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Faça um pedido por Lettera e Cristiane Schwinden

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Palavras: 4490
Acessos: 720   |  Postado em: 27/12/2022

Capitulo único

Faça um pedido

 

Juliana estava prestes a completar um ano como funcionária pública estadual, trabalhava como agente penal e gostava de seu trabalho, dizia que nunca tinha rotina e todo dia aparecia alguma novidade dentro dos muros daquele presídio feminino.

Após seu turno de doze horas, finalmente chegava em casa, era quase nove da noite. Fazia calor e estava louca por um banho refrescante. Abriu a porta, largou suas coisas no sofá e deu um longo suspiro ao encarar aquela cama de casal vazia. Vazia demais para ela, que havia se acostumado pela primeira vez na vida a ter alguém em seu leito diariamente, e agora lidava com aquela falta de alguém na cama, uma falta ainda mais dolorida na hora em que ia dormir.

Dizia para si mesma que em algum momento se acostumaria com aquilo, com esse silêncio todo ao seu redor, os ambientes vazios, apenas suas roupas no guarda-roupas, um prato só na mesa. Mas após cinco meses de solidão, ainda sentia uma falta tremenda de Flávia ao seu lado todos os dias.

O que apaziguava sua culpa era saber que aquilo não havia sido uma escolha sua, foi uma “escolha dos outros”. Juliana fora transferida para trabalhar no presídio de Criciúma há cinco meses, não havia a possibilidade de dizer não, era novata. “Não estou tão longe assim”, dizia a si mesma quando um pouco de culpa surgia. “Não vou ficar aqui para sempre, uma hora vão me transferir para Florianópolis de volta”. Era assim dia após dia, na tentativa de abrandar o aperto em seu coração.

Criciúma fica a quase duzentos quilômetros da sua casa de verdade, lá em Santo Amaro da Imperatriz, da casa onde mora seu amor, a casa que ela visita uma ou duas vezes por mês, sempre na correria, pois as folgas são curtas e a viagem costuma levar quase três horas.

O aperto no coração estava maior naqueles dias, era antevéspera de Natal e ela estaria de plantão no dia 25, não teria como ir para casa, mas havia prometido passar a virada do ano com Flávia, quando finalmente mataria a saudade de quase um mês sem vê-la.

Atirou-se na cama em sua quitinete no Centro de Criciúma, ligou a TV, deixou o volume baixo e fechou os olhos. Fazia planos, amanhã estaria de folga e iria sair para comprar alguns presentes, nada muito caro pois o casal estava pagando o financiamento da casa e do carro de trabalho de Flávia, que estava indo bem com sua pequena empresa de jardinagem.

A campainha tocou, lhe dando um pequeno susto, foi até a porta e espiou no olho mágico, um sorriso foi surgindo de mansinho em seu rosto, abriu afoitamente a porta e pulou nos braços da ilustre visitante, sua esposa Flávia, que quase tombou ao chão com aquele abraço caloroso.

— Você veio! Você tá aqui! — Dizia sem acreditar, com as mãos ao redor do rosto de Flávia.

— Eu não deixaria você passar o Natal sozinha, amor. — Respondeu carinhosamente, ganhando um longo beijo em seguida.

— Fica até quando?

— Dia 26.

— À noite?

— Sim, para aproveitar seu dia de folga.

— Te amo, sabia? Vem, entra. — A puxou pela mão para dentro do apartamento de cômodo único.

Derrubou a tímida morena na cama e escalou seu corpo rapidamente, lhe beijando por longos minutos.

— Eu tava morrendo de saudades, tava até achando que não aguentaria mais uma semana sem ver você. — Juliana disse com um sorriso que teimava em permanecer em sua face.

— Eu não aguentaria, por isso vim. — Brincou. — Meu Deus, é tão difícil ficar longe de você.

— Mas não posso voltar.

— Eu sei, vou tentar remanejar alguns clientes para poder te visitar com mais frequência.

— Eu sinto tanto a sua falta... — Juliana deitou sobre Flávia, aninhando em seu corpo, pousando a cabeça em seu peito.

— Tenha calma, um dia irão te transferir, uma vaga vai surgir, tenha fé. — Flávia disse, lhe fazendo um cafuné lento. Juliana percebeu seu suspiro triste.

— Toda semana vou lá no RH lembrar o pessoal do meu pedido, mas sempre dizem que tá sem vaga, que muita gente quer ir trabalhar na capital, bla bla bla...

— É questão de tempo. Por falar em tempo, como está sua agenda para amanhã? Tem compromissos?

— Tinha, mas acabei de cancelar todos, quero passar o dia com você nessa cama.

— Que compromissos?

— Compras natalinas, que podem ficar pra depois.

Flávia a estreitou em seus braços, dando um longo beijo em sua testa.

— Temos muita saudade para matar.

— Ô se tem. — Ergueu seu rosto sobre o de Flávia, lhe dando selinhos. — Quer jantar antes ou depois da gente matar a saudade?

— Depois... — Flávia respondeu e lhe beijou com avidez. — Agora só quero você nua nessa cama.

Juliana sorriu maliciosamente e já foi logo tirando a camiseta de dormir.

Flávia virou-se para cima dela e sem pestanejar baixou seu short, o tirando logo, junto da calcinha. Por alguns segundos apenas a admirou nua, correndo sua mão pelo seio, abdome e descendo entre as pernas de Juliana.

— Que saudade, amor.

***

Era véspera de Natal, só saíram da cama no início da tarde, para almoçar.

— Tem um restaurante aqui perto que tem comida japonesa no buffet, que acha? Sei que você gosta. — Juliana convidava.

— Mas você não gosta.

— Tem outras coisas, acho que você vai curtir, bora. — E assim a conduziu pela mão até o restaurante.

Comiam e conversavam de forma descontraída, Flávia agora contava sobre alguns serviços realizados em companhia de Seu Zeca, seu funcionário.

— Ele tem a mão boa para isso, né? Você achou o parceiro perfeito. — Disse Juliana.

— Ah, esqueci de te contar! Você precisa ver como ficou nosso quintal! Eu e Seu Zeca finalmente arrumamos a terra e plantamos as flores que te falei que iria plantar, as mesmas que seu avô planta.

— Sério? Que bom! Deve ter ficado lindo.

— Calma, as plantas ainda estão crescendo... — Riu. — Mas quando florescer, nossa, vai ficar lindo demais, adoraria que seu avô viesse nos visitar.

— Ele vai, pode ter certeza, ele ama flores em geral, e você ainda puxando o saco dele plantando justamente as que ele gosta, já conquistou o velho! — Riu.

— Plantamos mais de dez espécies de flores, o quintal vai ficar lindo todo colorido.

— Que milagre que finalmente arranjaram tempo, né?

O sorriso de Flávia desvaneceu devagar.

— Acabamos tendo uma tarde de folga, daí aproveitamos para cuidar do nosso quintal, Seu Zeca entende muito de flores.

— Deu muito trabalho?

— Deu sim, mas já estava farta daquele ditado.

— Qual?

— Casa de ferreiro, espeto de pau. — Riu.

***

Flávia adorava cozinhar, estava exultante em preparar a ceia de Natal com a companhia de uma assistente um tanto desastrada, mas muito carinhosa, que compensava sua falta de destreza com alguns beijos e muito afeto. Vinho tinto acompanhava a noite.

— Já posso tirar os cravos do tender? — Perguntou Juliana ao colocar as comidas já prontas sobre a mesa.

— Que implicância com os cravos, nem fica com o gosto forte.

— Tenho restrições alimentares.

— Mentira, tem frescura. — Riu e abraçou por trás. — Que eu relevo porque te amo muito.

— Ah é? Desde quando?

— Desde que te dei um tiro. — Riu alto, Juliana também, se virando para ela.

— Quando você olha a cicatriz no meu braço, você lembra do assalto?

— Não, graças a Deus. A maior merd* que fiz na minha vida me trouxe a mulher mais linda do mundo para a minha cama, do que vou lembrar? Dos bons momentos, claro.

— Tipo?

— Aquele beijo na prisão, com gosto de bolo de laranja.

— Foi o primeiro, e a iniciativa foi minha. — Juliana respondeu orgulhosa.

— Cada beijo que você me dá, parece que é o primeiro, sempre é tão bom... — Disse e lhe roubou um beijo. — Você é a mulher da minha vida, Ju.

Os olhos de Juliana marejaram, a abraçou.

— Odeio ficar longe de você... — Murmurou.

— Eu também.

Cearam e brindaram por dias melhores, aproveitavam da melhor forma possível aquelas raras horas juntas. Mais tarde, já na cama, Juliana perguntou sobre os novos clientes de Flávia, e percebeu novamente um mal estar, preferiu não continuar no assunto, mas registrou aquilo.

Acordou cedo para ir trabalhar, deixaria Flávia ali sozinha por doze horas, essa ideia a arrasava, mas não tinha como faltar ao trabalho. Saiu as sete e quinze da manhã, com um beijo carinhoso em seu rosto e café pronto na garrafa térmica. E claro, um bilhete amoroso ao seu lado.

A Penitenciária ficava num lugar afastado, um tanto rural até, não havia nada por perto, almoçava por ali mesmo e depois tirava uns minutos de descanso numa sala de funcionários. A TV naquela sala estava ligada, mas Juliana não a assistia, permanecia em silêncio e pensativa, até sua colega Laiara sentar ao seu lado, uma jovem mãe de dois que havia ajudado muito na adaptação de Juliana numa cidade nova.

— Estou te chamando há horas, mas você parece estar num mundo próprio. — Riu Laiara. — Está triste por estar trabalhando no dia de Natal? Eu estou chateadíssima.

— Onde arranjou esse gorro? — Juliana respondeu apontando o gorro de Papai Noel na cabeça da colega.

— Eu trouxe, clima natalino e tal... Tenho mais na mochila, quer?

— Não, obrigada. Na verdade, não estou triste, só pensando umas coisas aqui, besteira minha. — Virou-se para a amiga. — Acho que vou aceitar um gorro.

Laiara buscou e colocou em sua cabeça. — Tá uma Mamãe Noel lindona agora! — Riu.

— Com quem seus filhos ficaram?

— Com minha mãe, eles vêm me buscar mais tarde, fiquei com uma dor no coração de deixá-los hoje, mas fazer o que... Você deveria ter ido na nossa ceia ontem, te mandei mensagem chamando, você nem respondeu, passou a noite de Natal dormindo?

— Flávia chegou anteontem. — Respondeu com um sorriso. — Passei com ela, tá lá em casa me esperando.

— Sério? Imagino que você nem tenha ficado feliz, né? Você tava morrendo de saudades, chorando pelos cantos que só a veria no Réveillon.

— Amei a surpresa, é tão bom tê-la aqui pertinho de mim.

— Mas?

Juliana hesitou um pouco, esfregou as mãos.

— Ela tá estranha, mas não faço ideia do que poderia ser.

— Estranha como? Está fria com você?

— Não, pelo contrário, parece até mais afetuosa que o normal, mas tem alguma sombra pairando sobre ela, não sei, pode ser impressão minha, mas parece que algo aconteceu.

— Será que não é a distância que está fazendo isso com ela? Flávia pode estar desanimada por quase nunca te ver, ou cansando dessa situação.

— Valeu, Laiara, agora me sinto ainda pior.

—  Pede uma transferência para o Papai Noel. — Rebateu rindo.

Juliana voltava para seu apartamento em seu velho carro branco apelidado de Kinder Ovo, eram as últimas horas do dia de Natal. Parou num semáforo, e enquanto aguardava, percebeu que ao seu lado havia uma caminhonete tocando música natalina, com um Papai Noel em cima, atirando balas para um grupo de pessoas na calçada.

O Papai Noel voltou-se para o outro lado e acenou para Juliana, que acenou de volta com um sorriso meio sem graça.

O sinal abriu e o Papai Noel foi sumindo na rua, e enquanto observava o carro se distanciando, fez seu pedido.

— Papai Noel de Criciúma, me dá uma transferência de presente de Natal, por favor.

***

Dez dias antes

Flávia estacionou a Fiorino bem na frente da empresa onde iria começar um novo contrato de poda e jardinagem, num escritório de engenharia civil no norte da Ilha. Chegaram um pouco antes do horário combinado, uma da tarde, ela e Seu Zeca gostavam de sair mais cedo para evitar atrasos, tinham muito zelo com os clientes. Seu parceiro de trabalho abriu as portas de trás do carro e começou a retirar as ferramentas e material que usariam naquele serviço, Flávia foi até o interfone e avisou que haviam chegado, o portão se abriu e ambos entraram na área da frente, onde ficava um grande jardim mal cuidado. Todo o serviço já estava previamente discutido e planejado, Flávia foi ajudar Seu Zeca a trazer o material para dentro, e quando voltou carregando uma muda de palmeira, viu uma mulher de aproximadamente cinquenta anos, bem arrumada, chegando tilintando em seus saltos altos, já bradando algo.

— Hey, hey, podem parar o que estão fazendo, nem comecem.

Flávia largou a muda no chão e apenas olhou sem entender, a mulher se aproximou.

— Estamos dispensando seus serviços, podem ir. — Disse rispidamente.

— Houve algum problema com o contrato? Podemos revê-lo. — Flávia respondeu confusa, retirando as luvas de trabalho, Seu Zeca já estava ao seu lado.

— Não queremos mais seus serviços, moça, Dr. Arnaldo pediu que fossem embora.

— Mas tem algum motivo para isso? É o preço?

— Não, são ordens de cima, só estou comunicando a rescisão.

— E não disseram nada? Talvez tenha havido algum engano, podemos conversar com o Dr. Arnaldo?

— Chegou aos ouvidos de Dr. Arnaldo que você é ex-presidiária, e não queremos esse tipo de envolvimento com nossa empresa, agradecemos a disposição, mas já podem ir embora.

Flávia ouviu aquilo e ficou paralisada, com um nó na garganta.

— Se não saírem terei que chamar os seguranças.

— Não será preciso, senhora, nós vamos embora, mas a informação correta é que não tenho mais nenhuma pendência com a lei, somos uma empresa idônea.

— Com ficha criminal, não é mesmo? Não importa se já cumpriu seus anos de prisão ou se fugiu, pois se foi presa e condenada é porque boa coisa não deve ser. — Subiu o tom.

O nó na garganta fechou um pouco mais, não quis insistir naquela conversa.

— Como queira. — Balançou a cabeça incomodada, olhou para seu colega e tomou a muda de planta nas mãos. — Temos que ir, Seu Zeca, me ajude a levar as coisas de volta ao carro.

Guardaram tudo de volta, Flávia sentou no banco do motorista, fechou a porta e suspirou com desânimo, olhando as mãos no volante.

— Tá tudo bem, Dona Flávia? — O senhor de quase sessenta anos e cabelos grisalhos perguntou preocupado, sentado ao seu lado.

— Está sim, eu não estava preparada para ouvir isso, mas deveria saber que mais cedo ou mais tarde aconteceria.

— Também fui pego de surpresa, mas já me aconteceu tantas vezes...

Ouvir aquilo a deixou ainda mais triste. Tomaram o rumo de suas casas, no continente, Flávia seguiu em silêncio, o nó na garganta continuava lá. Já se aproximando da casa de Seu Zeca, ele rompeu o silêncio.

— Não tem mais serviço hoje?

— Não, eu vou deixar o senhor em sua casa, depois vou para a minha, vou aproveitar o tempo livre e esse sol para lavar roupa.

— Por que não aproveitamos para plantar seu quintal? Vamos encher de flores, dar uma vida nova para aquele lugar, Dona Juliana iria ficar feliz de ver tudo assim plantadinho e arrumado quando chegasse aqui no final do ano.

Pensou por uns segundos, sorriu de leve e concordou com a proposta de seu amigo, passaram a tarde arrumando e plantando no quintal da casa delas.

O sol já estava baixo quando Seu Zeca foi embora e Flávia guardava e limpava ainda algumas ferramentas. Quando entrou em casa já havia anoitecido, depois de um bom banho esquentou uma sopa do dia anterior e fez sua janta naquela casa vazia e silenciosa, mas que ainda guardava o cheiro de Juliana, lhe trazendo saudades e sentindo mais do que nunca sua falta.

Foi cedo para a cama, ficou ali no escuro apenas relembrando o que havia acontecido e as palavras de Seu Zeca: já me aconteceu tantas vezes. A certeza de que aconteceria outras e outras vezes com ela aquele tipo de discriminação nada velada a deixou ansiosa, toda a angústia que já sentia por estar longe de Juliana juntou-se a mais essa angústia em seu peito, o coração foi acelerando e naquela noite, entre lágrimas, teve um ataque de pânico, várias vezes achou que morreria ali, sozinha.

***

Voltando aos dias atuais.

Juliana chegou em casa perto das nove da noite naquele dia de Natal, foi tão bom abrir a porta e encontrar Flávia no sofá vendo TV, o coração se aqueceu e mesmo suada e cansada, foi pedir um abraço apertado.

— Como foi seu dia de Natal, amor? — Flávia perguntou, com Juliana em seu colo no sofá, de frente para ela.

— Triste, sabendo que você estava há poucos quilômetros de mim, mas eu não tinha como sair de lá.

— Amanhã o dia é todo nosso, vou embora só à noite.

— Vai não, vou te trancar no banheiro. — Riu e roubou um beijo. — Não jantou ainda? — Percebeu a mesa com os pratos e talheres postos.

— Tava esperando você, dei uma repaginada no que sobrou de ontem, acho que até que ficou bom.

— Então tomarei um banho rapidinho para tirar esse cheiro de prisão, que sei muito bem que a senhora odeia, e vamos jantar.

Após o jantar, Flávia fitava a cidade em silêncio através de uma grande janela, enquanto Juliana lavava a louça.

— Gostou dessa vista de um monte de telhados e paredes? — Juliana perguntou lá da pia.

— Que?

Enxugou as mãos e foi até Flávia.

— Não é uma bela vista, só tem telhados e paredes.

— E luzes.

— Prefiro a vista do nosso quintal. — Juliana passou seu braço por trás das costas da esposa, a puxando para perto e deitando sua cabeça no ombro dela.

— Eu também. — Flávia virou-se para ela. — Quer ver um filme, gatinha?

— Quero. — Suspirou. — Mas queria conversar com você.

O sangue de Flávia gelou.

— Tá bom. — Olhou por alguns segundos nos olhos de Juliana tentando captar o que acontecia. — É sobre nós?

— Como assim?

— Assim... andou repensando a gente, sabe, nossa relação, algo do tipo?

— Você acha que vou terminar com você?

— Vai?

— Claro que não, vem cá, senta aqui comigo.

Flávia sentou no sofá um tanto tensa, Juliana foi dar uns tapas no ventilador para que ele começasse a girar, e depois sentou-se também, com uma perna para cima do sofá e a mão sobre a mão de Flávia.

— Aconteceu alguma coisa? — Juliana foi direto ao assunto.

— Não que eu saiba.

— Amor, desde que você chegou aqui que percebi uns lances estranhos, você fica triste do nada. Vai, me fala, aconteceu algo? Ou na verdade é você que andou repensando nossa relação?

— Não, não é nada disso. — Flávia disse levando a mão de Juliana até sua boca e beijando.

— Mas aconteceu algo, não foi? Está se cansando da distância entre nós?

— Você poderia ter ido trabalhar no Japão que mesmo assim esperaria o tempo que fosse para te ver de novo.

— Então não tem nada acontecendo?

Flávia não respondeu de imediato.

— Não.

— Você demorou pra responder, dona Flávia, vá logo abrindo o bico.

— Aconteceu uma coisa chata semana passada, não quis te contar para não estragar o clima de Natal, mas já passou, já foi.

— O que aconteceu??

Flávia narrou o que havia acontecido naquela tarde, a dispensa de trabalho por conta de seus antecedentes, e o quanto havia se sentido triste e humilhada com tudo aquilo.

— Eles não podem fazer isso, a gente vai processar esse bando de babacas, vamos processar essa empresa! — Juliana dizia enfurecida.

— Não, isso só me queimaria ainda mais no mercado. Deixe pra lá, agora sei que é algo que pode acontecer a qualquer momento, já estou mais preparada, a casca vai endurecendo, sabe?

— Por isso que vocês foram mexer no nosso quintal? Foi nesse dia?

— Foi.

— Eu sinto muito, meu amor. — Juliana segurou ambas as mãos dela. — Sinto muito. E sinto também por não estar lá com você te dando apoio, te dando um colo, eu nem fazia ideia.

— Naquela noite eu quis tanto você lá comigo, foi uma noite horrível. — Flávia disse desviando o olhar, com os olhos marejados.

Juliana franziu a testa e tentou olhar em seus olhos.

— Amor, aconteceu algo naquela noite?

— Eu tive um ataque de pânico, mas acordei melhor no dia seguinte.

— Teve?? Ah não, que droga, Flávia, fazia tanto tempo que você não tinha isso. — Bufou incomodada. — Estamos juntas há mais de um ano e você só teve uma vez nesse período, no dia que seu pai morreu, nunca te vi tendo outras vezes, mas naquele dia vi o quanto você fica mal, você não pode ficar sozinha numa situação dessas, não pode, amor.

— Não quero que fique preocupada com isso, não foi das piores crises, tive uma bem pior na prisão, dessa vez consegui me acalmar depois de umas duas horas, foi mais branda.

— Você teve ataque de pânico na prisão?

— Três vezes.

Juliana esfregou a testa e as sobrancelhas com os dedos, estava no ápice da sua irritação. Levantou do sofá e foi até a janela, sem falar nada.

— Desculpe, eu não queria te preocupar.

Juliana não respondeu, continuou olhando pela janela.

— Ju, já passou, estou bem, não fique brava.

Novamente nada respondeu.

— Você está brava? — Flávia perguntou com o coração em frangalhos. — Eu deveria ter tomado algo assim que percebi que estava me alterando naquela noite, mas nem um chá fiz, eu vacilei, vou deixar uns calmantes pela casa, de fácil acesso, só por segurança.

Juliana retornou até próximo do sofá, e falou com um semblante sério e impassível.

— Vou pedir demissão.

— Que?? Não, você não pode pedir demissão, Juliana, vai abrir mão de uma coisa que você lutou tanto? Claro que não. — Flávia disse já de pé.

— Está decidido, eu vou voltar pra casa.

— Eu prometo que venho te visitar mais vezes, você não precisa pedir demissão.

— É a coisa certa a fazer, Flávia. — Suas palavras saíam com firmeza e agora também uma certa serenidade. — Provavelmente terei que cumprir o aviso prévio, mas logo vou para casa em definitivo.

— É loucura, você não pode abrir mão do que conquistou com tanta dificuldade.

— Eu pego algum emprego por lá, tenho saúde e disposição para trabalhar, com certeza arranjarei algo, ou então falo com Claudia e peço meu emprego de volta.

— Ela já contratou outra pessoa para seu lugar.

— É só demitir, aceito metade do salário, dou um jeito, mas teremos como pagar nossas contas, não se preocupe com isso, vamos ter como nos manter e pagar os financiamentos, apertando um pouco o cinto.

— Você é concursada, vai abrir mão disso?

— Vou. Entenda, eu quero voltar para casa, quero voltar a morar com você em nossa casinha, dormir e acordar com você todo dia, ser teu suporte nos dias difíceis, celebrar as conquistas, aqui longe eu me sinto cada vez mais triste e distante de você, eu não quero isso, Flávia, eu quero estar contigo, viver contigo, tocar minha vida com você, do seu lado. — Juliana pousou suas mãos no rosto da esposa.

— Por favor, pense melhor nisso tudo, não tome decisões agora, você está chateada pelas coisas que te contei, mas já passou, serei mais forte da próxima vez, te prometo.

— Você é forte, garota. — Sorriu. — Não precisa ser forte o tempo todo.

— Não quero ser responsável por você abandonar um sonho.

— Relaxa, é por nós. — Juliana a beijou. — É só um emprego, a gente já comeu o pão que o diabo amassou pra ficarmos juntas, não faz sentido essa distância toda entre nós.

— Promete que vai pensar melhor?

— Prometo, mas não se preocupe com isso, tá bom? Vamos ficar bem. Vem cá. — Juliana passou seus braços por sua cintura e a abraçou.

— Ainda quer ver filme? — Flávia perguntou.

Juliana deu alguns beijos em seu pescoço.

— Não, eu quero ir pra cama, vou te dar o colo que não pude te dar na noite em que você ficou mal, quero te mimar um pouquinho, vem.

***

Juliana conseguiu viajar para passar o Réveillon em casa, com Flávia, tendo que voltar para o trabalho em Criciúma no dia seguinte. Havia avisado Flávia que ficaria trabalhando até o final de janeiro, e então voltaria para casa em definitivo, disse que talvez Claudia lhe arranjasse um emprego já em fevereiro.

Na segunda semana de janeiro, no final da tarde de uma sexta-feira fresca e um tanto nublada, Flávia fazia a mudança de vaso para a terra de algumas plantas do quintal, estava tão absorta naquela tarefa que não ouviu o barulho de um carro estacionando ao lado de casa.

— Achei que estaria tudo florido já, leva quanto tempo para dar flor?

Flávia levantou-se no susto, avistando Juliana recostada no tronco de uma árvore.

— O que você está fazendo aqui, mulher? Você não tem que trabalhar até o dia 27 para cumprir o aviso prévio da sua demissão? Te expulsaram, foi? — Perguntou rindo.

Juliana descruzou os braços e se aproximou de Flávia, com um sorriso arteiro.

— Preciso te contar uma coisa.

— Ah meu Deus, lá vem.

— Eu não pedi demissão.

— Então veio apenas me visitar?

— Vim para ficar, e espero que para sempre, aqui é o meu lugar, bem do seu ladinho.

— Ãhn... então não entendi.

— Eu consegui a transferência.

— Mentira. — Flávia disse tapando a boca, surpresa.

— Não me transferiram para Floripa, mas para a penitenciária de São Pedro de Alcântara, que é aqui perto, meia horinha de carro, fomos em uma festa nessa cidade uma vez, lembra?

— Lembro, como conseguiu isso?

— Eu fui pedir demissão no final daquela semana, no dia 28 se não me engano, então me deram a opção de me transferir para São Pedro, e obviamente aceitei. Não te contei nada porque queria fazer surpresa, e fiz, não fiz?

— A melhor surpresa do mundo! Isso é maravilhoso, amor! Então você voltou pra casa mesmo? Não vai precisar voltar para Criciúma?

— Só para visitar a Laiara algum dia, prometi a ela que a visitaria. E agradecer ao Papai Noel de Criciúma que atendeu o pedido que fiz no dia de Natal.

Flávia a abraçou forte, emocionada com o retorno efetivo da esposa para o lar, doce lar.

FIM

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Baseado no romance Tomada de Assalto, de Cristiane Schwinden, que pode ser lido ou relido aqui: projetolettera.com.br/1519


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Comentários para 1 - Capitulo único:
patty-321
patty-321

Em: 28/12/2022

Show. Menina que bom "rever" essas duas. Amei 

Responder

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Gio
Gio

Em: 28/12/2022

Preciso ler essa história, não sabia nem que alguém tinha sido presidiária!

O dilema do pobre que não quer largar o concurso, eu o vivi kkkk, que bom que ela conseguiu transferência rsrs 

 

Responder

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Lea
Lea

Em: 27/12/2022

Flávia ainda sofre por ser ex presidiária,deve ser algo como: você sai da prisão mas a prisão não sai de você. Esse preconceito é mais comum do que possamos imaginar! O lado bom é que,a Juliana é o porto seguro da Flávia e virse versa!

*

Foi muito gostoso rever esse casal que nasceu de um modo tão inusitado,e ver que o amor continua as alturas!

"

Boa tarde,Cristiane!

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