CAPÍTULO 60

ESTRATÉGIA

Nyxs parecia estar apreensiva com algo que não queria me dizer, arrumou sua roupa olhou para os lados, me beijou mais uma vez. E me empurrou para a porta delicadamente.

— Agora vá, eu já estou muito atrasada, as guerreiras já chegaram e estão me esperando, eu queria poder dormir com você uma noite e amanhecer em seus braços, mas parece que neste mundo cada momento ao seu lado tem sabor de último, mas não fico triste porque sinto que você também se sente assim e que se dependesse só de você, ficaríamos aqui trans*ndo até o final dos tempos, por nossos momentos serem curtos, são de fato, intensos.

Ficamos abraçadas numa despedida silenciosa, se não fosse meu dever como alfa e minha busca, eu com certeza ficarei feliz em ter uma noite inteira com ela e dentro dela, mesmo sabendo que estamos em épocas diferentes e mundos diferentes e que essa loba em meus braços não existe no meu mundo, lá ela é só uma criança.

 Abaixei a cabeça olhando o chão tentando ver os fios de cabelos espalhados no assoalho só para ter outro lugar para olhar que não fosse aqueles olhos que me fascinavam, o abraço quebrou com relutância de ambas, Nyxs segurou em meu queixo e sempre me olhando dentro dos olhos, como a gravar minha imagem desapareceu, fiquei por instantes perdida olhando o nada a minha frente e o vazio que sua falta deixava em mim, o chão estava limpo sem um fio de cabelo que denunciasse o que tinha acontecido.

Voltei para a sala onde as lobas já estavam comendo, Esther me olhou de cima a baixo, como se fizesse uma leitura de mim.

— Porr* garota, você demorou demais o que foi dormiu na banheira? — Quando ela me viu realmente foi que percebeu os cabelos, eu fiquei olhando cada uma e ninguém sentiu o cheiro do sex* entranhando em meu corpo. — Com esse corte de cabelo, ficou uma sapatão de arrasar. Como conseguiu cortar tão bem cortado assim? — Esther levantou puxando uma cadeira e colocou ao seu lado me chamando.

As lobas todas elogiaram meu cabelo, somente Jana me olhava meio atravessado como se quisesse descobrir algo no meu olhar.

“— O que está acontecendo Nara, eu sinto você preocupada, arredia com esse brilho no olhar que antes não existia, às vezes a gente pega você sorrindo do nada, eu sou sua beta porr*, confie em mim!” — Ainda bem que tudo isso foi dito pela nossa ligação, eu realmente sorri de canto ao lembrar do que me fazia sorrir sem nem eu mesma saber que estava fazendo. Eu queria ter coragem para me abrir com ela ninguém melhor do que Esther para entender o quanto eu estava dividida, mas já não era nenhuma criança com medo de tempestade, minhas lutas eram só minhas eu teria que fazer uma escolha, mas de qualquer forma alguém sairia ferida e magoada, não existe uma escolha, não podia ficar com uma e deixar outra, também não podia ficar com as duas. O certo seria ficar só comigo mesmo. Nyxs falou que quando voltasse ao nosso tempo ela esqueceria tudo, e eu? Será que esqueceria? Pra ser mais sincera, será que eu queria esquecer?

— Depois a gente conversa. ― Foi tudo que disse.

— Eu sei o que é. Só preciso que confie em mim. Mas depois a gente conversa, olha lá quem está chegando. — Duas senhoras e homens, contei uns cinco, entraram até onde estávamos comendo e sentaram, dessa vez em cadeiras ao redor da imensa mesa que não sei de onde apareceu tanto assento. Dona Miriam foi a primeira a falar.

— Está tudo pronto, minha cunhada  a mãe daquele outro garoto que vocês viram comigo, ela vai levar as mulheres para o portal, por volta das três horas da manhã o diretor da penitenciária vai chegar, os guardas estão recrutando reforços para a segurança, eles têm medo de ataque surpresa ou rebelião. — Dona Miriam parecia um general passando informações.

— A senhora permite ver em sua mente como é o diretor da penitenciária?  Precisamos ter certeza, para saber quem vamos matar primeiro. — Esther pediu, eu achei até que ela foi gentil.

— Eu gostaria, mas somos feéricos e nossa magia é diferente, temos um escudo próprio impenetrável pelo seu povo, mas a sua alfa pode ver na mente da companheira dela.

Ouvi Jana resmungar baixinho e todas olharam para ela em busca de entender suas palavras.

— O que foi? Eu não falei nada. Pode continuar o que dizia. — Jana pediu desculpas, mas eu senti serem falsas.

— Alguém aqui ou qual de vocês sabe desenhar para fazer um esboço de como ele é mais ou menos? — Ninguém sabia desenhar, então fiz a pergunta mentalmente.

 “Pode me mostrar como é o diretor da penitenciária?" — Na mesma hora Nyxs respondeu.

“Assim que ele me chegar, te mostro. Já estamos dentro da prisão fazendo o reconhecimento de tudo, vou contar como vocês vão se dividir, nós duas vamos entrar juntas e libertar o anjo.”

Ouvi cada palavra que ela dizia prestando atenção em todos os detalhes.

— Dona Miriam, como seu povo vai ajudar? — Toquei a coxa da Esther com a minha para ela olhar pra mim enquanto falava. — Esther de acordo com as informações faça um mapa para que todo mundo conheça o terreno igual aquele que fez na casa da Gilles. — Puxei minha cadeira mais para próximo a mesa aproveitando e dando uma olhada  na carne, cujo o cheiro, fazia minha barriga roncar e que não tinha comido, ali todas já estavam com a barriga cheia, eu não.

— Como eu estava dizendo, eles colocaram cartazes na rua, e nosso povo se alistou, cada homem desses aqui está responsável por uma unidade de cinquenta, sendo eles machos e fêmeas, aqui tem cinco generais, dois estão lá fora, não podemos entrar na prisão por vias normais, o perímetro e a magia podem nos matar.

— Agatha você ganhou o direito de usar as runas da Winie, a Ansuz, pode decodificar qualquer idioma, use para descobrir os segredos do feitiço e quebre abrindo uma fissura no perímetro e Ameth você carrega a runa do frio, lembre que basta tocar em algo para virar gelo sólido, Gilles e você podem atravessar todos sem problema. — As lobas ficaram de pé olhando o mapa que estava sendo construído.

— O muro começa próximo onde vocês estavam. Daquele ponto voltando em linha reta um quilômetro é tudo muro de pedra escavada nas montanhas mágicas, aqui mesmo. A cada duzentos metros tem uma torre de vigilância com guardas armados com flechas de freixo, essas flechas contém veneno mortal. Quando findar essa distância é o portão. Ele só abre por fora com a leitura da retina do olho do diretor e com a digital da mão direita. O portão tem duas bandas, um lado abri com a retina ocular e o outro lado com as digitais dos cinco dedos da mão direita, depois do portão, mais um quilômetro a direita, tem um fosso dizem que tem jacaré e cobras, e mais um quilômetro por baixo passa o esgoto da fossa e mais um e pronto é isso, aí está a prisão!

— Agatha pegue os potes e vá com os generais deixá-los invisíveis, em seguida faça isso com a tropa inteira, Gilles e Ameth vão atravessar todos assim que você abrir um buraco no perímetro. Sejam rápidas e voltem em segurança.

No momento em que Esther deu a ordem os homens se levantaram fizeram um comprimento com a mão direita em cima do peito esquerdo e curvando o corpo para baixo, um a um repetia o mesmo gesto para mim e para Esther saindo em silêncio.

— Esther vamos sair todas juntas e nos separar. Você, Iara e Inaê irão descobrir e destruir o portal por onde o diretor entra e sai na cidade, as meninas já estão lá vigiando.

— Quando você fala meninas, você está falando de quem?  Da Nyxs? — Jana despejou seu desprezo, não aguentando mais ficar calada.

Esther até tentou dizer algo para interceder, dona Mirian coitada, que não entendia nada continuou me olhando sem entender, fiquei em pé apoiando os punhos fechados quando falei.

— Quando eu falo, as meninas, me refiro as filhas da Esther, da Gilles, da Agatha, até mesmo da sua, porque na hora que me referir à Nyxs, com certeza vou usar o nome dela. Não admito que você fale comigo nesse tom, eu tenho um relacionamento com a sua filha e não com você, à Amkaly, eu devo uma explicação à você, eu não devo nada.

Jana ainda me encarou, mas diante das minhas palavras e pelo fato de nunca ter me visto falar dessa forma, recuou baixando a cabeça, eu sabia o quanto era difícil pra ela ter que aceitar uma pessoa falando nesse tom, pelo fato do cretino do Mascarenhas ter feito isso a vida toda, mas eu não podia voltar atrás em nada do que disse e nem queria, era bom ela entender de vez, quando deveria defender a sua filha, no meu relacionamento com a filha dela, só nos duas podíamos opinar e mais ninguém.

— Agatha e Gilles vão estar juntas com as filhas delas, Ameth e você, Jana, com as filhas de vocês e dona Miriam tem umas guerreiras, que vão estar com a senhora não se preocupe, elas vão querer saber com qual grupo devem ficar, a senhora mostre. — Esther tomava nota dos grupos espalhando ao longo do mapa em formas de figurinhas de lobas e feéricos. Dona Miriam olhava tudo com admiração quando sentiu falta de alguém.

— Onde está a guerreira Nalum? Segundo a lenda, ela é quem vai guiar nosso povo até os portais mágicos.

— Ela vai estar na prisão aguardando, ainda não sei em que local, mas vai estar. O que diz a lenda?

— A lenda é uma história que vem passando a gerações, os pais contando para os filhos, que contam para seus filhos, que um grupo de guerreira ia alinhar a linha do tempo tornando uma só, passado e futuro se juntariam formando um presente e nessa hora as guerreiras que vinham do passado e suas filhas que vinham do futuro lutariam juntas para libertar nosso povo e uma guerreira de olho azul chamada Nalum, ia nos levar em segurança até os portais mágicos.

— Ela já está por lá. — Afirmei convicta, Esther me olhava daquele jeito cheio de perguntas, e Jana toda sorridente, na certeza que a Nalum era filha da Amkaly.

— Por que ela não vai lutar ao seu lado como as outras filhas? — Esther me perguntou com aquele olhar de inspetor da polícia.

— A Nyxs explicou que é porque tem um lance aí com a linha do tempo, ela vai estar perto, mas talvez eu não a veja para não bagunçar o passado, modificando o futuro.

Jana esqueceu que tinha me enfrentado estava só alegria, agora Esther essa deu uma gargalhada alta, mas quando lembrou onde estava colocou a mão na boca e continuou rindo, olhava pra mim e ria.

— Qual o motivo do riso Esther? Minha filha pode muito bem mudar de ideia e engravidar, elas têm uma história juntas. — Depois virando-se para a dona da casa.  — Minha neta tem cabelos vermelhos e tem sardas ou só se parece com a Nara?

Esther continuava rindo e quanto mais a senhora explicava mais ela ria.

— Os cabelos dela são preto com mechas cinzas e tem olhos azuis, é alta, ri de tudo, é de um coração imenso, chora até com o vento, mais de uma valentia feroz, que ainda estou por ver. Quando ela fala todo mundo cala, as crianças aqui têm verdadeira admiração por ela.

Esther parou de rir e ficou me encarando, não dei importância, estava embriagada com as coisas que dona Miriam falava da minha filha, coisas que eu não tinha vivido ou participado, não tinha visto minha filha dar os primeiros passos, correr, não vi nascer seu primeiro dentinho. Ou quem sabe tudo isso ainda fosse acontecer, como se tivesse visto minha pergunta Esther passou a mão em meus ombros, e falou na mente.

“Sua filha tem os cabelos pretos e cinzas, isso não te lembra alguém?"

Não, ninguém na minha família tinha essa cor de cabelo, mas minha mãe tinha os cabelos claros, tia Bárbara era loira original, quem sabe ela puxou esse lado da família?

Fim do capítulo