Capitulo 52
CAPÍTULO 52:
COR DOS OLHOS
Contém palavras de baixo calão.
Ninguém respondeu ao meu chamado, limpei novamente os pensamentos, e implorei “eu preciso de você”, foi então que chamei com o coração, segurei a espada da Nalum e pensei no seu sorriso muito parecido com o do meu pai, nos olho idêntico aos meus, e nos cabelos de fios duplos pretos e cinzas, na força do olhar, que mesmo a cor sendo a minha, a força era da minha mãe. Nada aconteceu.
Já estava desistindo quando, primeiro, eu senti o cheiro mágico de hortelã pisada com canela de Saigon, esse tipo de canela é originário do Vietnã, me fascina por ser um aroma puro. A canela tende a ser ainda mais picante e forte, ao mesmo tempo, doce. O cheiro bailou no meu nariz fazendo cócegas no meu pelo, deixando minha loba acordar e ficar se revirando por dentro, o que estava redondamente errado, mas era impossível não ficar seduzida, ela veio chegando faceira, pisando com uma leveza, um gingado como se bailasse um trecho de o lago dos cisnes, e me transmitia uma paz, uma calma, que não lembro de ter sentido em toda minha vida essa tranquilidade.
Não era a guerreira Nalum, essa que estava se aproximando era a cópia da amiga Ameth, até a doçura era a mesma, a única diferença sutil estava na ferocidade do olhar prateado, que mesmo feroz, quando olhava dentro dos meus, eu sentia paz, ela ficou entre meu corpo e a pedra onde minha mão estava, e segurou em cada lado do meu rosto olhando dentro dos meus olhos como sempre fazia na embarcação ainda na praia, eu sentia seu hálito cheiroso de hortelã com canela próximo a minha boca e o calor da sua voz que era linda, se a voz da Ameth parecia com a voz de um anjo, a da filha dela tinha magia que hipnotizava, era isso, eu estava hipnotizada com tudo que ela passava para mim.
― Escute com o coração, não tente decifrar, se escutar com o coração vai saber o que os espíritos estão te revelando. ― Me perdi afogada dentro daqueles lagos de águas prateadas, sem desviar dos meus um segundo, quantos anos ela teria agora? Por que eu sentia essa conexão tão forte? O que nos prendia uma à outra? Ela sorria de canto sempre me olhando, colocou as mãos nos meus braços e ficou fazendo um carinho doce com as mãos indo e vindo suavemente, uma porta foi abrindo lentamente, então entendi tudo, o que os espíritos diziam em sussurros.
― Por que veio no lugar da guerreira Nalum? ― Tentei dar um tom indiferente a voz, mas o que saiu foi um sussurro rouco, com meu nariz quase se enfiando por dentro dos cabelos da loba prateada, tamanho era a atração que seu corpo exercia no meu, o que me deixava fora de controle, por nunca sentir tamanha emoção.
― Por que você me chamou, era a mim que estava chamando, lembra que lá no barco a Aldra falou que sempre que precisasse, eu viria até você? Pois aqui estou, e depois, nós duas sentimos a sua dor agora a pouco. ― Ela falava e continuava fazendo carinho na pele do meu braço, e a sensação gostosa se espalhava pelo corpo inteiro.
― Pode me dizer o porquê eu sinto tudo isso quando estou perto de você? ― Nos olhávamos dentro dos olhos, quando fiz essa pergunta ainda na mesma posição toda colada no corpo da garota sem tocar em nada, mas estávamos tão juntas que era impossível não sentir meu sex* encostado no dela, buscando mais contato.
― E o que está sentindo Nara? ― Sua voz soou como um gemido sensual e seus olhos baixaram para o local onde nossos corpos estavam quase se tocando, só não o fazia devido a nossas roupas.
― Essa tempestade de sentimentos diferentes, o que está acontecendo comigo? Por que aqui tudo é diferente e mais intenso? Eu não consigo entender o porquê de eu me sentir mais ligada a você do que à minha companheira. ― As palavras só saíram atropelando tudo pelo caminho e como sempre eu não media as palavras e dava coice em que não merecia, senti uma nuvem de tristeza passar rápido pelos olhos prateados da Nyxs, mas logo ela escondeu e sorriu disfarçando o que estava sentindo.
― Não posso te dar as respostas, essas só você deve procurar e entender, mas me diga uma coisa sinceramente. Você realmente acredita que a Amkaly é sua companheira? ― Seus olhos dentro dos meus lendo a resposta lá, no fundo da minha alma, talvez ela já soubesse a resposta, mesmo assim eu confirmei.
― Nós nunca completamos o laço, mas eu sinto que ela é minha companheira sim. ― Não sei por que, mas as palavras saíram sem muita convicção.
― Se você está dizendo, eu vou acreditar.
A forma dela sorrir criando covinhas em cada lado do rosto e o brilho do seu olhar, faziam um conjunto incrível, se juntasse a boca carnuda e vermelho de lábios finos e dentes branco como pedaços de coco, as presas pontiagudas davam um charme todo próprio, quando percebeu que eu estava a examinando, ela pigarreou, esfregou seu ventre no meu num balançado sensual, enquanto me prendia no lugar com as mãos na minha cintura, tudo em mim entrou em erupção.
― Naraaaa.
Ouvimos a voz da Esther me chamando, isso foi o suficiente para nos tirar do transe, Nyxs olhou a todas e se voltou para mim. Ainda olhando dentro dos meus olhos confirmando algo que eu não quis ver, mas era impossível fingir que não estava lá, seu olhar cheio de lágrimas diziam a verdade, que eu fiz questão de não me permitir sentir, uma dor rasgou meu peito com a descoberta, e antes mesmo de ter noção do que estava acontecendo Nyxs colou seu corpo no meu, num abraço gostoso, dolorido, um abraço de saudade, de proibido, e cheirou meus cabelos enquanto dizia.
― Seu cheiro é tudo que eu posso ter, e também é a força que me faz acordar todos os dias e me empurra para continuar viva, sou sua de uma forma que nunca serei de outra pessoa, minha vida, meu coração é tudo seu, por você, eu mato ou morro.
Fiquei literalmente sem fala, tirei lentamente a mão da parede, dei mais um passo à frente colando nosso corpo e encostei o dela pedra sem tocar em nenhum pedaço de pele, eu não tive coragem para tanta ousadia, mas também coragem para assumir que estava morrendo de desejo de fazer amor com ela, ali naquele momento, eu também não tinha, tudo que minha covardia permitiu foi ficar me perdendo dentro do seu olhar que me levava para casa, para minha reserva e minhas lagoas.
― Naraaaa....
Uma voz longe me chamava e eu presa nesse olhar, com o corpo imprensando dos pés à cabeça, o corpo da guerreira prateada que ficou na medida certa, forma e molde ajustados à espera do elemento para forjar uma nova peça e mais uma vez meu nome foi chamado, virei só a cabeça o corpo permaneceu na mesma posição olhei para o lado do chamado em busca de identificar de quem era voz.
― Nara… Nara o que diabos está acontecendo? Por que seus olhos estão dessa cor?
Ouvi minha beta gritando e todo mundo olhando pra mim de armas em punho, somente Gilles não estava armada, no entanto, suas sombras me circulavam sentindo meu cheiro em busca da certeza de que era eu mesma que estava ali, eu dei essa permissão para nossa segurança, mesmo sem entender o que elas diziam tive noção do que tinha acabado de acontecer, o futuro desconhecido abriu uma fresta da janela para me mostrar um pouco do que estaria por vir. Olhei para os lados em busca da Nyxs e nem sinal da guerreira prateada, só o cheiro de hortelã misturado com o meu.
― Quem estava com você, sentimos uma presença, mas não conseguimos ver nem mesmo a Gilles conseguiu sentir e por que seus olhos mudaram de cor? ― Esther estava realmente zangada, eu entendia a preocupação da beta com minha segurança, só não entendia o que tinha se passado ali.
― Eles mudaram? ―Foi tudo que consegui perguntar.
― Mudou, sim, Nara, a cor dos seus olhos é da cor do céu do Nordeste do Brasil, agora está da cor de azul aço. ― Ameth, minha amiga querida, aquela que eu nunca machucaria que falou.
― Ninguém muda a cor dos olhos, já nascemos com ela e com ela morremos. Não é você que diz Esther que os olhos são o espelho da alma?
― Mais alguma coisa aconteceu ali. ― Ela apontou a pedra onde momentos antes eu estava com a mão. ― Todo mundo viu você parada catatônica, como se sua alma estivesse fora e só a carcaça tivesse ficado com ninguém aqui. ― Esther batia na pedra para eu entender e todas ali concordavam com o que ela dizia.
― Acredito que a Nara ou a alma dela que saiu do corpo fez uma viagem para um futuro ou o passado, por isso ela está assim meio perdida, gente pelo amor de Anúbis, nós estamos em um multiverso, coisas estranhas acontecem. ―Gilles falava e me olhava, eu senti que ela ou desconfiava, ou as sombras tinham mostrado tudo o que aconteceu, desviei o olhar do dela, que parecia querer despir minha alma e me voltei para minha beta acabando sua preocupação.
― Eu estou bem, não se preocupe. Pelo menos meus olhos continuam bonitos como sempre? ― Perguntei mais para acabar com o clima de preocupação, e deu certo, todas relaxaram guardando suas armas.
― Bem, uma porr*, sua obrigação é estar sempre com o caralh* da sua mente aberta pra mim, só assim eu posso te defender, e o caralh* dos seus olhos é o que menos me preocupa agora. ― Ela falava tão em cima de mim que chegava a salpicar minha cara de cuspe, mas eu não era nem doida de me afastar ou de passar a mão para limpar.
Fim do capítulo
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