beleza única e uma aura de confiança. Mesmo que nosso relacionamento estivesse longe de ser harmonioso, não conseguia evitar que pensamentos confusos e conflitantes surgissem em minha mente. Rapidamente afastei esses pensamentos, lembrando-me que havia assuntos mais importantes em jogo.
Minha tia, sempre atenta, notou minha distração:
— Isabela, você parece avoada e um pouco triste. Sente falta do Dr. Miguel, não é?
Sentindo os olhos marejarem, respondi com voz embargada:
— Sinto, tia. Ele era meu mentor, meu apoio. Se hoje sou médica, é graças a ele. Você sabe o quanto ele me ajudou.
Raquel acenou, compreensiva:
— Sei que ele fez muita diferença.
— E a forma como a filha dele me tratou quando descobriu que o pai me deixou parte do hospital... Ela até insinuou que eu tinha um caso com ele — desabafei, sentindo o rancor queimando.
Raquel arregalou os olhos, surpresa:
— Como assim? Isso você não me contou.
— Isso mesmo, tia. Ela me julgou e me ofendeu — disse, com a mágoa evidente na minha voz.
Minha tia me olhou de maneira preocupada, mas se dirigiu a mim de maneira carinhosa:
— Não deveria se preocupar tanto com o que os outros estão pensando sobre essa situação do hospital, minha querida. Deixe o tempo esclarecer tudo. O que importa é que você está fazendo o que acredita.
Assenti com a cabeça e me levantei para ajudar minha tia a recolher a louça. Enquanto lavávamos os pratos na pia da cozinha, minha tia aproveitou para mudar de assunto, puxando a conversa sobre meu relacionamento com Lucas:
— E como vão os preparativos para o casamento, Isabela?
Olhei para minha tia e suspirei:
— Bem, ele está ansioso com os preparativos, mas com tudo o que está acontecendo agora, o casamento não é a minha prioridade.
Minha tia, com um olhar perspicaz, perguntou:
— Você não está se sentindo nervosa ou ansiosa em relação a isso?
Desviei o olhar, desconversando:
— Há muitas coisas acontecendo no momento, tia.
Minha tia apenas acenou com a cabeça, mas percebi que ela ficou pensativa com meu posicionamento em relação ao casamento.
Olhei para o relógio e percebi que estava na hora de retornar ao hospital. Sabia que chegaria atrasada, mas sentia que precisava desse tempo com minha tia. Despedi-me dela com um abraço apertado e entrei no carro, sentindo a tranquilidade do interior se desvanecer enquanto ligava o motor.
As ruas do interior de Vintervile eram tranquilas e arborizadas, com casas antigas e jardins bem cuidados que exalavam um charme rústico. O sol da tarde lançava sombras longas sobre a estrada, criando um cenário quase pitoresco. Enquanto dirigia, meus pensamentos se entrelaçavam em uma confusão de preocupações e reflexões.
Pensava no hospital, nos desafios que enfrentaria ao voltar e na tensão constante de trabalhar no mesmo ambiente que Helena. O casamento com Lucas também pesava em meus pensamentos. Os preparativos, a expectativa de todos e minha própria incerteza.
Perguntava-me se Helena estaria no hospital à tarde, imaginando como seria inevitável cruzar com ela. Sua presença impunha-se na minha mente, despertando sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo, a responsabilidade no hospital me chamava de volta à realidade.
O caminho parecia mais curto do que de costume, e antes que percebesse, estava de volta à rotina frenética do hospital. Estacionei o carro, respirando fundo e me preparando mentalmente para enfrentar o restante do dia.
Fim do capítulo
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