Desde já me desculpo pela demora de atualizar o capítulo. Acabei viajando e com isso, ficando sem tempo e meio de atualizar a história. Como forma de me desculpar, trago esse capítulo um pouco mais longo que o habitual que, não sei se vai explicar todas as questões, mas pode elucidar a maioria. Boa leitura!
Fora do tempo
Quando Júlia abriu os olhos, estava sentada em uma poltrona. Olhou para os arredores assustadas, principalmente ao perceber que não estava mais na rua e sim em local quente e aconchegante. Pensou que tivesse desmaiado, e quando percebeu que estava sozinha, encarou o redor mais uma vez procurando pela garota que segurava a mão.
— Ana Clara? – ela se levantou abruptamente. Não estava com sua mochila, nem nada, e sua roupa estava também diferente, mas sua cabeça zumbia um pouco. Não conseguia reconhecer onde estava. O que realmente aconteceu? Respirou fundo e tomou coragem abriu a porta, deparando com uma sala a qual nunca tinha visto. Era uma casa a qual nunca esteve.
— Ana Clara? – perguntou mais uma vez, olhando ao redor. Nenhuma resposta – Ana Clara! – perguntou novamente, de forma mais assertiva e em voz alta, para que quem tivesse ao redor pudesse ouvir.
E um silêncio total quebrado somente pelo zunir dos eletrodomésticos que deveriam ter ali perto.
— Mãe? – ela dizia em um sussurro assustado – Pai?
Sem resposta. Mas ela não chamava pelos pais biológicos, aqueles que ela percorreu caminhos inimagináveis para que eles e tantas outras pessoas sobrevivessem ao seu modo. Era pelo simpático casal de senhores que vivia em um sítio.
E ela definitivamente não estava em um. Não estava em casa, o que a fez ficar ainda mais angustiada. Onde estava então?
Do corredor saiu uma jovem senhora segurando uma grande tigela com massa branca, batendo-a com uma colher de pau quando pousou os olhos distraídos em Júlia.
— O que foi? – ela falava tranquila – Teve um pesadelo?
O coração de Júlia parou, principalmente quando a mulher colocou a tigela na bancada e foi se aproximando dela. Sem pensar, deu três passos para trás.
— Não encosta em mim! – seu tom de voz era assustado, e a mulher a olhou com mais estranheza ainda.
— Filha, você está bem?
Júlia piscou algumas vezes, tentando entender o que realmente tinha ouvido. Tinha sido chamada de filha por aquela mulher? Mas como se ela nem a reconhecia? Se fosse o caso, era a sua mãe de suas turvas lembranças ou era outra pessoa?
— O que aconteceu? – Júlia disse de forma quase inaudível – Cadê a... Ana Clara?
A mulher olhou para ela e riu, dando os ombros.
— Que história é essa? – ela aproximou a mão do braço dela, mas ela recuou mais uma vez – Do que está falando?
Júlia sentiu o ar faltar, e uma onda de ansiedade a atacava lentamente. Sentou-se na cadeira que tinha ali perto, deixando sua suposta mãe realmente assustada.
— Maria Júlia, o que está acontecendo contigo? – ela encostou a mão no rosto dela – Tá gelada, filha.
— Você me chamou de quê?
E então ela cerrou os olhos, confusa.
— Você é minha mãe?
— Ju, minha filha... – ela apoiou as duas mãos em seu rosto – estou ficando preocupada. Me conte o que está sentindo.
Júlia arfava. Ela tinha um segundo nome? Por que não lembrava disso? Ou será que naquele lugar ela tinha outro nome? E Ana Clara? Onde estava?
Ana Clara acordou em uma cama macia. Levantou de supetão, sentindo a adrenalina correr por suas veias.
— Merda, o que... – ela disse em um alto tom, olhando ao redor. Que quarto era aquele? E que cama era essa que ela estava deitada?
Será que tinha funcionado, afinal?
Olhou para as próprias roupas. Não tinha nada a ver com o que estava usando, e tinha algumas tatuagens no seu braço esquerdo. Ela olhou para aquilo assustada.
— Mas que porr* é essa?
Procurou por um espelho no quarto, mas sem sucesso. Entrou no banheiro e tentou não se surpreender com o que via.
Seu cabelo era azul e caía pelos ombros. Um e outro piercing ornava o seu rosto, assim como argolas em sua orelha. Tocou no rosto tentando se reconhecer e se sentia mais velha do que antes, até que um pensamento inundou sua mente. Faltava alguém.
— Júlia! – ela olhou para trás e saiu do quarto, dando de cara com um corredor acarpetado e sinuosas escadas.
Quando desceu, tentou não se surpreender com o fato de que foi recepcionada por três rapazes jogando videogame na sala, falando alto e comendo sacolas de salgadinhos espalhados pelo chão.
Parou ali mesmo, e um dos rapazes que parecia bastante com ela se virou, sorridente.
— E aí, Clarinha. Passou a ressaca?
A vontade era de perguntar do que ele estava falando, mas de quem era ainda maior. Lentamente, tentando não aparentar que não reconhecia onde estava, sentou-se ao lado deles.
Era o seu irmão? E por que ele estava tão diferente? Não tinha nada a ver com aquele que ela imaginava ser. Onde estava metade daqueles músculos? Provavelmente não estavam escondidos naquela notável pança que caía de sua bermuda, até que seus pensamentos foram interrompidos por um daqueles amigos que jogou em sua direção um dos pacotes de salgados.
— Que cara é essa? – ele dizia rindo – Viu um fantasma?
Quase isso. Bom, se ele era o seu irmão, então...
— É... Onde tá a... dona da casa?
Ele olhou de relance, curioso.
— A mamãe? – ele levantou uma das sobrancelhas – Saiu pra fazer compras, já volta.
É, era realmente seu irmão. Que merd*. Então tinha dado certo o plano da Júlia? Ela sequer podia acreditar.
Mas precisava tirar a prova. Subiu as escadas correndo e procurou por seu telefone, que estava debaixo da cama e, para sua sorte, não tinha senha numérica. Procurou por quaisquer resquícios do que tinha acontecido.
Nada. Nenhum dado sobre, nem menção.
Aquilo nunca tinha acontecido ali. Ana Clara jogou o telefone na cama e respirou fundo, sentindo um peso terrível em seus ombros enquanto apoiava a cabeça entre as mãos.
— Puta que pariu... – ela balançava a cabeça aturdida – o que foi que aconteceu aqui?
E se as coisas estavam confusas para Ana Clara, para Júlia estava ainda pior. Sua mãe segurava sua mão, tentando fazer com que ela respirasse fundo, mas Júlia só conseguia ficar ainda mais assustada.
Ela não reconhecia aquelas pessoas ali. Eram mesmo seus pais? Aquela era mesmo a mãe de suas lembranças? Por que ela não conseguia sentir nada além de pavor ao estar em um lugar estranho?
Ainda assim, precisava tirar uma dúvida, por pior que soasse.
— O tiroteio... – ela murmurava – teve algum tiroteio?
— Júlia, eu vou ligar pro seu pai pra irmos pro...
Sua mãe se levantou, mas ela segurou seu pulso, e a olhou com temor.
— Por favor, me responda. Teve algum tiroteio?
— Filha, é... – ela deu com os ombros, sem saber o que responder – do que está falando?
— Dos garotos, que foram pro festival e atiraram em todo mundo – e apertou ainda mais o pulso – vinte e sete de julho de dois mil e seis, teve?
A mãe se ajoelhou, e passou a palma da mão lentamente no rosto suado da filha.
— Querida, eu não faço a mínima ideia do que esteja falando.
Sentiu seus lábios se contraírem assim como seus olhos marejarem, e seu corpo formigou. Aquilo tinha acabado, e ela não conseguia acreditar que tinha dado certo.
Foi quando seus olhos começaram a transbordar as lágrimas por tanto tempo contidas.
— Eu não acredito que deu certo... – ela ria, enxugando as lágrimas – deu certo, deu certo!
E abraçou a mãe sem dizer nada, na qual se prestou a só dar algumas batidinhas de leve em seu ombro. Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas sua filha, ao menos, parecia estar melhor.
— Sim, Júlia, deu certo... – ela dizia em um tom bem-humorado para tentar contornar a situação afagando as costas da filha, mas Júlia continuou chorando. Suas lágrimas eram carregadas de um alívio que, para sua sorte, ninguém iria entender.
A não ser Ana Clara, que encarava a sua cena familiar com os olhos injetados de surpresa. Ver a figura da mãe, sempre amarga, sendo solícita e carinhosa com os demais entes da casa causava no mínimo, um estranhamento nela. Sensação de estar fora do local, principalmente quando a via sorrindo desempacotando as compras com o irmão. Uma cena de família de propaganda de margarina difícil demais pra digerir tão rapidamente.
— Aninha, tá tudo bem contigo?
— É... – ela ficou boquiaberta por uns segundos pensando no que responder para a mãe, mas pensou que, ao menos, daquela vez, uma leve mentira iria servir – sim.
No entanto, tinha necessidade de saber se tudo aquilo não era um delírio, e logo correu para encontrar sua contraparte, e principalmente, aquela que tinha ficado para trás.
Mas se para Ana Clara não estava fácil lidar com a família perfeita quando se viveu tanto tempo com a imperfeita, com Júlia, ou melhor, Maria Júlia, não era diferente. Quando seu pai e irmã chegaram, ela não sabia dizer se tinha algum sentimento além de alívio.
Sim, procurou pela família boa parte da vida, e agora seu dever estava cumprido. Ou melhor, nunca tinha sido feito, já que naquela realidade nada daquilo que a assombrou por tanto tempo existia. Era como se tudo aquilo jamais existisse além de suas lembranças.
E, se tivesse sorte, da de Ana Clara.
— Ju, não vai comer? – apontou a irmã desconhecida para seu prato de comida no almoço familiar. Ela era realmente assim? Eles eram assim mesmo ou quando as coisas mudaram, eles também?
— Você está estranha desde a hora que acordou – advertiu a mãe – tem certeza que não quer ir no hospital?
— O que está sentindo? – complementou o pai tocando em sua mão, no qual ela recuou brevemente.
— Nada, é... – ela engoliu em seco, pegando na colher e se vendo na posição de se obrigar a comer alguma coisa – só meio indisposta, não dormi bem.
Poucos convencidos, eles acataram e continuaram a comer, mas seu olhar vago ia para bem longe dali. Tinha que dar um jeito de encontrar Ana Clara.
Que, para sua sorte, em uma pesquisa de alguns bons minutos, conseguiu encontrar onde ela estava. Curiosamente, ali ela tinha redes sociais e morava em uma cidade há pelo menos uma hora e meia da sua, e não hesitou em ir atrás dela na primeira oportunidade.
— Para onde você vai? – perguntou a mãe sentada no sofá enquanto se debruçava com um vinho.
— Hm, é... – ela cerrou os olhos – na casa de uma amiga.
— Amiga mesmo ou “amiga”? – ela deu um sorrisinho, e Ana Clara ficou ainda mais aterrorizada. Sua mãe além de sorrir brincava com sua sexualidade, coisa inadmissível para a genitora que conhecia.
Então prestou-se a dar um sorriso sem graça e confirmar que era só uma amiga mesmo antes de sair pela porta e torcer para não ser abduzida novamente.
Mas não sem antes mandar uma mensagem para a conta de Júlia, que se assustou com o objeto que vibrou na mesinha do seu quarto enquanto estava sentada refletindo sobre o que estava acontecendo até ali. Desbloqueou o telefone como fazia com o de Ana Clara, e sentiu o coração em um passo dissonante quando viu a mensagem que ali tinha.
“Já estou indo aí, me passa seu endereço.”
Júlia deu um largo sorriso, agradecida por realmente poder encontrar com Ana Clara. Na verdade, desde que esteve ali, a única pessoa que queria encontrar além dos pais vivos era aquela resmungona preguiçosa levada pelas emoções. Procurou o endereço da casa para não parecer ainda mais estranha para seus pais, enviou para Ana Clara e esperou em um misto de nervosismo e felicidade dela ir ao seu encontro.
O que, depois de pouco mais de duas horas, aconteceu. A campainha da casa tocou, e quem a recepcionou foi a irmã de Júlia.
— Estranho – dizia ela assim que entravam na casa e passavam pelo corredor – eu não te conhecia, vocês...
Quando Ana Clara a viu, não se conteve em correr até ela e a abraçar com força, dando breves gritinhos enquanto Júlia, de sua forma, mostrava a felicidade em encontra-la também com alguns tapinhas em sua costa.
— Ju! – ela falava alto, chamando atenção de todos – Ainda bem que te achei!
— Digo o mesmo, Ana, e...
Ambas perceberam que a família de Júlia olhava para aquela curiosa cena. A filha e irmã acordara estranha, falando algumas coisas desconexas, depois ficou ainda mais calada que o de costume, e agora uma garota a visitava eufórica. Devia ter uma boa explicação para isso, mas eles não faziam ideia de qual.
E possivelmente não sonhariam dos reais motivos para aquilo.
— Podemos dar uma volta lá fora? – Júlia apontou com o queixo – Quer dizer, eu posso?
— Claro, minha filha – disse seu pai, levantando uma das sobrancelhas – fiquem à vontade.
A passos largos, foram para o lado de fora.
— Ana Clara, graças a Deus que você está aqui – Júlia segurava seus ombros – me diz que eu não sou a única que...
— Não está entendendo porr* nenhuma disso? – Ana Clara complementou levantando as sobrancelhas, suspirando – Ju, minha mãe fez brincadeiras comigo. Eu sinto que estou dentro de uma daquelas pegadinhas.
— Eu estou apavorada – Júlia piscava rapidamente, o ar saindo pela boca – não consigo reconhecer as pessoas que estão nessa casa.
— Diz a sua família? – Ana perguntou e Júlia concordou – Acha que não são eles?
— São, eu vi fotos nossa pela casa – ela apontou para trás – mas, é totalmente diferente do que lembrava...
— Ou talvez as coisas sejam realmente diferentes.
Ficaram em silêncio por alguns longos segundos. Se Ana Clara tinha razão ou não, era uma pergunta sem resposta.
— Laura – Ana Clara murmurou consigo – precisamos ir atrás dela.
E Júlia teve uma iluminação quando ouviu aquele nome. Estava tão absorta naquela realidade que esqueceu por um instante o que a levaram até ali.
— É isso, Ana Clara! – ela voltou a se apoiar em seus ombros – Precisamos ir atrás da Cora e da Laura.
— Mas e se ela não me reconhecer? – Ana Clara fez um bico com os lábios, e Júlia fez seu habitual dar de ombros.
— Só vamos saber tentando.
Combinaram que Ana Clara iria dormir na casa aquela noite. Ambas ainda não se sentiam confortáveis com a ideia de ficar com suas novas famílias, e nenhum deles fez objeção sobre a estadia da outra. À noite, no quarto, quando Júlia pesquisava por qualquer coisa que a levassem até Coralina, viu Ana Clara pouco interessada, apenas folheando um livro qualquer da estante que ali tinha.
— Pensei que tivesse interessada em encontrar as meninas – disse ela abrindo ainda mais abas de pesquisas, e Ana Clara estalou a língua descontente.
— É melhor eu não saber – ela cruzou os braços, se jogando de costa na cama – se ela tiver outra pessoa, vou chorar e sofrer por antecedência.
— Então se eu achar alguma coisa sobre ela aqui – Júlia continuou digitando e clicando em outras informações – fico calada?
— É, é melhor.
— Tá aqui! – Júlia falou em um tom mais alto, e anotou no bloco de notas ao seu lado – Achei o endereço da Coralina!
— Como é que você achou isso? – Ana Clara se levantou parcialmente, e ela deu com os ombros.
— É... – Júlia cerrou as sobrancelhas, e se virou na cadeira em sua direção – Não sei como eu sei disso.
— Acho que é porque você trabalha com isso – e mostrou o livro de programação que folheava.
No outro dia, ao saírem, despediram-se da família de Júlia e seguiram de ônibus até o local indicado. Era uma viagem de horas, tomada por tensão e dúvida. Já pelo meio, Ana Clara trouxe suas divagações à tona.
— Ju, você não para pra pensar se... – Ana Clara dizia olhando pela janela – nossas lembranças dos nossos eus se misturaram com a gente de agora ou coisa assim?
— Estou tentando não pensar nisso – disse ela colocando as mãos no bolso do moletom – porque não tenho respostas, e se eu ficar procurando, vai ser pior e vou ficar mais louca do que já estou.
— Nada faz sentido – Ana Clara ficava ainda mais ansiosa – digo, sumimos, vamos pra outro lugar, misteriosamente voltamos. Por que isso aconteceu? Como aconteceu? Por que tinha que acontecer?
— Acho que tem coisas que não saberemos explicar – ela a olhou de canto de olho – talvez só tivesse que acontecer, porque senão iria ser pior lá na frente se não mudasse. Ou alguém do futuro fez isso, eu não sei mesmo. No momento, prefiro fingir que está tudo bem porque de qualquer jeito, essa é nossa realidade agora.
Ana Clara engoliu em seco. Direta e racional, exatamente como sabia que ela era.
— E você, está pronta pra encontrar com a garota que possivelmente não é mais tão garota assim?
— Laura? Não, eu... – ela começava a transpirar ainda mais – não sei se estou pronta para isso agora.
Júlia entregou em suas mãos uma anotação. Era um endereço ao qual Ana Clara olhou confusa.
— Eu sei que está – e acenou para o motorista à frente delas – moço, ela desce aqui.
E ele foi levando o ônibus até o acostamento, deixando Ana Clara incrédula.
— Você falou que era pra eu não falar nada dela, então vai ter que ir até lá pra saber – e colocou a mochila em seu colo – agora vai lá.
Ana Clara se levantou atordoada assim que o ônibus parou, e Júlia gesticulou para que seguisse.
— Depois você me fala como foi.
Ana Clara engoliu em seco segurando sua mochila com as pernas tremendo parcialmente enquanto Júlia seguia satisfeita até o encontro de Coralina.
Júlia parou depois de três cidades do desembarque de Ana Clara, descendo e seguindo de carro até o endereço encontrado. Será que aquela era a cidade que estavam? Se era, estava diferente demais das suas lembranças recentes.
Parou em frente à casa, e engoliu em seco. Estava nervosa, mas não queria demonstrar. Tocou a campainha por três vezes, até uma voz suave atender.
— Olá, no que posso ajudar?
— Coralina? – a voz de Júlia tremulou, e logo o interfone emudeceu.
Ouviu-se passos correndo, e ao abrir a porta, o choque inicial.
Coralina já não era também tão jovem. Uma senhora que devia ter em torno de cinquenta anos, mechas grisalhas que caíam por seu cabelo, os óculos que outrora era fundo de garrafa agora era um modelo bem mais moderno, roupas sociais e algumas rugas e marcas de expressão em sua pálpebra e canto dos olhos.
Ela sabia que era Coralina porque reconheceria aquele olhar curioso em qualquer lugar. Lábios que batiam um contra os outros e mãos brevemente enrugadas e cercadas de sinais que seguiam até o rosto juvenil de Júlia, exatamente como no dia em que partiu. Aquilo tudo parecia um sonho para Cora, que se emocionava e via as lágrimas descendo copiosamente de seus olhos.
— Eu não consigo... – ela engolia em seco, tentando respirar tamanha emoção – acreditar. Júlia?
E a abraçou com força enquanto deixava a emoção se esvair de vez, com a cabeça apoiada em seu ombro. Júlia fechou os olhos e respirou fundo, tentando não deixar se levar por aquela emoção, mas sem sucesso. Lágrimas intrusas também desciam por seus olhos enquanto a abraçava com força, apoiando suas mãos em suas costas.
— Eu espero por isso há tanto tempo que eu nem...sei... – disse Coralina enxugando as lágrimas – entre, por favor. Temos muito o que conversar, e eu preciso de uma água com açúcar – e complementou rindo, segurando-se na velha amiga.
Já Ana Clara estava parada sem expressão em frente ao conjunto de apartamentos depois de perguntar onde Laura morava. O porteiro acenou para onde ela devia tocar, e assim ela o fez. Uma voz tranquila atendeu.
— Alô? – disse a voz feminina, e Ana Clara tremeu.
— É...gostaria de... – Ana Clara estava tão nervosa que não conseguia sequer pensar no que dizer – falar com a Laura?
— E quem seria?
— Diz que é uma... uma conhecida da escola.
A pessoa ao outro lado hesitou, mas logo autorizou para que entrasse. Suas mãos suavam tanto que ela enxugava com frequência na calça gasta que usava. Parou em frente a porta, e tocou a campainha.
E logo uma distinta garota com roupas casuais a atendeu. Ana Clara não conteve o sorriso, mesmo que ela a olhasse com estranheza.
— Laura? – disse ela entre o largo sorriso.
— Mãe? – a garota disse olhando pra trás – Tem uma moça atrás da senhora, acho que ela se confundiu.
— Quem? – ela ouviu a voz ao fundo, mas estava em choque o suficiente para a garota da porta pra perceber que ela se aproximava – Eu entendi você dizer que era uma...
E emudeceu ao ver a figura do outro lado, com os olhos arregalados.
— Ana Clara?
Ela continuava sem reação, mas ao ver aquele rosto mais uma vez depois de tantos anos, Laura teve uma síncope que a levou direto ao chão.
— Mãe? Mãe! – a garota que a recepcionou foi até a que tinha desmaiado, e outro rapaz veio acudir – Me ajuda aqui, a mamãe passou mal!
Passado o susto inicial, Laura olhava emudecida para o chá em suas mãos, enquanto aqueles que a acudiam olhavam com estranheza e curiosidade para a figura sentada no sofá, que encarava o chão. Quem era aquela desconhecida que levou a tal situação? Sua filha conhecia bem o círculo de amizade da mãe, e sabia que não estava incluso uma garota que aparentava ser mais nova do que ela. Pra piorar, ainda tinha dito que era colega de escola, o que piorava. A mãe tinha feito algum curso por fora a qual ela não teve conhecimento e nisso elas acabaram se conhecendo, era a explicação mais plausível. Já o rapaz fazia menos ideia do que ligava a tia para aquela que não conseguia sequer levantar o olhar.
— Meninos... – Laura disse por fim – poderiam nos deixar a sós?
— Por quê, mãe? – a garota disse confusa – E se acontecer alguma coisa?
— Pois é, tia, e se...
— Não é um pedido – ela disse firme – eu estou falando pra nos deixar conversamos.
— Mãe, não, a gente nem...
— Ana Júlia – disse Laura fechando os olhos, falando pausadamente – não vou falar outra vez.
Ela revirou os olhos e saiu, assim como o garoto, que saiu olhando para trás.
E o silêncio se instaurou ali novamente. Laura deu um gole no chá morno, e respirou fundo.
— Quantos anos ela tem? – Ana Clara perguntou a esmo, olhando para os próprios dedos que roçavam um no outro.
— Vai fazer vinte e cinco mês que vem – respondeu Laura olhando para as ondinhas que se formavam na xícara.
— Ela é sua cara.
— É, é o que dizem.
Deu mais um gole sem dizer nada. Estava tão nervosa que sentia seu coração bater frívolo em seu peito como a adolescente que era quando viu Ana Clara pela última vez.
Ela estava exatamente como lembrava. Tudo, tirando algum ou outro detalhe. Já para Ana Clara, apesar dela realmente não ser a mesma que vira quando se despediu, continuava linda do jeito que recordava, agora mais madura, experiente, e com família. O que causava ainda mais dúvida.
— E você e o pai dela...
— Mãe – Laura corrigiu sem levantar o olhar – nos separamos faz algum tempo.
Ana Clara sentiu uma pontada no peito. Não sabia o que dizer, mas não queria sentir ciúmes, e muito menos admitir que, no final das contas, a vida seguiu para ela e a dela ainda estava começando.
— Eu... – Ana Clara dizia pausadamente, pressionando a mochila contra o peito tentando esconder que transpirava e tremia – é...
Laura se levantou sem dizer nada, e entrou em algum cômodo. Ana Clara logo concluiu que tinha sido uma péssima ideia ter ido até lá, e quando se levantou para ir embora, Laura voltou e estendeu em sua direção um papel velho, roto e amarelado, que abriu com cuidado.
O papel tremia por conta de suas mãos, que ficou ainda pior quando viu que se tratava de suas anotações.
— Em um primeiro momento eu pensei que fosse tudo mentira, uma loucura que minha mente e da Coralina criamos – Laura voltou a se sentar – porque éramos jovens demais, presas em uma cidade pequena, querendo a todo custo nos sentirmos vivas e...
Ela pausou por um momento antes de continuar. Ambas não olhavam uma para outra, e Ana Clara tocava com a ponta do indicador para as palavras escritas à caneta no papel.
— É que acreditar que aquilo era tudo delírio nosso era mais fácil do que explicar que vocês simplesmente sumiram da nossa frente, mas aí tinha esse maldito papel e as malditas lembranças que...
Falar aquilo era mais difícil do que ela imaginava, mas ainda assim tinha que continuar. Fe uma pausa, respirou fundo e continuou.
— Então teve um dia que passei em frente a uma loja, e vi o álbum solo do Morrissey, e... – Laura fechou os olhos – eu lembrei da conversa que tivemos, que você tinha falado que ele saía do The Smiths e eu não acreditei, e você anotou a música, a primeira da lista que você mais gostava dele.
“Suedehead”, leu Ana Clara consigo.
— E então eu entrei na loja, peguei o disco e vi aquele nome que tinha visto tantas vezes nesse papel – ela continuava a dizer com os olhos fechados – e quando eu cheguei em casa e coloquei essa música, eu juro pra você que eu tive certeza que, por mais loucura que fosse...
E abaixou a cabeça, fungando baixo.
— Você não tinha sido uma invenção minha – e levou os olhos até ela pela primeira vez durante todo aquele tempo, sentindo seu corpo estremecer como se fosse ontem a última vez que tinham se visto – porque a última música que foi listada fora lançada há dois anos atrás.
Ana Clara ficou em silêncio. Jamais podia entender o que ela estava dizendo porque para ela, tudo aquilo tinha acontecido há dias atrás, e não há décadas. Tanto que sentiu a respiração falhar ao encontrar seus olhos com o dela, exatamente como quando viu na última vez.
— Eu te esperei por trinta e seis anos, Ana Clara.
— Você ainda sente alguma coisa por mim?
Era a única coisa que Ana Clara conseguia dizer, mesmo tendo medo da resposta, que possivelmente era negativa.
Laura pegou o chá já frio, deu um gole até secar a xícara, levantou-se e sentou ao lado de Ana Clara, escondendo as mãos trêmulas.
Já na casa de Coralina, as amigas sentiam-se à vontade como se nunca tivessem se separado. Júlia ouvia a tudo com atenção que acontecera nos últimos anos.
— Desde que vocês foram embora, era de se esperar que muita coisa aconteceu – Coralina servia o café para a amiga – mas por muito tempo eu e a Lalá mentimos pra nós mesmo sobre o que tinha acontecido, sabe... – ela pigarreou de leve – ela sofreu muito quando a Ana foi embora, primeiro amor, essas coisas, e ainda mais do jeito que as coisas aconteceram...
— Você fala dos pais dela?
— Ela sofreu muito com a pressão dos pais, isso eu te garanto, até saiu de casa e foi morar com a gente naquela época.
— E seus pais?
Ela fez uma pausa, e se recostou na cadeira.
— Meu pai morreu há quinze anos e minha mãe está em uma casa de repouso. Ela está em uma fase que... – ela balançava a xícara entre os dedos – só meus cuidados não adiantaram.
Júlia estremeceu e sentiu o ar faltar. Era estranho pensar que até ontem, ela os conhecera de um jeito e hoje era algo totalmente diferente.
— E o que aconteceu?
— Bem... – ela apoiou a xícara de volta na mesa – nos formamos, eu fui trabalhar, ela foi estudar fora um tempo e foi viver a vida dela.
— Vocês não se falam mais?
— Não como antes, mas ainda somos amigas – Coralina deu um tímido sorriso – ela foi seguir uma vida, e eu quis seguir com minha vida pacata de professora escolar. Me casei, me separei, me casei de novo – e deu com os ombros – e me separei. Hoje em dia tenho um namorado, mas ele lá e eu aqui, e assim está funcionando.
— Não quis ter filhos?
— Queria, mas a vida não quis que eu tivesse – e seu sorriso foi tomado por certo temor – mas tudo bem. Já passou.
Júlia não sabia o que dizer nessas horas, e se prestou a olhá-la com um tom mais acolhedor, esperando que ela continuasse a falar.
— E a Ana Clara, por que não está contigo?
— Foi falar com a Laura – Júlia cruzou os braços, vendo a xícara de café ainda fumegante à sua frente – acho que elas tinham o que conversar.
Coralina deu um sorriso de canto, e balançou a cabeça.
— Ela esperou muito por ela.
— E cansou, imagino – ela puxou os lábios de canto, dando de ombros.
— Bom... – ela deu um suspiro cansado – nós duas não fomos tão sortudas no amor. Ela teve umas namoradas, depois se casou, passaram acho que quinze anos juntas – e tossiu de leve – elas tem até uma filha que deve ter a sua...idade.
— Uma filha? – Júlia levantou a sobrancelha e pegou o café para um gole – Ana Clara vai surtar com isso, certeza.
— E tem o Daniel, é... – ela voltou o olhar para Júlia – filho do João. Lembra dele, né? Irmão da Laura, vocês se deram bem.
— É... – Júlia mordeu os lábios de leve – lembro sim. Na verdade, a gente lembra de tudo como se fosse literalmente ontem, entende? É estranho, mas é isso.
— Entendo... – Coralina se recostou na cadeira – mas gostaria que soubesse que ele morreu.
Júlia emudeceu, olhando perdida para Coralina, que fez uma cara pesarosa.
— Faz uns oito, dez anos, não lembro. Acidente de carro – ela engoliu em seco – morreu ele e a esposa.
— Nossa...
— Ele gostava muito de você – ela tentou sorrir mais animada – sempre perguntava se tínhamos notícias suas. Sinto muito.
Júlia estava sem palavras. Seu olhar perdido resumia bem o sentimento que percorria por ela.
— E seus pais? Estão vivos? – Coralina perguntou, tirando-a do transe, do qual ela apenas assentiu com a cabeça.
— Sim, estão, mas... – Júlia piscou algumas vezes – sinto que não os conheço. Eu... – e riu envergonhada – me sinto mal por sentir falta de casa.
— Casa você diz seus pais de criação?
Júlia concordou com a cabeça, e Coralina deu mais um gole no café antes de colocar de volta na mesa.
— Concluo que pra você ter vindo hoje teve consciência do que aconteceu por esses dias – Coralina meneou a cabeça de um lado a outro – não acha que é questão de adaptação?
— Não dá pra amar alguém do dia pra noite. Eu quis a minha vida toda salvá-los que esqueci como era tê-los de volta – e olhou de relance para Coralina – o que eu faço com isso?
— É... – ela suspirou alto depois de um pequeno período de silêncio entre ambas – você quer ver seus pais, então?
— Mas eles não vão me reconhecer – Júlia ria nervosa – não faz sentido eu ir atrás também.
— Não precisa fazer sentido – ela exalava seu ar amigável exatamente como fazia, apoiando a mão no ombro dela – fique aqui, sairemos pra jantar, durma, e amanhã procuramos por eles nem que seja só pra você ver de longe e saber se estão bem.
— Você acha? – ela arqueou as sobrancelhas, e Coralina riu.
— Eu faço questão – disse ela sorrindo – é mais que uma honra que seja minha visita novamente.
Júlia sorriu tímida, e concordou com a proposta.
— Temos pelo menos uns trinta anos de conversa pra colocar em dia, e...
— Você acha que a Ana Clara vai se resolver com sua amiga?
— A Laura com a Ana? – ela tentou conter o riso – O que você acha?
A cozinha de Coralina estava acalorada, mas a sala de Laura não. O frio tomava conta por conta do vento que vinha de fora pela janelas abertas, pelo olhar teso de Ana Clara esperando pela resposta de Laura, que exasperou devagar.
— Eu precisei seguir minha vida, Ana Clara – ela pressionou os lábios – eu tive outras garotas, tive a mãe da minha filha e conheci outras depois disso.
Cada palavra daquela golpeava uma Ana Clara com memórias tão frescas. Para ela, as juras de amor não tinham sido há décadas atrás, e sim dias.
— Eu... – ela respirou fundo antes de começar – entendo.
— Mas nenhuma foi como você foi na minha vida.
E seus olhares se encontraram de novo, mas Ana Clara abaixou com vergonha.
— Você foi a primeira pessoa que eu amei de verdade – ela ria nervosa entre as lágrimas que começavam a aparecer – a primeira que eu me entreguei. O que eu sentia por você, e tudo aquilo, foi o suficiente para que eu encarasse meus pais e seguisse a vida que eu queria pra mim. Tem noção do que é isso?
Ela negou, sentindo seu coração apertar ao ser referida sempre no passado, se sentindo idiota em pensar que poderia retomar de onde teve que sair e seguir com tudo aquilo que planejavam.
— Eu não queria ter ido embora – Ana Clara sentia seu coração praticamente sair pela boca tamanho nervosismo, assim como o enjoo da ansiedade daquele momento – eu...queria ter ficado.
— Eu sei – Laura enxugava as lágrimas sem sucesso – eu sei.
E, ao enxugar a mão em seu suntuoso vestido de alças que caíam por seus ombros, tocou a mão dela. Sua
— Você me aparece exatamente como eu me lembrava – ela tentava conter o nervosismo de suas palavras – e ainda me faz sentir como uma adolescente apaixonada, acredita nisso?
Ana Clara engoliu em seco, sem entender o que ela realmente tinha dito.
— Isso é... – ela disse em um sussurro – isso é ruim?
— Significa que, apesar de tudo, eu ainda gosto de você – e colocou a mão entre os lábios – mesmo agora você deve estar me achando velha e feia.
— Não diga isso – e apoiou a mão em seu rosto – você continua linda, exatamente como sempre foi.
— Ana Clara – ela pressionava os lábios – eu tenho idade pra ser sua mãe agora, se duvidar minha filha é mais velha que você.
— Você pra mim continua a mesma Laura que anteontem eu abracei e disse que amava.
Laura olhou para o braço de Ana Clara e sentiu uma pontada latente em seu coração já extasiado de emoção, o que a fez chorar ainda mais.
— Você ainda tem a pulseira... – ela segurou a mão de Ana Clara – ainda está do mesmo jeito.
— Eu te disse que nunca mais tiraria.
— Ana Clara... – seu rosto era um misto de felicidade e dor – você finalmente voltou...
Laura colocou a mão entre os rostos e deu vasão ao choro que estava contendo desde que a viu ali no sofá da sua sala. Ana Clara, por sua vez, a abraçou e apoiou a cabeça em seu ombro.
— Eu prometi que voltava – disse ela em um sussurro quase inaudível por conta da voz que falhava – e voltei. Demorei, mas voltei.
No outro dia, o carro de Coralina estava parado em frente ao sítio que, para a sorte de Júlia, era exatamente no lugar em que se lembrava. Do mesmo jeito que lembrava, ela olhava pela janela, tensa, segurando as mãos contra o cinto, até que Coralina os desfivelou.
— Você consegue, eu estarei contigo.
Desceram e bateram na porta. Júlia respirou fundo e exasperou devagar quando viu alguém se aproximar na porteira. Era um rapaz alto, com a barba feita e roupas de trabalho braçal. Ela tinha a impressão que o conhecia de algum lugar, mesmo nunca tendo o visto, e ele as recepcionou com um sorriso.
— Bom dia! – e pousou os olhos sem querer em Júlia - No que posso ajudar?
— Soube que precisavam de ajuda no sítio, e minha sobrinha é uma excelente trabalhadora braçal – Coralina deu um tapinha no ombro de Júlia, e ele sorriu.
— Você, moça? – ele sorriu animado – Sério? Precisamos mesmo, e uma garota seria ótimo pra ajudar. Pai! Mãe! – ele gritou da porteira – Temos visita.
Ele abriu a porta para que elas passassem, e foi ao lado de Júlia.
— Qual é seu nome, por gentileza? – perguntou ele, mas logo balançou a cabeça – Desculpe, o de vocês?
— Eu sou a Coralina – ela falou apontando pra si – e Júlia, e você?
— Rodrigo – ele estendeu a mão animado na direção delas – é um prazer conhece-las, viu?
Júlia ficou estática por um instante. Era o mesmo Rodrigo? E ele era filho deles? Em que momento isso aconteceu? Ele era indiretamente seu irmão? Aquilo era estranho demais para digerir assim, mas ela mal teve tempo para pensar a fundo.
Logo viu o simpático casal se aproximando. Primeiro fora sua mãe, e Júlia tentou esconder a felicidade latente ao ver seus braços abertos para recepciona-la.
— E quem é a moça bonita? – disse ela a abraçando tenra, carinhosa como se lembra. Júlia fechou os olhos, sorrindo.
“Sou sua filha, mas a senhora não sabe disso.”
Logo em seguida veio seu pai, tão sorridente quanto, a recebendo com um aperto de mão.
— É um prazer conhece-la – ele apontou para a cozinha, de onde vinha o cheiro tentador de comida – por favor, se juntem a nós.
“Como eu senti sua falta, pai.”
Júlia tentava se controlar, mas a felicidade escapava em seu sorriso, e Coralina percebia que, de um jeito ou de outro, ela tinha voltado para casa.
Assim como, em um lugar não tão longe dali, Laura colocava seu antigo toca-discos para tocar uma fita que ela não ouvia há muitos anos, mas que Ana Clara reconheceu de primeira. Era a sua preferida.
Sentou ao seu lado no sofá, e Ana Clara apoiou a cabeça em seu ombro, assim que ela a envolveu com um braço, afagando-a. Fecharam os olhos, e mais uma vez, estavam naquelas tardes quentes em que nada mais importava a não ser a companhia uma da outra.
Como tudo deveria ser.
Fim do capítulo
E aí, o que acharam? Confesso que estava meio reticente de como ia desenvolver o final, então por isso é importante o comentário de vocês para saber se segui um rumo, no mínimo, aprazível rs.
E já que é para confessar as coisas, esta história foi um desafio. Eu tinha a ideia formada, mas tinha dificuldade em desenvolvê-la. Fiz um rascunho, não gostei, deixei em stand by e, depois de um tempo, retomei. Foi uma experiência ótima já que trata de assuntos que eu particulamente gosto, e espero que tenham gostado tanto quanto eu.
E que venham as próximas! - a qual já tenho alguns planos, mas essas não vou dar spoiler.
Obs: sinto que vou sentir falta delas. Não costumo ter favoritismo com personagens porque dedico amor e paciência para fomentar cada um, mas eu gostava da loucura da empolgação da Ana Clara apaixonada com uma Júlia sisuda que, debaixo da carapaça, tem um bom coração.
E que, mais que tudo, merecia um final feliz.
No mais, é isso! Agraço imensamente a todas que leram e deram uma chance a mais essa loucura literária minha <3
Comentar este capítulo:
Bruna Oliveira
Em: 22/09/2022
Amei seu trabalho. Parabéns, sua escrita e o desenvolvimento da história são incríveis.
Resposta do autor:
Agradeço imensamente pelo comentário! Fico feliz por ter gostado da história. Eu experimentei um pouco na narrativa, ainda bem que deu certo kk
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/09/2022
Nossa fiquei emocionada com esse capítulo tudo ficou bem no final.
Resposta do autor:
Fico feliz que gostou do desfecho, e também por sempre acompanhar minhas loucuras literárias <3 só tenho a agradeçer!
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Lea
Em: 15/09/2022
AMEI.
Só achei que,minha gata insensível,vulgo, Júlia iria com a Ana Clara na casa da Laura .
Mas foi perfeito.
(me assustei) Pensei que a Laura ia morrer de infarto,por ter visto a Ana Clara. Kkkk
Achei sensacional elas não terem se esquecido,umas das outras!
*
Como diz Clarice Falcão: a sua loucura se parece com a minha . Kkk
*
Fiquei sonhando com esse capítulo!
Você está de Parabéns,Shoegazer . Livro maravilhoso!
Boa noite/ boa madrugada!
Resposta do autor:
Lea, desculpe a demora pra responder! Normalmente quando termino uma história, tiro um tempo de descanso e com isso, acabo me desvinculando um pouco do site também.
O contexto final é mais para dar um parecer de como as coisas poderiam se desenrolar depois, então possivelmente sua gata insensível foi lá depois kkkkk sim, ela é bem desse tipo mesmo.
E ela quase morre mesmo, já pensou dar de cara com alguém que não vê há um tempão com o mesmo rostinho? O cérebro deu um bug e resetou na hora.
Obrigada por ter acompanhado minha desventura literária. Eu experimentei um pouco por conta dessa narrativa que flertou direto com o efeito borboleta e estava bem temerosa da história ficar confusa, mas acredito que tudo deu certo.
Eu tenho algumas outras histórias aqui na plataforma, caso tenha interesse. Nada que envolva linhas temporais, mas romances intensos e gente complexada tem de monte kk
No mais, boa noite!
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