Capitulo 61
CAPÍTULO 61
POVO MÍSTICO
Do lado de fora da casa, que nos abrigou por algum tempo, que não sei dizer o tanto, por não termos noção, desde que entramos nessa jornada que o tempo, esse contado por nós, cronometrado em horas, minutos, segundos, dias, semana, meses e anos, deixou de ser contado, onde estávamos, o tempo não existia, o que existia era dia escuro e dia cinzento, e que nós viajantes, chamávamos de dia e noite por ser muito parecido.
― Dona Miriam a senhora por ser uma feérica, eu vou tentar uma coisa, passar esse pó preto no seu corpo, ele deu certo com a Aldrava que é um anjo transformado em trinco de porta. — Esther soprou o pó no ar, que através de magia se transformou em nuvem fina e negra cobrindo dona Miriam por completo, deixando seu filho, que tinha acabado de chegar, maravilhado com o efeito.
― Então meu filho como estou? ― Fazia piruetas.
― Para mim está igual, agora lá em cima a senhora vai estar invisível. Mãe já está tudo pronto, cada grupo no seu posto esperando a guerreira que vai liderar, assim que a senhora sair, vou organizar as crianças aqui mesmo, a Nalum vem pegar a gente na hora marcada, nós agora só vamos nos ver no nosso mundo. ― O garoto abraçou a mãe e eu vi esperança nos olhos dos dois, um nó apertou na minha garganta, em pouco tempo todo o sofrimento deles ia acabar, e nossas vidas nunca mais seriam as mesmas, o garoto se despediu se curvando como se fossemos rainhas e foi para casa.
― Vamos andando Esther, é um longo caminho.
Ao entrar na rua principal dava para ter uma noção do tamanho da importância do tal diretor da prisão, pela quantidade de segurança nas ruas, a cada quadra um guarda todo vestido com armadura da era medieval em pé segurando uma lança em uma das mãos e na outra um rádio de comunicação, atento a cada movimento, felizmente para nós que estávamos invisíveis para olhos curiosos, passamos despercebida.
Deveria ter um propósito eles estarem usando aquelas roupas de cavaleiros medievais, muitos daqueles homens eram nossos aliados, mas eu não sei quais deles faziam parte dos que nos ajudariam.
Dona Miriam que caminhava encoberta com um dos pós mágicos, que vinha entre Jana e Esther respondendo todas as perguntas sobre a Nalum, veio para perto de mim assim que notou meu interesse e me mostrou os guardas.
― Esses aí vestidos como na era medieval, aquelas armaduras protegem de balas de prata.
― Eles são lobisomem? — Jana mudou o foco de interesse.
― Alguns sim, mas a grande maioria foi de alguma forma modificada ao longo dos séculos, no início por cruzamentos não abençoado pelos deuses, os vampiros violentavam as virgens destinadas a aprender e praticar a religião do nosso povo, as virgens iam estudar para serem um tipo de monjas, essas jovens quando foram violadas parte da sua pureza se perdeu e muitas delas entram no submundo e engravidaram, os filhos quando nasceram eram mestiços, e as filhas mestiças começaram a copular com todo tipo de ser, até chegar a eles. Numa luta de espadas eles são invencíveis justamente por causa da velocidade. ― Ela falava bem baixinho. E eu fiquei preocupada com as garotas que iriam ficar encarregadas desse grupo de soldados, tratei logo de avisar minha amiga chamando pela ligação.
“― Ameth. Cuidado com os guardas de armadura, eles são híbridos e só morrem com bala de prata.”
“― Acabamos de descobrir. A sua filha trouxe um arsenal de balas e flechas de prata, não me pergunte onde ela conseguiu, pois ela chegou às pressas explicou tudo e foi embora, parecia que estava fugindo de alguém, ela me lembra alguém quando olha diretamente na cara, o que faz com insistência.”
Eu conhecia alguém que sempre me olhou assim desde o dia em que me viu pela primeira vez, aprendi a gostar dessa forma de conversar sem palavras, e agora minha filha também parecia ter esse mesmo gosto peculiar, talvez fosse uma das características das guerreiras.
“― O sorriso dela é igual ao do meu pai.” ― Falei apressada para findar a comunicação, mesmo eu ficando feliz quando o assunto era sobre minha filha, que um dia ia nascer, mas eu estava no modo de lutar e correr, não podia perder tempo. “― Agora vou encerrar, aqui está infernal.”
Esther não gostava quando eu ficava desatenta em momentos assim, mesmo que tudo estivesse sob controle, ou numa calma.
― Ainda bem, vocês quando começam a conversar não tem fim, olha chegamos! ― A melhor maneira de lidar com a rabugice da minha beta, era não bater de frente, achei mais sensato calar e continuar para onde seria o ponto de espera.
Chegamos bem próximo ao portão, sem sermos vistas por nenhum ser vivo, esse local foi o escolhido para o meu ponto de espera, o restante ia para outros pontos Heloise se encarregou de levar dona Miriam com ela para o próximo portal onde todos iriam atravessar e voltar para seus mundos, mas antes de ir ela agradeceu.
—Talvez a gente nunca mais se veja, muito embora eu saiba que sim, sua filha é muito amiga do meu povo, devo a vocês minha vida, no dia que precisarem, daremos as nossas vidas por sua causa seja ela qual for, até um dia Alfa, e Esther você ia gostar do meu povo. — E com essas palavras elas se foram deixando minha beta curiosa.
— Mamãe… — Foi a primeira vez que vi Esther sem fala, quando vozes uníssonas a chamaram. — Lá nos fundos está o portal por onde o diretor vai passar, todos os guardas estão a postos. É ele chegar, abrir o portão e se fuder, daquele lado não vai sobrar um vivo. Vamos arrancar a mão dele e os olhos, mas não vamos matar, esse prazer é todo da Gilles. ― Elas se viraram para onde eu estava em silêncio admirando a semelhança entre as irmãs e o modo de falar igual ao da mãe, sem papas na língua.
― Nara… Não sabe a felicidade que temos em ver que está bem. ― A outra gêmea ia dizer algo, mas foi calada pela a irmã que tapou sua boca, que esperneava com força e acabou se soltando e empurrando a irmã.
― Puta que pariu Inaê! Eu não ia falar pra ela da surpresa.
― Cala a boca sua cachorra vai acabar falando merd*. ― A outra que supostamente era a Iara chutou nas canelas da irmã fazendo sinais para que ela visse Jana ali perto, vendo a hora das coisas saírem do controle ou a filha dizer algo inapropriado, Esther interveio na briga das filhas.
― Melhor nós irmos antes que o tal diretor chegue, mas eu vou querer saber que surpresa é essa.
― A surpresa é para a Nara, mamãe, deixe de ser curiosa, mas eu acho que a senhora já sacou tudo.
Não deu para eu entender mais nada, a outra gêmea, a Iara segurou no pulso da sua gêmea e da mãe e as três sumiram no ar e eu fiquei com a Jana ao meu lado esperando que viessem transportá-la para outra frente de combate, não esperei muito tempo, Gilles surgiu com tanto ódio que tremia os dentes.
― Qual o problema Gilles? ― Perguntei de forma carinhosa, ela respirou várias vezes tentando se acalmar e por fim me respondeu com outra pergunta.
― Você sabe quem é o desgraçado do diretor? ― Fumaça negra circulava em redemoinhos ao seu redor, ora grossa ora bem suave, tentando segurar a loba, como se cantasse uma canção de ninar, acalmando-a.
― Quem? ― Perguntei por perguntar se era a surpresa que as gêmeas falaram, elas erraram, a surpresa era da Gilles, mas confesso que eu também não esperava por esse desfecho.
― O filho da puta do Cedrick, ele é o diretor do presídio, e minha raiva maior é que não posso levar ele daqui, para torturar aos poucos, temos que ser rápidas e não podemos levar nada daqui a não ser o que foi feito por nós.
Eu entendia minha amiga, não é fácil pra ninguém viver uma vida de abusos e não poder se vingar quando chega o momento, eu sou dessas que acredita que a vingança deve ser bem lenta e cruel.
― O que você vai fazer?
― Quando as gêmeas cortarem o pulso arrancando a mão do desgraçado, eu mesma vou arrancar os olhos dele com meus dedos, mas antes vou tapar a boca dele com minhas sombras para ele não gritar, e arrancar tudo, todos os órgãos dele e deixar pendurado.
― Tome cuidado, esse Cedrick é muito pior agora do que aquele que te jogou numa cela quando criança. E não se esqueça que ele fez um trato com o pessoal lá de baixo.
― Eu sei por isso que minhas sombras vão cuidar dele, e quando você libertar o anjo, vou enfiar a espada no meio dos seus olhos dando um fim a ele. — Rápida como o vento, ela levou Jana, que se encolhia, acho que com medo de dizer algo.
Todas nós sabíamos, que uma morte vinda com a espada da Gilles levava o ser para o nada, ele não tinha mais salvação e nem direito a julgamento.
As horas não passavam e nada acontecia, todas já estavam em seus postos, talvez até já em batalha, e eu ali sozinha sem nada pra fazer.
— Se sentindo só, meu raio de sol? — Ela passou uma das mãos na minha cintura cheirando o meu pescoço, me causando um arrepio gostoso. E com a outra, tirou as espadas da minha aljava colocando apoiada na minha perna esquerda, deixando fácil o acesso para pegar.
— Agora não mais, ainda demora muito para começar a brincadeira? Estou ficando cansada de não fazer nada. — Apoiei minha cabeça em seu ombro direito aproveitando os carinhos recebidos, eu nunca tinha me sentido assim louca por carícias ou amando qualquer gesto de carinho, eu amava a sensação de estar nos braços da Nyxs, mesmo em momentos como esse, que a qualquer momento tudo poderia virar um inferno.
— Está quase na hora de tudo isso virar um mar de sangue. ― Nyxs ficou calada um tempo, quando pensei que ficaríamos assim, ela perguntou baixinho preocupada. ― A pouco tempo eu senti sua raiva pelo nosso laço, o que houve? Quando vi através dos seus olhos tudo que vi foi a companheira da Ananya te enfrentando, não deu para ouvir o que ela dizia, só dava para sentir suas emoções, o que ela disse que te chateou tanto? — Virei o rosto para olhar em seus olhos.
— Nada para se preocupar. ― Não queria levar pra ela esse tipo de problema.
Nyxs ficou aguardando uma explicação e eu admirando sua boca, que me hipnotizava de uma forma que eu não resistia, nos beijamos na posição incomoda em que estávamos, e foi incrível, nunca pensei que gostasse tanto de beijar como agora, se não era eu buscando sua boca, era ela buscando a minha, cada beijo tinha gosto de despedida, cada carinho tinha sabor de última vez e cada toque acendia mais meu desejo. Tudo o que queria era estar dentro dela, e quando ela gemia dentro da minha boca eu ficava louca.
— ELE CHEGOU! — Ouvimos o alerta em nossa ligação com a alcateia, todas sabiam e ficamos alertas, sem uma palavra assumimos a posição de luta peguei as espadas em punhos, Nyxs virou de costas com o Vorpal Blade, seu arco e flecha feito por sua mãe, fiquei toda alerta. No momento em que o primeiro portão abriu entramos juntas ficamos em um espaço grande cheio de guardas, porém ainda não era a própria prisão, quando os guardas nos viram a luta começou, cada flecha disparada resultava em um guarda no chão, os que chegavam mais perto, eu os empalava com golpes certeiros das duas espadas, sem dar tempo ver de onde o ataque estava vindo.
— ELAS CHEGARAM! AS BRUXAS ESTÃO AQUI! — Uma voz de homem gritou tarde demais, duas sombras pularam dentro do carro arrancando a cabeça do corpo de cada homem, que estavam junto do diretor, um grito de pavor ecoou na noite eterna, quando olhei, uma das gêmeas estava com a mão do diretor pendurada e pingando sangue segurando o machado ensanguentado com a outra. A outra gêmea passava a lâmina no pescoço do guarda segurando pelos cabelos e jogava fora, muito rápido o que restava, era um corpo sem cabeça estremecendo e caindo para o lado amontoando, corpos no banco do carro que vazava sangue por todo lado, ao lado do motorista que estava tendo o mesmo fim dos colegas se encontrava o diretor, metade dentro do carro, metade fora numa fuga fracassada, por que neste momento Gilles se materializou na sua frente.
As gêmeas pularam do carro, ainda ouvimos Gilles dizer.
— Está pensando em ir para algum lugar, paizinho querido? — Cedrick olhava desesperado para os lados, talvez esperando ajuda, dava para ver ele tentando falar sem sair som da sua boca, Gilles enfiou o dedo dentro do olho e arrastou para fora, com veia e nervos pendurado, Cedrick se revirava de forma horrível enquanto a loba arrancava seu outro olho, ela amarrou os dois em um cordão e pendurou no pescoço como troféu.
Quando as gêmeas voltaram, Gilles apenas sorriu e sumiu pegando antes no piso do carro uma navalha.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: