CAPITULO XLI
CAPÍTULO QUARENTA E UM
NYXS
Caminhamos lado a lado, ou melhor, tentamos. Porque a cada encostar de dedos ou raspar de braços era motivo para nos beijarmos. A sensação de ser correspondida me invadia de uma forma que eu não conhecia. Confesso que estava adorando. Eu tenho uma sede infinita pelos beijos da alfa, sonho com isso desde os meus doze anos, ou seja, há uma década. Nada mais justo do que tirar o atraso dos beijos que até bem pouco tempo só existiam nos meus sonhos.
— Amo essa loucura de querer te beijar o tempo inteiro, que saudade de te sentir assim. Você tem o dom de me enlouquecer, Nyxs.
Nara surrava a cada beijo, sem dizer coisa com coisa. Devia ser a emoção. Eu também sentia saudade de tudo nela, a sensação era de que estar em seus braços me levava de volta para casa. Seu corpo significava lar. Agora eu sei que sou e sempre fui a sua companheira e ela a minha. Estamos ligadas sem precisar reivindicar. Se isso for loucura, eu quero que ela enlouqueça nos meus braços, que perca a razão e me tome como sua fêmea aqui mesmo nesses recantos selvagens da enseada. Mas é até onde vai minha coragem. Morro de vergonha só de pensar em pedir.
— Por favor, pare com essa tentação. Vem me dar a mão, vamos caminhar.
Tudo o que eu menos queria era caminhar.
— Prefiro ficar sentindo seu corpo no meu. — Falei entre uma carícia e outra.
Abracei seu corpo colando no meu e cheirei seus cabelos, orelhas, olhos, ponta do nariz… Quando cheguei nos lábios, ela estava sorrindo. Nos beijar ficou mais uma vez incontrolável.
Fui descobrindo aos poucos que beijar quando estamos em pé é mais saboroso, o contato é mais íntimo e é mais difícil de parar. Continuei com os movimentos do meu corpo, ou seja, esfregando minha intimidade que na sua acada esfregada no ponto certo, minha vontade de abrir as pernas me oferecendo toda para o seu prazer e o meu mais ainda, apesar de tudo Nara acabou por me empurrar delicadamente e me puxar pela mão para caminhar.
A enseada, cheia de curvas largas e bastante vegetação, era um convite irrecusável para os amantes que queriam privacidade. Vista do alto do morro, se assemelhava a uma cobra rastejando até se perder no mato rasteiro no início da floresta.
No alto, o céu majestoso, escuro e repleto de estrelas dava um ar de saudade de casa, da nossa reserva e da nossa lagoa. Lá, sim, as noites sempre são claras, com. Ou sem lua, e musicais com os sons dos animais que habitam a floresta. Como se soubesse o que eu pensava, falou.
— Eu também queria estar em casa agora. Sinto falta do cheiro de Salém. Assim que descobrir o que está acontecendo aqui, passo tudo para Darius e a gente se manda.
— Não esqueça que nós duas precisamos reservar um tempo para treinar voo ou ir para Prythian treinar nos acampamentos longe da vista de todos. — Lembrei, pensando no convite que recebemos da Grã-senhora da Corte Noturna. Dizem as lendas que as amazonas eram mulheres implacáveis, invencíveis e que só lutavam em dupla, assim como nós. Se fôssemos treinar com elas, só tínhamos a ganhar.
— Soube através dos seus livros que as montanhas geladas chega 30 graus negativos. Não sei se as meninas ficaram contentes.— Também duvidava muito, principalmente Inaê que reclama de tudo, mas se fosse preciso mesmo elas suportam.
— Em outras cortes eles tem um verão muito intenso chegando o ano inteiro, mas para onde vamos o clima é mais frio, nada que não possamos suportar com nossa magia do fogo vai ser moleza.
— Sei que vão, e quanto suas asas sentiu elas querendo abrir outra vez?
— Senti um, comichão nas costas e um chamado do vento, parecia que ele me seduzia com sua música. E, quando vi os pássaros passaram voando, eu quis estar lá em cima com eles.—Ultimamente esse desejo aparecia do nada
— Vou concluir o caso dos assassinatos e iremos embora para cuidar dos nossos problemas.
Nara quando falava baixinho parecia sussurrar e como sua voz e fodidamente gostosa e grossa eu ficava perdida no assunto que conversávamos com a maior facilidade, quando menos esperava estava admirando sua boca, querendo mais beijos, meu Deus eu estava muito lascada com essa loucura.
Não respondi e continuamos andando na beira do mar. Ela segurava nossas sandálias, estávamos descalças sentindo a maciez da areia e a água morna do mar que vinha lentamente banhar nossos pés. O vento frio com cheiro de maresia era como um afrodisíaco e estimulante ao mesmo tempo. Para disfarçar o desejo insano que se pregou na minha pele e fez morada nas minhas partes íntimas, chutei água salgada em Nara, que caminhava tranquila admirando o mar. Quando os pingos frios atingiram seu corpo, ela me empurrou com delicadeza.
Aproveitei para botar para fora um assunto que vinha martelando na minha cabeça.
— Queria te pedir, ou melhor, avisar uma coisa. — Nara me olhou desconfiada com o tom sério de repente.
— Pode falar. Sempre pode dizer o que está pensando, independente de achar que eu concorde ou não. Nunca faça nada só para me agradar, primeiro quero que pense em você.
— Eu vou contar para as gêmeas e Helô. Nunca tivemos segredos e elas sempre fizeram de tudo para me ajudar a conquistar você. Sempre estiveram ao meu lado e não comentarão com mais ninguém.
— Então diga, mas acabou aí. As suas tias e mais ninguém, a Nalum depois eu converso com ela.
— Por que seu corpo não seca logo? Seu elemento também é o fogo, mas continua toda molhada.
— Ah, isso? — Apontou os pingos no corpo. — Eles estão prontos a entrar em ação caso eu surja uma ameaça, e como estamos como os pés dentro d’água, basta uma ordem são transportados pelo vento afogando o inimigo. É meu elemento; por isso, demora a ir.
Senti a vibração na água como se concordasse com ela.
— Ainda bem que não sou seu desafeto. Já tinha visto algo parecido com a Iara quando treinava em Salém, quase afogou a Manom por jogar um copo com água nela.
Nós estávamos treinando quando Iara derrubou sem querer a água que Manon estava bebendo. A água bateu em seus pés e voltou em forma de uma tempestade que caíam exclusivamente em cima dela, mais precisamente dentro do nariz e a sufocava. Desde então era proibido entrar com líquidos na academia. O que não diminuía o risco, porque ali tinham lobas que manejam qualquer elemento.
— Você também, além do ar, tem água como seu elemento. Não seria fácil te afogar, o ar criaria uma bolha como escudo e afastaria a água para longe.
— Eu sei, já testamos na academia. Por que não posso contar as guerreiras que estamos juntas?
De repente me bateu essa insegurança. E se eu não for boa o bastante? E se Nara me quiser só para não se sentir só? Sempre escutei sobre as amantes que ela arranjava quando viajava a negócios.
— Porque eu sou a alfa, tenho que fazer um pronunciamento. A alcateia tem que saber por mim que estou me laçando a outra loba, que também será tão alfa como eu, assim como é minha mãe. Não posso simplesmente te levar para minha cama sem explicar a meu povo minhas decisões.
— Você sabe que eu não ligo para esse tipo de coisa.
— Eu também estou cagando para esse tipo de tradição. Mas Esther liga, os meus pais e suas mães ligam e quero evitar Jana ou Amkaly faltarem com o respeito que você merece.
Ela estava certa. Mesmo não ligando, eu tinha que ser apresentada à alcateia para evitar que alguma fêmea quisesse disputar o coração da alfa quando soubessem que ela não esperava mais a mãe da Nalum. Isso era outra coisa que me preocupava. No dia em que ela voltasse, eu teria que duelar com a loba, com a mãe da minha filha, e não era uma coisa que me deixava animada.
— O que foi? O que está preocupando essa cabecinha?
Com uma mão afastou meu cabelo do rosto e, com a outra, segurou meu queixo, me fazendo olhar em seus olhos enquanto vasculhava meu rosto em busca de uma resposta.
— Nada de importante. — Menti. — Eu quero estar sempre ao seu lado, na guerra ou na farra.
— Acho que está escondendo algo que não quer me contar. — Concluiu. — Quanto à viagem, não vai gostar. Eu nunca vou a passeio, sempre para resolver coisas relacionadas à reserva e às vezes para comprar e vender material para fabricar armas. Não tem nada interessante.
— Você não entendeu. Eu não quero ir para me divertir, quero ir para estar com você. Dormir e acordar do seu lado. Não sabemos quando a grande guerra vai acontecer, pode ser hoje ou daqui a mil anos, então quero aproveitar cada segundo.
Nara parou de andar. Já estávamos em frente ao nosso chalé. Estava claro, com cheiro de comida no ar. Foi provavelmente Iara quem fez a refeição, ela é ótima na cozinha.
— Eu não esperava outra atitude vinda da sua parte. — Ela se estirou e olhou para o lado. Acompanhei seu olhar e, muito distante, pude ver uma cabeleira vermelha caminhando ao lado de uma loira. As duas pareciam muito entretidas na conversa e iam para os lados da casa de shows, certamente para a casa da Camile.
— Tem alguma coisa na amizade dessas duas que não me agrada.
Tentei ler sua expressão, mas só vi preocupação e muita desconfiança. Nara tinha um sexto sentido que a avisava quando algo ruim estava para acontecer.
— Acha que Camille está envolvida nas mortes?
— Queria ter a certeza, mas algo me foge, só terei certeza quando ver o que acontece na casa de shows. Acho que as mortes aconteceram com as pessoas que beberam o Bloody Mary.
— Eu tenho outra pergunta, quero dizer, um pedido.
— Eu sei que tem. Faça. — Ela sorriu e tirou uma liga que sempre estava em seu pulso para prender os cabelos em rabo de cavalo.
— Eu quero que, na próxima vez que eu entrar no cio, faça amor comigo.
Acho que realmente assustei minha alfa, pois ela parou e ficou olhando sem dizer nada. Olhei ao redor em busca de olhares curiosos, mas ninguém prestava atenção em nós duas. Abracei minha parceira e nos cobri com o véu da invisibilidade.
— Eu sou adulta, Nara. Todas as lobas que conheço já trans*ram, tenho até vergonha de dizer que sou virgem. Já passei do tempo de trans*r, fiquei esperando por você e venho sonhando com isso há muito tempo. — Sua expressão era impagável, presa entre o “não acredito” e o “será que ouvi direito?”.
— Não posso fazer isso. Se fizermos, o laço da parceria pode se completar, e ainda é muito cedo para isso.
— Não acho que seja cedo, acho que já passou do tempo, daqui a pouco estraga.
Nara se virou para onde tínhamos visto Amkaly e Camille. Uma terceira pessoa havia se juntado, vestindo um cachecol estranho e muito longo enrolado no pescoço. De onde estávamos, dava para ver ele se mexer com o vento até ficar quase ereto. Na ponta, estava a cabeça imensa de uma cobra. Ela se virou para nós, à procura do inimigo. Mais rápida do que ela, nos transportei para dentro do chalé. As guerreiras saltaram já com as armas em punho e Inaê gritou.
— QUE CARALHO DE PORRA É ISSO?!
Fim do capítulo
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