20.    Pareja

 

 

- Amor, quero te falar uma coisa.

 

- Pode dizer.

 

- Uma ex-namorada me ligou, disse que precisa muito conversar comigo. Ela não quis adiantar o assunto por telefone.

 

- Vocês namoraram por bastante tempo?

 

- Durou um ano e meio.

 

- E qual o motivo do término?

 

- Ela recebeu uma proposta de trabalho muito boa e se mudou.

 

- Você vai encontrar com ela?

 

- Falei que precisava falar contigo antes.

 

- Tem algum risco de ter alguma recaída?

 

- Não, de forma alguma.

 

- Eu nem sei o que dizer, não me sinto confortável com isso.

 

- Ela me ligou ontem e hoje mandou mensagens.

 

- Deixa eu ver.

 

Antes de ler viu a foto e achou a moça bonita, o que detestou.

 

- Que droga, ela nem para ser feia, você tem bom gosto para mulheres, mas, sou mais bonita. Bem insistente várias mensagens.

 

- Achei melhor falar contigo.

 

- Eu já estou insegura por conta do aniversário da sua avó, agora isso.

 

- Desculpa.

 

- O quê você acha que ela quer?

 

- Não faço ideia, já tem um tempo que não nos falamos.

 

- Você nunca vai passar por isso, você é a primeira pessoa que amo.

 

- Anjo, vou responder a mensagem dizendo que não vou encontra-la.

 

- Será que ela vai parar de te procurar?

 

- Assim espero e sobre o aniversário da minha avó, ela nos convidou, disse que faz questão, mas, se for complicado para você eu entendo.

 

- Gostei do convite, só tenho receio. Acho que não vou conquistar a tua família, vão ver uma adolescente que não tem nada para te oferecer, o que vão pensar? É com isso que fico insegura.

 

- Amor, não vou deixar ninguém ser mau educado contigo.

 

- Eu sei, agora responda a mensagem, vamos ver o que tua ex vai dizer.

 

- Pronto já mandei.

 

- Você gostava muito dela?

 

- Não, nem tem comparação com o sentimento que sinto por você.

 

- O cursinho mal começou e já está sendo puxado.

 

Tentou mudar de assunto, mas, o celular começou a tocar.

 

- Atende!

 

Não queria atender, mas, seria pior recusar, colocou no viva voz.

 

- Alô!

 

- Coraline, por favor, vamos conversar, quero muito falar contigo.

 

- Eu não quero, não temos nada para conversar.

 

- É que me arrependo da forma que terminamos.

 

- Foi como tinha que ser, são águas passadas, estou muito bem com a minha namorada e não quero problemas. Melhor você não me ligar mais e nem mandar mensagens. O que tivemos ficou no passado.

 

- ok, se mudar de ideia me liga.

 

- Não mudarei, tchau!

 

Encerrou a ligação e fez questão de desligar o celular.

 

- Você sabe ser dura numa recusa, não tenho saudade nenhuma disso.

 

- Pronto, resolvido. Fui sincera e precisei ser firme para ela entender.

 

- Fico feliz em saber que você está muito bem com a tua namorada.

 

- E quero continuar assim meu amor, já deveria ter resolvido isso antes.

 

- Ainda bem que me contou, somos amigas e conversamos sobre tudo.

 

- Não precisa ficar insegura.

 

- Vamos estourar pipoca e assistir aquele filme.

 

♡

 

A ex-namorada não voltou a contata-la, compreendeu que o relacionamento delas ficou no passado e não seria possível reatar.

Em agosto a avó de Coraline marcou um jantar em sua casa, para comemorar seu aniversário, contratou buffet e convidou várias pessoas.

Amaya optou por usar um vestido azul marinho que ficou bem delineado, todo moldado no seu corpo e uma sandália de salto fino.

Coraline escolheu um macacão preto social e uma sapatilha.

 

- Amor, você está lindíssima!

 

- O quê foi? A minha roupa está muito sensual para ir ao aniversário da sua avó? Errei na escolha? Você está me olhando diferente.

 

- É que você está ainda mais linda (confessou com a face corada).

 

- Acha que esse vestido marca muito meu corpo? Minha mãe me ajudou a escolher, disse que estava ótimo, deveria ter te mandado foto antes.

 

- Anjo, não se preocupa. Eu gostei muito.

 

- Mesmo?

 

- Sim, excelente escolha.

 

- E eu gostei da forma que você me olhou, quando me apaixonei por você, achava que você nem me via assim como mulher. Te achei linda desde a primeira vez que te vi entrando na sala de aula.

 

- Lembrei do primeiro dia que te dei aula, você se apresentando, nervosa quase derrubando o caderno quando foi na minha mesa.

 

- Deve ter me achado uma boba.

 

- Não. Adorei seu interesse e logo de cara tive a impressão que gostaria de você, só não imaginava que seria tanto (contou com carinho).

 

- Naquele mesmo dia te procurei nas redes sociais e demorei para conseguir te achar, encontrei primeiro o perfil da sua avó. Fiz todo um trabalho de detetive e você demorou tanto para me aceitar.

 

- Te contei o motivo meu bem, tive problemas com isso.

 

- Nem te contei, acabei esquecendo de comentar, meu irmão se machucou hoje jogando bola, teve que colocar uma tala.

 

- Nossa que chato, se machucar no frio é péssimo. Qual parte do corpo?

 

- A perna direita e vai precisar ficar imobilizado por uns quinze dias.

 

- Logo ele se recupera.

 

- Estou um pouco nervosa.

 

- Eu também, não sei se os meus pais vão aparecer.

 

- Confesso que estou um pouco assustada.

 

- Vai dar tudo certo.

 

- Você não parece muito otimista.

 

- É complicado lidar com pessoas preconceituosas.

 

- Se tiver algum tipo de briga, fico te esperando no carro.

 

- Minha avó não vai permitir que tudo saia do controle, não vai ter nenhuma discussão e muito menos briga. Só que eles fazem muitos comentários maldosos, qualquer problema saímos na mesma hora.

 

- Espero que não seja necessário. Onde seus pais se hospedam?

 

- Raramente viajam, não conhecem a minha casa, já convidei, mas, nunca me visitaram. Minha avó não tem muita paciência com eles, talvez na casa do meu tio, mas, não tenho certeza.

 

- A minha presença não vai tornar tudo ainda mais complicado?

 

- Não, ter seu apoio me faz bem. Chegamos!

 

- Seja o que Deus quiser.

 

Entraram de mãos dadas, dando forças uma para a outra. Amaya notou que além de gostar de viajar, a senhora também gostava de comemorar em grande estilo, logo que chegaram o carro foi deixado aos cuidados de um manobrista, a casa que já é bonita estava com uma iluminação diferente e com arranjos de flores. Foram recepcionadas pela aniversariante, que estava muito elegante e fez questão de apresentar Amaya, como a linda e inteligente namorada da neta, as suas amigas mais próximas foram muito gentis, elogiando a beleza da moça.

 

- Minhas lindas fiquem a vontade e muito obrigada pela presença.

 

- Amor, vamos sentar com meu primo e a esposa dele, são super legais.

 

Após as apresentações se acomodaram e começaram a conversar de forma descontraída, o que ajudou a diminuir a tensão das duas.

 

- Prima, nós estamos grávidos, descobrimos nesta semana.

 

- Que novidade linda, parabéns! Você sempre sonhou em ser pai.

 

Conversaram sobre a gravidez, comentaram que já vinham planejando e que já tinham até pensado nos nomes. O assunto foi interrompido quando Coraline viu seus pais chegando, ela parou de falar e ficou olhando na direção da porta. Depois de cumprimenta-los, sua avó fez questão de ir até onde ela estava sentada.

 

- Meu amor, eles não tinham confirmado a presença. Acredito que tudo vai correr bem, qualquer imprevisto me avisa, sim?

 

- Vó pode deixar, muito obrigada, não se preocupe. Vai ficar tudo bem.

 

Eles se acomodaram em uma mesa mais distante.

 

- Amor, eles não vão vir até aqui, vou só dar um oi e já volto.

 

- Vai lá (disse e sorriu com intuito de demonstrar apoio).

 

- Amaya, a nossa família é um pouco complicada, tem de tudo viu, mas, pode ficar tranquila que a Coraline te trouxe para uma mesa com pessoas legais. Pode ir prima, nós fazemos companhia para ela.

 

- Obrigada!

 

Ela até queria apresenta-la para os pais, porém, ficou com receio de como reagiriam, se não seriam grosseiros e achou melhor ser cuidadosa, para evitar constrangimentos desnecessários.

 

- Pai, Mãe, boa noite!

 

Cumprimentou os dois, perguntou se estavam bem e como tinha sido a viagem. As respostas foram breves, estranhou que o pai estava de bengala, questionou o motivo, mas, desconversaram comentando sobre a decoração da festa, percebendo que não queriam conversar, aproveitou a deixa para retornar para mesa que estava.

Logo o jantar foi servido, em seguida cantaram os parabéns e o bolo foi cortado. Ao notar que os pais começaram a se despedir de algumas pessoas, ela foi novamente ao encontro deles, sua mãe falou para ela os acompanhar até o carro e para chamar a sua amiga para conhecerem.

 

- Amor, eles já vão embora e querem te conhecer.

 

- Tudo bem, vamos lá.

 

Fez as apresentações e seguiriam para fora da casa.

 

- Acho que vocês estão juntas, não sei como dizer, como que chama uma relação assim. Foram respeitosas, se portando na festa, mas, vi vocês próximas e trocando olhares. Creio que tenha o apoio da sua avó.

 

- Sim mãe, ela apoia e nos convidou, nós formamos um casal (explicou).

 

- Coraline você tomou diversos caminhos que não tínhamos em mente, você é independente e fez as tuas escolhas, esperamos que vocês sejam felizes. Apareçam em casa, se cuidem (seu pai disse e entrou no carro).

 

- Muito obrigada, o senhor também se cuida.

 

- Tenham juízo. Não é novidade que nós não concordamos, mesmo assim queremos o seu bem. Que Deus abençoe vocês duas (a senhora se despediu, o manobrista entregou a chave e ela assumiu a direção).

 

- Amém! Bom retorno e se precisarem é só me ligar.

 

- Tchau, tenham uma boa noite (Amaya disse e sorriu).

 

Elas aguardaram o carro se distanciar.

 

- Estou tão aliviada.

 

- Eu também, achei que a reação deles foi até que boa ou é impressão.

 

- Foi sim, imaginava que poderia ser pior, estou até achando estranho. Não conversamos muito, só que eu tenho para mim que meu pai não está com a saúde cem por cento, quando perguntei desconversaram.

 

- Espero que não seja nada grave e que bom ter dado tudo certo.

 

- Foi tão libertador dizer que somos um casal, foi tão bom não ouvir nenhuma ladainha e desaforos, já ouvi tanta coisa que não merecia, nem estou acreditando, parece mentira (disse com emoção).

 

- Linda fico tão feliz por você, ainda bem que eles foram maleáveis.

 

- Foi de boa, por terem visto que estou muito bem acompanhada.

 

- Quem me dera viu, até parece.

 

- Você é a nora dos sonhos, vamos dar tchau para a minha avó.

 

A maioria já tinha ido embora, elas se despediram e foram para casa da professora, aquela noite foi melhor do que imaginavam e ficaram felizes.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo