Where you lead, I will follow

Anywhere that you tell me to

If you need, you need me to be with you

I will follow where you lead

 

- Where You Lead, Carole King

 

 

Roberta estava abalada emocionalmente com a morte do marido. Tudo em sua casa lembrava-o. Por isso, tomou a decisão de passar uma temporada nos Estados Unidos com Diogo. Não satisfeita desejava que Cali fosse com ela. Para a garota, foi difícil a decisão de separar-se de Paloma. Mas sabia o quanto Roberta precisava dela naquele momento.

 

No aeroporto, Paloma e Cali choraram abraçadas por alguns minutos, prometendo que estariam juntas novamente em breve. Cali prometeu que ligaria todos os dias.

 

Quando chegou a sua casa, Paloma viu-se diante de um profundo vazio e uma tristeza sem igual tomou conta dela. E, assim, os dias passaram. Apesar de manterem contato ao telefone, ambas sabiam que não era a mesma coisa. Queriam sentir o toque uma da outra novamente.

 

Certa vez, Paloma chegou em casa abatida. Passou por Fábio sem dizer nada. No quarto, pegou em suas mãos um bichinho de pelúcia que Cali havia deixado lá, começou a acariciá-lo.

 

- Ela faz falta, não é?

 

Paloma virou-se ao ouvir a voz de Fábio que estava parado no vão da porta.

 

- Ela faz muita falta, Fábio.

- Eu sei o que está sentindo, Paloma. Nada nunca mais será o mesmo depois que ela entrou em nossas vidas. Lembra de como era antes, só eu e você?

- Sim, era bom. Só que com ela, somos bem melhores, Fabinho.

- Tem razão, Cali mudou nossas vidas para melhor, Paloma. Principalmente a sua. Nunca a vi tão feliz. Acho incrível que mesmo em um mundo tão grande, ela tenha vindo morar logo aqui, ao lado.

- Talvez porque estávamos destinadas a nos encontrarmos - Refletiu Paloma - Antes de conhecê-la, eu me sentia vazia. De algum modo, ela me salvou.

 

Fábio pegou o bichinho das mãos de Paloma.

 

- Isso é bem a cara dela - Disse ele acariciando a pelúcia fofinha de Cali - Não se preocupe, Paloma. Ela vai voltar. Você vai ver! Antes que você imagine aquela loirinha vai entrar por aquela porta com um sorriso enorme nos lábios.

- Eu espero que esteja certo, Fábio. Espero que esteja certo.

 

 

***

 

Para Cali, os dias nos Estados Unidos tampouco eram felizes. Sentia a falta de Paloma e de seu querido amigo Fábio. Roberta conseguia distrair-se com Diogo e a adorável família de sua noiva, Natalie. Aos poucos, ela estava recuperando a vontade de viver, mas percebia que à medida que recuperava o ânimo, a filha o perdia em igual medida. Cali estava sempre distante dos risos de todos. Dizia que estava tudo bem, mas era óbvio que não estava. Aos poucos, Roberta começou a abrir os olhos, sabia que Cali não estava triste assim apenas pelo pai, havia algo mais. Ela relutava em reconhecer o que estava por trás daqueles olhos tristes da filha. Um dia, sem conseguir mais suportar ver a filha daquela maneira, Roberta chamou Cali para uma caminhada no parque e decidiu ter uma conversa sincera com ela.

 

- Tem estado tão distraída, Cali.

- Desculpe, mãe. Você tem razão.

- Acho que não precisa se desculpar, filha. Algo está te incomodando, não é?

- Sim, mas isso é coisa minha. O importante agora é como você está, mamãe.

- Eu vou ficar bem, Cali. Mas estou mesmo preocupada com você, pois não sei se você vai ficar...

- Não se preocupe comigo.

- Ei, não me peça isso! Sou sua mãe e tudo que desejo é sua felicidade - Disse Roberta, séria - Cali, sei que o seu coração não está aqui comigo agora, ele está distante.

 

Cali não respondeu, não estava entendendo onde sua mãe estava querendo chegar.

 

- Não me olhe assim, filha. Não sou boba, por muito tempo fingi não ver o que estava bem diante de meus olhos. Meu preconceito me cegou, assim como meu narcisismo.

- E o que você não queria enxergar?

- O quanto você ama aquela garota. Não é verdade?

- Sim, mamãe. A amo muito, isso é o que venho lhe dizendo já há algum tempo.

- Eu sei disso, Cali. Peço desculpas por ser tão rígida com você.

- Então, você entende mesmo que eu a amo.

- Não vou mentir, talvez eu nunca compreenda como aconteceu de você se apaixonar por sua amiga. O que posso entender é que está com ela a faz feliz, não estou certa?

- Sim, está. Sou feliz com ela - Disse Cali

- Bem, então desejo que fiquem juntas. Seja feliz em seu caminho, filha.

 

Cali abraçou sua mãe, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.

 

- Quero que volte para o Brasil, Cali. Embora quisesse ter você aqui, não vou mais prendê-la.

- Isso é sério, mãe?

- Estou falando muito sério, Cali.

- Mas o que a fez mudar de opinião?

- Além de não suportar vê-la tão triste, filha. Sabe, naquele dia após o enterro de seu pai. Observei você duas na beira da piscina. Você parecia tão segura nos braços daquela garota, vi o carinho com que ela a tratava. Soube naquele instante o quanto você é amada, filha. Acho que ela é capaz de cuidar bem da minha princesa.

- Obrigada, mãe. Eu amo você.

- Também te amo, Cali - Respondeu Roberta - O que está esperando, vamos para casa fazer suas malas agora mesmo, acho que alguém no Brasil mal pode esperar para vê-la...

 

***

 

 

 

Era sexta-feira, Paloma estava aliviada que a semana chegara ao seu fim. Os dias estavam sendo exaustivos para ela que se dedicava mais aos exercícios e as aulas no intuito de esquecer que chegaria em casa e não encontraria sua garota a esperando.

 

Talvez dessa vez fosse diferente...

 

Qual foi a surpresa de Paloma quando chegou a seu apartamento aquele dia. Quando abriu a porta encontrou a luz apagada, a sala estava iluminada com várias velas acessas espalhadas em todo o cômodo. Em um semicírculo formado pela luz amarelada das velas, Paloma viu uma figura parada. Era uma garota de estatura média que segurava uma rosa na mão. Ela imediatamente reconheceu a garota.

 

- Cali! Mas como? É você mesma? - Perguntou Paloma, confusa.

- Sou eu sim, Paloma.

- Mas você não estava... não estava...

 

Era difícil para Paloma controlar a emoção.

 

- Estava, mas estou aqui agora e vim para ficar - Disse Cali.

- Quando chegou? Porque não me procurou imediatamente, eu teria te pegado no aeroporto...

 

Paloma ainda estava confusa.

 

- Queria te fazer uma surpresa, meu amor.

- Não entendo, como conseguiu fazer tudo isso?

- Eu tenho muitas habilidades, sabia? - Disse Cali, sorrindo.

- Ei, essa fala devia ser minha - Protestou Paloma, fracamente.

- Também tive ajuda de Fábio.

- Hum, tinha que ter a mão daquele alcoviteiro no meio.

 

 Cali sorriu novamente. Depois estendeu a rosa que trazia para Paloma

 

 - É para você!

 

Paloma estendeu a mão para pegar a flor de Cali, nesse momento, sua mão tocou de leve na da garota e ambas sentiram um arrepio percorrer seus corpos dos pés a cabeça. Era como se o tempo parasse por um toque de magia causado por um toque de amor de duas pessoas que sentiam necessidade uma da outra. As duas ficaram com as mãos unidas, mantendo a rosa abrigada entre elas.

 

- É linda! - Disse Paloma, sem saber se olhava para Cali ou para a rosa - O que significa?

- Uma rosa vermelha para simbolizar o nosso amor. Vermelho é também a cor da paixão. Estou dando-a a você, Paloma, porque quero que saiba que meu coração, meu corpo e minha alma são seus. Quero me unir a você, para sempre.

- Eu também desejo me unir a você - Disse Paloma, emocionada.

- Paloma, durante a minha vida nunca pensei que teria a sorte de me apaixonar por alguém tão maravilhosa como você. Eu te amo por tudo o que você é - Falou Cali, com a voz embargada.

- Cali, com você sou mais feliz do que jamais pensei que seria um dia e quero que saiba que vou passar o resto da vida tentando fazer você se sentir do mesmo modo. Prometo amá-la para sempre, Cali.

 

As garotas selaram a união com um beijo apaixonado. O beijo pelo qual tanto ansiavam. Seus corpos eram puro fogo, ambas sabiam que aquele era o momento pelo qual estiveram esperando. Não havia mais nada entre elas que pudesse atrapalhar a perfeição daquele encontro. Era a comunhão perfeita entre seus sentimentos e a paixão que as consumia em sonhos há tanto tempo.

 

Com toda sua paixão, Paloma segurou Cali em seus braços e a levou para o quarto. Aos poucos, foi tirando com delicadeza a roupa da garota enquanto beijava todo o seu corpo.

 

- Você é linda! - Admirou Paloma, ofegante.

 

Paloma nunca havia visto tanta beleza e perfeição. Tocar a pele macia de sua amada e observá-la reagir. Cali sentia-se em êxtase a cada toque, era a primeira vez que se sentia assim, que sentia tanta intensidade ante a paixão. Nada do que sentira antes podia ser comparado ao que sentia apenas com o olhar que Paloma lançou a seu corpo desnudo. Ela queimou apenas com aquele olhar, sentindo-se escorrer, quente e molhada. Já estava pronta para ela, há muito ansiava por isso, sonhava todas as noites com aquele momento.

 

Cali ajudou Paloma a se despir, queria vê-la, admirá-la. O corpo feminino nunca lhe parecera tão belo. O corpo esculpido por tantas horas de malhação. Admirou cada músculo bem definido. Quando não aguentavam mais, Paloma tomou Cali novamente em seus braços cobrindo o corpo dela com o seu. Ambas gem*ram com o contato. Beijaram-se intensamente. Cali abriu as pernas oferecendo-se para sua amada que aceitou o convite de bom grado, tocou o sex* molhado a penetrando, seus dedos escorreram facilmente arrancando gemidos descompassos de Cali que exigia cada vez mais. Fora de órbita, Paloma movimentou-se dentro dela, primeiro devagar, sentindo, experimento aquele lugar onde sempre ia querer estar de agora em diante. Não sabia como vivera até então sem experimentar o paraíso. Depois começou a movimentar-se com mais rapidez guiada pelos gemidos de sua amada, ela também gemia experimentando um prazer imenso ao tomar Cali para si. Cali se movimentava impondo seu ritmo, querendo cada vez mais até explodir em um orgasmo intenso. Paloma buscou os olhos de sua amada e ambas sorriram. Queriam mais, muito mais.

 

E assim, sem pudores, ambas consumaram enfim sua paixão. Enquanto o mundo lá fora era apenas um borrão indefinido.

 

***

 

Roberta voltou para o Brasil com Diogo e a esposa. Anos depois da morte do marido, ela encontrou o amor novamente quando conheceu Ronaldo Almeida. Roberta e Fábio tornaram-se grandes amigos e criaram uma grife de roupas juntos.

 

Diogo e Natalie tiveram muitos filhos sardentos como à mãe. As crianças eram muito paparicadas pela avó coruja e pelas tias Cali e Paloma.

 

Fábio e Jorge após anos de idas e vindas descobriram enfim que podiam ser felizes juntos. Talvez não fosse o amor arrebatador que Fábio tanto esperava, mas mesmo assim ele e Jorge sentiam-se seguros juntos. Fábio soube que o amava quando Jorge o ajudou a deixar de lado a bebida após Fábio aceitar que tinha problemas com álcool.

 

Andréia enfim esqueceu Paloma e seguiu sua vida. Teve uma série de relacionamentos que não acabaram bem devido a seu ciúme possessivo. Até que decidiu procurar ajuda. Fez terapia durantes anos e conseguiu melhorar e dá seguimento a um relacionamento sério com uma mulher mais velha que a ajudou a controlar sua impulsividade.

 

Thomas continuou no cumprimento de seu dever, até ser assassinado em uma missão. Enquanto viveu jamais esqueceu Cali, a garota que ajudou a salvar a vida um dia e que de certa forma ajudou-o a dar um sentido à sua.

 

Quanto a Cali e Paloma nem preciso dizer que foram companheiras enquanto a vida durou. Não estavam enganadas, foram feitas uma para outra. Para quem a ideia de passar o resto da vida com alguém parece absurda, jamais amou de verdade. Às vezes, alguns corações descobrem ser um só, é raro, mas pode acontecer, qualquer dia, em qualquer lugar, ao lado...

 

Fim

 

“A garota da porta ao lado”

Ceará, 21 de Novembro de 2011.

 

 

Fim do capítulo