Emily curtiu mais um dia entre os arredores, indo a museus e pontos turísticos das cidades vizinhas, se preparando para a grande viagem que faria no próximo dia. Arrumou as malas com as coisas que trouxera e se encontrava ansiosa e animada para sua grande aventura.

No entanto, surpreendentemente, não conseguia se desvencilhar da ação do dia anterior no parque. Os dias se passaram desde o inesperado beijo roubado, mas para Emily, aquele momento continuava vivo em sua mente. Era como se um filme fosse reproduzido em sua cabeça todas as vezes que fechava os olhos. Ela podia sentir novamente a brisa suave do entardecer acariciar seu rosto, os olhos surpresos e arregalados de Alice, a textura macia dos lábios dela sob os seus.

Cada detalhe daquele instante estava gravado em sua memória com riqueza de detalhes. Ela lembrava do nervosismo e da excitação que sentia ao se aproximar de Alice, da hesitação antes de finalmente tomar coragem para se aproximar. O coração batendo forte no peito, a respiração acelerada, as mãos trêmulas.

E então o momento mágico aconteceu. Os lábios de Emily tocaram os de Alice, e ela sentiu uma explosão de sentimentos dentro de si. Foi um beijo suave, mas arrebatador, que pareceu transportá-la para outro mundo, onde não havia preocupações ou medos, apenas uma conexão profunda e instantânea.

Emily podia sentir novamente o gosto dos lábios de Alice, um sabor doce e único que a deixava com saudades daquele momento. Ela se pegava sorrindo ao relembrar a surpresa nos olhos de Alice, a forma como a expressão dela mudou de confusão para encantamento.

Era estranho pensar que aquele beijo, que durou apenas alguns instantes, havia deixado uma marca tão profunda em seu coração. Mas Emily sabia que aquela experiência tinha um significado maior do que podia entender completamente. Era como se o beijo tivesse despertado algo dentro dela, uma vontade de viver intensamente, de se permitir sentir a plenitude da vida, mesmo com um diagnóstico tão sombrio. Queria não estar morrendo somente para correr atrás daquela mulher.

Enquanto Emily relembrava do beijo, Alice também se encontrava perdida em pensamentos, sem saber que o destino havia feito suas memórias coincidirem. Enquanto estava em casa, sozinha, ela se pegou sorrindo sem motivo aparente. Uma sensação de leveza a envolvia, e ela se perguntava o motivo daquele sentimento.

Então, de repente, como um flash, a imagem do parque invadiu sua mente. Ela viu novamente os olhos investigativos e carinhosos de Emily ao se aproximar, o momento em que seus lábios se tocaram em um beijo inesperado e encantador. Ela se sentiu petrificada na hora, mas logo uma onda de calor percorreu seu corpo, e o sorriso se alargou em seus lábios.

Não demorou muito para que a realidade a atingisse. Ela não tinha ideia de quem era aquela mulher, nem como o beijo havia acontecido. A memória de Emily ainda estava oculta em sua mente, talvez protegida por uma camada de esquecimento proposital, mas as emoções que aquele momento havia despertado eram inegáveis.

Alice sentiu uma pontada de curiosidade sobre a mulher desconhecida no parque. Quem era ela? Por que o beijo aconteceu? Ela sabia que não tinha respostas, mas não conseguia ignorar o impacto daquele momento em sua alma.

Enquanto Emily e Alice relembravam do beijo, elas não faziam ideia de que o destino estava brincando com suas memórias, unindo-as em um instante único e inesquecível. E mesmo que suas lembranças ainda estivessem fragmentadas, elas compartilhavam, de alguma forma, a magia daquele beijo que mudou suas vidas de maneiras que ainda estavam por serem reveladas.

Também não estavam cientes dos fios do destino trabalhando a favor delas, tecendo o reencontro de ambas brevemente. Mais rápido do que sequer imaginariam. Na verdade, era claro para elas que foi um momento especial que jamais voltaria a acontecer.

Naquela manhã ensolarada de outono, Emily partiu para o aeroporto internacional afim de pegar seu avião rumo àquela viagem de autodescoberta em um país tão exótico e distante, em busca de conhecer uma cultura diferente e experimentar sensações que nunca imaginou.

A Tailândia era um sonho antigo de Emily e após a notícia devastadora sobre sua doença e a aparição daquele cartaz chamativo, ela decidiu finalmente embarcar nessa aventura e curtir a viagem dos seus sonhos. Era uma oportunidade de redescobrir o prazer de viver, de mergulhar em paisagens exuberantes e encontrar a paz em meio à natureza exótica. Se reencontrar e redescobrir o sentido da vida.

Após mais de 24 horas de voo, com conexão, Emily finalmente desembarcou na ilha e já pode sentir o calor tropical envolver seu corpo, o aroma das flores e a brisa do mar acariciando sua pele. A ilha parecia um paraíso intocado, com sua exuberante vegetação verdejante e montanhas que pareciam tocar o céu. Mesmo com o cansaço evidente já se sentia renovada por estar nesse local.

Ela se instalou em um resort à beira-mar e prontamente após uma refeição se retirou para o descanso merecido após viagem tão longa. Estava um pouco perdida com o fuso horário, porém ao acordar naquela manhã, já pode escutar o som das ondas batendo suavemente na praia. Emily estava ansiosa para explorar cada canto daquela ilha, e a primeira parada após um belo café da manhã, seria uma praia deslumbrante que seus olhos haviam visto apenas em fotos.

Com um traje de banho e uma mochila nas costas, Emily seguiu pelas trilhas sinuosas que a levariam à praia límpida e exuberante. A vegetação densa parecia abraçá-la enquanto ela caminhava, o canto dos pássaros e os sons da natureza embalando seus passos.

Finalmente, ao chegar ao destino, Emily se viu diante de uma paisagem de tirar o fôlego. A praia era de areia branca e fina, beijada por águas azul-turquesa que dançavam com o brilho do sol. Palmeiras se curvavam delicadamente, criando sombras que convidavam a momentos de descanso.

Sem pensar duas vezes, Emily correu em direção à água e sentiu a carícia das ondas em seus pés. Era como se a energia do mar estivesse lavando todas as preocupações e medos que a atormentavam. Ela sorriu, sentindo-se livre e em paz com a natureza à sua volta. Curtiu o máximo que pode seu dia relaxante nas areias e águas do mar e retornou para o resort, onde se inscreveu para períodos relaxantes na hidromassagem e curtiu o que pode as opções de lazer disponibilizadas. 

Nos dias seguintes, Emily explorou outras praias deslumbrantes, cada uma com sua própria beleza única. Algumas cercadas por formações rochosas impressionantes, outras escondidas em enseadas secretas. Cada parada revelava um espetáculo natural que parecia ter saído de um sonho.

As florestas tropicais também eram uma parte essencial dessa jornada de redescoberta. Emily se aventurou em trilhas cercadas por árvores altas e exóticas, onde a luz do sol filtrada pelas folhas criava um jogo encantador de sombras e luzes. O ar era perfumado com o aroma das flores e o som dos insetos e pássaros cantando era uma sinfonia natural.

Num dos passeios guiados que percorreu, seu guia comentou sobre um retiro muito conhecido e disputado, apresentando a programação que visava fundamentalmente um reencontro com seu eu interior, fato que logo interessou a Emily. Era isso mesmo que buscava para esses últimos 6 meses de vida, além de curtir ao máximo seus dias restantes. Logo se inscreveu para realizar o retiro, buscando principalmente encontrar a tranquilidade nos templos milenares.

A viagem para a Tailândia tornou-se uma jornada de autoconhecimento e apreciação da beleza natural do mundo. Através da visita a praias deslumbrantes e florestas tropicais exuberantes, Emily redescobriu o prazer de viver, de se conectar com o presente e encontrar alegria nas pequenas coisas e esperava encontrar mais benefícios após o retiro.

Enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados e rosados, Emily sentiu uma gratidão profunda por aquela experiência transformadora. Ela sabia que a jornada estava apenas começando e que, independentemente do tempo que lhe restava, ela se lembraria para sempre da beleza e do encanto daquela viagem. Cada dia, cada momento era um presente precioso que ela abraçava com o coração aberto e a mente cheia de gratidão.

Fim do capítulo