Capitulo 9
Nunca Te Amarei -- Capítulo 9
Luciana pegou uma bolsa grande, correu para o armário onde guardava cuidadosamente suas roupas, penduradas e protegidas com plásticos, e tirou tudo o que lhe pertencia. Fechou as cortinas e triste, sentou-se na cama enorme enquanto os olhos vagavam pelo quarto. Tudo agora pertencia ao passado. Não conseguiu evitar que algumas lágrimas caíssem de seu rosto. Sentiu um enorme vazio. Ela, com a mão, enxugou as lágrimas, a vida tem que seguir.
Assim que Kristen entrou no edifício, o porteiro a fitou com os olhos esbugalhados. Ignorando o olhar, ela encostou-se ao balcão.
-- Me chamo Kristen, sou a filha do senhor Arthur.
Ele não falou nada.
-- Perdemos a chave do apartamento, o senhor com certeza deve ter uma chave reserva, não é mesmo?
Ele não respondeu. Com uma expressão quase atordoado, continuou a fitá-la em um quase estado de choque.
-- Será que o senhor pode me entregar a chave reserva?
Nada.
Kristen estava começando a se perguntar se o homem não tinha algum nível de deficiência intelectual ou qualquer coisa parecida. De qualquer modo, estava perdendo a paciência. Tirou a mochila das costas e colocou no chão.
-- Será que terei que chamar um chaveiro para abrir a porta do apartamento?
O porteiro ficou com a boca aberta e piscou várias vezes antes de falar.
-- Não, não, senhorita Donati, não será preciso chamar o chaveiro -- Vicente abriu uma espécie de cofre e procurou pela chave reserva -- Aqui está -- com mãos trêmulas entregou a Kristen.
-- Finalmente! -- provavelmente deveria ter agradecido, mas estava muito irritada para responder educadamente. Cruzou a portaria com piso de mármore, indo em direção ao elevador e apertando o botão.
-- Posso ajudá-la se a senhorita quiser?
-- Não precisa, eu sei onde fica.
-- Vai ficar pouco tempo?
Kristen não respondeu. Talvez, se o ignorasse, o homem fosse embora. Porém, não teve sorte.
-- É uma mochila bem grande. Está pesada? Posso carregar para a senhorita?
Algo na voz do porteiro fez Kristen voltar a encará-lo. Parecia que o homem estava prestes a chorar. O elevador finalmente chegou.
-- A mochila está vazia -- Kristen disse e entrou no elevador.
-- Só quero ajudar -- o porteiro retrucou. Porém, a garota apertou o botão do andar e as portas se fecharam.
Luciana entrou no quarto para pegar a prancha de surf. Arthur havia instalado um rack na parede para pendurá-la verticalmente.
-- Devia ter pedido ajuda para o senhor Vicente, isso aqui vai ser difícil de tirar.
Após muito esforço e xingamentos, Luciana conseguiu desengatar a prancha do rack e colocar no chão.
-- Meu Deus, que sufoco! -- quando Luciana virou-se, viu uma caixa em cima da cama -- O que será? -- ela abriu e dentro da caixa havia um vestido azul claro lindo, e um bilhete escrito: Para Lú, com amor. Os olhos da moça se encheram de lágrimas. Ela guardou o vestido na bolsa e jogou a caixa no lixo -- Arthur, Arthur, por quê? -- suspirou profundamente.
Naquele instante, ela ouviu o barulho da chave girando na fechadura. Olhou para todos os lados procurando um esconderijo seguro. O desespero bateu forte e o único lugar que lhe veio à mente para se esconder foi embaixo da cama.
-- Mas que saco! -- Kristen entrou reclamando -- Que homem mais chato, caramba!
O perfume de Kristen invadiu o apartamento, Luciana nunca sentiu um perfume tão gostoso e perturbador como aquele.
Para aumentar ainda mais o seu desespero, a loira entrou no quarto à procura de algo que ela não fazia a mínima ideia. Luciana encolheu-se, tentando bloquear os pensamentos ruins.
-- Meus Deus não permita que ela me descubra. Por favor, meu Deus.
Luciana rezava baixinho.
Finalmente Kristen parou ao lado da prancha, Luciana tremia e encolhia-se toda, como quem queria sumir debaixo do piso.
Kristen se abaixou e levantou a prancha.
-- Poxa pai, nenhum surfista que se preze deixa uma prancha jogada dessa forma no chão.
Ela encostou a prancha na parede e passou a mão por ela, num gesto de carinho emocionante.
-- Eu ainda vou ser campeã brasileira com essa prancha, pai. Eu prometo.
Kristen então começou a olhar para uma prateleira à sua frente, onde haviam vários porta-retratos. Luciana ficou tensa, a batida de seu coração se acelerou. No meio dos vários retratos havia um que ela não poderia ver de jeito nenhum. Felizmente, Kristen pegou um dos porta-retratos e sentou-se em uma poltrona próxima a janela. Luciana deu um suspiro de alívio, mas seu alívio foi de curta duração, porque viu alguma coisa cair de cima da poltrona próximo aos pés de Kristen.
-- Minha calcinha! -- colocou a mão sobre a boca. Sentiu-se como se fosse desmaiar, como se o mundo girasse ao seu redor -- Como eu pude ser tão desleixada! -- sentiu vontade de arrancar os próprios cabelos.
Minutos depois, Kristen levantou-se e devolveu o retrato à posição de origem. Aquele não era o melhor momento para lamentações. Só queria entender o motivo do pai ter tirado a própria vida. O que faltou a ele? Era a pergunta que talvez nunca fosse respondida.
Kristen pegou a prancha e ajeitou-a embaixo do braço, olhou em volta, nada mais que estava naquele apartamento a interessava, não guardava nenhuma recordação ou algum sentimento que a emocionasse, era apenas mais um imovel frio e triste a somar-se ao vasto império Donati.
Sem nenhuma outra razão para ficar, ela se virou e saiu do apartamento.
Luciana suspirou aliviada por ela ter saído sem ver a calcinha no chão. Precisou de alguns minutos para se recuperar.
-- Que loucura! -- riu, embora soubesse que a situação era bem séria -- Não há nada tão ruim, que não possa piorar! -- refeita, ela saiu do esconderijo. Kristen já havia saído, mas o seu perfume ficou pairando no ar. Luciana respirou fundo, inalando seu viciante perfume -- Acho que reconheceria esse perfume em qualquer lugar, mesmo a metros de distância.
Luciana olhou para sua calcinha de renda no chão, depois para a foto de Arthur no porta retratos.
-- Pensa no tamanho da decepção se a sua filha descobrir a verdade? -- ao abaixar-se para pegar a calcinha do chão, Luciana viu um papel embaixo da poltrona, ela o apanhou e leu: -- Reserva para o restaurante Oteque, dia 20/01 às 21:00. Foi o dia em que o Arthur tirou a vida. Que estranho!
Luciana voltou à realidade.
-- Tenho que ir embora -- ela guardou a calcinha e o porta-retratos na bolsa, deu uma última olhada pelo apartamento e foi embora
Assim que as portas do elevador se abriram, ela saiu e deparou-se com o senhor Vicente.
-- Luciana do céu! -- o porteiro estava apavorado, seus joelhos tremiam -- A filha do seu Arthur viu você no apartamento?
Luciana colocou a bolsa no chão do hall enquanto Vicente esperava ansiosamente pela resposta.
-- Não, senhor Vicente. A Kristen não me viu.
-- Eu juro para a senhora que fiz tudo o que podia para segurar a garota, mas não teve jeito. Fiquei com medo que ela me jogasse pela janela.
Luciana riu divertida. E ele tinha razão, Kristen com aquele porte atlético poderia com facilidade levantá-lo pela gola e jogá-lo pela janela. O senhor Vicente era um sujeito baixinho, magrinho, de seus cinquenta e poucos anos, de olhos pequenos e bigodinhos.
-- Bem, o importante é que ela não me viu.
-- Virgem santa, não quero nem pensar no que poderia acontecer.
Com um sorriso amável, Luciana cobriu o espaço que os separava e emocionada, abraçou o querido amigo.
-- Obrigada por tudo o que fez por mim, senhor Vicente. Nunca esquecerei do senhor.
-- Sabe o que eu penso, né? Esse apartamento era para ser da senhora e do menino. O senhor Arthur, que Deus o tenha, deveria ter pensado em vocês -- ele disse, com o olhar triste e preocupado -- A senhora está bem?
Luciana respondeu com a voz trêmula:
-- Estou tentando continuar minha vida, mas está sendo difícil.
-- Até agora não entendi porque o senhor Arthur tirou a própria vida. Ele estava tão animado com o jantar de vocês.
Luciana olhou para o papel em sua mão.
-- O que o senhor sabe sobre o jantar?
-- Não muita coisa, você sabe melhor do que ninguém que o seu Arthur era um homem de poucas palavras -- ele passou a mão pelo bigodinho -- Porém, nesse dia, ele passou pela portaria todo sorridente e me disse que teria uma noite especial. Tinha até comprado um presente para a senhora usar naquela noite.
-- A que horas foi isso, seu Vicente?
-- Acho que umas 19:00, talvez.
Luciana não sabia o que pensar.
-- Bem, peguei todos os meus pertences. Agora é hora de ir. Adeus.
Luciana saiu sem olhar para trás e praticamente correu até o carro. Era hora de focar no futuro e nunca mais voltar naquele lugar.
Jaqueline andava de um lado para o outro olhando para a porta, intrigada com a demora de Kristen. Já fazia mais de uma hora que ela havia saído. A possibilidade da amiga ter sido pega com a mão na botija era enorme. À medida que os minutos passavam, a secretária ia se tornando insegura, as palmas de suas mãos estavam úmidas e o nervosismo aumentava. Por que fui apresentar Luciana ao senhor Arthur? Ela se perguntava, irritada consigo mesma. Nada disso teria acontecido, ela não teria ficado grávida, não teria... Finalmente a porta se abriu e Kristen entrou apressada.
-- Chama o João Vitor.
Ela entrou em sua sala e fechou a porta sem dizer mais nada. Jaqueline não sabia se ficava aliviada ou não. As feições dela eram indecifráveis. Antes que levasse uma bronca, pegou o telefone e chamou João Vitor.
Kristen fechou a porta rapidamente e saiu caminhando, desprendendo uma energia turbulenta quando atravessou a sala e foi até a imensa janela. Observou todas as construções ao redor do prédio principal que faziam com que a Empresa Donati parecesse uma pequena cidade vista do ar. Os grandes depósitos, o refeitório, o estacionamento coberto e as casas para funcionários fixos. Ela olhou para tudo aquilo pensando porque a mãe teria escolhido ela e não o tio Antenor como a pessoa adequada para o cargo. Depois desistiu de tentar imaginar e se sentou na grande cadeira de couro atrás da mesa. Era uma cadeira grande, feita para um grande homem. Fisicamente, jamais serviria para ela, mas tinha o direito de sentar-se naquele lugar e sabia que tinha capacidade de comandar uma grande empresa.
Ela tinha vinte e dois anos, mas isso não dava autoridade a Donatella sobre ela ou o que fosse decidido por ela. Era ela quem possuía 70 por cento da empresa, portanto, era ela quem mandava.
-- Se Donatella pensa que obedecerei a tudo incondicionalmente, está muito enganada.
Luciana encontrou João Vitor no corredor.
-- Onde você estava, Luciana?
-- Estava no setor de compras.
Ele a olhou de um jeito meio desconfiado.
-- Hum -- João deu dois passos e se virou -- Vou me encontrar com a senhorita Kristen, volto logo.
Luciana levantou uma sobrancelha, sentiu um frio percorrer-lhe a base da espinha só de ouvir aquele nome, sacudia a cabeça, enquanto andava pelo corredor em direção à sala. Acho que nunca vou me livrar dos Donati! Pensou, amarga. Nesse momento, alguém segurou seu braço, e ela se virou, assustada.
-- Meu Deus, quer me matar do coração?
-- Desculpa, não quis assustá-la -- disse Laura, sorrindo -- Já encontrou-se com a presidente gostosona?
Luciana balançou a cabeça.
-- Você não presta, Laura.
-- Então, encontrou-se com ela ou não?
Luciana abriu a porta da sala e entrou, seguida pela irmã.
-- Eu encontrei ela, mas ela não me viu.
-- Como assim? -- Laura colocou as mãos na cintura, sem entender.
Luciana sentou-se em sua cadeira de couro e pousou as mãos sobre a mesa.
-- Senta aí, não posso falar alto -- ela olhou ao redor certificando-se de que ninguém as ouvia -- Fui até o apartamento buscar as minhas coisas e quando já estava de saída, ela apareceu.
-- Não acredito! Sério? -- seus olhos negros se arregalaram, admirados com o que Luciana acabara de contar -- Você é louca!
-- Eu tinha que tirar os meus pertences do apartamento antes que alguém da família encontrasse. Pensa na confusão que daria! -- passou os olhos pelo rosto da irmã e sorriu levemente -- Até uma foto minha junto à Arthur estava exposta bandeirosamente em uma prateleira no quarto. Por muito pouco Kristen não viu. Fiquei escondida embaixo da cama até ela ir embora.
Laura deu uma gargalhada.
-- Que situação, ridícula! -- ela riu, novamente -- Bem, nesse caso você tinha que ir mesmo, mas justo no mesmo dia que ela?
-- E como eu adivinharia? Aquela criatura nunca apareceu por lá!
-- Tem razão -- Laura sentou-se -- Essas coisas não tem como adivinhar.
-- Ela pegou a prancha que eu daria para o Dudu.
-- Ah, que droga! Ela tem tanto dinheiro, pode comprar quantas pranchas desejar.
-- Eu sei Laura, mas a prancha tem um valor sentimental muito grande para ela.
-- Aquela família tem sentimento?
-- Para com isso Laura, o Arthur por várias vezes demonstrou ter sentimentos verdadeiros por mim -- imediatamente Luciana lembrou-se do vestido -- Ah, deixe-me te contar uma coisa.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
NovaAqui
Em: 21/02/2023
Ufa!
Ainda não foi agora que elas se viram.
Por que eu acho que Kris vai infernizar o João Vítor? Ele merece ser infernizar mesmo!
Agora é aguardar esse encontro!
Pois é! Os 3G fizeram o que fizeram com a Americanas e provavelmente não vai dar em nada para esse três
Abraços ♥
Resposta do autor:
Olá NovaAqui!
Acredito que o João Vitor não terá vida facil.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 21/02/2023
Oi Vandinha
Por um triz Kris não pegou a Luciana kkkk
Só espero que a Kristen saiba controlar as cobras e esse João Vitor será o primeiro.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
É aí que entrará a mãozinha da Luciana. Ela é experiente e poderá abrir os olhos da Kristen.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
HelOliveira
Em: 21/02/2023
Coisas estranhas acontecendo e ninguém percebe, claro que Arthur foi assassinado....
Luciana escapou por pouco hennn....mas o perfume de certo alguém já ficou gravado....
Bjos
Resposta do autor:
Olá HelOliveira.
Percebe sim e nos próximos capítulos vamos conversar sobre isso.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Marta Andrade dos Santos
Em: 21/02/2023
Que coisa estranha esse suicídio em.
Resposta do autor:
Olá Marta.
Muito estranho.
Beijos.
Resposta do autor:
Olá Marta.
Muito estranho.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]