Pequenos raios de luz entraram pela fresta da cortina iluminando o rosto pálido de Chloe, que acordou incomodada por isso. Ela demorou um pouco a se acostumar com o ambiente onde se encontrava, a muito tempo não dorme fora de casa e estranhou em primeiro instante. Ainda veste a mesma roupa da noite anterior, assim como a irmã que continua deitada no chão abraçada ao próprio corpo, algo de rir, pois em algumas vezes resmunga algo aleatório e faz caretas como se estivesse discutindo com alguém. A loira demorou um pouco para levantar-se, é como se a cama não estivesse a deixando ir de tão macia e gostosa, e foi direto ao banheiro do quarto para tomar banho, podia sentir o cheiro de álcool grudado no vestido misturado ao perfume de alguém, era um cheiro cítrico amadeirado. Deve ser de Angie, pensou consigo enquanto se despia, lembrava vagamente do aroma da jornalista, já que estava concentrada em outras coisas nela, mas combina perfeitamente com seu jeito.A loira entrou no box e tentou tomar banho rapidamente, porém a água quente caindo sobre seu corpo cansado não deixou, os músculos precisavam relaxar um pouco e a cabeça necessita de descanso, uma leve ressaca. Nem ao menos se olhou no espelho, já sabia que estaria um completo caco, não bebe tanto desde o ensino médio, ao menos ficou mais sóbria que Cath que poderia ser considerada uma alcoólatra. Após quinze minutos ela finalmente termina e enrola a toalha em volta do corpo, nunca fora muito alta até chegar ao ensino médio, quando deu um salto de dez centímetros, chegando a seu 1,70 de altura. 

- Ah, droga! - a moça resmungou ao perceber uma marca no pescoço, martirizou-se por deixar Ângela morder ali, demoraria a desaparecer - Vou matar aquela italiana.

- Ei, eu preciso usar o banheiro! - a este horário até Catherine já havia acordado e batia insistentemente na porta, seu estado não era dos melhores, a maquiagem toda borrada e o cabelo parecendo um ninho de pássaros, além da dor de cabeça.

- Já vai! 

   Chloe pôs o cabelo sobre a marca tentando disfarça-la, mas não é comprido o suficiente, então ela coloca a mão por cima e sai correndo do banheiro, quase atropelando a irmã, teve certeza que se visse aquilo ficaria fazendo piadas ou faria um escândalo como quando fez aquela pergunta indecente na noite anterior. Ela correu até sua mala no canto do quarto e procurou desesperada pela base que trouxe, para seu descontentamento nem o estojo de maquiagem se encontrava ali, só poderia ser seu dia azar para isso acontecer.

- Catherine Vivien Charlton?! - gritou revirando tudo, geralmente quem mexe em suas coisas é a irmã - Onde está minha base?

- Ahh, eu acho que esqueci na penteadeira depois de usar. - falou simplesmente, então foi sua vez de tomar banho, até demoraria mais.

- Eu vou te matar! 

- Deveria matar quem deixou essa marca de mordida no seu pescoço, não tenho nada com isso. - a loira se assustou pela comentário e se perguntou se estava tão visível assim - Aliás, nenhuma maquiagem vai conseguir esconder isso, pega uma echarpe minha.

   E assim fez, foi até a bolsa lilás de Cath e conseguiu achar as peças, havia em várias cores e estampas, por sorte trouxera a sua favorita, na cor marsala. Então vestiu as primeiras roupas que viu pela frente, no caso calça jeans cintura alta, regata qualquer e um suéter branco que contrastou bem com a echarpe. Por enquanto poderia escondê-la, agradeceu mentalmente por não estar quente, pois todos entranhariam e ela não aguentaria ficar com aquilo por muito tempo. Ela esperou Catherine pacientemente sair do banho e vestir-se, mesmo tendo se arrumado toda ainda parecia estar de ressaca, a caçula mal conseguiu passar um batom direito sem seu óculos, quais procurou insistentemente e não achou em lugar algum.

- Você não disse que esqueceu a maquiagem em casa? - indagou Chloe a vendo de batom e máscara de cílios.

- A sua maquiagem, mas não tenho base no seu tom de pele. - às vezes Cath faz jus ao posto de irmã mais nova aprontando coisas como esta, por isso há sempre alguém cuidando dela.

- Estou realmente levando em conta te assassinar.

- Como falei antes, deveria matar outra pessoa, por exemplo, aquela morena que estava beijando ontem. Garanto que foi ela, acertei? - a perfumista apenas concorda acenando com a cabeça e acabou corando, dificilmente falava de coisas assim com outras pessoas, principalmente as de sua família, sempre foi reservada quanto a tudo - Sinceramente, eu já imaginava que você gostava de mulheres e fico feliz que tenha saído do armário.

- Não sei se realmente gosto de mulheres, só tive vontade de beijar ela até hoje, nenhuma outra. 

- Ok, sem rótulos. - a morena terminou de se maquiar e arrumar o cabelo, ainda havia grandes olheiras que destacavam o quão mal dormiu - Mas uma vez você achou a professora de inglês bonita e olhou debaixo da saia dela.

- Eu tinha oito anos, nem sabia o que estava fazendo. - se defendeu, por outro lado sabe que a irmã está certa quanto a sua sexualidade, apenas nega para si mesma.

- Vou descer para tomar café, guardo seu lugar?

- Não, vou comer na cozinha. - Catherine beijou a testa dela e praticamente correu para fora, estava morta de fome e necessitando de um remédio logo.

   A jovem perfumista se olhou uma última vez no espelho e cruzou os dedos para que ninguém percebesse o que a echarpe deveria esconder, ajeitou as madeixas claras e desceu até o primeiro andar indo a cozinha, onde é espaçoso e tem uma grande bancada ao meio. Assim que entrou no cômodo lhe veio lembranças da infância, quando ela, suas irmãs e Alex ajudavam a cozinheira a fazer biscoitos e depois os devoravam em segundos, ou quando se reuniam todos ali para assistir filmes de terror enquanto comiam besteiras. Provavelmente aquele sempre foi o canto deles onde ninguém os interrompiam, onde faziam quase tudo e trilharam seus sonhos. Depois de anos longe de "Small Paradise" ela finalmente se sente em casa, estar no lugar onde foi criada é tão bom quanto chuva após um dia caloroso. Muitas coisas haviam sido mudadas, mas lá continuava o velho forno de assar pizza, o prato que não poderia faltar nas sextas-feiras a noite em sua adolescência. A moça sorriu consigo ao se imaginar cozinhando ali novamente, momentos como este se esfarelam rápido e em torno de um mês estaria de volta ao Arizona cuidando da perfumaria como faz desde que fora morar lá. Deixando de lado a nostalgia, ela começou a preparar massa de panqueca distraidamente, depois de criar perfumes seu hobbie favorito é cozinhar, aprendeu vendo sua avó e acabou aperfeiçoando isso com Paloma, que foi como uma segunda mãe e assumiu um papel importante em sua vida.Aproveitando disso alguém chega por trás e cobre seus olhos, com aquela brincadeira de "Quem é?", e não fala nada esperando Charlton adivinhar. Ângela passou por sua cabeça, mas diferente da pessoa ela tinha mãos sedosas e finas, por um instante quis que fosse a italiana ali para quando se virar poder olhar naqueles lindos olhos castanhos e sentir seu contato, mas sabia muito bem quem era.

- Alexander! Isso não tem graça alguma. - ela tirou aos mãos do homem de seus olhos e continuou a preparar seu café da manhã.

- Você que não tem mais senso de humor. - ele a abraça na cintura e beija sua bochecha direita - Que cheiro maravilhoso.

- São apenas as massas da panqueca, não exagere.

- Estou faltando do seu cheiro, simplesmente amo. 

   Alex aproxima-se mais do pescoço da moça e suspira extasiado, ela exala um aroma doce e apaixonante. Num ato de ousadia, puxa a echarpe pouco para baixo e beija algumas vezes o local ao mesmo tempo que acaricia suas curvas, deixando a loira tensa, se isso tivesse acontecido enquanto ambos estavam solteiros não se importaria, até mesmo ficaria muito feliz e retribuiria, mas agora um está de casamento marcado e não seria justo com a noiva fazê-lo.

- Não, está errado! - disse Chloe ofegante enquanto o afasta com as mãos - Somos amigos e você vai casar.

- Calma, apenas estou... É, você está certa, foi o impulso, me desculpe! - ele tentaria se explicar e talvez uma aproximação, mas desistiu ao ver a marca no pescoço da amiga, bem destacada, ou seja, recente.

- Tudo bem, mas não faça isso novamento, ok? 

- Ok! Já que não quer minha companhia vou embora. - ela teve a impressão de que Alex estava bravo, pois do nada ficou vermelho e marcas de expressão se formaram na testa.

- Não quis dizer isso.

- Só vou embora, fique bem! - então ele seguiu caminho até a porta, mas antes de ir embora de uma vez parou na batente, olhou para a loira e bufou irritado.

   Não queria ninguém tocando em Chloe, longe dela por todo esse tempo evitou várias crises de ciúmes e coisas do tipo, pois se não suporta imaginar alguém a tocando e tendo seu carinho imagine ver. Já esteve prestes a declarar seu amor pela melhor amiga diversas vezes, mas sempre desistiu no caminho, sempre havia algum motivo como desculpa para não falar disso com ela. Como quando planejou fazer isso em um boliche e acabou conhecendo uma garota estrangeira lá, desistindo da esperada noite, ou algo mais banal como acha-la branca demais. Nunca soube a diferença de paixão, amor e obsessão, para ele o que sente pela perfumista é a segunda opção e que deveriam ficar juntos de uma forma ou de outra, tendo na cabeça que Chloe teria de espera-lo para sempre, como a Branca de Neve ou Bela Adormecida que precisam de seu beijo libertador. Em seus sonhos mais profundos é o príncipe que salva a amada, justamente o contrário na vida real.


   O café da manhã foi no gazebo, desta vez Catherine estava presente na mesa, eram muitas pessoas e ela não conhecia nem metade, apenas os Ricci e Ângela, com quem mal teve contato. A morena se sentiu meio incomodada por estar em meio a tantos desconhecidos e mais ainda por não estar perto para conversar com seus conhecidos, ficou assim até Eleanor chegar, vestida como uma princesinha, nem parecendo que aprontou na noite anterior. A menina sentou ao seu lado e piscou em cumplicidade, pois não havia contado aos noivos quem fizera aquilo como qualquer adulto chato faria. 

- Onde você estava, meu amor? - perguntou Madison ao ver o noivo voltar para a mesa após sair do nada.

- Fui enviar alguns convites de última hora. - esta era sua intenção até passar perto da cozinha e avistar a conhecida figura de Chloe lá.

- Humm, e sua amiga? - Madison tinha como objetivo conseguir a atenção de sua meia-irmã e deixá-la interessada, mas seu parceiro não contribuía nada com isso, seu rosto estampa a raiva por ter sido rejeitado.

- Ela não vem comer, preferiu ficar sozinha. 

- Você e ela demonstraram bastante intimidade ontem, estou errada? - foi a vez dela atacar Ângela com suas indagações com algum pretexto por trás, o noivo não evitou olhar com raiva para a italiana ao lembrar das cenas delas dançando.

- Srta. Charlton foi uma agradável companhia, uma ótima moça por sinal. - Mil vezes melhor que você, pensou.

- Pode nos contar mais sobre essa amizade de vocês? 

- Você pode parar de incomodar os outros com suas perguntas, Maddie?! - desta vez a loira havia o irritado, tocou em seu ponto fraco e decidiu seguir cutucando a ferida.

   Ao resto da refeição as conversas entre o casal foram monossílabicas o que deixou Reed irritada também, mesmo ela puxando assunto e fingindo se interessar por suas amizades, por vezes acha que o noivo é infantil e age como uma criança birrenta. Todos que compartilhavam a refeição perceberam o climão e alguns terminaram antes para poder se livrar de uma eventual briga, pois um deles chegaria ao limite logo e estar ali não seria legal para ninguém.


   Chloe terminou de comer rapidamente enquanto verificava as mensagens no celular, havia algumas de sua amiga que ficou responsável pela perfumaria e da família, principalmente da irmã mais velha, que mandava tudo sobre bebês, perguntava a opinião dela quanto a roupas e produtos para comprar, o que deveria ou não usar. Cassandra se tornara um tipo de paranóica após descobrir a gravidez e tudo piorou ao saber que seria dois bebês, deseja que nada de mal aconteça com elas, segundo Cath será uma daquelas mães que deixa o filho beber café somente aos dezesseis anos e lhe busca todos os dias na saída da escola. Bem como sua mãe foi, super protetora.

- No que tanto presta atenção? - a voz rouca de Ângela perto de sua orelha fez um arrepio gostoso percorrer a espinha da jovem, que sorriu de imediato.

- Bom Dia! - foi o que conseguiu dizer ao se virar dando de cara com aqueles olhos castanhos encantadores. Chegou a esquecer que queria mata-la pelas mordidas.

- Bom dia, Srta. Charlton! Como passou a noite? - ela continuava em pé, escorada na cadeira onde a perfumista se encontrava ainda sentada com o celular em mãos.

- Mais ou menos, apenas deitei na cama e apaguei. 

- Minha noite foi ao contrário, fiquei pensando em você. - a dela não foi muito diferente que isso, mas nunca admitiria, principalmente pelo fato da outra se convencer muito fácil.

- Ficou? - a loira suspirou pelo olhar predador de Angie sobre si enquanto lhe contava.

- Fiquei sim, garanto que não estava bêbada o suficiente para esquecer nossos beijos. 

   Ângela estava prestes a beija-la novamente, mas ela se esquivou rapidamente saindo da mesa e pegando o prato sujo, ao menos tinha algo como motivo para evitar a mulher. Por mais que quisesse aquilo não poderia tão facilmente, apesar do desejo lhe corroer por dentro. Antes que pudesse chegar na pia a italiana puxou sua cintura para perto e a abraçou, assim como Alex havia feito, mas diferente daquele momento se sentiu confortável com o toque e permitiu que a beijasse no pescoço carinhosamente, todos os sentidos de Chloe se ativaram e ela gem*u de forma discarada.

- Me desculpa? 

- Pelo que? - ela não entendeu a pergunta aleatória de Angie e franziu o cenho.

- Esta marca, não achei que fosse aparecer. - a morena passou seus longos e finos dedos pelo local acariciando.

- Ah, sim! Eu queria te matar...

- E não quer mais, não? 

   Chloe saiu dos braços da maior e deixou o prato sob mesa, se fugisse agora perderia a oportunidade de se relacionar com uma pessoa maravilhosa e se ficasse deveria enfrentar seus medos e procurar as respostas para suas dúvidas quanto a si mesma. Ela suspirou pesadamente tentando se decidir e voltou até a jornalista lhe empurrando contra a bancada, por impulso pôs aos mãos no pescoço de Matarazzo e puxou-a para si, a beijando novamente. Nunca sentira tanto desejo e necessidade por alguém, como se estivesse simplesmente viciada nos lábios da morena e queimando-se nas chamas do inferno sexual.

- Nos beijamos três vezes ontem... - sussurrou a loira ofegante com os lábios ainda colados aos de Ângela.

- Ótimo, assim sei que não fez aquilo por estar bêbada...

Fim do capítulo