Emily instalou-se em um hotel e ficaria turistando pela região nesses 3 dias anteriores a viagem à Tailândia. Pesquisando sobre lugares e passeios que poderia fazer para aproveitar esses dias, descobriu o Parque Campolim, em Sorocaba, que ficava em uma cidade próxima de onde estava.

Decidiu além de aproveitar e curtir o local, riscar mais um item de sua lista de coisas a fazer antes de morrer. Não tinha tempo a perder, 6 meses passavam voando e ela queria viver ao máximo esse período.

O sol brilhava radiante no parque, espalhando uma luz dourada que convidava as pessoas a desfrutarem daquele dia perfeito. Emily estava determinada a cumprir mais esse item de sua lista antes de morrer: roubar um beijo de uma desconhecida, e iria aproveitar o passeio para isso. O coração batia acelerado em seu peito, mas ela sabia que precisava enfrentar o desafio para viver plenamente seus últimos meses.

Enquanto caminhava pelo parque, Emily tentava focar em alguém em potencial, mas só via famílias e namorados curtindo o fim de tarde ensolarado. Pensava consigo mesma como iria abordar uma estranha e lhe beijar assim do nada. Já estava há mais de 1 hora no local e ninguém lhe chamava a atenção e estava quase desistindo do seu intento.

Olhou para os lados e avaliou as opções. Do lado esquerdo havia um grupo de crianças com 3 mulheres mais velhas, parecia alguma excursão escolar. Mais à frente um casal de idosos andando calmamente, curtindo a paisagem e um cara com tique nervoso. Com certeza o lado esquerdo estava fora de cogitação.

Olhando do lado direito até que não estava tão ruim assim. Tinha 2 garotas com uniforme de colegiais, mas analisando pareciam menores de idade e isso era chave de cadeia, descartou no mesmo instante. 

Quase desistindo da ideia, de repente avistou uma linda jovem com traços latinos sentada perto do lago, falando ao telefone com uma expressão de tristeza em seu semblante. Era provável que levasse um tapa na cara, mas dentre as opções era a única mais aceitável e decidiu que teria que ser aquela jovem mesmo.

Emily ajeitou sua roupa. Estava de jeans, uma jaqueta leve e seus inseparáveis tênis confortáveis, e verificou seu hábito também. Para garantir, pegou uma bala de menta e esperou fazer o efeito para chegar mais perto da bela jovem que estava na grama perto do lago.

Ao aproximar-se, passou a escutar a conversa ao telefone:

“Puxa Soraya, realmente eu sou uma trouxa. Eu achando que ele havia mudado, com todo aquele papinho que não vivia sem mim e blá blá blá e quando chego em seu apartamento, o que me deparo? Ele dando uma festa para os amigos, agarrando duas vadias. Eu sou muito otária mesmo”.

“O que acha que eu fiz? Com certeza não ia sair por baixo e enfiei a mão na cara dele para aprender a não me fazer de besta e sai de lá sem dar tempo para ele se explicar, até porque o que vi, não tem desculpas ou explicações. Ninguém me contou, eu vi com meus próprios olhos”.

Emily sentiu uma conexão instantânea com aquela situação, lembrando-se das vezes em que ela também experimentara a dor do desamor. E se interessou ainda mais pela jovem, pois ela parecia meio marrenta, além de reparando melhor agora mais perto, a garota possuía belas curvas e lábios carnudos maravilhosos. 

Decidida a se aproximar, Emily respirou fundo e caminhou em direção a ela. Não sabia ao certo o que diria, mas a empatia a impulsionou a querer confortar aquela desconhecida.

"Desculpe a intromissão, mas... posso me sentar aqui?", perguntou Emily, interrompendo-a e sorrindo gentilmente.

A jovem olhou para cima, surpresa pela abordagem, mas sorriu de volta.

"Claro, pode sim", respondeu a jovem, agradecendo pelo gesto de gentileza.

"Eu não pude deixar de ouvir um pouco da sua conversa... Sinto muito pelo que aconteceu. Relacionamentos podem ser complicados, não é?", disse Emily, buscando criar uma conexão genuína.

A jovem concordou, suspirando pesarosamente.

"Sim, eu acabei de terminar com meu namorado. Descobri que ele estava me traindo. É muito doloroso...", confessou ela, seus olhos marejados.

Emily sentiu um aperto no coração, compartilhando da dor daquela desconhecida.

"Eu entendo como você se sente. A traição é algo difícil de superar, mas acredite em mim, com o tempo, as coisas vão melhorar", aconselhou Emily com carinho.

A conversa fluiu naturalmente entre elas, como se fossem velhas amigas compartilhando suas histórias. A jovem desconhecida se sentiu confortada com as palavras de Emily, e aos poucos, o sorriso começou a voltar ao seu rosto.

"Obrigada por me ouvir e por suas palavras gentis. Qual é o seu nome?", perguntou a jovem curiosa.

"Meu nome é Emily", respondeu ela, estendendo a mão em um gesto amigável.

"Alice. Prazer em te conhecer, Emily", disse a jovem, apertando a mão de Emily.

O parque estava banhado pela luz do fim da tarde, criando uma atmosfera dourada que envolvia tudo ao redor. O entardecer começou a pintar o céu com tons de laranja e rosa, criando um ambiente romântico ao redor delas. O coração de Emily batia forte em seu peito, e ela sabia que era o momento de cumprir o item de sua lista.

Com um misto de excitação e receio, Emily chegou ao lado de Alice, que se distraiu com um novo toque em seu telefone. Ela parou por um instante, respirou fundo e, num ato impulsivo, colocou delicadamente a mão no queixo de Alice e gentilmente virou o rosto dela em sua direção.

Os olhos de Alice se arregalaram de surpresa ao encontrar os olhos de Emily fixos nos seus. Ela não teve tempo de processar o que estava acontecendo antes que Emily inclinasse levemente a cabeça e seus lábios tocassem os de Alice em um beijo suave e arrebatador.

Num primeiro momento, Alice não correspondeu, chocada demais para reagir, porém os lábios macios de Emily eram uma surpresa deliciosa para ela, que sentiu um formigamento elétrico percorrer seu corpo. Ela fechou os olhos e se deixou levar pelo momento, entregando-se ao beijo inesperado.

O beijo durou apenas alguns instantes, mas para Emily e Alice, pareceu uma eternidade. Foi um instante de conexão intensa, de duas almas desconhecidas se encontrando em um momento mágico no meio do parque.

Quando o beijo chegou ao fim, Emily olhou nos olhos de Alice com um sorriso tímido, suas bochechas coradas pela emoção do momento. Ela se afastou lentamente, permitindo que Alice processasse o que acabara de acontecer.

Alice abriu os olhos devagar, ainda atordoada com a experiência. Ela encarou Emily por um instante, com um misto de surpresa e encantamento. O som do telefone ainda ecoava, mas o beijo de Emily havia trazido uma sensação de alívio e descontração que ela não esperava.

"Eu... eu não sei o que dizer", disse Alice, com a voz levemente trêmula.

Emily sorriu e deu de ombros suavemente. "Não precisa dizer nada. Apenas queria que você soubesse que tudo ficará bem. Você é forte e merece ser feliz."

As palavras de Emily tocaram o coração de Alice de uma forma única. Ela sabia que o encontro inesperado no parque e o beijo carregavam um significado maior do que poderia imaginar. Um ato de gentileza e coragem que havia lhe mostrado que, mesmo em momentos difíceis, o mundo poderia surpreendê-la com pequenos gestos de bondade e esperança.

Emily deu um último sorriso, acenou e se afastou, deixando Alice com um turbilhão de emoções e um sorriso tímido nos lábios. Enquanto caminhava pelo parque, Emily sentiu uma mistura de satisfação e gratidão por ter tido a coragem de se permitir viver esse momento inesperado e intenso.

As duas mulheres seguiram seus caminhos separados, mas o beijo no parque permaneceu como uma lembrança especial em seus corações, um lembrete de que a vida pode ser repleta de surpresas e que, às vezes, um simples gesto pode mudar o rumo de tudo.

Enquanto o sol se pôs no horizonte, Emily percebeu que aquele dia foi mais do que apenas cumprir um item de sua lista. Ela encontrou uma conexão inesperada, e a experiência a ensinou a abraçar cada momento, a viver com intensidade e a valorizar as conexões genuínas que a vida tinha para oferecer.

Fim do capítulo