Marcela

Saí do Hospital com o coração na mão. Minha vontade era a de matar o Marcos com as minhas próprias mãos! Argghhh! Se algo mais grave tivesse acontecido com a Sophia, eu não sei o que eu faria da minha vida. Não podia mais imaginar o mundo sem ela.

Passei o restante do final de semana pensando muito no que faria em relação ao ultimato dado pelo Marcos. As palavras dele ecoavam em minha cabeça: “Só depende de você, Marcela. A segurança e o futuro dela estão nas suas mãos...”.

Pensei em denunciá-lo à polícia, mas a verdade é que eu não tinha provas concretas contra ele e tinha a certeza de que ele sairia ileso e poderia fazer algo muito pior contra nós. Jamais arriscaria a vida da Sophia daquela forma. A verdade era dura demais para mim, mas sabia o que me restava fazer: terminar definitivamente com o amor da minha vida.

Na segunda-feira, ao chegar na faculdade e abrir meu e-mail, resolvi ler mais atentamente uma proposta que já havia sido feita a mim algumas vezes nos últimos anos: trabalhar como pesquisadora na Universidade de Birmingham, na Inglaterra. A vaga já estava aberta para o próximo semestre e, como estávamos quase em Julho, precisaria aceitar a proposta e me mudar rapidamente. Essa seria a única forma de conseguir me separar de Sophia. Sabia que se eu continuasse na faculdade, ou mesmo na cidade, eu jamais conseguiria dizer não a ela e isso nos colocaria em risco constante. Foi assim que, com lágrimas nos olhos e um aperto gigantesco no peito, enviei uma resposta afirmativa à Universidade.   

No fim do dia, Marcos veio até a minha sala na faculdade, exigindo uma resposta:

- E então Marcela? Continuo com os meus planos ou você já tomou uma decisão?

Olhei para ele com nojo daquele ser humano horrível parado em minha frente:

- Já me decidi. Vou embora do país daqui a alguns dias, terminando de fato meu relacionamento com a Sophia.

- Vai se mudar definitivamente?

- Sim. Pretendo não retornar mais ao Brasil.

- Uauu. – Ele gargalhou cinicamente. – Quem diria que a Dra. Marcela mudaria toda a sua vida e carreira por causa de uma garotinha, hein?

- Marcos, farei isso para que você não encoste mais nenhum dedo nela, você tá me ouvindo? Precisa me confirmar agora que vai deixá-la livre para ter o futuro brilhante que ela merece ter, sem qualquer interferência sua!

- Trato é trato, Marcela. Inclusive, nunca deixei de te querer, e faria o que fiz com a Sophia com qualquer zé mané que ousasse se aproximar de você... – Ele foi se aproximando.

- Chega Marcos! – Falei alterada. – Só me prometa que vai deixá-la em paz, só isso.

- Te prometo. Assim que você estiver no avião, vou fingir que a Sophia nunca existiu para mim.  

- Ótimo. Agora, se me permite, some da minha sala, some da minha vida! – Disse, irritada, abrindo a porta.

Ela saiu, com um ar de superioridade, sem dizer mais nada. Ao fechar a porta, desabei em prantos, sentada no chão. Por quê? Por que no momento mais feliz da minha vida, tudo tem que dar errado? Por que eu não podia estar junto da mulher que eu amava? Como eu comunicaria à Sophia que iria embora? Não conseguiria olhar em seus olhos e mentir...

Fim do capítulo