CAPITULO XXXIX
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
NYXS
Corri desde o começo da pequena enseada, onde fiz a besteira de pedir para ser beijada e ser rejeitada pela alfa. Estava morrendo de vergonha, e olha que só pedi um beijo, imagina se tivesse pedido para tirar minha virgindade. Era capaz de Nara me arrastar pelo braço e me entregar a minha mãe.
Eu só queria saber qual o problema dela. Nara me deseja tanto quanto eu a desejo. Não sou burra, vejo como seu corpo reage ao meu e o modo como me olha. Uma fêmea sabe dessas coisas, está no nosso DNA. Faz parte da nossa natureza saber escolher o melhor gene, a melhor semente que carregará nossa herança genética. Mas se depender da alfa, vamos ficar nesse impasse. Quando eu tomo uma atitude, ela se acovarda e fala um monte de besteira. E agora ainda quer vir atrás de mim, gritando meu nome pela praia deserta.
— Espere por mim, Nyxs!
Até parece que eu ia esperar. Espero é que ela vá se fuder, porr*! Que ódio! Que ódio de mim por chorar!
Sequei as malditas lágrimas que caíam estupidamente dos meus olhos traidores e apertei o passo. A areia morna arranhava minha pele.
— Espere por mim, Nyxs! — Repetiu.
— Vai para o inferno!
Pronto, falei! E ainda foi pouco. Queria usar todos os palavrões que conhecia, mas me contive. Tinha que sair dali antes que ela percebesse que eu estava chorando. Se ela já me achava infantil antes, com essa traição dos meus olhos é que minhas esperanças se acabavam de uma vez. Continuei correndo, sentindo o vento bater na minha pele, aliviando minha dor e me chamando. Ele pedia para eu me transformar, para voar por esse céu a noite toda, até cair de exaustão e desmaiar em algum lugar.
—Espera, eu quero falar contigo.
Sua voz soou na minha mente. Doce e meiga, de uma forma que eu não sabia como resistir. Mas, se eu parasse, a desgraça estava feita. Sei que ela Nara se
sentiria culpada por eu ter chorado e tentaria me agradar, como se eu tivesse cinco anos.
— Me desculpe, eu não queria te ofender. — Pediu, em voz alta.
— Mas ofendeu. Eu… eu não quero ser a loba que dá para todo mundo na alcateia e não preciso que ninguém me ensine nada. Eu gosto de você. Sempre gostei, mesmo sabendo que está esperando a mãe da Nana. Eu não mando nos meus sentimentos.
Quando me dei conta, as palavras já tinham saído da minha boca sem autorização. Meu único consolo era que eu ainda estava de costas. Se tivesse que olhar nos seus olhos, ela veria o quanto eu a amava
— Eu não quero abusar dos seus sentimentos e fazê-la se arrepender depois. Eu sou muito mais experiente e, pior, sua alfa. Isso faz toda a diferença. Não devemos misturar as coisas, já basta a loucura que foi o erro do meu passado.
— Esquece, faz de conta que eu não disse nada. Tem razão, não vamos misturar as coisas. Mas eu não sou a Amkaly. Nunca me confunda com sua ex.
Seria impossível tirar essa infeliz cheia de delicadezas e medos da minha cabeça e do meu coração. Voltei a andar apressada. Dessa vez, eu não tive tempo de correr, Nara segurou meu braço impedindo que eu fosse embora.
— Para de fugir, Nyxs. Eu ainda não falei tudo, não é o que você está entendendo.
— Eu já entendi, não precisa dizer mais nada. Não sou burra e nem cega. Quer saber? Vá se F-O-D-E-R.
Agora deu ruim. Merda. Merda. Cacete, quem eu penso que sou para mandar minha alfa se fuder? Não era que eu queria ofender, mas sim a loba Shiva pela qual eu sou louca de amor. Agora eu tinha mais uma besteira para consertar.
— E não estou falando da minha alfa. Estou dizendo a Nara Shiva: vai se foder.
Puxei meu braço de volta. Sem pensar duas vezes, passei para a forma de loba e corri antes de meter a mão na cara dela. Quando vi o sorriso estampado no seu
rosto, minha mão formigou. Que grande infelicidade, ter a minha alfa e a loba que amo como a mesma pessoa.
Entrei no meio do mato, onde é muito mais gostoso correr. Saltei por cima de moitas e bichinhos rastejantes, dando tudo de mim para me afastar.
Nara era muito rápida. Num instante ela me alcançou e me levou ao chão. Lutei contra o peso imenso em cima de mim, me concentrando em derrubá-la e jogá-la para longe. Era o melhor que eu podia fazer sem magia. Rosnei, mordi e arranhei, mas de tudo ela se esquivava. Suas patas me pressionaram no chão, corpo com corpo, de modo que ela estava literalmente montada em meu lombo.
Volte para o corpo humano, quero continuar o que estávamos conversando. Nara pediu, segurando meu pescoço com os dentes sem ferir.
Não quero ouvir, você já me machucou bastante por hoje. Balancei a cabeça com violência para expulsá-la de cima de mim.
Se transforme. Ela pediu de forma tão meiga e carinhosa que, como sempre, não resisti. Mudei para minha forma humana e, junto comigo, Nara também se transformou. Ainda em cima de mim, segurava minhas mãos sobre minha cabeça para evitar fuga.
Ai, meu senhor, não tem como esconder meus sentimentos e desejos com essa criatura nua em cima de mim! Não conseguia pensar direito.
Ajeitei meu corpo embaixo do seu, tentando não dar na cara, mas estava difícil fingir que nossos sex*s não estavam se tocando, que seu cheiro não me deixava alucinada, molhando partes em mim que não eram para acordar nesse momento.
NARA
Estar toda em cima do seu corpo e sentir seu cheiro de pimenta, hortelã e grã massala acendia coisas em mim que deveriam ficar adormecidas. Minha respiração ameaçou me trair e esqueci o que queria dizer. Naquele momento só existia eu e Nyxs. O cheiro da natureza estava ao nosso redor e uma música era tocada em alguma parte da ilha voava na brisa que nos afagava.
Fiquei estática, desejando aquela boca que, entreaberta, exibia a ponta vermelha da sua língua. Seus olhos cor de prata derretida e azul escandaloso estavam arregalados, abertos muito mais que o normal. Uma força invisível empurrou minha cabeça e fez com que nossas bocas se tocassem de leve, lábios com lábios. Nyxs passou a língua no meu lábio inferior e, com seu jeitinho sensual, mordeu de leve. Tudo em mim se acendeu. Meus braços tremiam involuntariamente e eu parei de respirar.
NYXS
Eu desisti. Não ia mais lutar contra o que sentia. Por isso rocei seus lábios com os meus. Os dela eram macios, quentes e cheios de promessas. Me chamavam e pediam para mostrar o inferno ao roubar um beijo. E foi o que fiz. Mordisquei sua boca, sentindo o aroma de canela que exalava. Nara tinha cheiro de terra molhada, chuva e tempestade. Esse era o cheiro da minha companheira, o odor que me deixava no cio constantemente.
Quando ela abriu a boca, surpresa com minha ousadia, fui ainda mais longe e enfiei minha língua em sua boca. Ela tinha gosto de pecado e perigo e de repente temi não estar fazendo a coisa certa. Eu sabia beijar, mas no momento estava beijando o meu amor. Ela se afastou. Mas eu queria muito mais.
— Beijar é só isso. Pensei que fosse mais coisa, mais emocionante. — Provoquei.
Bingo. Nara passou um braço por baixo do meu corpo, me puxando para perto até que estivesse toda colada no seu e me beijou novamente. Confesso que me senti envergonhada quando gemi sem querer, mas esse sentimento não resistiu quando confrontado com o movimento das mãos de Nara deslizando pela minha cintura.
NAra
Nyxs estava me levando à loucura com seu beijo. Quando ela gem*u, fiquei mole. E quando sua língua raspava a minha, meu coração queria explodir para fora do peito. Com toda certeza, eu estava fodida. Ela passou as mãos nos meus cabelos, entrelaçou os dedos nos fios e me puxou para mais perto.
Parei abruptamente. Tinha que respirar, caso contrário morreria de emoção e prazer. A Nyxs que me olhava não era mais a garota filha da Ameth. Ali, deitada sob meu corpo, estava a Nyxs mãe da minha filha e minha companheira.
— Beijar é só isso. Pensei que fosse mais coisa, mais emocionante. — Ah, não. Eu ia mostrar o que era beijar de verdade.
Não sei ao certo se sua expressão era de humor, decepções, inocência ou arrependimento, mas tinha sido o tudo perante o nada para mim, e a beijei novamente.
Passei um dos braços por baixo das suas costas, puxando seu corpo para encaixar no meu. Pelos Deuses, como eu a queria. A queria acima dos desejos carnais. Mais uma vez busquei seus lábios e dessa vez a beijei como minha companheira. Não fui doce e nem selvagem. Também não fui sedutora. Apenas beijei com todo amor que eu tinha adormecido no peito e que era só dela. O desespero correu por minhas veias.
A língua entreabriu mais uma vez seus lábios, investindo e saboreando cada cantinho e pedacinho, buscando meu calor. Senti as mãos de Nyxs me puxarem pela cintura ao mesmo tempo em que abria mais as pernas para me receber. Senti seu corpo se oferecendo enquanto o beijo se intensificava.
Foi com muito esforço que quebrei a conexão, saindo de cima dela e deixando-a sem entender o motivo da minha recusa. Antes que saísse correndo, segurei sua mão e a convidei para sentar ao meu lado.
— Senta aqui, só um instante. Eu preciso respirar. — Seus olhos, agora mais prata que azul, me observavam confusos.
— Tudo isso é emoção demais para mim. — Falei, tentando dar ao momento um pouco de leveza antes que Nyxs entendesse tudo errado.
— Se eu continuasse com o beijo íamos acabar trans*ndo no meio do mato.
— Eu ia adorar. Tudo o que mais quero é sentir você dentro de mim. Somos adultas, não vejo problema algum. Se alguém questionar, você pode dizer que fui eu que me ofereci.
Sorri mesmo não concordando.
— Eu nunca faria isso. Estaria mentindo, nunca achei você oferecida. É, sim, uma loba linda e feminina, com uma vida toda para ser descoberta.
Sua mão cheirosa tapou minha boca. Em seu rosto não havia nada anormal, somente uma loba adulta com atitudes de mulher adulta.
— Não fale. Nada do que disser vai mudar o que sinto ou o que quero. Portanto, economize seus argumentos. Quando eu era criança, minha mãe dizia que eu passava meses dormindo sem acordar. Me disseram que, nessas horas, estava em outros mundos. Eu amava saber que tinha outra vida. Até a Nana chegar. Eu não quero viver de sonhos, tampouco ter que conhecer outras pessoas. Eu tenho tudo aqui e isso me basta.
Nyxs ficou em silêncio e me senti uma adolescente sem saber o que fazer com tanto sentimento.
— Eu não estou mais esperando que a mãe da Nalum venha do futuro. — Confessei, assustando até a mim mesma.
— Não? — Dessa vez ela me olhou com um sorriso aberto e o rosto todo manchado de sujeira, ainda mais linda do que o normal.
— Não. Há muito tempo eu deixei de esperar. Desde que outra loba entrou no meu coração e mexeu com meu juízo. Mesmo eu lutando contra, não posso mentir para mim mesma. Eu quero você com uma intensidade que me assusta, mas tenho medo de um dia você me culpar por perder muitas coisas boas que poderia ter vivido.
Nyxs riu alto. E continuou rindo quando viu minha cara de boba.
— Isso não vai acontecer. Desde o meu primeiro cio que peço à Deusa que você abuse de mim como fêmea. No bom sentido, é claro.
Não sei se ela disse essas palavras com malícia ou a pervertida era eu, mas como a adulta eu iria fazer a coisa certa.
— Acho melhor voltarmos para o chalé. Daqui a pouco a família virá ao nosso resgate.
Nyxs sentou de frente pra mim com as pernas por cima das minhas, uma de cada lado do meu corpo. Nossos sex*s se tocaram e se reconheceram. Posição perigosa.
Ela me encarou, lendo o que eu pensava, e muito lentamente se ajeitou em cima do meu sex*, que demostrou estar vivo. Ela sorriu e rodeou meu pescoço com os braços, distribuindo beijos por toda parte.
— Será meio difícil nos encontrarmos. Quando as "tias" sentirem minha falta e perceberem que você também sumiu, vão matar a charada e saber que estamos juntas.
Ela continuou o carinho nos meus cabelos. Como eu senti falta disso, como sonhei com esse momento…
— Por mais que eu ame isso entre nós, não devemos contar para ninguém. Tem muita coisa em jogo e eu quero fazer a coisa certa. Quero falar com suas mães e conversar com Nalum, quero que ela saiba por mim, você entende? — Nyxs concordou com a cabeça e continuou me acariciando. Peguei uma mecha de seus cabelos e levei ao nariz, sentindo seu cheiro. Não pude conter o riso quando ela me perguntou:
— Está me pedindo em namoro, Nara Shiva? Se estiver, a resposta é sim.
— Estou sim. Mas não dá para contar para ninguém. Não ainda. Você aceita ser minha namorada, por enquanto às escondidas?
— Aceito, claro que aceito. Eu já aceitei desde os meus doze anos, quando senti seu cheiro e soube que era a sua companheira aqui neste mundo.
— Pois vamos acabar com as saliências e pare de rebol*r dessa forma enquanto ainda estou consciente.
— Não se preocupe, eu ergui uma bolha.
— Eu sinto a pressão do ar, mas não acho justo sua primeira vez ser no chão, sem o mínimo de conforto e com uma plateia. Por aí deve estar cheio de lobos. — Só então eu percebi o que tinha acabado de dizer. A primeira vez dela comigo tinha sido exatamente assim, só que em outro mundo.
— É engraçado você dizer isso. Sempre que imaginava nós duas juntas, era esse o cenário: chão, plantas, noite, vozes de lobas por perto e nós duas completando o laço da parceria.
Engasguei. Nyxs deu um tapinha nas minhas costas para ajudar com tosse. O que ela não tinha noção é que a Deusa não tirou essa lembrança dela. Ela sempre viu o dia em que completamos nosso laço e ela me trouxe de volta à vida.
Fim do capítulo
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