Capitulo 5
— Vinte e seis anos!
Lena exclamou antes de tomar um gole de bebida. Estavam no quarto de Marina, em uma das pausas que faziam entre os vários orgasmos que compartilhavam ao longo da noite.
— Vai ver ela só disse um número qualquer, Lena.
— Não sei, Marina... Ela não parece ter vinte e seis anos, se fosse pra chutar um número qualquer, deveria ter mostrado um número que fizesse mais sentido.
— E por que você está tão preocupada com isso?
Lena deixou o copo com uísque na pequena mesa de cabeceira e voltou a se enlaçar em Marina, que continuava deitada.
— Não estou preocupada... Mas é estranho que ela tenha se comunicado assim com a doutora. Em todos esses anos ela não tinha falado a idade para ninguém.
Marina acariciou o corpo dela vagarosamente:
— Lena, nós temos coisas mais interessantes para fazer do que ficar elucubrando teorias sobre Sininho.
Lena levantou uma parte do corpo, apoiando a cabeça na mão esquerda:
— Você não percebeu nada de... diferente... na médica?
Marina a olhou curiosa:
— O que você quer dizer?
— Não sei, a forma como ela fala, ou talvez como ela anda... Ah, Marina, não sei explicar, só sei que eu percebo...
Marina riu com o comentário dela, antes de perguntar:
— Você acha que ela também...?
Lena deitou novamente, olhando para cima, como se refletisse algo muito profundo:
— Talvez. A forma como ela lida com Sininho é, no mínimo, curiosa. Além do mais, uma mulher que se propõe a ser médica... Uma profissão em que é preciso ser tão... Fria...
Marina rolou o corpo, ficando por cima de Lena, antes de dizer com a boca quase colada na dela:
— Que tal falarmos disso depois?
Não deu à ela tempo para resposta. Buscando a língua com a sua, terminou a conversa, enquanto a mão descia pela barriga dela até encontrar o que queria.
*****
Alice estava no ambulatório organizando alguns medicamentos quando ouviu a batida na madeira da porta, que estava aberta. Marina sorriu antes de dizer:
— Atrapalho, doutora?
— Claro que não, dona Marina, entra.
— Vim saber se está tudo em ordem... Saulo já conseguiu tudo que a doutora precisa?
Alice respondeu sorrindo, parecendo realmente satisfeita:
— Quase tudo, mas não se preocupe, em breve teremos o que falta.
— Ótimo! Qualquer problema pode falar comigo.
Ia sair, mas Alice disse:
— Dona Marina... Eu sei que a senhora deve ter seu médico particular, mas não quer fazer uma primeira consulta também? Só para o caso de eu ter os seus dados em alguma emergência.
Marina respondeu de maneira bem-humorada:
— Por que não? Mas espero que essa emergência nunca aconteça.
*****
As primeiras semanas passaram mais rápido do que Alice imaginava. Depois de fazer todas as primeiras consultas e organizar o ambulatório do seu jeito, já se sentia bastante adaptada. Os homens foram todos respeitosos com ela, apesar de ter notado um olhar ou outro. Mesmo assim, agradecia por ter que lidar com mais homens do que mulheres, já que sua fraqueza estava nelas e não neles. Por sorte havia apenas mais quatro mulheres naquela fazenda: Dona Marta, que tinha idade e jeito para ser sua mãe, apesar de ser uma senhora adorável, nunca a olharia com outros olhos, só o pensamento já lhe causava aversão. Marina era sua patroa, e isso por si só já era um empecilho, jamais poderia se envolver com ela, mesmo ela sendo uma mulher muito bonita. Tinha um olhar marcante e uma presença forte, talvez se a conhecesse em outra condição... “Não!”, tratou de reforçar o pensamento de que estava ali para trabalhar, apenas isso. Além do que, já tinha notado que a relação de Marina e Lena era mais estreita do que a de patroa e empregada. Talvez sua cabeça estivesse imaginando coisas e fossem apenas boas amigas.
“É isso, são amigas de longa data”.
Mas então porque nenhuma das duas era casada? Lena também era uma mulher muito bonita, com certeza teve e tinha muitos pretendentes. “Por Deus, Alice! Não é só porque uma mulher não se casou que ela também é… como você”. Espantou aqueles pensamentos, mas se lembrou da última mulher: Sininho. Apesar de ter dito contar com vinte e seis anos de idade, parecia ainda uma menina. De cara, Alice sentiu um carinho por ela, mas era fraternal. “Ótimo!”, pensou. Estava ali para trabalhar, agarrou aquele recomeço e não iria jogá-lo fora. Não cometeria os mesmos erros.
Foi tirada dos seus devaneios pelo, agora já conhecido, barulho dos pingentes. Sininho estava na porta e assim que Alice a olhou, indicou a cozinha, o que já sabia que significava a hora do almoço. Os homens já estavam sentados nas mesas espalhadas pelo cômodo quando entrou na cozinha. Lena e Marina estavam sozinhas em outra mesa, enquanto Marta e Sininho continuavam com os afazeres. Pensou em procurar uma mesa vazia, mas não encontrou. Marina a chamou para que se sentasse com elas e não teve como recusar.
Sentou-se de frente para as duas, que estavam lado a lado. Ao olhá-las, não teve como deixar de pensar novamente que tinham uma relação mais... íntima. Disfarçou como pôde, mas sentiu as faces queimarem por conta do pensamento. “Era só o que me faltava, um problema duplo.”
Tentando desesperadamente desfazer os pensamentos que se formaram em sua mente, soltou para puxar assunto:
— Marta e Sininho não vão comer?
Quem respondeu foi Lena:
— Assim que elas terminarem de servir.
Alice apenas meneou a cabeça.
O barulho de conversa e risada dos homens preenchia completamente o ambiente, junto com o barulho dos talheres batendo nos pratos. Sininho se aproximou delas com uma jarra de suco na mão. Marina estendeu o copo sem olhá-la, seguida de Lena. Como Alice não se moveu, a moça olhou para ela esperando uma resposta. A médica sorriu a olhando e só então estendeu seu copo, agradecendo assim que o líquido o preencheu. Sininho, que não estava acostumada com aquela atenção e gentileza, ficou com o rosto completamente vermelho e se retirou rapidamente, seguindo para a próxima mesa. A cena não passou despercebida por Marina, que disse sem parar de comer:
— Não precisa agradecer, ela só está fazendo o trabalho dela.
Alice não entendeu o comentário:
— O que não significa que não posso ser gentil.
Dando de ombros, Marina respondeu, antes de voltar sua atenção ao prato:
— Você que sabe.
Alice se sentiu incomodada com o que Marina disse. Durante aqueles poucos dias de convivência, já tinha notado que, apesar de tratar todos bem, ela fazia questão de deixar claro para todos os empregados qual era o lugar deles, até mesmo para Lena. Mas com a própria Alice parecia haver um respeito, muito provavelmente pelo fato dela ser médica, ter um diploma e vir da cidade grande.
Abriu a boca para responder, mas as gargalhadas na mesa ao lado a interromperam. Um dos empregados segurava Sininho pelo braço e o sacudia, fazendo com que os pingentes fizessem barulho, enquanto os outros riam. Alice falou diretamente para Marina:
— Você não vai fazer nada?
Não acreditou na resposta que recebeu:
— Eles só estão brincando.
Alice olhou mais uma vez para a mesa vizinha e Sininho estava visivelmente desconfortável, tentando se soltar. Marina realmente pareceu não dar a mínima importância para a cena. Olhou para Lena e percebeu que ela também estava incomodada, mas parecia não querer contrariar Marina. Pelo visto, aquele tipo de comportamento era comum ali. Sem pensar duas vezes, se levantou e foi até a outra mesa. Os homens imediatamente pararam de falar e a olharam.
Alice disse apenas:
— Ela está trabalhando.
Soltou o braço de Sininho das mãos do homem antes de completar:
— E vocês parecem um bando de meninos.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 04/05/2023
É isso aí doutora coloca esse bando de macho no lugar deles.
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