No puedo
6. No puedo
Coraline ficou surpresa, não fazia ideia que um simples beijo, poderia causar tantas sensações, nunca tinha se envolvido sentimentalmente com nenhuma aluna e não fazia ideia que a adolescente tinha se apaixonado por ela, nem mesmo notou nenhum sinal, Amaya era discreta, até o dia que a beijou.
Se arrependeu por não ter pedido o celular dela, poderia ter usado a desculpa que era para solicitar alguma encomenda quando fosse necessário, pensou até em pedir para coordenadora, mas, ficou com receio. Lembrou da solicitação no seu Instagram, depois de ter sido acusada injustamente no passado, passou a não aceitar amizade virtual com nenhum aluno, ficou sem saber o que fazer, de mãos atadas.
Retornou do recesso inicialmente somente com a equipe docente, para as reuniões de planejamento. Tinha conhecimento que a coordenação fazia encomendas com Amaya, quando comeu uma fatia de torta, sabia que tinha sido preparada por ela e como sempre estava muito gostosa, ela faz os quitutes muito bem, também comeu o bolo e lembrou de quando foram juntas ao mercado, ficou pensando nela, seu jeito doce, sempre muito gentil e simpática. Ela não apareceu mais nas aulas de canto e se colocando no lugar da moça, também não apareceria depois do ocorrido, decidiu que precisava se desculpar, poderia ter tido mais cuidado para falar com ela, mesmo porque ninguém tem culpa por se apaixonar, não teve a intenção de magoa-la.
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Amaya ficou sentida com a recusa, tinha gostado tanto do beijo e até achou que Coraline também estava gostando, já que correspondeu assim que seus lábios entraram em contato, apesar da sua pouca experiência, elegeu como o melhor beijo da sua vida, já tinha beijado outras duas meninas, porém, não tinha comparação, tinha adorado e considerado especial. A rejeição foi um baque e ficava se perguntando, tinha necessidade dela ter ficado tão brava?
As suas aulas retornaram numa segunda-feira, pensou em faltar, já que no primeiro dia geralmente não tinha nada muito importante, mas, ela estava entediada de ficar em casa, chegou atrasada propositalmente com intuito de perder a primeira aula, usou como desculpa o trânsito. Já na quinta-feira resolveu sair mais cedo, evitando ao máximo um reencontro.
- Mica, já vou indo (avisou guardando todo o seu material).
- Não vai ficar para última aula?
- Vou no posto, buscar remédio para a minha avó. Até amanhã!
Deu a mesma desculpa para a coordenadora, como raramente faltava e era uma aluna aplicada, foi liberada.
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Coraline ficou se sentindo culpada, no semestre anterior a adolescente não tinha tido nenhuma falta, precisava falar com ela e resolver isso.
No sábado voltou a lhe procurar e ficou feliz quando a avistou.
- Oi.
Ela só balançou a cabeça, ficou surpresa em vê-la.
- Te procurei tanto pela biblioteca e por aqui onde costuma passear com eles, mas, não te encontrava. Nem acredito que te achei.
- Estava vindo em outro horário (explicou).
- Para fugir de mim imagino (comentou e fez carinho nos cachorros).
- Já vou indo (tentou se esquivar).
- Por favor, me escuta (pediu olhando nos seus olhos).
- Pode dizer (falou desviando do olhar).
- Não quis ser grossa contigo. Peço desculpas se te magoei.
- Sem problemas (disse olhando para os animais).
- Você é uma aluna tão dedicada, não falte na escola, podemos voltar a ter a relação que tínhamos, superar o que aconteceu.
- E a parte do "fique bem longe de mim, não quero mais te ver".
- Eu fiquei assustada, não esperava por aquele beijo. Não usei das melhores palavras para me expressar. Nós fomos impulsivas.
- Foi bom te beijar, não me arrependo (disse olhando nos seus olhos).
- Mas, não é certo, sou sua professora e você é menor de idade.
- É eu sei (abaixou a cabeça).
- Eu não percebi nada, nem sonhava, não podemos misturar as coisas você é minha aluna, tem toda uma ética profissional. Quero te pedir para não abandonar a escola (falou demonstrando preocupação).
- Eu não abandonei, só faltei nas tuas aulas. Compareci nas outras.
- Senti tua falta (disse com sinceridade).
- Eu também, agora tenho que ir, antes que a minha mãe me ligue.
- Nos vemos na segunda? (Perguntou com expectativa).
Somente assentiu em concordância e começou a se distanciar, não se despediu como sempre fazia e seu semblante estava triste. Skazy queria que fosse diferente, que voltasse a ser como era antes.
Amaya gostou de revê-la, mas, continuava entristecida com o ocorrido. Não faltou mais nas aulas, porém, era como se não estivesse presente, só falava para responder a chamada, deixou de se manifestar como antes, optou por ficar mais na sua, em silêncio.
- Você está sentindo muita falta da Ana né anda tão calada.
- É sinto saudade daquela palhaça, ela me ligou ontem, disse que está começando a se enturmar, gostando bastante de não precisar acordar cedo e começou a fazer um curso a tarde, sobre desenvolvimento de jogos, ela pretende trabalhar na indústria de games.
- Bacana. Vocês são grudadas, mas, saiba que pode contar comigo.
- Eu sei Mica, obrigada!
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Aproximadamente um mês após o episódio do beijo, a adolescente continuava distante e Coraline sentia falta da sua participação nas aulas, nem parecia a mesma pessoa, andava tão apática e ela sabia que tinha culpa nisso. Pensou bastante e chegou a conclusão, que cabia à ela mudar este cenário. Já próximo do final da aula foi até ela.
- Amaya, já estava quase esquecendo, preciso falar contigo, para encomendar um bolo, por favor, não vá embora (arriscou).
- Certo (foi tudo que conseguiu responder, acabou sendo pega de surpresa e nem passou pela sua cabeça de inventar uma desculpa).
- Amiga, você quer que eu te espere para descermos juntas?
Coraline que estava se afastando ouviu a pergunta e ficou torcendo para a outra não a aguardar, para não estragar o que tinha planejado. Acabou voltando para sua mesa e não ouviu a resposta, outro aluno fez um comentário com ela, que deu a devida atenção e logo o sinal tocou.
- Mica pode ir, não precisa esperar, seu ônibus passa antes do meu. Até amanhã! (Se despediu da sua amiga e procurou não ficar ansiosa).
A sala foi esvaziando rapidamente, finalmente voltaram a ficar sozinhas.
- A senhora quer o bolo de qual sabor? (Perguntou se aproximando).
- Não precisa do senhora. A encomenda foi só uma desculpa para falar contigo. Nós podemos conversar?
- Sobre o que? (Quis saber com muita curiosidade).
- Almoça comigo? Para conversarmos com calma num restaurante.
- Melhor não, se nem tem encomenda vou indo (achou mais seguro).
- Por favor, me escuta. Eu quero me explicar e consertar as coisas.
- Não precisa (falou abaixando a cabeça, não gostava daquela situação).
- Amaya, estou pedindo, é importante, se não fosse nem te incomodaria.
- ok, vamos logo então (apesar do receio queria conversar com ela).
- Obrigada! (Agradeceu feliz por ela não ser uma pessoa orgulhosa).
Elas foram em silêncio até o estacionamento e logo entraram no carro.
- Vó, estou ligando só para a senhora não se preocupar, vou chegar mais tarde hoje e vou mandar mensagem para mamãe avisando.
Trocou mais algumas palavrinhas com a avó e desligou.
- Algum problema?
- Não, eu só gosto de avisar (respondeu colocando o cinto).
- Faz bem. Tem preferência por algum restaurante?
- Não (nem sabia o que responder, não conhecia nenhum ali próximo).
- Se quiser pode colocar uma música (procurou ser gentil).
Entendeu que ela não queria, já que nada respondeu e ficou quieta o trajeto todo. Era tão estranho, antes elas conversavam tanto.
- Amaya, por favor, me entenda, eu não quis ser ríspida contigo, eu sinto muito por ter te magoado. Juro que se tivesse percebido antes, teria te alertado e esclareceria tudo, eu não sabia o que você sentia.
- Já passou (era o que ela vinha dizendo para si mesma diariamente).
- Você diz isso, mas, no fundo está sofrendo. Não participa mais das aulas como antes, anda cabisbaixa, nem fala mais comigo (reclamou).
- É que sinto falta da minha amiga que mudou de turno (alegou).
- Sei que não é verdade, venho notando você chateada.
- Vou me acostumar, faz parte da vida.
- Se é só por causa da Ana. Por qual razão não apareceu mais aos sábados? (Indagou e estacionou).
- Não sou masoquista, nem quero incomodar e muito menos ser boba.
- Eu compreendo, no seu lugar também ficaria mal e é por isso, que quero te contar o que já aconteceu comigo, quem sabe assim você consiga me entender. Nós chegamos, espero que goste daqui.
- Vamos conversar aqui no carro mesmo, ainda não estou com fome.
- Como preferir e agradeço por me ouvir. Bom vamos lá, não tenho hábito de falar sobre, prefiro nem comentar dessas coisas chatas. Amaya, eu gosto muito de ensinar, apesar de todos os desafios. Quando comecei, minha família conhecia os donos de um colégio particular e me indicaram, nesta época eu aceitava meus alunos nas redes sociais e até interagia com eles. Resumindo fui acusada por uma aluna e eu não tinha culpa alguma, ela infelizmente começou a ter contato com drogas e me confidenciou isso, procurei auxiliar, aconselhei para que ela falasse com seus pais, eu não fazia ideia de que ela era tão mentirosa, foi muito complicado, ela acabou sendo pega com entorpecentes e meio que para tentar se livrar, me acusou de assédio, foi a forma que ela achou mais fácil, ao invés de lidar com os próprios problemas. Eu sou muito respeitosa, jamais colocaria qualquer aluno meu em situação constrangedora, também levo a minha profissão muito a sério, não cometeria nenhuma importunação sexual. Alguns colegas enfrentaram dificuldades neste âmbito, então sei o quanto é delicado. Eu não sou assim, eu nunca dei em cima de nenhuma aluna minha. Já teve vezes de alguns meninos mais ousados lançarem brincadeiras bobas e eu sempre cortei qualquer tipo de diálogo que tivesse qualquer conotação que ao meu ver possa ser errada. Ainda bem que acreditaram na minha palavra, também mostrei todas as conversas que tive com ela, depois ela até se desculpou. Só que foi um pesadelo, porque sempre fui uma pessoa correta e com receio da história se espalhar acabei me desligando do colégio, tive a sorte deste dilema não chegar até os meus pais, poderia ser ainda pior, eles são muito conservadores e não aceitam bem a minha sexualidade. Contei tudo somente para a minha avó, que me conhece muito bem e se manteve ao meu lado.
- Nossa que chato tudo isso, você deve ter sofrido bastante.
- Sofri sim e meio que tenho trauma disso, estou te contando, porque confio em você, peço que não conte para ninguém, tenho receio de manchar a minha imagem como professora, entende? Também quero te dizer que não é nada pessoal contigo. Você é linda, um amor de pessoa, mas, não podemos ter envolvimento. Prefiro evitar problemas.
- Só que é totalmente diferente, poxa, eu não te acusei de nada.
- Eu deveria ter evitado a nossa aproximação, devo ter te deixado confusa, por ter sido atenciosa demais, mas, não fiz de propósito.
- Nem venha com esse discurso. Eu não estou confusa coisa nenhuma.
- É que ao meu ver, nada se escolhe aos 16 anos de idade.
- Pode parar já com isso, eu sei muito bem o que estou sentindo.
- Não estou questionando seus sentimentos. Eu deveria ter sido mais observadora, poderia ter ficado mais atenta aos seus sinais.
- Para ter se apaixonado também? Para me corresponder? (Provocou).
- Não é isso que quis dizer (respondeu encabulada).
- Então se era para ter me impedido, que bom que nem foi desta forma, gostei muito de te beijar e não voltaria atrás. Não vai adiantar você dizer que foi um erro, não aceito isso e agora fiquei com fome.
- Tudo bem, vamos entrar (apanhou sua bolsa e saíram do automóvel).
As duas mulheres não tocaram mais no assunto, não queriam ter uma má digestão e muito menos brigar, almoçaram tranquilamente.
Fim do capítulo
Olá! Leitoras, eis um capítulo mais explicativo, acredito que comecei a responder as questões que lancei e tinham gerado curiosidades; vou continuar aprofundando e detalhando tudo. Comentaristas muito obrigada pela troca, eu gosto bastante e vocês me ajudam a tecer toda a história, é bom saber se fui clara e assertiva na escrita. Por gentileza, continuem relatando suas impressões. Beijos e abraços, May. Um lindo final de semana para todas nós.
Comentar este capítulo:
HelOliveira
Em: 21/01/2023
Muito boa essa conversa, mais que necessária, agora já sabemos o que aconteceu com a Caroline.....gostei da postura da Amaya, muito segura beijei e não me arrependo....
Vamos ver como vai ficar daqui pra frente...
Beijos e ótimo fds
Resposta do autor:
Hel, fico feliz por você ter gostado. Nada como a conversa para resolver conflitos. Postura importante né eu mesma fui a inspiração kkk beijar é tão bom, não tem que ter arrependimento. Boa semana! Bjs
Marta Andrade dos Santos
Em: 20/01/2023
Vacilou Carolina precisa falar daquele jeito.
Resposta do autor:
Marta, tudo bem? Concordo, vacilou mesmo. Foi pesada a reação dela, pq ela tem trauma coitada. Beijos!
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Lea
Em: 20/01/2023
Nossa,a Coraline passou por apuros com essa antiga aluna, compreensível o lado dela! ( Mas que ela está mexida com a Amaya,isso ela está)
Um envolvimento das duas nesse momento,seria pior para a professora.
Espero que a Amaya reflita sobre isso!
*
Bom dia, May!
Resposta do autor:
Lea, como vai?
Verdade vários apuros coitada, castigo né ninguém merece, explicado o surto kkk
Pode deixar comigo vou deixar ela bem mexida hahaha adoro!
Boa noite e um lindo final de semana. Beijocas!
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