POV CATARINA

Minha cabeça estava cheia, eu não parava de pensar nas palavras de Malvina, queria muito poder conversar com Theodora, mas era semana de SPFW e eu não tive tempo nem de respirar. Mas com a minha equipe trabalhando o dobro, conseguimos organizar tudo, o que estava me tirando o sono era a tal Olivia, a garota era um saco e fez um milhão de exigências antes de aceitar o convite pra desfilar, eu já estava odiando a ideia de Malvina trazê-la para o Brasil.

-Cat, a garota chegou. – Alessandro bateu na porta. – Ramires trouxe ela direto pra cá.

-Leva ela pro estúdio 06, já estou indo. – Ele concordou e eu suspirei antes de ir até lá.

Alessandro saiu e juntei minhas coisas antes de ir ver a garota, eu já estava a odiando, foi tanto estresse pra trazê-la, não gosto de trabalhar com pessoas que são estrelinhas demais.

-Oie, seja bem vinda Olivia. – Tentei ser o mais simpática possível. – Como foi a viagem?

-Seria melhor se eu tivesse vindo de jatinho. – Ela respondeu com um sotaque carregado. – Onde Malvina está?

-Ela vem mais tarde. – Alê me olhou sabendo o que eu estava sentindo. – Vamos fazer algumas fotos agora e aí você está liberada.

-Vamos logo com isso, quero descansar. – Passei as mãos nos cabelos pedindo calma pra minha equipe.

Terminamos as fotos uma hora além do combinado, pois a garota não estava gostando de nada, eu estava a ponto de surtar, mas tentei ser o mais profissional possível. Fizemos as fotos e pedi ao Ramires que a levasse para o hotel, iria dar a ela um tratamento de rainha, não iria dar motivos pra ela reclamar.

Além de estar estressada com Olivia, Theodora não sai da minha cabeça. Pensei em várias formas de conversar com ela, mas o medo era gritante e eu não estava sabendo como agir, logo agora Laura resolveu não me dar conselhos dizendo que não vai se meter mais na minha relação com Theo.  Por várias vezes essa semana eu digitei o número dela, mas eu não deixei a ligação completar, estava me sentindo covarde, eu não conseguia fazer isso.

-Posso entrar? – Fui tirada dos meus devaneios quando Vicente bateu na minha porta.

-Vicente, que surpresa você aqui. – Fui até ele o abraçando.

-Vim ver a estilista mais linda do Brasil. – Ele me beijou na bochecha. – E te chamar pra almoçar comigo.

-Poxa, estou muito atarefada. – Não era mentira. – O Fashion Week começa amanhã.

-É só um almoço, Cat. – Ele deu um sorriso ameno. – Vamos?

-Ok! – Concordei e saímos um ao lado do outro.

Aceitei o convite, pois precisava respirar um pouco, estava com a cabeça cheia, eu sempre me cobrava demais e esquecia de dar uma pausa pra respirar. Fomos a um restaurante próximo ao ateliê, fizemos o pedido conversando amenidades sobre o nosso dia a dia.

-Mas e ai Cat, como tá a vida amorosa. – Vicente degustava um vinho branco, enquanto eu saboreava um suco.

-Não anda. – Dei uma gargalhada. – Eu não tenho tempo pra isso.

-Tem que arrumar tempo, Cat. – Ele deixou a taça na mesa e fez um carinho sutil em minha mão. – Podíamos sair qualquer dia desses, depois dessa loucura de Fashion Week, posso te levar no meu apartamento novo.

Eu me senti incomodada com a fala dele, era invasivo demais. Puxei minha mão e pensei antes de falar, mas não queria ser rude.

-Depois olhamos isso. – Chamei o garçom.

-Já vai?

-Não posso me dar o luxo de passar a tarde papeando. – Respondi tentando ser simpática.

-Não vou deixar você pagar a conta, foi eu quem convidou. – Não queria aceitar, mas ele foi insistente.

Ele insistiu pra me deixar o ateliê, aceitei a carona indo em direção ao carro, Vicente tinha a mão nas minhas costas, e falava algo, mas eu nem sequer prestava a atenção, estava distraída quando ouvi a voz rouca de Theodora, ela estava com Ester e as duas estavam um papo animado, mas morreu o assunto na hora que ela colocou os olhos em mim, mas especificamente na mão de Vicente que ainda estava em minhas costas, ela passou direto, sem fazer questão de parar e cuprimentar, suspirei desfazendo o contato do meu amigo, me despedi dele com uma desculpa e entrei no primeiro táxi.

Cheguei ao ateliê irritada com tudo, não devia ter aceitado o convite para o almoço, passei o resto da tarde pensando nisso e mal consegui me concentrar, pensei em mandar uma mensagem para Theodora, mas eu iria falar o que pra ela?

{...}

O grande dia chegou, e com ele a ansiedade. Estávamos na Bienal desde cedo, tudo estava uma loucura e eu estava extremamente exausta. Hoje de manhã me estressei com Luna e agora me arrependi, isso tudo era o efeito de uma semana muito intensa. Íamos entrar como o desfile principal, Malvina receberia uma homenagem no desfile, e isso deixou a galera ainda mais empolgada.

-Catarina, são pra você! – Alessandro me entregou orquídeas. – Não sei quem mandou.

-São lindas! – Peguei o cartão e sorri ao ler. – Malvina e Theodora .

-Vocês conversaram? – Eu confidenciei com ele o ocorrido.

-Não, ela não me procurou. – Suspirei chateada. – E eu não tive coragem de procurá-la.

-Hey, você é tão corajosa pra umas coisas, mas é covarde quando o assunto é a sua felicidade. – O encarei e ele continuou. – Você sempre a amou, mas não teve coragem de viver isso, teve medo, e se você deixar o medo te dominar, você nunca vai ser feliz por completo. Eu entendo no passado você ter tido medo de Malvina, eu também teria, mas hoje você é a Catarina Avellar, a maior estilista do país, as peças mostradas hoje, tem a sua assinatura.

Ouvi tudo com atenção, e ele estava mais que certo, eu sempre me anulei, está passando de hora de mudar isso. Abracei Alessandro e fomos nos preparar para o início da noite.

O desfile começou e meu nervosismo estava a mil, sempre parecia a primeira vez, eu sempre pedia a Deus que desse tudo certo, tinha muito medo de fazer algo errado e acabar com tudo, mas tudo corria bem e Malvina foi homenageada durante o evento. Vi Theodora sentada ao lado de uma morena que eu não consegui identificar de início, mas depois me lembrei que era a Layla, que estudou com a gente, estranhei elas duas juntas, mas continuei focada no desfile. Olivia entrou na passarela e os gritos de euforia ecoaram, ninguém esperava ela ali, por esses motivos Malvina era tão brilhante, pois ela sempre surpreende de alguma forma. Fui parabenizada e aplaudida de pé, meu sorriso estava enorme no rosto enquanto meu coração batia acelerado.

Depois de dar várias entrevistas, fui pro after party  no lounge da bienal mesmo, estavam todos lá, alguns conhecidos. Theodora parecia estar me evitando, não conversou comigo hora nenhuma, sempre que eu me aproximava ela se virava e ia bater papo com alguém, ela estava simplesmente magnífica, usando uma peça que eu desenhei.

-Eu nem preciso te agradecer, né? – Malvina tocou meu ombro com um sorrisão no rosto. – Catarina, você é brilhante.

-Eu quem devo agradecer pela orpotunidade. – Nos abraçamos e vimos vários flashs em nós. – Devo admitir que a ideia de trazer Oliva foi uma tacada de mestre.

-Ela é incrível, apesar de ser chatinha. – Malvina deu uma risadinha. – Vou cumprimentar outras pessoas e depois vou embora, estou cansada.

-Está tudo bem? – Perguntei preocupada, pois vi o ex marido dela na plateia.

-Estou bem. — Ela alisou meu braço e se afastou.

Andei pelo lugar e alguns fotógrafos pediram mais fotos, Olivia e Isis posaram ao meu lado. Theodora me encarava ao lado de Luiza que gargalhava por algo. Olivia visualizou Theodora e correu até ela, fiquei sem entender a forma calorosa que as duas se cumprimentaram, meu queixo caiu quando Olivia segurou o rosto de Theodora e a beijou, os fotógrafos não perderam tempo e tiraram várias fotos das duas.

-Gente??? – Alessandro me olhou sem entender.

POV THEODORA

Tudo aconteceu muito rápido, na mesma hora que eu estava rindo das palhaçadas de Luiza, falando que eu tinha ficado com as três, Olivia já estava com a língua dentro da minha boca. Desde que eu soube que ela estava no Brasil, eu estava evitando o contato, tanto que passei longe do ateliê da minha mãe nesses últimos dias. Me soltei da loira bruscamente e vi que todas as câmeras estavam voltadas pra nós.

-Olivia, você está maluca? – Perguntei irritada.

-Senti saudades. – Ela não estava se importando com a exposição. – Poxa Theo, você veio pro Brasil e nem me falou nada.

-Tive um imprevisto. – Tentei me livrar dela. –Olivia, essa é a minha amiga Luiza e essa é a Layla.

A garota apenas acenou com desgosto, e voltou a passar os braços pelo meu pescoço.

-Baby, vamos pra um lugar mais reservado? – Eu precisava dar um jeito de me livrar dela.

-Lu, eu já volto. – Minha amiga deu um sorriso de deboche.

Peguei Olivia pelo pulso e fomos andando juntas, ela estava visivelmente alterada, provavelmente pela quantidade de espumante.

-Vai me levar pra sua casa? – Ela sorriu e eu a levei até o carro que Ramires estava encostado.

-Vou te levar pro seu hotel. – Abri a porta. – Ramires, leva essa doida pro hotel dela, por favor.

-Claro senhorita. – Olivia tentou abrir a porta, mas eu a impedi. – Avise a senhorita Avellar, que eu volto pra buscá-la.

-Eu a levo pra casa, não se preocupe. – Ele acenou e eu dei Tchau pra Olivia.

Entrei no lounge novamente olhando pelo local, precisava encontrar Catarina, mesmo estando irritada com ela. Morri de ódio no dia que a vi saindo do restaurante com aquele cara sem graça, Ester tirou sarro de mim dizendo que eu estava com ciúmes, mas eu não queria assumir que estava mesmo. Eu estava com raiva sim, ela ficou comigo e nem me procurou depois, aí teve tempo pra encontrar com aquele macho bobo, mas eu não ia assumir isso. Me livrei dos meu pensamentos indo até onde o Alessandro estava.

- Alê, você sabe onde a Catarina está? – Ele se virou confuso.

-Acho que ela foi atrás do Ramires. – O agradeci e voltei pra saída.

Alguns fotógrafos e entrevistadores pararam pra me pedir uma nota sobre meu "caso" com Olívia, mas eu passei direto. Encontrei Catarina no estacionamento procurando por Ramires.

-Oi, vou te levar em casa. – Ela levou a mão no peito com o susto.

-Não precisa, estou esperando o Ramires. – Ela parecia irritada.

-Ele foi deixar a Olivia no hotel, e eu me ofereci pra te levar. – Catarina revirou os olhos.

-Theodora, eu pego um táxi, pode ir fazer companhia a sua namorada. – Bufei irritada, pois Catarina consegue ser implicante quando quer. – Não precisa se incomodar, o que não falta é carona.

-É talvez o seu namoradinho sem sal venha te pegar. – Rebati e ela me olhou incrédula. – O que foi? Ele não veio?

-Meu Deus, como você é insuportável. – Ela levou a mão nos cabelos. – Vicente é o meu amigo!

-A gente já sabe onde essa discussão vai dar, então entra no carro e para de reclamar.

Fim do capítulo