Manuela só conseguiu sair do quarto no dia seguinte da confusão, pediu para todas sentarem na sala para uma conversa séria. Natalia tinha ido embora de manhã, algo aconteceu no escritório da família, Júlia faltou soltar fogos com a noticia, mas se conteve com a cara fechada que Melina direcionou a ela quando um sorriso começou a brotar.

Era cerca de meio dia e todas estavam sentadas nos enormes sofás na sala, Manuela estava sentada no meio das pernas de Cecília e Júlia ao lado, já sabendo o motivo da “reunião”.

— Eu queria primeiro agradecer vocês, obrigada por me defenderem! – Manuela suspirou e sorriu – Bom, primeiro eu queria saber se a Cecília já contou como me conheceu.

— Não, nunca nem pensei nisso... Só sabia que era a vizinha dela, mas a aproximação não sabemos como aconteceu – Ana disse pensativa.

— Como foi isso? – Rafaela perguntou curiosa.

— Eu estava prestes a me jogar da janela, – Manuela sorriu sem humor com a lembrança – tinha acabado de descobrir que não poderia engravidar, ela me salvou!

— Manu! – Melina a chamou com o semblante triste, mas antes de continuar a falar, a morena apenas levantou a mão pedindo para terminar.

— Ontem o cara não mentiu! – A face confusa das meninas fez a morena dar uma pausa para elas tentarem lembrar das palavras dele – Eu dou por dinheiro, ou pelo menos dava. – Manuela disse baixo, quase como um sussurro – Eu nunca tive problemas com dinheiro, nem nada, eu era feliz, meu pai sempre me deu tudo, minha mãe pouca importância tem na história. – As lembranças da futura jornalista começaram a se fazer presente no momento, um sorriso chegou a aparecer – Eu era feliz mesmo, mas um dia, um tio meu apareceu, ele precisava de ajuda financeiramente, – Júlia que já sabia da história, apenas pegou na mão da irmã e apertou, tentando passar conforto, Manuela se sentiu acolhida com o gesto e puxou a mão da irmã para depositar um beijo ali. – meu corpo já tinha desenvolvido, eu era uma mulher fisicamente e ele reparou nisso.

O silencio se estabeleceu na sala, todas olhavam atentamente para Manuela, menos Cecília, que tinha abraçado a morena e a testa descansava nas costas, ouvia tudo atentamente com o coração na mão. Os rostos que sempre tinham felicidade para dar e vender, se encontravam sérios e tristes. Manuela viu uma lágrima cair do rosto da mulher negra ali e sentiu vontade de ir abraça-la.

— Ele me ameaçou caso eu contasse pra alguém, então eu fugi pro Rio, fiquei dois anos sem dar nenhum tipo de noticia nem para o meu pai, padrasto ou a minha irmã, eu não tinha maturidade, eu mal tinha tido a primeira namorada. – Manuela suspirou e olhou para a ruiva do seu lado, viu lagrimas caindo, Júlia tinha sofrido tanto com o sumiço da irmã, o mundo parecia ter acabado para ela quando a morena simplesmente sumiu. – Nesses dois anos, conheci muita gente, eu sempre fui chamativa, sempre tive ciência da minha beleza, não passou despercebida pela dona de um puteiro na zona sul, eu estava passando fome, não vi outra alternativa, fui. – Cecília apertava a mulher que contava a história, estava perplexa demais com tudo isso, Manuela era uma rocha de tão forte, todas ali concordavam silenciosamente e secretamente com isso. – Lá conheci mais gente, gente poderosa, gente grande, passei de puta para acompanhante de luxo, foi quando resolvi dar noticias para a minha irmã, em menos de 24 horas ela apareceu na minha porta, eu ganhava o suficiente pra me bancar e bancar ela, ela veio morar comigo, mas a Júlia... – Manuela olhou para a irmã, como se pedisse permissão para contar algo, Júlia apenas assentiu com a cabeça – Bem, Júlia casou e foi morar com a esposa, depois disso eu apenas me concentrei em estudar e começar a faculdade e como eu falei, descobri que não podia engravidar e foi a gota, pelo menos eu achava... – Um suspirou fugiu dos lábios da morena e um sorriso surgiu – Desde aquele dia, minha vida mudou completamente, todas presentes nessa sala tem uma parcela de culpa da alegria que eu sinto no dia a dia.

— Cecília sabia de tudo isso? – Catarina perguntou com a voz baixa enquanto limpava as lágrimas que tinham caído.

— Mais ou menos, ela sabia do motivo do meu quase suicídio, e do que eu fazia, sobre apenas ser acompanhante agora, acho que é algo novo para ela – Manuela admitiu e encarou todas ali, estava nervosa, tinha contado tudo pela primeira vez pra alguém que não fosse sua irmã e esse alguém, na verdade eram 5 mulheres.

— Acho que o que eu vou falar, pode ser considerado em nome de todas. – Ana foi até Manuela e sentou no chão, de frente para ela. – Não importa o que você faz pra viver, ou o que já fez, você é uma mulher forte, amorosa, companheira e totalmente do bem, Manu, você não é menor que ninguém nessa sala.

— Ana está totalmente certa, sei que contar isso tudo foi de muita coragem, você é uma mulher forte! – Catarina disse indo em direção a morena.

Logo todas foram em direção a morena, todas se abraçaram e ficaram ali por longos minutos, mais algumas lagrimas caíram e logo Manuela levantou mandando todas irem para a praia lavar a alma, as meninas foram sabendo que ela queria ficar sozinha com a loira, um beijo na bochecha de cada e uma promessa que não demoraria pra chegar foi necessário para o grupo sair logo em direção ao mar. Cecília continuava sentada no sofá, olhava para Manuela, que tentava decifrar a loira a qualquer custo.

— Está brava? – Manuela perguntou um pouco receosa.

— Não, claro que não, – Cecília suspirou – eu só não sei como agir.

— Continua normal, por favor, última coisa que eu quero é que você mude. – A morena tinha um leve tom de desespero na voz, Cecília se sentia burra, precisava conduzir a conversa devagar.

— Eu não vou, eu só queria saber se preciso ter mais calma com você. – A futura jornalista não sabia se era uma pergunta ou um pedido de ajuda silencioso que a outra fazia.

— Cecília, mais devagar que isso, só se parar. – Manuela sorriu e sentou do lado da loira – Tudo isso passou, eu sou uma mulher agora, não sou uma garotinha frágil, se fosse aos meus 18, tudo bem, mas eu sou mais velha que isso.

— Eu sei, Manu, mas eu te acho uma princesinha, uma boneca, tenho medo de quebrar – Cecília falava com certo desespero – Você é linda, extremamente sexy, tem essa voz baixa que parece que entra no ouvido pra deixar sua cabeça maluca, esse corpo parece que Afrodite esculpiu tão devagar para o amor, o seu cheiro é maravilhoso... – A loira olhava para a frente, não tinha encarado a outra ainda, a testa estava franzida e gesticulava com a mão o tempo inteiro, Manuela estava achando uma graça, sorria boba com cada palavra – Eu NUNCA vi alguém cheirando a flores naturalmente, parece que ao mesmo tempo que foi feita pra estar em um pedestal como uma Deusa, foi feita pra representar a própria luxúria e ainda sim, eu tenho medo de te machucar.

A loira suspirou e resolveu olhar para a outra, péssima ideia para quem queria se concentrar na conversa, ela a olhava com um carinho imenso, sorria de um jeito bobo que Cecília só via em filmes, a luz do sol batia em apenas um lado da face, mais uma vez, se viu hipnotizada por aquela mulher.

Poderia passar a vida olhando para essa obra de arte.

— Cecília, – Manuela pronunciou o nome da loira devagar e chegou mais perto, o sorriso ainda estava presente nos lábios carnudos – você não vai me quebrar! – as mãos da morena foram parar no pescoço da outra, quebrou a distancia e a beijou – Mas vai acabar me matando.

— Te matar? Por que? – A preocupação era evidente no rosto da loira, mesmo tendo notado o tom brincalhão.

— Sim, você vai me matar. – Agora a voz de Manuela era carregada de um drama divertido, logo se recompôs e deu um selinho na loira – Você vai me matar de tesão Cecília, só eu sei o que apenas um beijo seu causa no corpo inteiro.

— Eu só...

— Tem medo de me quebrar, eu sei, mas eu não vou! – Mais um selinho e um sorriso malicioso brotou nos lábios da morena – Chega a ser excitante você falar assim, só não te levo pra cima porque eu sei que elas não vão nos deixar em paz.

— Vem cá! – Cecília chamou Manuela e a puxou para seu colo, colocando uma perna de cada lado – Enquanto elas não vêm me deixa aproveitar um tempinho com você.

Ambas sorriam enquanto a distancia era quebrada, um, dois, três selinhos e Cecília pediu passagem, o pedido foi logo atendido por uma Manuela cheia de vontades, a exploração lenta das línguas foi se tornando sensual, a loira apertava as coxas que achava tão deliciosas, Cecília foi deitando no sofá com Manuela por cima, que agora mordiscava e puxava devagar o lábio inferior da loira, a morena se afastou alguns centímetros para pode olhar para a mulher embaixo de si, o sorriso era tão grande que não cabia direito no rosto. Logo o nome de ambas era gritado por uma baixinha nervosa, mesmo de longe conseguiam ouvir Júlia implicando com a mesma a chamando de “escandalosa maluca”, outros xingamentos foram ouvidos e a risada frouxa das duas preencheu o ambiente.

— Vamos antes que ela venha nos buscar. – Manuela estendeu a mão enquanto levantava.

— Vamos, minha querida dama! – O tom divertido fez a morena rir mais, Cecília pegou a mão estendida e depositou um beijo leve no local enquanto olhava aqueles olhos azuis que sorriam por si só.

Cecília sentiu um frio na barriga e a mão tremer de leve, não conseguia tirar o sorriso do rosto, mas por dentro estava se sentindo tão estranha.

O que é isso afinal?

Perguntas e mais perguntas iriam rodear aquela cabeça, mas ela preferia se concentrar na mulher que sorria para ela, alias, adoraria fazer isso o dia todo, por que não o resto da vida? Ou não, era muito pra loira, não podia sentir isso tão rápido... Ou posso? O segundos passaram devagar, deu mais um selinho na morena e sentiu os lábios formigarem por mais, mas dessa vez era diferente das outras centenas de vezes que o corpo pediu por mais, ou melhor, era igual, mas só agora reparava aquela imensidão.

Fim do capítulo