POV THEODORA

Quando eu encontrei Luna sentadinha em uma calçada, chorando e assustada, meu coração bateu tão rápido que eu nem tive tempo de raciocinar, corri até ela e a agarrei. Eu estava desesperada, agradeci tanto a Deus por ter encontrado ela. Voltei com ela pra escola, pois a diretora já havia me avisado que Catarina estava ciente, Tereza avisou que a encontramos, peguei Luna no colo que ainda chorava assustada.

-Filha, meu amor! – Catarina veio correndo ao nosso encontro. – O que aconteceu?

-Mamãe! – Luna se virou e pulou pro colo da mãe –Eu fiquei com medo.

-Tá tudo bem agora, minha princesa. – Passei a mão em suas costinhas.

-Conta pra mamãe o que aconteceu? – Catarina ainda tinha as mãos trêmulas.

-Eu "quelia" ir na casa da tia Theo. – Luna disse baixinho. – E um dia ela disse que a casa dela era ali pertinho, mas eu não achei mamãe.

-Meu Deus, filha. – Me senti péssima, pois eu não pensei em Luna.

-Desculpa mamãe, não briga comigo não? – Encarei Catarina por alguns segundos.

Contei pra Catarina como eu descobri que Luna estava desaparecida, ela me agradeceu ainda assustada. Quando a polícia chegou, tomei a frente explicando o que havia acontecido, Tereza prestou alguns esclarecimentos, depois pediu desculpas pelo o ocorrido, segundo ela, Luna passou pelo portão despercebida, e as câmeras não a pegaram saindo.

Eu estava tão envolvida na confusão que nem me toquei que minha mãe estava ao meu lado o tempo todo, respirei fundo, eu ainda estou chateada, mas minha prioridade agora é Luna.

-Filha, nunca mais faça isso, tá bom? – Catarina se abaixou ficando da altura de Luna. – Você é só uma criança, não pode sair sozinha, coisas ruins podem acontecer.

-Me desculpa, mamãe. – Ela estava tímida e eu fiz o mesmo movimento de Catarina.

-Dá próxima vez que você quiser me ver, é só me ligar. – Passei a mão em seu  rostinho. – A tia Theo, vem te buscar na hora.

-Mas você não atendeu a minha mamãe. – As palavras da garotinha me atingiram em cheio.

-Filha, a tia Theo estava ocupada, e você tem que me prometer que não vai mais fazer isso. – Catarina percebeu meu desconforto.

-Tá bom. – Ela balançou a cabecinha. – Mas tia Theo, você vai na minha casa?

Eu já entendi que não vivo mais sem essa garotinha, ela entrou no meu coração rompendo qualquer tipo de barreira que eu tivesse, e negar isso é uma tremenda burrice. Envolvi ela em um abraço apertado, pra ela ter certeza de que eu não iria em lugar algum sem ela e Catarina.

-Se sua mãe não se importar. – Deixei vários beijos em seu cabelinho.

-É claro que eu não me importo. – Catarina abriu um sorriso lindo.

-Mãe, podemos conversar depois? – Malvina se assustou com a minha atitude.

-Claro que sim, filha. – Ela respondeu sorridente.

-Eu te ligo, agora vou com Luna pra casa dela. – Ela assentiu e eu fui até Isis. – Obrigada por me trazer, e me aconselhar.

-Faça a coisa certa, meu furacão. — Isis beijou meu rosto e caminhamos até o carro de Ramires.

{...}

Luna dormia no meu colo, Catarina havia ligado pra mãe e pro irmão, contando o que havia acontecido, os dois esperavam aflitos a nossa chegada.

-Meu Deus, que bom que chegaram. – Dona Geralda se aproximou passando a mão na cabeça de Luna. – Eu estava tão preocupada.

-Já passou, e ela está bem. – Luna colocou a mochila dela no sofá. – Eu nem quero pensar no pior.

-Graças a Deus não aconteceu nada de ruim. – Sorri pra dona Geralda e Cadu também se aproximou.

-Mas como ela fugiu, e pra que? – Meu cunhado perguntou.

-Ela disse que foi atrás de Theo. – Catarina respondeu e a culpa voltou. – Mas ela não tinha ido muito longe, por sorte a Theo achou ela.

-Graças a Deus. – Dona Gê agradeceu aos céus.

-Amém, você vem colocar ela na cama? – Catarina me chamou.

Subimos em silêncio, Catarina e eu tínhamos muito o que conversar, eu refleti sobre os últimos acontecimentos e precisávamos esclarecer tudo entre nós.

-Pode colocar ela aqui, quando ela acordar ela toma banho. – Deitei ela na cama de Catarina. -Obrigada novamente.

-Não precisa agradecer. – Deitei Luna na cama, mas ela agarrou no meu pescoço.

-Deita comigo, tia Theo? – Sorri pra ela. – Vem também, mamãe?

Catarina me encarou sorrindo e se deitou ao lado de Luna, a garotinha agarrou nós duas pelo pescoço, me senti em casa com o contato.

-O que você queria falar com a tia Theo? – Perguntei acariciando seu rostinho.

-Eu "quelia" te pedir uma coisa? – Ela se virou pra mim. – A Valentina tem duas mamães, o Luna tem duas mamães, e eu também "quelia" duas mamães.

Catarina me encarou surpresa e o pedido de Luna acelerou meu coração, eu fiquei sem ação, e ela continuou olhando pra mim com aquela carinha linda.

-Luna, a tia Theo... – Catarina tentou responder.

-Luna, eu amaria ser a sua mamãe. – Ela me presenteou com um sorriso sapeca. – Mas sua mamãe e eu precisamos conversar sobre isso.

Luna assentiu e afundou o rostinho no meu pescoço voltando a dormir, Catarina ficou olhando a cena me fazendo derreter de amores por ela.

-Podemos conversar? – Pedi e ela acenou com a cabeça.

Nos endireitamos na cama, Catarina mexia os dedos de forma impaciente, eu tenho que falar tudo o que eu to sentindo, não tem mais motivo de termos segredos.

-Olha, eu fiquei muito chateada, eu não esperava descobrir tudo isso, ainda mais dessa forma, e quando eu descobri que você sabia de tudo, meu mundo caiu. – Ela suspirou. – Eu confiava em você, mas isso acabou comigo.

-Me desculpa. – Catarina se virou pra mim.

-Meu mundo caiu, meu pai sempre foi meu herói, mas de repente tudo isso era uma grande mentira. – Sequei uma lágrima que caiu. –Mas eu pensei, passei a noite refletindo sobre tudo, pensei na sua história, e cheguei a conclusão que eu não tenho o direito de julgar você e eu também não posso julgar minha mãe. E agora com esse pedido de Luna, eu entendo perfeitamente o meu pai.

-Eu sei que deve ter sido difícil pra você, mas eu não podia expor um segredo que não era meu. – Catarina entrelaçou nossos dedos. – Eu te amo Theo, e eu não quero te perder novamente.

-Eu te amo, e eu também não quero te perder. – Deixei um selinho em seus lábios. – Na verdade eu não posso perder vocês duas.

-Minha filha ama você. – Catarina acariciou meu rosto.

-Eu também a amo, e se você quiser, eu quero ser a mamãe dela também. – Catarina abriu um sorriso tão grande que aqueceu meu coração.

Acabamos conversando, pedi desculpas por eu ter sido rude e contei que eu conversaria com os meus pais.

-Eu contei pra sua mãe sobre nós. – Olhei assustada. –Foi uma conversa tensa, eu até achei que Malvina iria me dispensar, mas devo confessar que me surpreendi com a atitude dela.

-O que ela falou? – Perguntei curiosa.

-Ela disse que não queria que você sofresse. – Catarina me contou tudo o que conversou com minha mãe.

-Eu não esperava por isso. – Levei a mão na boca.

-Theo, sua mãe não sabe se expressar, mas eu sei que ela tem um bom coração. – Sorri de lado. – E ela ainda sofre muito pelo seu pai.

-Mas agora é tarde demais. – Me aconcheguei melhor na cama. – Eu preciso conversar com ela, naquele dia eu estava de cabeça quente.

-Fiquei com medo de você ir embora. – Catarina sorriu de lado. – Acho que eu não aguentaria, iria atrás de você.

-Eu até pensei, estava chateada demais, mas Isis e Luiza abriram meus olhos. – Lembrei das palavras das minhas amigas. – Inclusive elas defenderam você.

-Tenho a benção delas, então? – Catarina tinha um sorrisão.

-O importante é você ter o meu coração.

Fim do capítulo