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Confidente por Hope_

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Palavras: 4694
Acessos: 585   |  Postado em: 11/05/2023

Capitulo 1

 

Segunda, 29 de Novembro, 2027 一 19:40

 

一 Maya, resista! Está me ouvindo?! Você precisa resistir!

As luzes do quarto eram tão fortes que as minhas pupilas já se encontravam muito contraídas. Meu corpo estava tão frágil que a sensação que eu tinha é de que uma costela poderia quebrar a qualquer momento, ainda mais por vê-la tentar a ressuscitação cardiopulmonar com afinco. Eu estava partindo. E eu sabia disso, todos eles sabiam na verdade, e por mais incrível que pareça, meu coração estava em paz, diferente do meu corpo que, é claro, agora parecia outro, mais magro e debilitado como nunca imaginei que um dia poderia ficar.

一 Maya, olhe pra mim! 

Minhas pálpebras vacilaram e eu a vi tentar dar-me mais fôlego, mais tempo. Seu tom carregava angústia e desespero, eu podia sentir, e por mais que eu não conseguisse responder, eu queria poder dizer que estava tudo bem, e que ela também iria ficar. 

一 Por favor... 一 Suas lágrimas caíram sobre meu rosto com força, e no mesmo instante eu senti meu olhos embaçarem minha visão, distorcendo-a quase que por completo. 一 Só mais um pouco, Deus... Por favor, me dê mais tempo para salvá-la, eu te imploro!

Minha garganta fechou, assim como meus olhos. Ela agarrou a minha mão e a apertou. Os médicos e os outros enfermeiros corriam pela sala, mexiam nos aparelhos, injetavam mais adrenalina, mas por incrível que pareça, eu me sentia cada vez mais fraca, como se a corda que ainda me prendia a este mundo estivesse prestes a arrebentar. Eu conseguia ouvir o choro estridente da minha mãe do lado de fora, observando a cena através do vidro, e conseguindo imaginar o quão impotente ela deveria estar se sentindo. Meu pai? Provavelmente está lhe abraçando, tentando conter as lágrimas com muita dificuldade, ele sempre foi meio chorão mas nunca quis admitir. 

一 Tem um rapaz tendo um ataque de pânico no corredor!

A enfermeira gritou e automaticamente o nome do Ethan veio na minha cabeça, queria poder dizer a ele para repetir o ritual que sempre o ajudava, o mesmo que ele também nunca lembrava a ordem. Havia tanto para dizer, mas eu não tinha mais tempo, apenas cartas, e todas elas estavam com essa garota que tentava agora a todo custo me manter viva.

一 Maya... 一 A voz dela se aproximou e então eu me dei conta de que seu rosto estava a centímetros do meu. 一 Fica. Por favor... Fica comigo. Resista! Eu ainda preciso cumprir minha promessa.

"Você já a cumpriu". Pensei tentando abrir um sorriso, meus músculos estavam rígidos demais para se mover, onde a única coisa que consegui sentir foram as lágrimas escapando de meus olhos. 

一 O pulso ainda está muito fraco! Precisamos de mais uma dose de adrenalina!

一 Não a deixe ter outra parada! 一 Ela completou o pensamento do médico. 

一 Enfermeira, você precisa se retirar! Você não está em condições de...

一 Não! 一 Ela gritou, furiosa. 一 Eu não vou deixá-la!

一 Temos um código!

一 Foda-se o código! Já falei que não vou deixá-la!

Mais lágrimas, mais angústia, e mais desespero. Suas palavras pareciam carregar uma carga elétrica tão grande que no mesmo segundo eu fechei a mão. Percebi que ela estava assustada, pois a dela tremia, no entanto, pelo fato de eu ter reagido, as pessoas em volta começaram a ficar mais agitadas. Voltei a abrir os olhos e a fitei diretamente, tentei dizer algo, mas eu não tinha mais forças. Eu queria arrancar esse peso dos ombros dela, pois todos nós sabemos o quanto uma promessa é sagrada. 

Esse é o problema, o querer. 

Meses atrás eu estava ocupada planejando parte do meu futuro e do meu dia a dia... agora? Estava em um leito de hospital, à beira da morte. Irônico, não? É impressionante como a vida é imprevisível, como uma verdadeira montanha russa. Se tudo está indo bem por tempo demais, não abaixe a guarda, porque provavelmente algo ruim irá acontecer em breve para te desestabilizar, para te testar, e a partir daí tirar suas próprias conclusões do quão forte, medroso, ansioso e resiliente você pode ser. Falando assim parece até um laudo, não é? É bem irônico mesmo.

Um filme da minha vida passava diante dos meus olhos, tão rápido quanto um trem bala. Havia tantos flashs, tantas memórias, vozes e cenários que eu poderia facilmente me perder no meio delas, mas a sensação era diferente, distorcida, pois ao invés de eu estar sentada em uma poltrona confortável, assistindo, eu estava submersa no mar mais gélido e escuro que já vi em toda a minha vida. Era como um breu, e isso me dava arrepios, e eu só  queria poder fechar os olhos, permitir ser levada até onde ele quisesse que eu fosse, porém algo ainda me impedia. Algo tão poderoso que parecia ter um único objetivo: me tirar daqui.

Consegui ouvir passos em direção a saída, estes mais apressados mas ainda assim sutis. Vozes ao redor da minha cama e nos corredores, energias desestabilizadas, o ar mais agitado e ela a segurar minha mão com mais apego, onde tudo o que consegui fazer em seguida foi soltar um pesado suspiro e abrir um sorriso de canto.

~x~

 

Segunda-feira, 1 de Setembro, 2025 一 07:20

 

Finalmente o mês de Setembro havia chegado, e com isso meu coração parecia ocupar uma grande quantidade de sentimentos que estavam aguardando pacientemente para serem aflorados. Los Angeles enfrentava o final do Verão e o início do Outono, o que significava que as aulas começariam logo, e é por conta disso que eu me encontrava neste estado de ansiedade tão grande.

Seria clichê demais eu tentar descrever o meu passado ou até mesmo o presente com todos os detalhes possíveis? Acredito que sim, então nesse caso eu farei as honras de poupá-los de toda essa apresentação, seria muito entediante, confiem em mim, então nesse caso, eu tentarei ser o mais breve possível para não deixá-los à deriva.

Me chamo Maya O'Neill. É, eu sei que meu sobrenome não é de um verdadeiro Americano, no entanto, isso é devido ao fato de toda a minha família ter descendência Irlandesa. O que estamos fazendo tão longe de casa? Não faço a menor ideia, e como me mudei pra cá quando tinha apenas três anos, posso dizer que nunca senti muita curiosidade em saber exatamente o motivo pelo qual nos fez deixar nossa terra natal. Um pouco desapegada? Talvez. Tenho vontade de conhecê-la? Com toda a certeza. Enfim a hipocrisia, mas relevem. Mas devo enfatizar que ter essas raízes me deixa muito feliz, já que graças a ela eu adquiri este cabelo ruivo escuro ondulado que combina muito bem com a cor das minhas íris no tom azul-esverdeado. 

Não sei se faz muita diferença também mas, eu sou Sagitariana. Meus amigos costumam dizer que eu possuo muitas características dele, como ser incrivelmente irritante quando quero, e em outros momentos ser a alma da festa, o que eu discordo em relação a primeira parte, mas ok, se tratando deles eu posso relevar já que ninguém ali é completamente normal. Vamos ver, o que mais eu posso dizer? Ah! Eu estou prestes a iniciar a minha tão esperada Faculdade de Cinema, o que é ótimo, afinal de contas, eu quase tive que parir uma criança para poder convencer meus pais a me deixar seguir nesse ramo, e digamos que eles são um pouco "exigentes". Aos cinco anos eu comecei a aprender Irlandês por mera e espontânea pressão dos meus avós. Aos sete, aulas de violão, o que entre todos os outros instrumentos que me foram apresentados, esse me parecia o mais atraente e o menos difícil, porém, como sempre, eu me enganei, óbvio. Aos dez, me colocaram na natação, onde não durei mais do que dois meses já que houve um pequeno incidente em que eu quase me afoguei. Não quero comentar sobre, é meio embaraçoso. Pode ser que eu tenha pulado de barriga bem no fundo da piscina com a intenção de dar um peixinho sem o professor estar por perto e com todos os coleguinhas em volta incentivando o meu subconsciente ao gritarem "Pula!" repetidas vezes? Sim, pode ser. 

Fica muito simples entender que a maioria das coisas que tive de fazer e aprender durante boa parte da minha vida foram impostas, e não escolhidas. No entanto, foi por volta dos meus quinze anos que eu fui apresentada ao minimalismo, e de uma forma incrivelmente aleatória. Não, não foi com a propaganda do YouTube, ninguém assiste elas! Foi através da minha amiga Samantha, uma garota que hoje é uma verdadeira artista, tanto que está cursando Artes Visuais. Sam é incrivelmente talentosa, tanto que eu a chamo de mãos de ouro já que ela consegue fazer qualquer coisa com tinta a óleo, sério, qualquer coisa! Inclusive uma réplica de uma das obras de Van Gogh. E foi graças a ela que meu interesse em pintar pequenos quadros minimalistas surgiu, e desde então, eu vejo lotando as paredes do meu quarto com elas. No começo era um show de horrores, eu não tinha tanta paciência e acabava estragando mais do que melhorando o próprio desenho, mas hoje eu já estou melhor, graças a Deus. 

E é neste exato momento que vocês devem estar se perguntando o que diabos isso tem a ver com o meu curso de cinema, acertei? Se não, só finge que sim e tá tudo certo, não irei te julgar por isso, fica na paz. Bom, o motivo para isso é muito simples: Eu sempre quis viver uma história das quais eu sempre assistia nas telas do cinema. Parece bobo, e talvez até seja, no entanto, eu não estou me referindo a um conto de fadas ou algo desse gênero, uma porque não acredito muito neles, e outra porque o final sempre parece previsível demais aos meus olhos. Eu gosto do mistério, do desconhecido, e de tudo aquilo que parece impossível diante da mente cética e fechada que compõe, infelizmente, a maioria dos seres humanos que preenchem este planeta. E foi a partir dos meus onze anos, mais ou menos, que eu comecei a "vestir" alguns personagens que me foram apresentados, o primeiro deles sendo o bom e amigável Woody. Sim, o Woody de Toy Story, esse mesmo! Eu achava fascinante o modo como ele conseguia se adaptar a cada situação, e que junto disso sua personalidade, mesmo tendo uma essência, era mutável. Acontece que o tempo foi passando e com isso eu não parei mais. É como se, de alguma maneira, eu estivesse amadurecendo e aprendendo sobre o cinema através da ajuda deles, tanto que passei no vestibular sem muita dificuldade.

É, acho que isso resume um pouco sobre a minha trajetória, um pouco chata, não? Me perdoem, juro que tentei deixar um pouquinho interessante, mas tudo bem, prometo que vou trabalhar mais nisso, porém não agora, visto que um famoso barulho que eu já conhecia se aproximava das redondezas do meu quarto, fazendo-me fechar os olhos e soltar um pesado suspiro quando as três batidas ecoaram por todo o recinto.

一 Filha, levanta! Você vai se atrasar! 

Levei minhas mãos de encontro ao rosto e massageei minhas têmporas, eu estava exausta, e se eu soubesse que iria acordar um trapo, teria ido dormir mais cedo e sem comer tanta bugiganga na noite anterior. 

一 Já tô indo, pai! 一 Minhas mãos bateram com certa força no colchão. 一 Jesus, que enjoo... 

Meu corpo virou para a esquerda por vontade própria, aquela pizza de pepperoni atingiu meu fígado em cheio, Jesus. 

一 Se demorar muito vai acabar ficando sem carona!

一 Eu tenho carro, sabia? 

一 E eu que estou com a chave dele, espertalhona!

一 Mereço... 一 murmurei entre dentes, lamentando mentalmente ao pensar no pouco tempo que teria para tomar banho, se vestir, arrumar minhaa coisas e ainda descer para tomar café. 一 Acho que eu só vou amanhã.

一 Maya O'Neill. 一 Seu tom emitia certo perigo.

一 Já entendi! Já entendi! Velho chato...

一 O que disse?!

一 Pai, me deixe em paz pelo amor de Deus!

一 Você tem quinze minutos.

Meu pescoço foi automaticamente projetado para trás para que pudesse encarar o teto. Minhas pálpebras pesavam tanto que tentar mantê-las separadas parecia uma tarefa um pouco impossível no momento, mas nada que um banho gelado não resolvesse. Empurrei o lençol para baixo com força e me sentei na cama, sentindo meu estômago revirar. Ter comido aquele tanto de doce na noite anterior não foi uma escolha muito inteligente, mas o que eu podia fazer? Era a última temporada da minha série favorita, eu precisava descontar minha frustração em algo. 

Passei a mão pelos meus cabelos e os joguei para trás, em seguida me dirigi até o guarda roupa e tirei uma muda de roupas, nada muito exuberante, mas também nada tão simples, apenas um shorts jeans e uma camiseta branca de um tecido bem fininho e gelado. Peguei minha toalha e me dirigi ao banheiro para poder tomar uma chuveirada rápida, e após me vestir, decidi que seria melhor prender meus cabelos em um alto e frouxo rabo de cavalo, afinal, ele estava em um estado lamentável. 

一 Merda! Hoje é aniversário da Jennifer... 一 praguejei com um enorme pesar por ter esquecido desse pequeno e tão importante detalhe. 一 Não acredito que esqueci de ir buscar o presente dela. 

Por ironia do destino, ou talvez não, ouvi meu celular vibrar em cima da cômoda, e ao me aproximar para ver de quem se tratava, um sorriso de alívio brotou em meus lábios.

一 Ethan! Ainda bem que você me ligou, eu...

一 Esqueceu o presente da Jen, é eu sei.

Fiz uma careta e apoiei a mão sobre o quadril.

一 Como você sabe?!

一 Poupe-me né? Você é a própria Dory, amor. 一 Seu tom era sério, mas ainda assim havia um pouco de goz*ção nela. 一 Eu passei na loja para retirar, o que é?

一 Uma bolsa e dois bucket. 

一 Imaginei, é o que ela mais usa.

一 Exatamente. 

一 Enfim... Quer carona?

一 Não, obrigada 一 disse enquanto pegava a minha mochila e calçava os sapatos. 一 Eu te encontro lá.

一 Maya!

A voz dele vinha da cozinha, e ele parecia mais impaciente do que antes. Eita homem difícil e que tem TOC com horário, meu senhor...

一 Tô descendo! 一 Fechei a porta com força após desligar o aparelho e colocar no bolso. 一 Parece que nasceu de cinco meses, que saco.

A sensação que eu tinha era de que a cada passo que eu dava ao descer as escadas, mais meu estômago gritava: "Devagar aí, minha querida!". É exatamente isso o que acontece quando você exagera mais no que não deve. É claro que eu adoro doces, mas a partir do momento que você acaba com uma caixa de bombom inteira e duas barras de chocolate ao leite quando se é um pouco intolerante a lactose, não pode-se esperar que dê muito certo, não é mesmo? Bom, acho que é um pouco tarde demais para lamentar agora.

一 Finalmente!

Eu olhei para a direita e vi meu pai terminando de colocar uma boa porção de ovos mexidos em meu prato. Seus olhos azuis, os quais eu puxei, pareciam cansados. Sua pele estava mais pálida do que o normal, é nessas horas que a gente vê que passar mais de oito horas em um escritório pode acarretar. Meu pai sempre foi um homem muito sadio. Alto, forte, e com uma saúde de dar inveja, tanto que nem me lembro a última vez que ele teve um mísero resfriado. Já eu era o oposto, literalmente. 

一 E a mamãe? 一 perguntei enquanto puxava a cadeira e me acomodava, dando uma boa mordida em uma torrada. 

一 Teve de ir mais cedo à empresa para se preparar para uma reunião. 

Ele largou a frigideira na pia de mármore e se acomodou ao meu lado, na ponta da mesa. 

一 Ela deve estar cansada... 一 O fitei com um semblante tristonho que o fez forçar um pequeno sorriso. 一 Vocês dois deveriam tirar umas férias.

一 Não é tão simples assim, querida. 

一 Qual é, George, você é o patrão! 

Eu sempre o chamava pelo nome quando achava conveniente, sempre caía bem em situações como essa, e o melhor de tudo é que ele sempre ria quando eu fazia isso. 

一 Exato, e é por isso mesmo que não posso ficar muito tempo longe. 一 disse com um ar risonho, dando uma mordida no seu filete de bacon. 一 Há coisas que só eu posso resolver.

一 Parece injusto ao meu ver, todo mundo é filho de Deus, sabia? 一 Eu o cutuquei no braço e soltei uma risadinha que o fez manear a cabeça, concordando com meu ponto de vista. 

一 Está ansiosa para o primeiro dia?

一 Não, nem um pouco.

一 Encheu o nosso saco até dizer chega e ainda tem coragem de me dizer uma coisa dessas?! 

Rolei os olhos, detestava quando ele tinha razão.

一 Não é que eu não esteja, ok? Eu só não tô muito legal hoje, esse enjoo tá me matando! 一 murmurei, largando meu corpo no encosto, e ao perceber que ele me fitava com um semblante intrigado, bufei. 一 Jesus, George! Eu não estou grávida! 一 Dei um leve tapa em seu braço.

一 Tem certeza?

一 Sim! Mas que coisa... 一 Rolei os olhos.

一 É que sempre há uma possibilidade e...

一 Pai, por favor! 一 O interrompi entre dentes.

一 Já entendi! 一 Ele ergueu ambas as mãos em rendição. 一 Não iria querer falar sobre isso tão cedo também, ainda mais sem a sua mãe.

一 Misericórdia... 一 Massageei as têmporas com força. 

Ele se colocou de pé e abriu uma das portas do armário, tirando uma caixa branca e em seguida uma cartela de comprimidos, entregando-me um.

一 Leve mais um na mochila, por precaução. 

一 Obrigada. 一 Eu engoli aquilo com certa dificuldade, tomar comprimidos é relativamente complicado pra mim por motivos especiais, também não quero comentar sobre, eu tinha cinco anos. 一 Sábado vai ter a festa da Jen, ok? Então não voltarei pra casa.

一 Aquele tal de Ethan vai estar lá?

一 É óbvio que ele vai estar lá, é a prima dele!

一 Não gosto daquele rapaz...

E lá vamos nós de novo. 

Desde que eu comecei a namorá-lo, e isso tem apenas cinco meses, meu pai pareceu pegar birra dele. O motivo? Não faço ideia, mas da última vez que conversei com a minha mãe, ela disse que ele estava apenas enciumado por não ter se dado conta de que eu já era uma mulher. O que é meio irônico porque aqui podemos dirigir quando completamos dezesseis anos mas só somos oficialmente adultos aos dezoito. Um pouco confuso, mas né, é isto.

一 Seu cabelo está mais comprido 一 Sua voz fez eu voltar de meus devaneios. Acabei levando minha mão até as pontas e abri um sorriso ladino, ele tinha razão. 一 A cada dia que passa você fica cada vez mais bonita, e mais parecida comigo também.

一 É, todo mundo diz que eu sou a sua cópia. 

一 Eles estão certos. 一 disse, dando-me uma piscadela. 一 Bom, eu tenho que ir. Precisa de alguma coisa?

一 Não, estou bem.

一 Certeza?

一 Sim, George, não se preocupe demais, é apenas o primeiro dia de aula. 

Eu o observava terminar o seu café com pressa, e após vê-lo arrastar a cadeira, meu coração deu uma apertada, e acho que ele percebeu, pois abaixou a cabeça com um sorrisinho e veio até mim para me dar um beijo na testa.

一 Que você tenha um ótimo dia 一 Ele ergueu meu queixo com o indicador e o acariciou, afastando-se logo em seguida para poder pegar o blazer que estava pendurado no cabideiro perto da porta. 一 Hoje é segunda feira, então...

一 Futebol às oito, entendido.

一 Essa é a minha garota! Até depois, querida.

一 Tchau...

E não deu cinco segundos até que eu estivesse sozinha. Meu pai é um homem de negócios, então sempre está ligado no 220, cheio de reuniões, problemas para resolver, funcionários para liderar e publicações para averiguar, ser chefe de uma empresa de jornalismo é bem puxado, agora eu sei como o James se sentia na Catco. É, eu gosto bastante de Supergirl, tanto que engoli aquela série em uma velocidade tão alta que tive que rever pela segunda vez para pegar os detalhes. Diferente do meu pai, minha mãe trabalha para uma empresa de construção, algo que está na nossa família há alguns anos. Segundo ela, meu tataravô começou um negócio de paisagismo no bairro que cresceu, localizado na cidade de Cork, e desde então isso foi crescendo na nossa família até minha mãe assumir os negócios, coisa que, obviamente, seria passado para mim, mas eu quebrei um pouco dessa tradição que gerou um rebuliço no Natal passado já que meus avós eram contra, mas tudo acabou sendo resolvido e no final eu recebi apoio de todos.

Senti meu celular vibrar novamente no bolso e pela tela já consegui ter uma ideia do quanto meus amigos estavam animados para a festa através do nosso grupo. Nós éramos cinco no total: Eu, Ethan, Jennifer, Michael e Samantha, sendo os meninos um ano mais velhos que nós, garotas. Jennifer foi a primeira amiga que eu fiz, isso lá na primeira série. Ela é como o meu equilíbrio, mas vocês podem chamá-la de salvadora se quiserem, porque eu já perdi as contas de quantas vezes ela me livrou de enrascadas e brigas. Assim, não é que eu tenha um pavio curto, na verdade, ele é até que bem longo, inclusive... mas enfim! A questão não é essa, mas sim o fato de eu ser um alvo fácil já que, segundo ela, eu irrito as pessoas com esse meu jeito descontraído de conseguir fazer piada com qualquer coisa, ainda mais em momentos que não são apropriados.

Já eram oito horas, o que significava que se não terminasse meu café em cinco minutos, eu iria me atrasar. Depois de terminar eu coloquei a louça na pia, subi rapidamente para escovar os dentes, voltei, passei a alça da mochila pelo ombro, peguei o óculos de sol e por último as chaves, e no momento que coloquei os pés para fora de casa, tive de ser obrigada a fechar os olhos com força devido ao sol.

一 Ave Maria, qual a necessidade de fazer um calor desse nível? 一 praguejei enquanto ia em direção a garagem, desarmando o alarme e dando de cara com o meu bebê, vulgo um Honda Accord na cor azul marinho. 一 Pronto para começar as aulas, garanhão? 一 Eu abri um sorriso de orelha a orelha, admirando este automóvel que me foi dado de presente há dois anos atrás. Me acomodei no banco e passei o cinto, porém no momento que fui dar a partida, ele simplesmente engasgou e morreu. Olhei para o painel e no mesmo segundo meus ombros caíram: Ele estava sem gasolina. 一 Ah, qual é!!!

 

Vinte minutos depois...

 

一 Parece que eu tava adivinhando.

Meus olhos foram de encontro aos dele. Ethan tinha olhos castanhos claro que sempre pareciam cor de ouro sempre que o sol os iluminava, situação engraçada que me fez criar o hábito de chamá-lo de Beta, então podemos dizer que ambos éramos fãs de Teen Wolf.

一 Eu não sabia que ele estava sem gasolina, ok? Eu mal andei com ele esse mês! 一 protestei, momento que ele me fitou com ar de riso. 

一 Não me diga!

一 Você é muito chato. 一 Dei-lhe um tapa no braço, fazendo-o rir. 一 Vamos nos atrasar.

一 Relaxe um pouco, alguns minutos não irão fazer tanta diferença assim. 一 disse ele segurando minha mão. 一 Senti sua falta nas férias, viajar sem você é meio sem graça.

一 Quanto drama, meu Deus... 一 Rolei os olhos. 一 Nós conversamos todos os dias, Ethan. 一 Voltei a lhe encarar, rindo.

Ele se remexeu no banco e suspirou, e quando fez menção de soltar minha mão, eu o puxei delicadamente para poder lhe dar um beijo em sua bochecha.

一 Também senti sua falta, bobão. 

Nossos olhos se encontraram por uns instantes, fazendo-me sentir aquele arrepio no estômago que sempre me intrigava desde o primeiro dia em que o conheci. Jennifer nos apresentou em seu décimo sexto aniversário. Jesus, ele estava tão lindo naquele dia que me sinto uma boba por dizer que caí em seus encantos no momento em que trocamos sorrisos. Os cabelos pretos bagunçados para cima com algumas mechas caindo sobre a testa, seu maxilar meio quadrado e desenhado pela barba recém crescida, o corpo magro e esbelto, tendo as costas largas como seu ponto mais atraente, isso na minha humilde opinião. A calça jeans despojada, o all star de cano médio preto, a blusa polo preta que deixava seu tronco desenhado, tudo isso fez com que meus batimentos acelerassem, e talvez ele tenha sentido algo também, pois foi naquela mesma festa em que trocamos o primeiro beijo, mas como vocês podem ver, demorou um pouco até que nossa relação chegasse a este ponto. 

一 Você está meio pálida, deveria tomar um pouco mais de sol, sabia? 一 disse ele, tirando-me de meus devaneios.

一 Sério? 一 Eu puxei o espelho para baixo e virei o rosto de um lado para o outro, e realmente, eu estava realmente pálida, tanto que as poucas sardas que possuo na região das bochechas agora encontravam-se mais destacadas. 一 Porcaria... Pior que eu não gosto de calor, você sabe disso.

一 Sua família deve ter se esquecido desse fato quando se mudaram.

一 Minha mãe disse que faz frio praticamente o ano inteiro em Cork 一 Um pesado suspiro escapou de meus lábios, nesse ponto ele estava certo, por mais que eu tivesse me mudado ainda muito pequena, minha genética ainda permanecia estável. 

一 Não sente vontade de ir pra lá...? 

Maneei a cabeça, a ideia ainda me era um pouco provável de se tornar real.

一 Um dia, talvez.

Ethan ficou em silêncio pelo resto do caminho, e eu também não quis comentar mais nada sobre o assunto, falar da minha família sempre é complicado, tanto que às vezes tenho a sensação de que tudo o que me contaram sobre nossos antecessores, metade era mentira ou no mínimo, suspeito. No entanto, acho que se eu comentasse algo desse tipo não faria muita diferença, e provavelmente diriam que enlouqueci. Não me levem a mal mas, minha família é um pouco complicada. Meus avós se recusaram a deixar o País natal, o que é compreensível, contudo, eles sempre foram muito ariscos e reservados, tanto que não possuo muitas lembranças onde os dois estivessem presentes por muito tempo ou em momentos marcantes. A única coisa que eles exigiram era que eu aprendesse o idioma para seguir a tradição. 

Às vezes eu tenho a sensação de que minha família guarda algo de mim, porém como não tenho provas, posso dizer que isso é apenas uma neura minha.

一 Amor?

一 Hm? 一 Eu engoli seco e o encarei, um pouco atordoada. 一 O quê?

一 Chegamos.

Meus olhos passearam pelo estacionamento do local, e eu não me lembrava dele ser tão grande. As vagas sendo preenchidas com rapidez, os alunos descendo de seus carros 一 a maioria em grupos 一, e todos carregando um grande sorriso no rosto, como se estivessem acabado de realizar um sonho. Ethan soltou o cinto, tirou a chave do manual e em seguida ergueu o braço direito para poder colocar meu cabelo para trás, segurando assim na curvatura do meu pescoço. 

一 Você está bem? 

Assenti com um sorriso de canto, mas ele ainda não parecia totalmente convencido. A verdade era que eu estava com medo. Pela primeira vez em três gerações da minha família, eu estava quebrando a tradição. Eu a quebrei para poder seguir minha lenda pessoal, um nome um pouco estranho, mas com um significado enorme e que só fui compreender após ler O Alquimista do autor Paulo Coelho. A história fala sobre um pastor que larga tudo para poder seguir seu objetivo. E foi exatamente o que eu fiz, na verdade, o que pretendo fazer.

Eu segurei em seu braço com certo apego e soltei um falho suspiro. Meus olhos lacrimejaram pelas vozes que surgiram dentro da minha cabeça, repetindo frases que agora já não me davam calafrios. E sinceramente, nem valeria a pena repeti-las, então apenas imaginem todo tipo de coisa que uma pessoa uma vez já te disse para te desmotivar quando contou a ela sobre seguir seu sonho. Bem doloroso, não? Sei como é, todos nós, na verdade.

Só que agora eu precisava deixar isso tudo para trás. E eu vou.

一 Sim. Vamos?

Ele sorriu e acenou em sinal positivo.

一 Vamos.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Próximo capítulo semana que vem!


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  • Próximo capítulo

Comentários para 1 - Capitulo 1:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 12/05/2023

Eit! qual será segredo da família.


Hope_

Hope_ Em: 12/05/2023 Autora da história
Uma grande herança, só vamos saber mais pra frente se é boa ou ruim.


Responder

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Socorro
Socorro

Em: 12/05/2023

Oi autora,

já vi tudo... vamos sofrer mto com a maya 

não demora mto ok 

viu adorar acompanhar bj


Hope_

Hope_ Em: 12/05/2023 Autora da história
Vamos sofrer mesmo!


Responder

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Mille
Mille

Em: 11/05/2023

Olá autora 

Gostei do início, acompanhar e emocionar com a Maya. 

Bjus e até o próximo capítulo 


Hope_

Hope_ Em: 12/05/2023 Autora da história
Olá!

Obrigada pelo comentário e por acompanhar.

Até =]


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