Flashback on

- Então vamos combinar pra semana que vem e eu já começo a te ensinar.

- Tudo bem, vamos combinar direitinho, você me avisa no BP do Orkut qualquer coisa.

Dizendo isso eu lhe dei um abraço, mas diferente das outras vezes, ela deu um beijo no meu pescoço fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e foi embora.

Flashback off

Depois que a Stephani foi embora, eu entrei correndo pra dentro do meu quarto e me joguei na cama, pena que infelizmente privacidade é uma coisa que eu não tenho, pois divido o mesmo quarto com Carol e Camila, porém fiquei deitada de bruços e de olhos fechados sentindo todas as sensações que um simples beijo no pescoço me causou. Fiquei horas revivendo isso e sempre sentia a mesma coisa, um frio na barriga, um arrepio na nuca e um desejo insano de que aquela boca tivesse beijado outra coisa além do meu pescoço. Camila notou que estava muito quieta, coisa que era bem raro, e veio sentar-se na minha cama.

- O que tu tens Carla? Estais muitos calada, isso não é normal nem pra ti.

- Me deixa Camila eu só estou cansada, nosso dia hoje foi puxado.

- Sei... vim te chamar pra jogar um pouco de basquete lá na frente, queres?

- Bora! – Eu  não contei, mas também gosto de jogar basquete, mesmo não tendo altura pra isso.

Muitas cestas acertadas depois, estava eu suada sentada na frente da calçada de casa tomando um vento e enrolando pra ir tomar banho, quando sinto aquele perfume amadeirado que com o tempo percebi que passou a ser o meu preferido se aproximando. Ao levantar a cabeça, dei de cara com a Stephani me encarando, ela estava linda com aquele jeito largado dela de ser, eu tomei um susto. Larissa que estava ao lado dela, não perdeu tempo com sua implicância.

- Égua Carla, tu estais podre e só suor! Credo, vai tomar um banho!

- Olha Larissa, eu só não dou na tua cara agora porque eu realmente preciso de um banho, só estava pegando um vento na calçada, mas já vou entrar. Onde vocês vão?

- Não te interessa!

- Para de implicar com a menina Larissa. Vamos numa sorveteria ali na frente, passei aqui pra saber se queres ir com a gente, mas pelo visto ainda vai demorar porque tens que tomar banho e eu bem sei que teus banhos não são nada práticos.

- Não, me espera aqui por favor, prometo que em 20 minutos eu estou pronta.

- Vê se não demora Carla, não to afim de ficar aqui te esperando, só vim mesmo porque a Stephani encheu o saco porque queria te levar.

Na hora eu dei um sorrisinho de lado e a Larissa levou um tapinha da Stephani que estava bem vermelha pela situação. Dei uma desculpa e entrei correndo pro banheiro, várias coisas passavam pela minha cabeça, e a principal delas era se eu estava entendendo os sinais de maneira certa ou estava só me enganando por estar gostando dela. Sai do banho e vesti uma roupa mais casual, já que iríamos a uma sorveteria que ficava por perto, avisei a minha avó e ela não viu problema sair com as meninas. Quando cheguei na calçada, Stephani estava sozinha e estranhei.

- Larisssa teve que ir, a mãe dela ligou avisando que precisava da ajuda dela.

- Entendi. Você ainda quer ir? Se não quiser não tem problema. – Eu sempre me auto sabotando.

- Não, vamos sim. Até prefiro, assim a Larissa não torra minha paciência e nem implica com você.

Fomos andando, em completo silêncio, como duas estranhas até a sorveteria. Fizemos nossos pedidos e fomos sentar num banco mais afastado, escolha de Stephani diga-se de passagem.

- Então quer dizer que você quer aprender a tocar bateria agora, não ficou satisfeita com o violão?

- Ah, não é bem assim, eu só quero poder aprender a tocar outros instrumentos também. – Mentira, eu só queria ficar mais perto dela.

- Sei... mas você sabe que precisa ter coordenação motora nos quatro membros pra isso?

- Sei na teoria, na prática que são elas.... kkk

- Não é tão difícil assim.

Quando ela terminou de dizer isso, sentou bem atrás de mim. Eu pude sentir a respiração dela bem compassada batendo na minha nuca, pegou em meus braços e começou a fazer os movimentos como se tivesse uma bateria na minha frente. Ela pegava no meu braço de maneira bem delicada, mas eu senti ela se aproximando mais, e pude sentir os seios dela nas minhas costas e comecei a ficar a nervosa com isso, acho que ela percebeu, pois logo em seguida saiu detrás de mim, o que foi uma pena porque eu tava adorando isso.

- É mais ou menos assim que começa, o ideal mesmo é quando tiver sentada de frente pro instrumento pra ter mais noção onde ficam os pratos, a caixa, o bumbo e as outras partes, e fica mais fácil também pra te ensinar como segurar nas baquetas.

- Entendi! Acho que não vai ser tão complicado assim, só peço que tenha um pouco de paciência comigo, minha coordenação não me obedece muito kkk.

- Sem problema, eu te ensino com o maior prazer. – Eu acho que ela disse no duplo sentido, não é possível que eu esteja entendendo errado.

Terminamos o sorvete e fomos sentar numa pracinha que tinha ali perto, ficamos jogando conversa fora e o assunto da aula não foi mais tocado. Não demorou muito e a Carol chegou com o Jorginho (não gosto desse menino, ele é muito enjoado e se acha demais) e ficamos os quatro ali por um tempo e depois fomos embora pois já estava tarde e todos tínhamos aula no outro dia.

Na manhã seguinte acordei bem cedo, estava bem empolgada com o nosso show que rolaria mais tarde. Também não dormi direito essa noite lembrando da Stephani, do beijo no pescoço, da respiração na minha nuca, dos seus braços tocando os meus, dos seus seios nas minhas costas. Lembrar disso me deu sensações novas e que eu desconhecia, comecei a sentir um calor diferente e sentir que na minha região íntima estava ficando úmida, achei estranho e corri para o banheiro imaginando se havia me urinado sem querer, ao entrar embaixo do chuveiro e me lavar, senti algo meio gosmento como uma baba, não falei nada pra ninguém e terminei de tomar meu banho.

Chegamos na escola e foi aquela algazarra, todo mundo perguntando como seria o festival mais tarde, o que tocaríamos e qual horário iria começar. Como já disse, por ser a mais nova da banda, eu estava numa turma diferente de todo mundo, a Stephani já estava no ensino médio, então ela ficava com a galera dela e não me dava bola, fiquei me sentindo péssima por ter ficado boa parte da noite em claro pensando nela e no dia seguinte ser tratada assim, mas vida que segue. Estava terminando o intervalo quando a Carol chega com o Jorginho e ouço eles conversarem.

- Amor, você viu com quem sua amiga estava?

- Que amiga?

- Aquela estranha que toca bateria na banda de vocês, tava de amasso com a Fabiola do 3º ano.

- Sério?? Não acredito. Égua que nojo! Eu imaginava mesmo que ela gostasse dessa pouca vergonha, mas nunca passou pela minha cabeça que ela fosse fazer isso com alguém do nosso círculo de amigos.

- Eu sempre te falei que essa menina era estranha, ridículo isso dela ficar com menina. É até um pecado, Deus fez o homem pra ficar com a mulher. Mas isso eu sei o que é, ela ainda não ficou com um homem que pegasse ela de jeito pra fazer ela esquecer essa sem-vergonhice.

Ouvir aquilo me deixou extremamente triste por dois motivos, primeiro que eu me enganava achando que a Stephani queria alguma coisa comigo e segundo, minha irmã é preconceituosa e eu não sei como ela agiria comigo sabendo que estou tendo pensamentos com outras mulheres, ou melhor, com a Stephani. Sai da escola arrasada e não quis conversa com ninguém, cheguei em casa e fui direto pro meu quarto, vovó achou estranho e foi até meu encontro querendo saber o que eu tinha, dei uma desculpa que estava com dor de cabeça e queria ficar deitada um pouco pra melhorar pra mais tarde, ela acreditou e foi buscar um analgésico pra mim, deu um beijo em minha testa e me deixou sozinha com os meus pensamentos.

Chegou a hora da apresentação, instrumentos montados e ligados nas caixas de som, microfone sincronizado e tudo organizado. Entramos e começamos a ouvir os gritos eufóricos da galera e mandamos ver na apresentação. Quando chegou o momento da música da dita cuja que me fez perceber meus sentimentos pela Stephani, mas eu não consegui tocar porque eu vi a tal Fabiola bem na frente do palco fazendo coração pra ela, coloquei o violão no apoio e sai correndo do palco com lágrimas nos olhos.

Fim do capítulo